2 de dezembro de 2008

De olho no futuro, Joyce revê amigos e canções

Resenha de CD / DVD
Título: Joyce ao Vivo
Artista: Joyce
Gravadora: EMI Music
Cotação: * * * *

Em 1968, inserida no universo da MPB propagada nos festivais, porém influenciada pela bossa nova escutada na adolescência, Joyce lançou seu primeiro LP. Em 1969, o segundo. Seguiram-se disco dividido com Nelson Ângelo em 1972 e um álbum de intérprete, Passarinho Urbano, editado na Itália em 1976 e no Brasil em 1977. Nada aconteceu até então. Como compositora, o merecido reconhecimento de Joyce viria somente em 1979, ano da explosão feminina na música popular brasileira, quando foi simultaneamente gravada por Elis Regina (Essa Mulher, a faixa-título do grande álbum), Maria Bethânia (Da Cor Brasileira, um dos muitos destaques do álbum Mel), Boca Livre (Mistérios, hit do cultuado disco independente que trouxe Toada e Quem Tem a Viola) e Quarteto em Cy (Feminina, incluída no álbum Quarteto em Cy em 1000 Kilohertz). Abriu-se, naquele momento, um caminho de maior popularidade, sedimentado em 1980 com o sucesso de Clareana no Festival MPB-80 - produzido e exibido pela Rede Globo - e com a gravação de grande álbum autoral, Feminina, que apresentou Revendo Amigos e o cancioneiro que já estava na boca do povo. Cancioneiro que a compositora recicla neste CD e DVD comemorativos de seus 40 anos de carreira fonográfica, Joyce ao Vivo, gravados em abril de 2008 no Teatro Fecap, em São Paulo (SP), e editados pela mesma EMI que, então sob o nome de Odeon, lançou o álbum Feminina em 1980.

Sob as câmeras dirigidas por Roberto de Oliveira, Joyce revê amigos - Leila Pinheiro, Mônica Salmaso, Francis Hime, Zé Renato, João Donato, Roberto Menescal e Dori Caymmi engrossam o time de convidados - e canções num projeto de caráter retrospectivo que mira o passado com um olho no futuro. É que alguns amigos entram com parcerias inéditas com Joyce - casos de Zé Renato (Pra Você Gostar de mim) e Roberto Menescal (Madame Quer Sambar, tema cheio de bossa e verve). Contudo, é a revisão do cancioneiro que justifica o registro ao vivo. Até porque o primeiro DVD de Joyce, Banda Maluca ao Vivo (Biscoito Fino, 2004), priorizou a faceta instrumental de sua obra, a que lhe tem garantido visibilidade e prestígio na Europa e no Japão por conta do suingue de contornos jazzísticos que envolve parte de sua música. Em Joyce ao Vivo, as canções falam por si só. Tanto que o público espontaneamente canta os versos de Clareana, até então solada ao violão por Joyce no que seria um registro (inicialmente) instrumental. Cada clássico ganhou um colorido especial. O de Mistérios é a voz cálida de Mônica Salmaso. Essa Mulher é encorpada pela voz e pelo violão de Dori Caymmi. Revendo Amigos passa pelo filtro da voz e do piano de Leila Pinheiro. Já o samba Mulheres do Brasil ganha as vozes afetivas de Ana Martins e Clara Moreno, filhas de Joyce. Ambas cantoras, elas formam trio afetivo com a mãe. E tem mais no roteiro: Monsieur Binot (música que abria o álbum Água e Luz, de 1981), Havana-me (a celebração das afinidades entre Cuba e Brasil que ganhou sentido especial no dueto recente feito em show por Maria Bethânia com Omara Portuondo) e Samba da Zona (recorrente em vozes projetadas na Lapa, o bairro boêmio do Centro do Rio de Janeiro). Enfim, é um resumo bem bacana da obra dessa mulher que - com inspiração - soube dar tom feminino à música brasileira.

14 Comments:

Blogger Mauro Ferreira said...

