4 de dezembro de 2008

Em cena, RoRo e Ana unem gargantas intensas

Resenha de Show
Título: Compasso
Artista: Ângela RoRo - com participação de Ana Carolina
Local: Canecão (RJ)
Data: 3 de dezembro de 2008
Foto: Mauro Ferreira
Cotação: * * 1/2

"Obrigado por terem vindo... na expectativa de ver Ana Carolina", gracejou Ângela RoRo logo no começo do show Compasso, que voltou à cena no Canecão - em apresentação única agendada para a noite de quarta-feira, 3 de dezembro de 2008 - depois de ter estreado no Teatro Rival em fevereiro de 2007. De fato, a participação de Ana Carolina foi certamente o que motivou a maior parte da platéia a conferir o show pela oportunidade de testemunhar um encontro já em si emblemático por unir no palco duas cantoras de posturas e vozes intensas, ambas pautadas na vida e na música por paixões e personalidades fortes. Pois o encontro cumpriu a expectativa e até surpreendeu pela escolha das músicas e pelo (razoável) acabamento. Em bom português, os quatro duetos de RoRo com Ana pareceram bem ensaiados e não improvisados em cena em clima de ensaio geral - como volta e meia acontece com encontros do gênero. Foram os (redentores) pontos altos de show apático em - quase - toda sua primeira parte.

Logo no primeiro número em dueto, Quero Mais, as cantoras já entraram no tom. Até porque os poéticos versos de Ana Terra para a bela música de RoRo se ajustam com perfeição ao caráter habitualmente exacerbado das interpretações de Ana Carolina. Na seqüência, as assumidas cantoras brincaram de embaralhar os papéis sexuais ao entoarem Homens e Mulheres, um tango de contorno pop composto por Ana com refrão questionador ("Eu gosto de homens e mulheres /E você o que prefere?). As cantoras realçaram o clima da música com um bailado provocador, cheio de sensualidade. Uma se enroscava na outra em movimentos de alto teor erótico que mais tarde se repetiram em Garganta, já na volta de Ana ao palco, para encerrar o show. Neste número, houve excessos. De Ana, que em determinado momento gritou em vez de cantar. De RoRo, que alterou um ou outro verso da letra para forçar conotação erótica na música de Totonho Villeroy. E da banda, que pareceu não saber a hora de terminar a música. "Pensei que a gente ia passar a noite toda aqui", ironizou Ana. Em seguida, Compasso - um das poucas composições realmente boas do disco de inéditas editado por RoRo em 2006 - manteve alta a temperatura do encontro intenso de duas gargantas explosivas. Pena que, no bis, em vez de apresentarem juntas uma quinta música, as intérpretes repetiram Compasso, entoada momentos antes. Ainda assim, quem foi de fato assistir ao show de RoRo na expectiva de ver Ana Carolina deve ter se sentido recompensado.

Duetos à parte, RoRo repetiu na apresentação de Compasso no Canecão o mesmo grave erro detectado na estréia do show no Teatro Rival em fevereiro de 2007: o desequilíbrio de um roteiro que apresenta, de cara, muita música nova de qualidade irregular. Por mais que a cantora estivesse na companhia de afiada banda que destacou o guitarrista João Gaspar (protagonista de um solo endiabrado no rock Contagem Regressiva) e o percussionista Jovi Joviano (responsável pelo molho latino que temperou Simples Carinho, a parceria de João Donato e Abel Silva que RoRo lançou em 1982), o show transcorreu apático em sua primeira metade porque a artista não inseriu um ou outro hit entre músicas como Paixão, Menti pra Você, Dá Pé! e Bater Não Dói. O primeiro bom momento do show vem com número feito por RoRo há mais de 15 anos: Ne me Quitte Pas, o standard pseudo-francês composto pelo belga Jacques Brel, veículo perfeito para a intérprete expressar a forte dramaticidade de seu canto. "Nada como um bom teatro", comentou RoRo, sempre mordaz, ao receber os entusiasmados aplausos da simpatizante platéia ao fim do número. No mais, vale mencionar a perene beleza de Só nos Resta Viver, o improviso de Senza Fine - feito por RoRo para atender pedido de espectador - e os comentários espirituosos que, como de praxe, pontuam as apresentações de Ângela RoRo, a intérprete que aprendeu a se virar sozinha e que não muda a postura só para me ou te agradar...

