Graças à vida pela voz resistente de Mercedes...
Resenha de Show
Título: Corazón Libre
Artista: Mercedes Sosa
Local: Vivo Rio (RJ)
Data: 28 de novembro de 2008
Foto: Mauro Ferreira
Cotação: * * * * 1/2
Título: Corazón Libre
Artista: Mercedes Sosa
Local: Vivo Rio (RJ)
Data: 28 de novembro de 2008
Foto: Mauro Ferreira
Cotação: * * * * 1/2
Aos 73 anos, Mercedes Sosa continua percorrendo o Mundo com seu repertório que simboliza a resistência dos povos da América Latina na luta contra ditaduras e contra qualquer outra forma de opressão. Enquanto grava projeto de duetos com artistas de diversos países (Caetano Veloso já pôs voz na sua canção Coração Vagabundo), a cantora argentina permanece em turnê com o show inspirado em seu último álbum de estúdio, Corazón Libre (2005). Foi esse show que chegou ao Rio de Janeiro (RJ) na noite de sexta-feira, 28 de novembro de 2008, em apresentação única que emocionou o público que encheu a casa Vivo Rio. A voz de Sosa é - ela própria - um símbolo de resistência numa fase em que a intérprete, já sem o vigor de outrora, se apresenta sentada o tempo todo, com a impressão de que lê algumas letras. Contudo, dessa voz ativista (ainda) emanam força e sentimentos profundos.
Já no primeiro número, Como la Cigarra, fica explícito o tom combativo do cancioneiro de Mercedes Sosa. Logo fica evidente também que uma carga grande de espiritualidade dá sentido extra-musical a músicas como Corazón Libre (entoada em registro suave) e Zamba para Olvidarte, um tema de tom lamentoso como tantos gravados por Mercedes ao longo de 43 coerentes anos de carreira fonográfica (seu primeiro álbum foi editado em 1965). Seja nos temas mais animados como a chacarera Sólo Pa' Bailarla (cujo ritmo remete à música folclórica argentina do século 19) ou nas músicas mais poéticas (caso de Alfonsina y el Mar), Sosa vai desfiando pungente rosário de canções de luta num recital emoldurado pela luz que acerta ao deixar a artista na penumbra durante as passagens instrumentais tocadas pelo sóbrio quarteto.
É com indisfarçável e justo orgulho que a intérprete apresenta cada música, citando os nomes dos compositores e fazendo que o público saiba, por exemplo, que a bela balada Aquellas Pequeñas Cosas foi composta por Joan Manuel Serrat em 1973. Entre tantas músicas emblemáticas na voz da cantora, como as inevitáveis Gracias a la Vida e Volver a los 17 (cujo refrão é cantado em coro pela platéia) Amarse Como Antes se impõe no roteiro pelo arranjo inicialmente seco que vai ganhando pulsação crescente. Contudo, nenhum arranjo ofusca as letras das músicas entoadas por Sosa. E as velhas emoções se renovam quando ela canta com densidade temas como Yo Vengo a Ofrecer mi Corazón (Fito Paez) ou Desarma y Sangra, linda canção do roqueiro Charly García, um dos muitos pontos altos do roteiro amarrado pela costura política.
Em sua incansável cruzada pela liberdade da América Latina, Mercedes Sosa volta e meia fez conexões com músicas e artistas brasileiros. Solo Le Pido a Dios, revivida no show, já tinha sido gravada pela cantora com Beth Carvalho em dueto pungente que fechava o álbum Beth (1986). Coração de Estudante, um dos grandes sucessos de Milton Nascimento nos anos 80, aparece na versão em espanhol gravada por Mercedes, com o palco iluminado com as cores da Bandeira do Brasil. O número mereceu aplausos entusiasmados antes do fim. Já Coração Vagabundo foi cantada num português até desenvolto - ainda que a intérprete, de antemão, já se desculpasse, avisando que ia cantar a música de Caetano Veloso em portunhol. Ao fim do show, com Mercedes enfim de pé ao som do prefixo de Maria Maria (Milton Nascimento e Fernando Brant), a sensação era de felicidade na platéia da casa Vivo Rio. Como se o público estivesse, no seu íntimo, dando graças à vida pela oportunidade de ver e ouvir Mercedes Sosa, boa voz da resistência nas lutas latino-americanas.
8 Comments:
Aos 73 anos, Mercedes Sosa continua percorrendo o Mundo com seu repertório que simboliza a resistência dos povos da América Latina na luta contra ditaduras e contra qualquer outra forma de opressão. Enquanto grava projeto de duetos com artistas de diversos países (Caetano Veloso já pôs voz na sua canção Coração Vagabundo), a cantora argentina permanece em turnê com o show inspirado em seu último álbum de estúdio, Corazón Libre (2005). Foi esse show que chegou ao Rio de Janeiro (RJ) na noite de sexta-feira, 28 de novembro de 2008, em apresentação única que emocionou o público que encheu a casa Vivo Rio. A voz de Sosa é - ela própria - um símbolo de resistência numa fase em que a intérprete, já sem o vigor de outrora, se apresenta sentada o tempo todo, com a impressão de que lê algumas letras. Contudo, dessa voz ativista (ainda) emanam força e sentimentos profundos.
