30 de novembro de 2008

D2 põe funk, rock e romance no seu samba-rap

Resenha de CD
Título: A Arte do Barulho
Artista: Marcelo D2
Gravadora: EMI Music
Cotação: * * * *


À eterna procura de sua batida perfeita, Marcelo D2 pareceu ter chegado a delicado ponto de exaustão em seu quarto disco solo, Meu Samba É Assim (2006). Talvez por isso mesmo o artista acerta ao alterar a receita de seu samba-rap em A Arte do Barulho, álbum de 12 inéditas que marca a estréia de D2 na gravadora EMI Music. Já na faixa-título, exposta na abertura do CD, os riffs da guitarra de Alexandre Vaz entram na dança e entregam o jogo: A Arte do Barulho, tanto a música como o disco, evocam o som mais roqueiro do Planet Hemp - o grupo que deu fama e problemas a D2 nos anos 90 pela apologia em favor da maconha. Mais misturada, a batida atual de D2 ainda está centrada na fusão perfeita de samba e rap, mas já incorpora também um certo romantismo quase convencional (em Ela Disse e em Vem Comigo que Eu te Levo pro Céu) e o batidão do funk carioca - notadamente em Meu Tambor, faixa incrementada com o vocal de Zuzuca Poderosa, funkeira carioca radicada em Nova York (EUA). Nunca badalada nas notas divulgadas pela EMI para anunciar a chegada do disco às lojas, a participação de Zuzuca acaba sendo mais importante do que a de Mariana Aydar, subaproveitada nos vocais de Fala Sério! - tema em que, sob riffs de guitarra e percussão, D2 deita falação contra a cultura individualista que rege a sociedade consumista. Já Thalma de Freitas, que aparece creditada como "participação especial" somente em Ela Disse, mas aparece bem em Oquecêqué? - faixa urdida somente com a base do DJ Nuts (presença, aliás, fundamental no álbum com seus scratches e programações) e os efeitos de Fernandinho Beat Box - e ainda engrossa o coro de Pode Acreditar (Meu Laiá Laiá) e de Kush, tema no qual figura o rapper norte-americano Medaphor. Espécie de carta dos princípios que regem a batida de D2, a letra de Pode Acreditar (Meu Laiá Laiá) é cantada também por Seu Jorge, outro convidado de um disco que ainda aglutina a voz de Roberta Sá em Minha Missão - faixa cuja mensagem otimista parece copiada de manual de auto-ajuda - e o piano de Marcos Valle em Afropunk no Valle do Rap, música que, apesar do título fazer supor outra viagem, transita no universo do sambossa. Sem falar em Stephan Peixoto, filho de D2, convidado e parceiro do pai em Atividade na Laje, outro rap de tom funkeado. Enfim, pode ser que D2 não faça tanto barulho com este (ótimo) quinto álbum solo, mas é justo reconhecer que o artista continua inquieto, à procura da perfeição de uma batida que já tem lugar de honra na música brasileira dos anos 2000. Ele faz Arte - e barulho.

6 Comments:

Blogger Mauro Ferreira said...

À eterna procura de sua batida perfeita, Marcelo D2 pareceu ter chegado a um ponto de exaustão em seu quarto disco solo, Meu Samba É Assim (2006). Talvez por isso mesmo o artista acerta ao alterar a receita de seu samba-rap em A Arte do Barulho, álbum de 12 inéditas que marca a estréia de D2 na gravadora EMI Music. Já na faixa-título, perfeita na abertura do CD, os riffs da guitarra de Alexandre Vaz entram na dança e entregam o jogo: A Arte do Barulho, tanto a música como o disco, evocam o som mais roqueiro do Planet Hemp - o grupo que deu fama e problemas a D2 nos anos 90 pela apologia em favor da maconha. Mais misturada, a batida atual de D2 ainda está centrada na fusão perfeita de samba e rap, mas incorporta também um certo romantismo quase convencional (em Ela Disse e em Vem Comigo que Eu te Levo pro Céu) e o batidão do funk carioca - notadamente em Meu Tambor, faixa incrementada com o vocal de Zuzuca Poderosa, funkeira carioca radicada em Nova York (EUA). Nunca badalada nas notas divulgadas pela EMI para anunciar a chegada do disco às lojas, a participação de Zuzuca acaba sendo mais importante do que a de Mariana Aydar, subaproveitada nos vocais de Fala Sério! - tema em que, sob riffs de guitarra e percussão, D2 deita falação contra a cultura individualista que rege a sociedade consumista. Já Thalma de Freitas, que aparece creditada como "participação especial" somente em Ela Disse, mas aparece bem em Oquecêqué? - faixa urdida somente com a base do DJ Nuts (presença, aliás, fundamental no álbum com seus scratches e programações) e os efeitos de Fernandinho Beat Box - e ainda engrossa o coro de Pode Acreditar (Meu Laiá Laiá) e de Kush, tema no qual figura o rapper norte-americano Medaphor. Espécie de carta dos princípios que regem a batida de D2, a letra de Pode Acreditar (Meu Laiá Laiá) é cantada também por Seu Jorge, outro convidado de um disco que ainda aglutina a voz de Roberta Sá em Minha Missão - faixa cuja mensagem otimista parece copiada de manual de auto-ajuda - e o piano de Marcos Valle em Afropunk no Valle do Rap, música que, apesar do título fazer supor outra viagem, transita no universo do sambossa. Sem falar em Stephan Peixoto, filho de D2, convidado e parceiro do pai em Atividade na Laje, outro rap de tom funkeado. Enfim, pode ser que D2 não faça tanto barulho com este (ótimo) quinto álbum solo, mas é justo reconhecer que o artista continua inquieto, à procura da perfeição de uma batida que já tem lugar de honra na música brasileira dos anos 2000. Ele faz Arte - e barulho.

