Rosa (re)faz sua fina mistura de MPB com jazz
Resenha de show
Título: Rosa Passos
Artista: Rosa Passos
Local: Mistura Fina (RJ)
Data: 11 de abril de 2008 (sessão das 19h30m)
Cotação: * * * * 1/2
Título: Rosa Passos
Artista: Rosa Passos
Local: Mistura Fina (RJ)
Data: 11 de abril de 2008 (sessão das 19h30m)
Cotação: * * * * 1/2
Já faz muito tempo que Rosa Passos desabrochou como cantora e se livrou da alcunha de João Gilberto de saias. Já habituada a ser aplaudida por platéias estrangeiras em cidades dos Estados Unidos, Europa e Japão, a artista baiana voltou ao Rio de Janeiro esta semana para fazer no Mistura Fina quatro apresentações do show que, em janeiro, já mostrara aos cariocas em concorridas apresentações no Teatro Nelson Rodrigues. De forte contorno jazzístico, o show de Rosa Passos fica em cartaz no Mistura Fina somente até sábado - 12 de abril - em sessões às 19h30m e às 22h.
Se há algum parentesco no canto de Rosa com o de João Gilberto, este reside mais na divisão originalíssima que caracteriza as interpretações de ambos e bem menos no fato de a artista eventualmente cantar macio e em tons baixos. Aliás, não é esta Rosa que também canta baixinho a que desabrocha no palco do Mistura Fina enquanto apresenta um recital já feito por ela em novembro de 2007 no nobre palco do Blue Note, o de Nova York.
Na voz de Rosa Passos, nenhuma música soa como antes. Desde o primeiro número, um apimentado Vatapá (Dorival Caymmi), a cantora põe seu próprio tempero rítmico em sucessos da MPB como Verbos do Amor (João Donato e Abel Silva), Samurai (Djavan) e, já no bis, feito em tributo a Elis Regina (1945 - 1982), Altos e Baixos, parceria de Sueli Costa e Aldir Blanc regravada por Rosa em seu ainda inédito CD Romance, dedicado às canções brasileiras e com lançamento no exterior previsto para 20 de maio pelo selo Telarc (no Brasil, o disco vai ser editado em agosto - conforme revelou Rosa em cena, para alegria dos fãs nacionais).
O fato é que, com sua mistura de MPB e jazz, Rosa Passos faz um show de refinada musicalidade que surpreende a cada número. Seja em Marina (samba-canção de Caymmi que tem seu ritmo ralentado por Rosa), em Corcovado (apresentado de outro ângulo harmônico), em A Ilha (com alternância de climas) ou no suingante recorte do Vestido de Bolero (outra música de Caymmi, compositor recorrente no repertório da intérprete). É justo reconhecer que, como em todo show de tom jazzístico, os músicos têm presença fundamental. E Rosa se cerca de um virtuoso quarteto de piano (Fábio Torres), trompete (Daniel D'Alcântara), bateria (Celso de Almeida) e baixo, tocado por seu filho Paulo Paulelli, com quem a orgulhosa mãe divide um set mais íntimo em que pega o violão para cantar Só Danço Samba, Você Vai Ver, Jardim (versão de bela música francesa recomendada a Rosa por Henri Salvador, a quem ela dedica o número), Verão (tema da lavra de Rosa) e Pequena Música Noturna (também de autoria da artista). Enfim, um belo show que merecia luz mais caprichada e que, a julgar pelo entusiasmo com que foi recebido, mostra que o Brasil já começa a entender a grandeza do canto de Rosa Passos...
14 Comments:
Concordo com todas as qualidades de Rosa Passos listadas pelo Mauro. Só não ouço mais por causa do timbre, que não me agrada. É uma voz nasal nos graves e nos médios. Nos agudos, fica achatada, um pouco fanha. Quando consigo me abstrair disso (o que não é fácil), percebo que Rosa é mais do que uma cantora. É uma musicista, uma recriadora.
Vamos ver o tributo à Elis. Acho uma roubada fazer esses tributos de intérprete a intérprete - ainda mais a homenageada sendo quem é - mas pode surpreender. Assim como a Power Pepper, Rosa sabe reinventar as canções.
Nossa, mas se Rosa recria, acredito que o tributo à Elis será bom. O da Joyce ficou muito bom, com momentos excepcionais como 'Oriente' e 'O cantador' em que ela supera as versões de Elis, nas demais ela recria fazendo jus à 1a intérprete.
Engraçado como no Brasil permanece a grandiloquencia, Rosa talvez não seja tão conhecida pelos mesmos preconceitos que Nara também sofreu.
É uma boa compositora e originalíssima intérprete. Sua divisão é espetacular.
Sou apaixonado pela Rosa Passos, me incomoda o repertório, esse lance dos clássicos, mas gosto muito das suas composições. Ouço quase que diariamente a música verão, linda, tanto na sua voz, quanto na de Jane Dubock.
Adorrrrrroooo Rosa Passos. Discos e shows são primorosos, tal é o talento e a qualidade da Rosa Passos e dos músicos que a acompanham.Paulo Paulelli não é filho dela,pelo que eu sempre entendi, ela diz que ele é a alma gêmea dela, que o considera como se fosse seu "filhote".A música"Pra que discutir com madame" que os dois apresentam juntos em alguns shows demonstra a cumplicidade que reina entre eles.Rosa Passos optou pela qualidade e por conta disso paga o ônus de ser mais conhecida no exterior do que no seu pais de Ivetes e sertanejos.
Mauro,
Tem certeza de que o Paulo Paulelli é filho da Rosa Passos?