19 Comments:

Blogger Mauro Ferreira said...

"Obrigado por terem vindo... na expectativa de ver Ana Carolina", gracejou Ângela RoRo logo no começo do show Compasso, que voltou à cena no Canecão - em apresentação única agendada para a noite de quarta-feira, 3 de dezembro de 2008 - depois de ter estreado no Teatro Rival em fevereiro de 2007. De fato, a participação de Ana Carolina foi certamente o que motivou a maior parte da platéia a conferir o show pela oportunidade de testemunhar um encontro já em si emblemático por unir no palco duas cantoras de posturas e vozes intensas, ambas pautadas na vida e na música por paixões e personalidades fortes. Pois o encontro cumpriu a expectativa e até surpreendeu pela escolha das músicas e pelo bom acabamento. Em bom português, os duetos de RoRo com Ana pareceram bem ensaiados e não improvisados em cena em clima de ensaio geral - como volta e meia acontece com encontros do gênero. Foram os (redentores) pontos altos de show apático em - quase - toda sua primeira parte.

Logo no primeiro número em duo, Quero Mais, as cantoras já entraram no tom. Até porque os versos de Ana Terra para a bela música de RoRo se ajustam com perfeição ao caráter habitualmente exacerbado das interpretações de Ana. Na seqüência, as assumidas cantoras brincaram de embaralhar os papéis sexuais ao entoarem Homens e Mulheres, um tango de contorno pop composto por Ana de refrão questionador ("Eu gosto de homens e mulheres /E você o que prefere?). As cantoras realçaram o clima da música com um bailado provocador, cheio de sensualidade. Uma se enroscava na outra em movimentos de alto teor erótico que mais tarde se repetiram em Garganta, já na volta de Ana ao palco, para encerrar o show. Neste número, houve excessos. De Ana, que em determinado momento gritou em vez de cantar. De RoRo, que alterou um ou outro verso da letra para forçar conotação erótica na música de Totonho Villeroy. E da banda, que pareceu não saber a hora de terminar a música. "Pensei que a gente ia passar a noite toda aqui", ironizou Ana. Em seguida, Compasso - um das poucas composições realmente boas do disco de inéditas editado por RoRo em 2006 - manteve alta a temperatura do encontro intenso de duas gargantas explosivas. Pena que, no bis, em vez de apresentarem juntas uma quinta música, as intérpretes repetiram Compasso, entoada momentos antes. Ainda assim, quem foi de fato assistir ao show de RoRo na expectiva de ver Ana Carolina deve ter se sentido recompensado.

Duetos à parte, RoRo repetiu na apresentação de Compasso no Canecão o mesmo grave erro detectado na estréia do show no Teatro Rival em fevereiro de 2007: o desequilíbrio de um roteiro que apresenta, de cara, muita música nova de qualidade irregular. Por mais que a cantora estivesse na companhia de afiada banda que destacou o guitarrista João Gaspar (protagonista de um solo endiabrado no rock Contagem Regressiva) e o percussionista Jovi Joviano (responsável pelo molho latino que temperou Simples Carinho, a parceria de João Donato e Abel Silva que RoRo lançou em 1982), o show transcorreu apático em sua primeira metade porque a artista não inseriu um ou outro hit entre músicas como Paixão, Menti pra Você, Dá Pé! e Bater Não Dói. O primeiro bom momento do show vem com número feito por RoRo há mais de 15 anos: Ne me Quitte Pas, o standard pseudo-francês composto pelo belga Jacques Brel, veículo perfeito para a intérprete expressar a dramaticidade de seu canto. "Nada como um bom teatro", comentou RoRo, espirituosa, ao receber os entusiasmados aplausos da simpatizante platéia ao fim do número. No mais, vale mencionar a perene beleza de Só nos Resta Viver, o improviso de Senza Fine - feito por RoRo para atender pedido de espectador - e os comentários espirituosos que, como de praxe, pontuam as apresentações de Ângela RoRo, a intérprete que aprendeu a se virar sozinha e que não muda a postura só para me ou te agradar...

4 de dezembro de 2008 às 07:42  
Anonymous Anônimo said...

