30 de novembro de 2008

Bio expõe a atuação de Imperial no pop dos 60

Resenha de Livro
Título: Dez! Nota Dez!
Eu Sou Carlos Imperial
Autoria: Denilson
Monteiro
Editora: Matrix
Cotação: * * * 1/2

Bem mais associado à fama de cafajeste, aliás cultivada com indisfarçável orgulho, Carlos Imperial (1935 - 1992) teve atuação decisiva no nascente mercado de música pop criado no Brasil nos anos 60. Um dos méritos da biografia do Gordo - escrita por Denilson Monteiro, colaborador de Nelson Motta na pesquisa do livro Vale Tudo (O Som e a Fúria de Tim Maia) - é a exposição da atuação de Imperial na indústria do disco que propagou a música dita jovem. Pouca gente sabe que Imperial lutou muito para abrir uma porta dessa indústria fonográfica para Roberto Carlos, já no fim dos anos 50, quando o cantor ainda persistia no erro de imitar João Gilberto. Menos gente sabe ainda que Imperial esteve envolvido na produção do primeiro disco de Elis Regina (1945 - 1982), que, contra a vontade da cantora, foi lançada pela Continental em 1961 - com o LP Viva a Brotolândia! - para disputar mercado com Celly Campello (1942 - 2003), então entronizada no posto de rainha do rock pré-Jovem Guarda. E por falar nas velhas tardes de domingo, o livro também relata o envolvimento de Imperial com as estrelas do movimento, em especial Eduardo Araújo, seu parceiro em Vem Quente que Eu Estou Fervendo e intérprete de O Bom, outro grande sucesso desse compositor, apresentador de programas de TV e agitador cultural que cultuava as mulheres, os carros e a música populista. Nos anos 60, o mundo era dos brotos que adotavam o rock como música e estilo de vida. Contudo, o faro de Imperial soube detectar o raro suingue negro que havia na voz de Wilson Simonal (1939 - 2000), cuja carreira fez deslanchar ao oferecer para o cantor sua música Mamãe Passou Açúcar em mim. Nascia ali o samba jovem - ou pilantragem, como seria batizado mais tarde o estilo musical que fez com que Simonal rivalizasse com Roberto Carlos no quesito popularidade. Eclético, e com bom trânsito entre as gravadoras, Imperial vivia o presente sem esquecer de fazer conexões com o passado. Foi tanto o autor de A Praça - a nostálgica marcha-rancho que levou Ronnie Von ao topo das paradas em 1967 - como o parceiro de Ataulfo Alves (1909 - 1969) em Você Passa Eu Acho Graça, o samba que impediu Clara Nunes (1942 - 1983) de ser cortada do elenco da gravadora Odeon por conta das vendas pífias de seu primeiro disco. Aliás, a biografia esclarece que a inusitada parceria entre Imperial e Ataulfo aconteceu, de fato. Sim, como o Gordo era mestre em criar factóides na imprensa para promover suas músicas e os artistas que as gravava, nem sempre o que era relatado nos jornais e revistas da época condizia com a realidade. Dez! Nota Dez! - o título se refere ao modo como Imperial anunciava as notas da apuração do desfile das escolas de samba do Carnaval carioca nos anos 80 - também acompanha a trajetória deste agitador cultural pela política, pelo cinema (na década de 70, ele incursionou pelas pornochanchadas), pela televisão e até pelo teatro. Contudo, foi na música que o nome de Carlos Imperial teve real importância na cena brasileira, na época daquelas jovens tardes dos 60. Embora a escrita de Denilson Monteiro nem sempre tenha alta costura, seu trabalho de pesquisa para reconstituir a rica trajetória multimídia de Carlos Imperial merece dez, nota dez!

3 Comments:

Blogger Mauro Ferreira said...