30 de novembro de 2008 às 17:15  
Anonymous Anônimo said...

Grande D2!
Sempre esperto(se bem que até uma anta notaria que a fórmula já estava gasta) mudou de rumo e fez um grande disco.
Foi uma bela sacada chamar as mocinhas.
O Peixoto é sempre bem vindo, como diria Marisa Monte.
Ele tem a manha.

Jose Henrique

30 de novembro de 2008 às 19:29  
Anonymous Anônimo said...

Eu não ouvi o disco, mas as críticas dizem mais ou menos isso aí: é roqueiro como já fazia tempo que o D2 não era.

E o Zé Henrique dizendo que pelo single, "Desabafo", era mais do mesmo...

Zé, não se julga um disco pela "música de trabalho". :>)

Mas "tá perdoado", como diria a mãe do Antônio. Ninguém tem culpa de a EMI botar na rua uma faixa que contradiz o espírito do álbum.

Felipe dos Santos Souza

PS: Não gostei de "Desabafo".

30 de novembro de 2008 às 21:18  
Anonymous Anônimo said...

hehehehhe
Felipe sempre tirando onda com a minha cara.
Pois eu não lhe perdôo por usar musiquinha tão chinfrim pra me perdoar.
Com seus vastos conhecimentos musicais poderia ter usado exemplo bem melhor.
Sabe cara, até de "desabafo" eu tô gostando agora.
Explico, o disco é meio que um apanhado de tudo que ele já fez até agora. Sendo assim, "desabafo" representa o samba-rap.
Além do mais, ouça com boa vontade, é boa!
D2 continua tirando onda até a última ponta.

Jose Henrique

1 de dezembro de 2008 às 01:23  
Anonymous Anônimo said...

Zé, vou ouvir, sim.

D2 manja do riscado, mesmo.

O pessoal que diz "ah, o cara se vendeu" está num embotamento de visão absurdo.

OK, para falar a verdade, eu também prefiro o Planet (ah, aquela dupla D2-BNegão... matava a pau no palco). Agora, o D2 não se vendeu coisa nenhuma. Ele apenas quis, no trabalho solo, mostrar uma faceta que era pouco aproveitada no PH.

Já em 1997, na turnê do "Os Cães Ladram mas a Caravana não Pára", após aquela prisão draconiana do Planet em BSB, ele deu uma entrevista dizendo "um dia eu quero mostrar um lado mais sambístico meu, fazer um hip hop falando "cumpadi", tá ligado? Não posso esconder que gosto de Beth Carvalho".

E ele fez isso. No "Eu Tiro é Onda" e, especialmente, no "À Procura..." (neste último, eu destaco "Pilotando o Bonde da Excursão". Ficou meio eclipsada pelo sucesso de "Qual é?" e "Loadeando", mas é musicaço).

De mais a mais, se ele não tivesse valor algum, Marisa não ia dar a mínima para ele, ia? :>)

Abraço,

Felipe dos Santos Souza

1 de dezembro de 2008 às 14:40  
Anonymous Anônimo said...

Está diferente, mas eu esperava mais.

1 de dezembro de 2008 às 14:51  

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