O que falta a Ro Ro são projetos e um bom produtor que a faça sair da mesmice de suas canções e interpretações. Ela é maravilhosa e ainda está com a voz linda.

4 de dezembro de 2008 às 08:21  
Anonymous Anônimo said...

Excessos, falta de produtor, mas também... quem não tem medo de Ângela Ro Ro?

4 de dezembro de 2008 às 09:18  
Anonymous Anônimo said...

Infelizmente não pude conferir este show, mas concordo quando Mauro fala do roteiro, realmente as composições novas não tiveram uma divulgação a ponto de sustentar uma sequência no show e ao comentário acima sobre uma produção para RoRo, isso seria essencial neste retorno da grande artista com repertório emblemático porém já repetitivo.
Mas, adoro RoRo.

4 de dezembro de 2008 às 10:15  
Anonymous Anônimo said...

Ana bebeu muito nessa fonte.

4 de dezembro de 2008 às 10:26  
Anonymous Anônimo said...

Curto muito a voz da Rorô e várias de suas canções. Concordo que ela precisa de um gás para mudar esse nhenhenhem engraçadinho de sua performance e se concentrar mais na bad lady que ela é. Coisa de Billie e outras poucas.
Quanto à Ana, não tem estofo para descer aos subterrâneos de Ângela, mas...tá valendo!!!

4 de dezembro de 2008 às 10:58  
Anonymous Anônimo said...

Acho que o grande problema da Angela Ro Ro se chama Ricardo Mac Cord, assisti a um show (piano e voz)constragedor deles, as músicas que ela compõem em parceria com o Ricardo são simplórias, os arranjos que ele faz não passam do óbvio. Ela precisa de bons parceiros e um bom produtor. Mas às vezes, penso que só ele consegue aturá-la.

4 de dezembro de 2008 às 14:06  
Anonymous Anônimo said...

Ângela tem coisas de uma densidade que me arrepiam mas há tempos não ouço nada de espetacular em sua voz.
Há uma canção chamada Vá Embora, gravada por ela há bastante tempo, que me extasia.
Imagino que um encontro entre estas duas deva ter sido, no mínimo, eloquente.

maria

4 de dezembro de 2008 às 18:56  
Anonymous Anônimo said...

Não temos nada com isso, mas os problemas particulares "fofocados" pela mídia talvez tenham dado uma esfriada no ânimo desta Senhora Compositora.
Personalidade forte, teimosia, amargura, inquietude... Quem sabe não sejam suas armas e inspiração ?
Quem somos nós para julgar ?
Eu quero é mais "Simples Carinho", "Só nos resta viver", "Amor, Meu Grande Amor", "Tola Foi Você", "Cobaias de Deus"... pode xingar, bater, apanhar contanto que volte a musicalmente nos presentear.
Bola pra frente... "levantando a poeira e dando a volta por cima". Talento para compor, cantar e tocar SOBRA!!!!
Ana Carolina deve saber.

4 de dezembro de 2008 às 19:10  
Anonymous Anônimo said...

Eu sempre pensei o seguinte: se Ângela Ro Ro já foi a nossa Amy Winehouse, "Meu mal é a birita" é a "Rehab" em português.

Mas fico feliz que ela tenha superado as várias bad trips em que seu modo apaixonadamente avassalador de vida a colocou.

Se bem que... como disse André, as canções de agora podiam ser melhores, não? Pombas, não são porcarias, passam bem no ouvido, mas, comparadas com as dos discos da PolyGram (principalmente "Só Nos Resta Viver", "Escândalo!" e "Simples Carinho"), perdem. De longe.

E o dueto deve ter sido bom. Afinal, Ana reza, pelo menos musicalmente, na mesma cartilha.

Felipe dos Santos Souza

4 de dezembro de 2008 às 19:41  
Anonymous Anônimo said...

Não vejo nada em comum no som das duas. Ângela tem canções absolutamente pontuais, como Gota de Sangue, Só Nos Resta Viver, Me Acalmo Danando, Berenice, Fogueira, Agito e Uso, Vá Embora, etc, etc, e Carolina é prolixa até não mais poder. Ângela vai aos subterrâneos dos sentimentos enquanto Ana fica patinando (e haja letra) na superfície.
A parte duas ou tres músicas bacanas, o som de AC é muito ginasial, redundante e hiperbólico. Adolescente.
Ao contrário, ARR já nasceu (artisticamente) lancinante e madura.

