2 de dezembro de 2008

Sapucahy canta duro cotidiano da 'favela' Brasil

Resenha de CD / DVD
Título: Favela Brasil
Artista: Leandro
Sapucahy
Gravadora: Warner
Music
Cotação: * * * 1/2

Não foi à toa que Leandro Sapucahy inseriu um pot-pourri com três sucessos de Bezerra da Silva (1927 - 2005) - Se Não Fosse o Samba, Malandragem Dá um Tempo e A Semente - no roteiro do bom show gravado ao vivo em 8 de maio de 2008 na Fundição Progresso (RJ) para gerar o primeiro DVD deste produtor de grupos de pagode que se transmutou em cantor a partir do lançamento, em 2006, do CD Cotidiano. Como Bezerra, Sapucahy faz através de seu repertório a crônica dos costumes das favelas. Aliás, não é por acaso também que o título deste seu primeiro registro de show - editado também em CD - é Favela Brasil. Só que os tempos são outros. Mudaram as favelas, pontos nervosos do jogo de gato e rato travado entre polícia, bandido e milícias. Mudou também o som das favelas, hoje mais miscigenado e influenciado pelo universo do funk e do hip hop. É nesse contexto explosivo, de alto teor político, que se insere o samba antenado de Sapucahy, que fez a Warner Music arquivar seu segundo álbum de estúdio - finalizado e até anunciado oficialmente pela gravadora em janeiro de 2008 - para investir nesta gravação ao vivo, realizada sob produção de Prateado, direção de Estevão Ciavatta e direção cênica de Regina Casé, artista identificada com as periferias. O belo cenário do artista plástico Zé Carratu ergue favela estilizada no palco da Fundição Progresso, adentrado por Sapucahy a bordo de uma moto-táxi, popular meio de transporte das favelas. E o fato é que o artista se mostra desenvolto em cena e canta repertório superior aos dos discos de pagode que costumava produzir até ganhar upgrade conceitual no mercado fonográfico ao ser convocado por Maria Rita para produzir o terceiro álbum da cantora, Samba Meu. Sapucahy incursiona pelo rap (Espírito Independente conta com a adesão de MC Marechal) e pelo funk - no fim do show, um pot-pourri ao qual adere MC Marcinho tenta reproduzir o clima dos bailes da pesada - mas é o samba que dá o tom de Favela Brasil. Arlindo Cruz é presença predominante na autoria do repertório ao lado de Serginho Meriti, parceiro de Claudinho Guimarães no desencanado Tá Tranqüilo Shock. Com Arlindo, aliás, Sapucahy canta Favela e Tamu Junto, samba que tem o espírito dos pagodes armados nos quintais dos subúrbios cariocas. É nesta tênue fronteira entre morro e asfalto que transita Favela Brasil. Lá em cima, no morro, o equilíbrio é delicado. Vacilou, dançou. No fio da navalha, malandro tem que andar no sapatinho para não rodar como o Mano Guta, cuja histórica trágica (e já quase banal no cotidiano tenso das comunidades) é contada no homônimo samba que agrega os efeitos vocais de Fernandinho Beatbox. Mano Guta, diz a letra, era inocente, mas, na fronteira entre o certo e o errado, há quem descambe para a criminalidade. Contudo, no repertório de Sapucahy, as cartas não são marcadas. O mocinho de hoje pode ser o bandido de amanhã - e o próprio Sapucahy, ao cantar Fui Bandido, ressalta o fato de as cadeias estarem cheias de homens com seu perfil. Apesar de tudo, o Rio de Janeiro - um dos cenários principais das mazelas dessa favela chamada Brasil - continua lindo. E por isso o samba Aquele Abraço, de Gilberto Gil, pinta no pedaço com versos levemente alterados. Quem balança a pança e comanda a massa não é mais Chacrinha (1917 - 1988), mas o presidente Lula, velho guerreiro em tempos idos, símbolo de uma época em que o poder paralelo não ditava ordem e costumes nas comunidades. Nos dias de hoje, o morro ainda não tem vez, mas já tem dono - como avisa Sapucahy em O Dono e o Povo ao lado de Leci Brandão, presença justificada na crônica sócio-política sobre a favela Brasil. Ao subir o morro, Sapucahy eleva seu samba-funk.

4 Comments:

Blogger Mauro Ferreira said...

