7 de novembro de 2006

Herivelto chega à era do DVD via Biscoito Fino

Compositor da era pré-Bossa Nova, Herivelto Martins (1912 - 1992) chegará postumamente à era do DVD em 2007. A gravadora Biscoito Fino negocia com a TV Cultura a edição em DVD da entrevista do compositor (foto) ao programa Ensaio. A companhia também tem plano de lançar DVD com a participação de Zé Kéti (1921 - 1999) no mesmo programa para dar continuidade à série iniciada em outubro com o (oportuno) vídeo de Nara Leão (1942 - 1989), filmado em película em 1973.

Pagodinho evolui (bem) pelos salões da gafieira

Resenha de CD
Título: Acústico MTV 2

Gafieira
Artista: Zeca Pagodinho
Gravadora: Universal

Music
Cotação: * * *

É bem sintomático que Zeca Pagodinho tenha sido levado por sua gravadora a recorrer novamente ao formato acústico da MTV. Havia ligeira apatia no repertório do último disco do sambista (À Vera, 2005) que se refletiu nas vendas, estacionadas em 150 mil cópias, marca tímida para nome habituado ao patamar dos 500 mil. Por precaução, a companhia decidiu negociar com a MTV um segundo acústico de Pagodinho, que se torna o primeiro artista no mundo a dar bis na desgastada série da emissora. Mas o fato é que - fórmulas à parte - o CD é sopro de renovação na obra do cantor. O acerto repousa no conceito, centrado no samba de gafieira que dominava os salões do Brasil, em especial os do Rio de Janeiro (RJ), nos anos 40 e 50.

Gravado com big-band regida pelo maestro Rildo Hora, Acústico MTV 2 - Gafieira concilia sambas de origem e estirpe distintas. O tom é perfeito na releitura de clássicos da gafieira como Beija-me (Mário Rossi e Roberto Martins) e Pisei num Despacho (Elpídio Vianna e Geraldo Pereira). Mas a safra de inéditas é irregular e faz com que o disco - que começa bem - perca pique ao longo das 16 faixas. Foram selecionados sambas de batida próxima do maxixe para que se ajustassem aos arranjos comandados pelo naipe de sopros. Destes novos sambas amaxixados, o delicioso Ratatúia é o melhor e tem jeito de hit instantâneo. Já Exaustino exibe melodia bem aquém da letra espirituosa, em que o sedentário personagem-título (Zeca???) anda às voltas com dietas e problemas do coração.

Vários sucessos antigos de Pagodinho - Casal Sem-Vergonha e Judia de mim, entre eles - foram enquadrados com êxito no estilo da gafeira, assim como o (inédito) samba de breque Sururu na Feira. Mas não havia razão para incluir um samba-de-roda baiano (Quando a Gira Girou) no repertório. Entre gema de Cartola (Tive Sim) e regravação da lavra de Jorge Aragão (Minta meu Sonho), a Velha Guarda da Portela é convidada a evoluir no salão nobre de Pagodinho ao som de Lenço, clássico de Francisco Santana. No geral, o disco convence e deverá tranqüilizar a Universal Music com vendas satisfatórias. É dos bons acústicos da já batida série.

Caymmi, Calcanhotto e Ná no mar de Jussara

Embora já tenha dedicado um álbum inteiramente à obra de Dorival Caymmi (Canções de Caymmi, de 1998), Jussara Silveira (foto) incluiu música do compositor, Morena do Mar, em seu quinto CD, Entre o Amor e o Mar, nas lojas em meados de novembro. A faixa-título é parceria inédita de Luiz Tatit e Ná Ozzetti. Adriana Calcanhotto assina outra inédita do repertório, Meu Coração Só. O Nosso Amor É Maior é da lavra de Péricles Cavalcanti. Do compositor baiano Paquito, Jussara canta Sonhei que Eu Era Feliz. O disco tem produção e arranjos de Domenico (em Oferenda, releitura de tema de Itamar Assumpção) e do violonista Luiz Brasil, com quem a cantora dividiu seu último trabalho - o primoroso Nobreza - lançado no primeiro semestre.

