Rei volta ao trono ao cantar Jobim com Caetano

Título: Roberto Carlos e Caetano Veloso e a Música de
Tom Jobim
Artista: Caetano Veloso e Roberto Carlos
Gravadora: Sony BMG
Cotação: * * * * 1/2
Nas lojas desde 3 de dezembro de 2008 (apesar de ter tido sua chegada às lojas anunciada oficialmente para 5 de dezembro), o CD ao vivo com o registro do show que reuniu Caetano Veloso e Roberto Carlos em torno da música soberana de Tom Jobim parece ser álbum mais do Rei do que do compositor de Força Estranha. Seja pelos dominantes tons de azul da capa, seja por ostentar o selo da Sony BMG (a gravadora que lança os discos de Roberto desde 1961), seja por trazer um agradecimento escrito na primeira pessoa, não assinado, mas com referências religiosas típicas do compositor de Debaixo dos Caracóis de seus Cabelos. E talvez seja isso mesmo. No fundo, Roberto Carlos e Caetano Veloso e a Música de Tom Jobim tem aura especial por recolocar o Rei no trono. Roberto vinha perdendo a coroa ao gravitar em torno de obra autoral que já tinha dando progressivos sinais de desgaste desde o início dos anos 80. Nesta gravação ao vivo, captada em agosto de 2008 no Auditório Ibirapuera (SP), nas duas apresentações paulistas do show idealizado pela série ItaúBrasil para festejar os 50 anos da Bossa Nova, Roberto sai de sua inércia (à sua moda) e aproveita a oportunidade de mostrar que ele ainda é, sim, um grande cantor. Que se agiganta ao pôr sua voz de afinação e emissão exemplares a serviço da melhor música produzida no Brasil pela inspiração (sempre única) de Tom Jobim.
Mesmo sem o amparo das imagens do encontro, que poderão ser vistas no DVD que chega às lojas a partir de 15 de dezembro para atestar a real interação entre os cantores, o CD já se impõe como um dos melhores discos do ano. E um dos melhores da discografia iniciada por Roberto Carlos em 1959. Ainda que os arranjos de Jaques Morelenbaum para Garota de Ipanema e Wave, sejam excessivamente reverentes aos registros clássicos destas músicas. Ainda que a opção de Roberto por cantar Insensatez em espanhol tenha sua infelicidade realçada no disco. Ainda que, das 16 faixas do CD, somente quatro sejam duetos. Com todos esses pequenos detalhes, o encontro resulta sublime. E, sim, é histórico por si só...
Ainda que sem as imagens do DVD, o CD reproduz com fidelidade o caráter e o conceito do show. Dá para sentir a suntuosidade do bloco camerístico em que, sozinho, Caetano canta músicas como Inútil Paisagem e Meditação. Sob cordas clássicas de seu maestro Jaques Morelenbaum, Caetano atinge o ápice da solenidade em Por Toda Minha Vida (Exaltação ao Amor) e descontrai em Ela É Carioca, um dos poucos números em que se detecta a leveza da bossa cinqüentenária. Sob a batuta conservadora de seu maestro Eduardo Lages, Roberto faz pulsar sua tradicional veia romântica ao cantar majestosamente Por Causa de Você, Eu Sei que Vou te Amar (com inserção do Soneto da Fidelidade, de Vinicius de Moraes, o parceiro mais importante de Tom Jobim) e Lígia. Essa faixa, contudo, vai poder ser apreciada de forma mais plena no DVD, pois, antes de começar a entoar a música, Roberto exibe no telão imagens do encontro que teve com Jobim no seu especial global de 1978, quando o Rei e o soberano Jobim cantaram Lígia.
Coroando o disco que termina com Chega de Saudade, em outro arranjo reverente ao universo de Jobim, há o gracioso dueto em Tereza da Praia, em que Roberto e Caetano recriam o dueto feito por Dick Farney (1921 - 1987) com Lúcio Alves (1927 - 1993) na gravação original de 1954. Em suma, um encontro em Tom maior, com as bossas particulares de dois grandes cantores. E de Jobim!!!