Em 1968, inserida no universo da MPB propagada nos festivais, porém influenciada pela bossa nova escutada na adolescência, Joyce lançou seu primeiro LP. Nada aconteceu. Seguiram-se um disco dividido com Nelson Ângelo em 1972 e um álbum de intérprete, Passarinho Urbano, editado na Itália em 1976 e no Brasil em 1977. Nada aconteceu de novo. Como compositora, o merecido reconhecimento de Joyce viria somente em 1979, ano da explosão feminina na música popular brasileira, quando foi simultaneamente gravada por Elis Regina (Essa Mulher, faixa-título do álbum), Maria Bethânia (Da Cor Brasileira, um dos muitos destaques do LP Mel), Boca Livre (Mistérios, hit do cultuado disco independente que trouxe Toada e Quem Tem a Viola) e Quarteto em Cy (Feminina, incluída no álbum Quarteto em Cy em 1000 Kilohertz). Abriu-se, naquele momento, um caminho de maior popularidade, sedimentado em 1980 com o sucesso de Clareana no Festival MPB-80 - produzido e exibido pela Rede Globo - e com a gravação de grande álbum autoral, Feminina, que apresentou Revendo Amigos e o cancioneiro que já estava na boca do povo. Cancioneiro que a compositora recicla neste CD e DVD comemorativos de seus 40 anos de carreira fonográfica, Joyce ao Vivo, gravados em abril de 2008 no Teatro Fecap, em São Paulo (SP), e editados pela mesma EMI que, então sob o nome de Odeon, lançou o álbum Feminina em 1980.

Sob as câmeras dirigidas por Roberto de Oliveira, Joyce revê amigos - Leila Pinheiro, Mônica Salmaso, Francis Hime, Zé Renato, João Donato, Roberto Menescal e Dori Caymmi engrossam o time de convidados - e canções num projeto de caráter retrospectivo que mira o passado com um olho no futuro. É que alguns amigos entram com parcerias inéditas com Joyce - casos de Zé Renato (Pra Você Gostar de mim) e Roberto Menescal (Madame Quer Sambar, tema cheio de bossa e verve). Contudo, é a revisão do cancioneiro que justifica o registro ao vivo. Até porque o primeiro DVD de Joyce, Banda Maluca ao Vivo (Biscoito Fino, 2004), priorizou a faceta instrumental de sua obra, a que lhe tem garantido visibilidade e prestígio na Europa e no Japão por conta do suingue de contornos jazzísticos que envolve parte de sua música. Em Joyce ao Vivo, as canções falam por si só. Tanto que o público espontaneamente canta os versos de Clareana, até então solada ao violão por Joyce no que seria um registro (inicialmente) instrumental. Cada clássico ganhou um colorido especial. O de Mistérios é a voz cálida de Mônica Salmaso. Essa Mulher é encorpada pela voz e pelo violão de Dori Caymmi. Revendo Amigos passa pelo filtro da voz e do piano de Leila Pinheiro. Já o samba Mulheres do Brasil ganha as vozes afetivas de Ana Martins e Clara Moreno, filhas de Joyce. Ambas cantoras, elas formam trio afetivo com a mãe. E tem mais no roteiro: Monsieur Binot (música que abria o álbum Água e Luz, de 1981), Havana-me (a celebração das afinidades entre Cuba e Brasil que ganhou sentido especial no dueto recente feito em show por Maria Bethânia com Omara Portuondo) e Samba da Zona (recorrente em vozes projetadas na Lapa, o bairro boêmio do Centro do Rio de Janeiro). Enfim, é um resumo bem bacana da obra dessa mulher que, com inspiração, soube dar tom feminino à música brasileira.

2 de dezembro de 2008 às 21:33  
Anonymous Anônimo said...

É muito bom saber que Joyce "está voltando".
Um talento nosso que deve cada vez mais produzir beleza e ter essa beleza reconhecida por nós.
Os Japoneses que arrumem a deles.
Viva Joyce!

2 de dezembro de 2008 às 22:03  
Anonymous Anônimo said...

Grava em SP e faz uma capa no Rio.

2 de dezembro de 2008 às 23:21  
Anonymous Anônimo said...