Bem mais associado à fama de cafajeste, aliás cultivada com indisfarçável orgulho, Carlos Imperial (1935 - 1992) teve atuação decisiva no nascente mercado de música pop criado no Brasil nos anos 60. Um dos méritos da biografia do Gordo - escrita por Denilson Monteiro, colaborador de Nelson Motta na pesquisa do livro Vale Tudo (O Som e a Fúria de Tim Maia) - é a exposição da atuação de Imperial na indústria do disco que propagou a música dita jovem. Pouca gente sabe que Imperial lutou muito para abrir uma porta dessa indústria fonográfica para Roberto Carlos, já no fim dos anos 50, quando o cantor ainda persistia no erro de imitar João Gilberto. Menos gente sabe ainda que Imperial esteve envolvido na produção do primeiro disco de Elis Regina (1945 - 1992), que, contra a vontade da cantora, foi lançada pela Continental em 1961 - com o LP Viva a Brotolândia! - para disputar mercado com Celly Campello (1942 - 2003), então entronizada no posto de rainha do rock pré-Jovem Guarda. E por falar nas velhas tardes de domingo, o livro também relata o envolvimento de Imperial com as estrelas do movimento, em especial Eduardo Araújo, seu parceiro em Vem Quente que Eu Estou Fervendo e intérprete de O Bom, outro grande sucesso desse compositor, apresentador de programas de TV e agitador cultural que cultuava as mulheres, os carros e a música populista. Nos anos 60, o mundo era dos brotos que adotavam o rock como música e estilo de vida. Contudo, o faro de Imperial soube detectar o raro suingue negro que havia na voz de Wilson Simonal (1939 - 2000), cuja carreira fez deslanchar ao oferecer para o cantor sua música Mamãe Passou Açúcar em mim. Nascia ali o samba jovem - ou pilantragem, como seria batizado mais tarde o estilo musical que fez com que Simonal rivalizasse com Roberto Carlos no quesito popularidade. Eclético, e com bom trânsito entre as gravadoras, Imperial vivia o presente sem esquecer de fazer conexões com o passado. Foi tanto o autor de A Praça - a nostálgica marcha-rancho que levou Ronnie Von ao topo das paradas em 1967 - como o parceiro de Ataulfo Alves (1909 - 1969) em Você Passa Eu Acho Graça, o samba que impediu Clara Nunes (1942 - 1983) de ser cortada do elenco da gravadora Odeon por conta das vendas pífias de seu primeiro disco. Aliás, a biografia esclarece que a inusitada parceria entre Imperial e Ataulfo aconteceu, de fato. Sim, como o Gordo era mestre em criar factóides na imprensa para promover suas músicas e os artistas que as gravava, nem sempre o que era relatado nos jornais e revistas da época condizia com a realidade. Dez! Nota Dez! - o título se refere ao modo como Imperial anunciava as notas da apuração do desfile das escolas de samba do Carnaval carioca nos anos 80 - também acompanha a trajetória deste agitador cultural pela política, pelo cinema (na década de 70, ele incursionou pelas pornochanchadas), pela televisão e até pelo teatro. Contudo, foi na música que o nome de Carlos Imperial teve real importância na cena brasileira, na época daquelas jovens tardes dos 60. Embora a escrita de Denilson Monteiro nem sempre tenha alta costura, seu trabalho de pesquisa para reconstituir a rica trajetória multimídia de Carlos Imperial merece dez, nota dez!

30 de novembro de 2008 às 18:20  
Anonymous Anônimo said...

A data de falecimento de Elis está errada , Mauro!!!

30 de novembro de 2008 às 21:41  
Anonymous Anônimo said...

Amigo do Imperial, o "velho homem da imprensa", Raul Giudiccelli me contou várias histórias que viveu com o Gordo na época em que trabalharam na Bloch. Numa ocasião, o ator Jaime Barcelos entrou na redação e se dirigiu ao Império:
- Boa tarde, Imperial. Eu queria agradecer a nota que vocês deram a meu respeito. Eu...
O Imperial não deixou que ele concluísse.
- Não, não, meu querido. Nós não damos notas a favor. É a nossa filosofia. A não ser, é claro, que haja uma grana na operação. De graça, só na revista Amiga.
Jaime Barcelos saiu sem dizer mais nada.

Bem, Mauro, corro o risco de você agir comigo da mesma maneira como o Impera agiu com o Jaime. Mas, não posso deixar de te agradecer. Fiquei realmente muito feliz com tudo o que você disse. Se por ventura quiser algum dia "trocar uma idéia" com um sujeito que sempre admirou teu trabalho, será um enorme prazer.

3 de dezembro de 2008 às 22:54  

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