Já no primeiro número, Como la Cigarra, fica explícito o tom combativo do cancioneiro de Mercedes Sosa. Logo fica evidente também que uma carga grande de espiritualidade dá sentido extra-musical a músicas como Corazón Libre (entoada em registro suave) e Zamba para Olvidarte, um tema de tom lamentoso como tantos gravados por Mercedes ao longo de 43 coerentes anos de carreira fonográfica (seu primeiro álbum foi editado em 1965). Seja nos temas mais animados como a chacarera Sólo Pa' Bailarla (cujo ritmo remete à música folclórica argentina do século 19) ou nas músicas mais poéticas (caso de Alfonsina y el Mar), Sosa vai desfiando pungente rosário de canções de luta num recital emoldurado pela luz que acerta ao deixar a artista na penumbra durante as passagens instrumentais tocadas pelo sóbrio quarteto.
É com indisfarçável e justo orgulho que a intérprete apresenta cada música, citando os nomes dos compositores e fazendo que o público saiba, por exemplo, que a bela balada Aquellas Pequeñas Cosas foi composta por Joan Manuel Serrat em 1973. Entre tantas músicas emblemáticas na voz da cantora, como as inevitáveis Gracias a la Vida e Volver a los 17 (cujo refrão é cantado em coro pela platéia) Amarse Como Antes se impõe no roteiro pelo arranjo inicialmente seco que vai ganhando pulsação crescente. Contudo, nenhum arranjo ofusca as letras das músicas entoadas por Sosa. E as velhas emoções se renovam quando ela canta com densidade temas como Yo Vengo a Ofrecer mi Corazón (Fito Paez) ou Desarma y Sangra, linda canção do roqueiro Charly García, um dos muitos pontos altos do roteiro amarrado pela costura política.
Em sua incansável cruzada pela liberdade da América Latina, Mercedes Sosa volta e meia fez conexões com músicas e artistas brasileiros. Solo Le Pido a Dios, revivida no show, já tinha sido gravada pela cantora com Beth Carvalho em dueto pungente que fechava o álbum Beth (1986). Coração de Estudante, um dos grandes sucessos de Milton Nascimento nos anos 80, aparece na versão em espanhol gravada por Mercedes, com o palco iluminado com as cores da Bandeira do Brasil. O número mereceu aplausos entusiasmados antes do fim. Já Coração Vagabundo foi cantada num português até desenvolto - ainda que a intérprete, de antemão, já se desculpasse, avisando que ia cantar a música de Caetano Veloso em portunhol. Ao fim do show, com Mercedes enfim de pé ao som do prefixo de Maria Maria (Milton Nascimento e Fernando Brant), a sensação era de felicidade na platéia da casa Vivo Rio. Como se o público estivesse, no seu íntimo, dando graças à vida pela oportunidade de ver e ouvir Mercedes Sosa, boa voz da resistência nas lutas latino-americanas.
Mauro,
Eu sou teu fã! Que resenha mais bem escrita! Obrigado pelo recado de antes (ainda não lhe agradeci). Mas voltando a resenha, parabéns! E relembrou o belíssimo dueto de Mercedes com a minha Rainha. Você manja até de música argentina! Um dia eu chego lá! Abraços,
Marcelo Barbosa - Brasília (DF)
Mercedes é uma cantora inesquecível, é uma voz que leva a América Latina consigo, é emocionante ouvir ela cantar Volver a los 17 com Milton Nascimento, são essas coisas que fazem valer a pena a vida... mas minha gente, alguém me responda: o que aconteceu com ela? ela passou por alguma doença grave? o que houve para que ela esteja assim com tanto excesso de peso, fazendo o show quase inteiro sentada? Era uma mulher tão bonita, me assusto um pouco quando a vejo agora... Mas a voz continua impecável... Gracia a la vida e a la Mercedes!
Majestosa Guerreira!!!
Gracias por tu canto inolvidable!
Só elogio, que bom.
Assino em baixo: voz, repertório, atitude.
Uma guerreira da boa música latina.
O Brasil merecia mais Mercedes e olha que de talentos musicais somos abarrotados - o que só reforça sua importância.
"Que seja eterna enquanto dure".
PS: Fico feliz Mauro em saber que compartilha dessa admiração.
É uma pena que a música latina não faz tanto sucesso aqui ano Brasil. E o meu cd da Mercedes Sosa, eu tive que importar de um site argentino. http://www.tematika.com
Adoro, que saudade, não há vejo há quase dois anos!
Sr. Rio de Janeiro a Dezembro,
quem disse que música latina não faz sucesso no Brasil ?
E o Luis Miguel ? Ai, ai...
Pelo menos pra curtir fossa estamos bem equipados.
Mas falando sério: o cara é competente no quesito dor-de-cotovelo à "la bolero". Só que MERCEDES SOSA é música para qualquer sentimento. MERECEMOS MAIS!
Abraços e torçamos juntos para que venha mais Dona Mercedes.
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