A melhor versão de MISTÉRIOS é de Joyce em dueto com Gal. Nunca Gal cantou tão bem uma canção. Obra prima. Senti falta de Milton e Nana nesse DVD.

3 de dezembro de 2008 às 00:32  
Anonymous Anônimo said...

Acho que é ao lado do CD do Zé Renato, um dos melhores CD's do ano. Sempre esperei por um CD com os "sucessos" da Joyce. Reviver canções que fizeram parte de uma geração e mostrar as recentes, que são tão ouvidas no Japão como as de início da carreira aqui no Brasil.

Agora quero um no mesmo estilo "sucessos+amigos+ao vivo+DVD" da também esquecida Fátima Guedes, mostrando a beleza de suas canções.

3 de dezembro de 2008 às 07:50  
Anonymous Anônimo said...

Vale lembrar que Simone, em seu primeiro disco, lá por 73, já gravara uma canção de Joyce. Um reencontro das duas não seria má idéia, ao lado dos ausentes Milton Nascimento e Nana Caymmi.

3 de dezembro de 2008 às 08:09  
Anonymous Anônimo said...

Acho que ela tem ainda um outro disco antes do parceira com o Nelson Angelo.Um disco solo.Vou ver se encontro a informaçao.Tudo de bom.

3 de dezembro de 2008 às 08:34  
Anonymous Anônimo said...

Então, Mauro,é isso mesmo, o segundo album da Joyce é "encontro marcado" 1969 produzido pelo Nelsinho Motta com arranjos do Luiz Eça.Philips.
Inté
H.
P.s info no blog loronix!

3 de dezembro de 2008 às 08:41  
Anonymous Anônimo said...

Joyce mostra a muitos músicos-cantores-compositores que nunca parou no tempo, ao contrário, sua música evoluiu e se tornou cada vez mais criativa. Essa mulher é admirável seus seguidos Ilha Brasil-Gafieira moderna-Tudo bonito provam que sua verve se potencializou com o tempo. O disco que entoa as canções de Elis a seu próprio modo são uma aula de Jazz fusion (sei que ela não gosta muito desse termo). A beleza de "E era Copacabana" recentemente regravada por Emilio Santiago,sem falar na novíssima faixa "Compositor" (ainda não lançada oficialmente no Brasil é um belíssimo registro). Dela sim, eu espero sempre bons discos!

Salve Joyce!

3 de dezembro de 2008 às 10:20  
Anonymous Anônimo said...

Emanuel Andrade disse

RAPAZ JOYCE PODE TUDO...
Ela já surgiu arrasdando. Aliás, uma compositora de mão cheia. Qualidade que poucas têm, ao lado dela cito Rita Lee e Rorô.
E continua uma gata com todo respeito ao Tutty. E tem belas filhotas. Canta Joyce... O DVD é mais que merecido.

3 de dezembro de 2008 às 10:52  
Anonymous Anônimo said...

Concordo que Joyce deu um tom feminino à música brasileira. Grande músico, ótima compositora e cantora bastante agradável.
Joyce pode muito.

3 de dezembro de 2008 às 17:57  
Anonymous Anônimo said...

Como disse um anônimo: agora falta a Fátima Guedes. Outra de nossas raras competentes compositoras que merece um DVD. "Cheiro de Mato", "Condenados", "Passional", "Lápis de Cor", "Muito Prazer"... UFA! Viva Fátima Guedes também.
Nosso trio de ouro: Joyce, Fátima e Sueli Costa. Haja talento.

3 de dezembro de 2008 às 18:52  
Anonymous Anônimo said...

Joyce eh MARA !!!

Mas ela nao deveria regravar "Misterios" com nenhuma outra cantora...a obra-prima ja foi feita e uma "calida" Salmaso jamais superara uma gravacao de uma Gal Costa.

4 de dezembro de 2008 às 02:59  
Anonymous Anônimo said...

Joyce talvez seja a mais feminina de nossas compositoras. Terna, lúdica, mas sempre afiada, compôs obras primas, canta que é uma beleza, e é uma simpatia.

5 de dezembro de 2008 às 07:10  

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