5 de dezembro de 2008 às 07:01  
Anonymous Anônimo said...

É o fim da feira uma artista como Angela Rorô ter que convidar uma pessoa como Ana Carolina para servir de chamariz de público. Mesmo se esquecermos da parte musical, o que na primeira é extroversão autêntica, na segunda é apenas peça de marketing.

5 de dezembro de 2008 às 11:40  
Anonymous Anônimo said...

Não vamos radicalizar, não deixemos a emoção falar antes da razão.
É claro que Rô Rô tem muito mais bagagem, mais história e, concordo, mais talento que Ana Carolina.
Mas Ana Carolina não é qualquer uma. Já tem uma boa carreira e seu talento solidificado. O Tempo irá dizer se ainda vai melhorar mais ainda - tem poder para isso: como cantora e compositora - ou se vai descer a ladeira.
E é bom lembrar que muitos de nossos ídolos já desceram a ladeira em algum período de sua carreira - alguns até não voltaram a subir.
Calma, gente.

5 de dezembro de 2008 às 21:46  
Anonymous Anônimo said...

A gente não se acostuma com mudança, com novidade.. Prefere o lugar mais estável.... Deixa a Ângela tentar novos caminhos, novos rumos, novos formatos... Não precisamos de uma Amy Winehouse no Brasil. Precisamos de uma Ângela Rorô cantora e compositora competente e que tem uma história a ser respeitada.
E que mania essa nossa de achar que todo artista que convida outro pra um show quer atrair público. Quando Ana Carolina nasceu Rorô já era ícone no Brasil. Não sejamos mínimos.

5 de dezembro de 2008 às 23:04  
Anonymous Anônimo said...

Até queria opinar mas Anita falou por mim.
O que me irrita na Ana é a obviedade e redundância de suas letras quilométricas. Parece mesmo redação de garota de saia azul e nome bordado no bolso.

Neste educandário, Rorô senta na última fila e manda aviãozinho para a pat lá na primeira...

6 de dezembro de 2008 às 07:51  
Blogger Jorge Reis said...

Acho que cheguei meio tarde a este post, Angela foi e continuará sendo aquela que abriu portas na MPB para Zelias, Cassia, e tantas outras Tavianis da vida.
Voz forte, super culta, compõe como se Chico Buarque travestido fosse.
Tudo nela é visceral, até mesmo a parceria com seu arranjador de tempos de vacas magérrimas...
Realmente lhe falta um produtor, um arranjador, um parceiro que não lhe faça as vontades, que a contrarie para somente assim nos presentear com a sua tradicional rebeldia.
Conheci Angela tinha 9 anos, no primeiro disco, ainda vinil, em 1979, de lá para cá entre altos e baixos, manteve a sua postura sua opinião e opções doesse a quem doesse, diferente de muitos outros que se assumiram porquê é "politicamente correto", enfim essa é outra história e tambem não sou contra nem a favor e nem muito pelo contrário.
Torço para queas duas componham juntas, que troquem experiencias, quem sabe não aparecer aí uma nova fogueira...
Força Angela, versão cara limpa, mostra pra essa moçada como é que se faz música...

6 de dezembro de 2008 às 17:01  
Anonymous Anônimo said...

Tem gente que acha que para elogiar um, tem que falar mal do outro. As duas são talentosas e queridas pelo público!

6 de dezembro de 2008 às 17:23  
Anonymous Anônimo said...

Aleluia!
Inteligência e emoção começando a andar de mãos dadas.
Parece que neste e em outros "blogs", visitantes acham que falar mal só por falar atrai mais holofotes. Parece até Política: mesmo quando as coisas vão bem, tem sempre um Rodrigo Maia ou um "EX" para tentar aparecer. É medo de cair no esquecimento. Talvez não seja nem por maldade, é insegurança mesmo - ou inveja.
Viva o comentário de Jorge Reis e do anônimo que veio em seguida.

6 de dezembro de 2008 às 18:41  
Anonymous Anônimo said...

A Bethânia nao ia participar desse show?

8 de dezembro de 2008 às 03:56  

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