Se for, é algo pouquíssimo divulgado. Veja o que ele cita no Myspace dele (http://www.myspace.com/paulopaulelli):
"PAULO PAULELLI WAS BORN ON 26 MARCH, 1974, IN SÃO PAULO, BRASIL. HE HAS RECEIVED A GOOD INFLUENCE FROM HIS RELATIVES, ESPECIALLY FROM HIS UNCLE MESSIAS SANTOS JÚNIOR, THE PARTNER OF CHICO BUARQUE AND THE ARRANGER OF JOÃO GILBERTO. ... CURRENTLY, PAULO IS PLAYING WITH ROSA PASSOS AND HAS BEEN WITH HER FOR THE PAST NINE YEARS. THEY HAVE TOURED MANY COUNTRIES THROUGHOUT THE WORLD THAT INCLUDE NORWAY, DENMARK, SWEDEN, SPAIN, JAPAN AND TWICE TO THE UNITED STATES...".
Veja também o que a divulgação de um cd dele (http://www.maritaca.art.br/corrente.html)
"Paulo Paulelli (baixo, percussão e voz): Nascido em São Paulo, Brasil, em 1974, Paulo Paulelli faz parte de uma família musical. Dois pianistas eruditos e um guitarrista arranjador, que trabalhou como regente de orquestra , acompanhando João Gilberto, no inicio da Bossa-nova. Seu avô Ernesto foi homenageado pelo compositor Adorinan Barbosa, com o “Samba do Arnesto”.
...
Recentemente participou, acompanhando a cantora Rosa Passos, de festivais de Jazz na Dinamarca, Suécia, Noruega, Espanha, Japão, Colômbia e Nova Iorque (USA)."...
abração,
Denilson
Salve Rosa!
Quem sabe num futuro não muito distante ela invista em um repertório mais autoral, como já fez outras vezes?
Te vi lá Mauro... sabia q vinha uma crítica boa... Mas vc saiu correndo do Mistura, nem deu tempo de falar contigo! O show foi lindo mesmo. No final no camarim, Rosa simplesmente parou de jantar para atender aos fãs que queriam lhe dar um beijo. Simpática, simples e delicada como uma estrela deveria ser. Ela me disse q o show em tributo a Elis foi todo filmado mas ainda não sabe se saíra algum material dele.
Rosa é 10!!!
o baixista é filho dela sim, no show ela o chama de 'filhote' o tempo todo.
vi o show em homenagem à Elis e há altos e baixos. Dois pra lá, dois pra cá, por exemplo, não dá pra aguentar. Você percebe como Elis elevou algumas canções que, sem ela, são chatas pra caramba. Já em sambas como Ladeira da Preguiça, Rosa é sansacional, se beneficiando do arranjo feito para o naipe de sopros que a acompanhou...
Mauro, obrigado demais pela resenha.
Quase fui ao Rio só pra assistir a esse show, mas não deu... Por enquanto, me contento com seu texto.
Também vejo que, aos poucos, Rosa vem conquistando seu espaço no Brasil, muito merecidamente, por sinal.
Porém, concordo com o anônimo das 12:46 PM. Artistas que que tem essa característica de cantar baixinho, intimista - apesar de Rosa estar cada vez meis solta - não costumam cair nas graças do grande público. Ainda há uma idéia no Brasil de que bom cantor é aquele que tem vozeirão, que canta pra fora. Não fosse isso, João Gilberto deveria ser uma unanimidade.
Rosa é das artistas que mais me surpreende. Seu tributo a Elis (alô, Biscoito Fino!!! )precisa sair. Rosa sempre quis fazer esse projeto e, não tenham dúvida, Rosa reinventa tuda que por ela passa.
Eu aguardo ansioso por este trabalho, pelo Romance e por um disco com composicões próprias já que Rosa é grande também na arte de compor.
Obrigado mais uma vez, Mauro.
Anderson Falcão
Brasília - DF
OBS.: Essa história de chamar o Paulelli de 'filhote' é só brincadeira de Rosa. Ele não é filho dela não...
Abraços.
Rosa é grandiosa. Sua interpretação para "Sentado a beira do caminho" é surpreendente, inovadora. Estou citando só uma música, mas a lista poderia se estender por aqui. Além de tudo é grande compositora.
"seu filho Paulo Paulelli, com quem a orgulhosa mãe divide um set mais íntimo em que pega o violão para cantar Só Danço Samba, Você Vai Ver, Jardim ..."
Paulo Paulelli nao é filho de Rosa Passos, Mauro!!! É apenas um carinho que ela faz à ele. Paulinho é paulista e tem uma carreira incrível em Sao paulo, muito antes de tocar com Rosa.
Gosto muito da Rosa Passos quando ela interpreta as proprias musicas..acho um cansaco so esta releitura eterna dela de classicos...ela eh uma otima compositora e deveria investir mais em suas proprias musicas..tem uma sensibilidade de letrista incrivel..em relacao a reinterpretacoes. acho que "So danco samba"com ela e o baixo do Paulelli eh antologico...no mais acho as reinterpretaceoes dela OK...Como nao sou fan de Elis achei um saco ve-la refazendo algumas musicas desta...ela realmente incorpora a Elis e pra mim isso foi um desprazer...mas nao quero dizer que ela nao faz bem, pelo conrario..faz tao bem que...enfim, Rosa canta baixo, susurra... mas qdo aumenta o tom fica muito melhor...torcopara que ela passe a cantar mais coisas autorais e esqueca estes classicos.
O Luc falou exatamente a minha percepção! Dá uma pena que é por muito pouco que a música não fica extremamente interessante. Comprei umas músicas dela cantando bossa nova com Ron Carter e são fantásticas! Excetuando, claro, esses detalhes.
Abraço!
É filho sim!
http://blog.opovo.com.br/discografia/com-repertorio-de-hits-rosa-passos-emociona-publico-de-fortaleza/
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