Sting expõe desilusão medieval em disco erudito

Resenha de CD
Título:
Songs from

the Labyrinth
Artista: Sting
Gravadora:
Deutshe

Grammophon /
Universal Music
Cotação:
* * *

Aviso: é preciso ter o espírito musicalmente desarmado de preconceitos para entender e apreciar a beleza deste disco erudito de Sting. Esqueça o roqueiro que liderou nos anos 80 o The Police, uma das bandas mais influentes da cena pop mundial. No álbum, Sting (re)apresenta a música medieval de John Dowland (1563 - 1626), cantor e compositor inglês da era elizabetana. O artista concebeu o disco apenas com sua voz e o alaúde, instrumento de cordas do século 16, tocado por ele e por Edin Karamazov, músico da Bósnia que divide com Sting a parte instrumental do (bom) CD.

Ainda que o álbum tenda a ficar um pouco repetitivo ao longo de suas 23 faixas, a beleza e a poesia melancólicas de Dowland acabam seduzindo o ouvinte que não for esperar de Sting rigores eruditos no canto e na execução de temas como Come, Heavy Sleep e Can She Excuse my Wrongs (de harmonioso arranjo vocal). Alguns (The Battle Galliard, Fantasy) são instrumentais. Outros, como Flow my Tears (Lachrimae), têm seus versos entoados com um instrumental bem econômico, quase a capella.

Songs from the Labyrinth é álbum reverente ao universo do compositor medieval. A rigor, as 23 faixas reúnem apenas 16 músicas, pois Sting entremeia entre elas sete trechos de carta escrita por Dowland à corte inglesa em novembro de 1595. É charme de álbum conceitual que deve ser compreendido como um projeto à parte na discografia do ex-Police por expor a música e a poesia de um compositor tão distante da era atual, embora impregnado de desilusão e de beleza atemporais. Merece atenção.

Cristal de Gal brilha em disco de tom universal

Resenha de CD
Título: Live at the

Blue Note
Artista: Gal Costa
Gravadora: DRG
Cotação: * * * *

Em 19 de maio, o quarto dos seis shows feitos por Gal Costa numa minitemporada na casa americana Blue Note - o templo do jazz em Nova York (EUA) - foi gravado pelo selo DRG. O registro ao vivo rendeu o disco Live at the Blue Note - lançado nos Estados Unidos, Europa e no Japão.

O repertório é focado em standards associados à Bossa Nova - não por acaso, Antonio Carlos Jobim é o compositor predominante no repertório - e em antigos sambas-canções. A rigor, há apenas uma música inédita na voz de Gal, I Fall in Love Too Easily, composta por Sam Cahn e Jules Styne para a trilha do filme Marujos do Amor, de 1945, e gravada por nomes como Frank Sinatra. O tema americano ganhou batida suave no registro de Gal, que conversa timidamente com sua seleta platéia entre alguns dos 17 números.

O ineditismo de Live at the Blue Note está mais no fato de Gal cantar acompanhada por quarteto à moda dos pequenos grupos de jazz. Se Desafinado e Chega de Saudade soam estranhas, como se reclamassem a ausência da batida diferente de João Gilberto, Triste ganha um suingue ultimamente bissexto no canto da artista.

Bossas à parte, o andamento de músicas antigas como Ave Maria no Morro é o do samba-canção em voga nos anos 40 e 50. Vale ressaltar, contudo, a alta voltagem emocional da interpretação de Pra Machucar meu Coração, de Ary Barroso, de quem Gal grava também Camisa Amarela (cheia de ginga...) e Aquarela do Brasil (em ritmo ligeiramente mais acelerado do que o habitual). Outro destaque é o arranjo bem mais arrojado de Nada Além, calcado no baixo de Adriano Giffoni. O lindo número é herança do CD e show Todas as Coisas e Eu - assim como o medley que junta Sábado em Copacabana com Copacabana pelo elo temático e pelo ritmo.

Com sua voz cristalina geralmente em primeiro plano, e em ótima forma, Gal enfileira temas como Fotografia, Corcovado, Wave e A Felicidade. Ou seja, de uma certa forma, Live at the Blue Note é quase um segundo volume do CD Gal Costa Canta Tom Jobim, o duplo álbum ao vivo de 2000. É que a música genial do maestro soberano ainda é o passaporte mais rápido para fazer uma cantora brasileira atravessar as fronteiras com êxito. Aliás, Gal tem cacife para investir mais numa carreira internacional. Mesmo com baixo teor de novidade para os ouvidos brasileiros, Live at the Blue Note confirma o acento universal do canto da verdadeira baiana.