Não foi à toa que Leandro Sapucahy inseriu um pot-pourri com três sucessos de Bezerra da Silva (1927 - 2005) - Se Não Fosse o Samba, Malandragem Dá um Tempo e A Semente - no roteiro do bom show gravado ao vivo em 8 de maio de 2008 na Fundição Progresso (RJ) para gerar o primeiro DVD deste produtor de grupos de pagode que se transmutou em cantor a partir do lançamento, em 2006, do CD Cotidiano. Como Bezerra, Sapucahy faz através de seu repertório a crônica dos costumes das favelas. Aliás, não é por acaso também que o título deste seu primeiro registro de show - editado também em CD - é Favela Brasil. Só que os tempos são outros. Mudaram as favelas, pontos nervosos do jogo de gato e rato travado entre polícia, bandido e milícias. Mudou também o som das favelas, hoje mais miscigenado e influenciado pelo universo do funk e do hip hop. É nesse contexto explosivo, de alto teor político, que se insere o samba antenado de Sapucahy, que fez a Warner Music arquivar seu segundo álbum de estúdio - finalizado e até anunciado oficialmente pela gravadora em janeiro de 2008 - para investir nesta gravação ao vivo, realizada sob produção de Prateado, direção de Estevão Ciavatta e direção cênica de Regina Casé, artista identificada com as periferias. O belo cenário do artista plástico Zé Carratu ergue favela estilizada no palco da Fundição Progresso, adentrado por Sapucahy a bordo de uma moto-táxi, popular meio de transporte das favelas. E o fato é que o artista se mostra desenvolto em cena e canta repertório superior aos dos discos de pagode que costumava produzir até ganhar upgrade conceitual no mercado fonográfico ao ser convocado por Maria Rita para produzir o terceiro álbum da cantora, Samba Meu. Sapucahy incursiona pelo rap (Espírito Independente conta com a adesão de MC Marechal) e pelo funk - no fim do show, um pot-pourri ao qual adere MC Marcinho tenta reproduzir o clima dos bailes da pesada - mas é o samba que dá o tom de Favela Brasil. Arlindo Cruz é presença predominante na autoria do repertório ao lado de Serginho Meriti, parceiro de Claudinho Guimarães no desencanado Tá Tranqüilo Shock. Com Arlindo, aliás, Sapucahy canta Favela e Tamu Junto, samba que tem o espírito dos pagodes armados nos quintais dos subúrbios cariocas. É nesta tênue fronteira entre morro e asfalto que transita Favela Brasil. Lá em cima, no morro, o equilíbrio é delicado. Vacilou, dançou. No fio da navalha, malandro tem que andar no sapatinho para não rodar como o Mano Guta, cuja histórica trágica (e já quase banal no cotidiano tenso das comunidades) é contada no homônimo samba que agrega os efeitos vocais de Fernandinho Beatbox. Mano Guta, diz a letra, era inocente, mas, na fronteira entre o certo e o errado, há quem descambe para a criminalidade. Contudo, no repertório de Sapucahy, as cartas não são marcadas. O mocinho de hoje pode ser o bandido de amanhã - e o próprio Sapucahy, ao cantar Fui Bandido, ressalta o fato de as cadeias estarem cheias de homens com seu perfil. Apesar de tudo, o Rio de Janeiro - um dos cenários principais das mazelas dessa favela chamada Brasil - continua lindo. E por isso o samba Aquele Abraço, de Gilberto Gil, pinta no pedaço com versos levemente alterados. Quem balança a pança e comanda a massa não é mais Chacrinha (1917 - 1988), mas o presidente Lula, velho guerreiro em tempos idos, símbolo de uma época em que o poder paralelo não ditava ordem e costumes nas comunidades. Nos dias de hoje, o morro ainda não tem vez, mas já tem dono - como avisa Sapucahy em O Dono e o Povo ao lado de Leci Brandão, presença justificada na crônica sócio-política sobre a favela Brasil. Ao subir o morro, Sapucahy eleva seu samba-funk.

2 de dezembro de 2008 às 18:18  
Anonymous Anônimo said...

Acho Lenadro Sapucahy lindo, isso já basta.

2 de dezembro de 2008 às 19:49  
Anonymous Anônimo said...

Eu amo a Regina Casé !

2 de dezembro de 2008 às 20:16  
Anonymous Anônimo said...

Porque o mau gosto de tatuar uma favela no braço????

3 de dezembro de 2008 às 16:45  

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