6 de novembro de 2006

Drexler, globalizado, reforça elo com brasileiros

Resenha de CD
Título: 12 Segundos

de Oscuridad
Artista: Jorge Drexler
Gravadora: Warner Music
Cotação: * * *

Projetado mundialmente em 2005, ao receber o Oscar de Melhor Canção por Al Otro Lado del Río, tema do filme Diários de Motocicleta, Jorge Drexler vem reforçando o elo com artistas brasileiros desde que Moska o apresentou na cena nacional, em 2003. Não por acaso, Moska é um dos convidados deste que é o disco mais brazuca do compositor uruguaio, já globalizado por conta do Oscar. Moska adensa o coro de Quien Quiera que Seas, tema em que se observa influência do tango. Já Maria Rita - que gravou no CD Segundo a inédita Mal Intento - reforça os vocais de Soledad, a canção menos inspirada do álbum.

12 Secundos de Oscuridad apresenta repertório inédito de caráter oscilante. A obra-prima é a faixa-título, letrada por Jorge Drexler sob melodia do compositor gaúcho Vítor Ramil, dono de bom trânsito nas fronteiras da América Latina. A surpresa é a recriação em castelhano de Disneylândia - música lançada pelos Titãs em 1992, quando o grupo vivia fase de baixa popularidade por conta de discos de som pesado - com a intervenção vocal de Arnaldo Antunes, um dos autores do tema sobre a globalização de serviços e sotaques. A letra é recitada por Drexler sob base árida. Ainda na seara alheia, o artista acerta ao recriar em melódico clima acústico High and Dry, o clássico do repertório do grupo Radiohead. É, de certa forma, estratégia do compositor - que já tem engatilhadas parcerias com Ivan Lins e Fátima Guedes - para tornar a sua música (mais) universal na disneylândia fonográfica.

Arantes e Zambianchi sob o prisma de Ricardo

Depois de constrangedor disco de covers de sucessos do rock estrangeiro, Acoustic Live, Paulo Ricardo vai apostar em repertório novo. No disco de inéditas que lança neste início de novembro, Prisma (foto), o cantor entoa músicas de Guilherme Arantes (a balada Contradição), do sumido Kiko Zambianchi (Imã do Amor) e de Nico Rezende (Eu Vou Voltar pro Frio, parceria com Cláudio Rabello). A música de trabalho é Diz, de autoria do próprio Paulo Ricardo. Entre as 13 faixas, a curiosidade é O Dia D, A Hora H, colaboração do artista com Luiz Schiavon, seu companheiro no extinto grupo RPM, de cujo repertório o cantor regrava Ninfa. Prisma foi produzido por Julinho Teixeira com Cláudio Rabello, hitmaker ligado à EMI Music, a gravadora que está editando o CD.

Salmaso dedica o quinto disco à obra de Chico

O quinto CD de Mônica Salmaso (foto) - incluindo Afro-Sambas, disco dividido pela cantora com o violonista Paulo Bellinati - vai ser inteiramente centrado na obra de Chico Buarque, com quem Salmaso regravou a valsa Imagina para o atual CD do compositor, Carioca. A intérprete - que já está selecionando o repertório - irá entrar em estúdio na companhia do quinteto Pau Brasil. O álbum tem lançamento programado para 2007, pela gravadora Biscoito Fino, que lançou o último trabalho de Salmaso, o delicioso Iaiá.

Erasmo convida Calcanhotto e Marisa para CD

As cantoras Marisa Monte e Adriana Calcanhotto foram convidadas - e aceitaram - a cantar com o Tremendão no seu álbum Erasmo Carlos Convida 2, a seqüência do LP lançado pelo cantor em 1980. Em fase de gravação, via Indie Records, o disco reunirá duetos de Erasmo Carlos com artistas como Zeca Pagodinho (em Cama e Mesa, hit de Roberto Carlos em 1981), Lulu Santos (no ótimo samba-rock Coqueiro Verde, hit de 1970), Milton Nascimento (em Emoções, sucesso do Rei em 1982), Chico Buarque (em Olha, mais um hit de Roberto Carlos, de 1975), o grupo carioca Kid Abelha e o quarteto mineiro Skank. O time inclui ainda a banda carioca Los Hermanos.

Não é a primeira vez que Calcanhotto e Marisa entrelaçam suas biografias com a de Erasmo (foto). Em 1996, Calcanhotto gravou dueto com o Tremendão em Do Fundo do meu Coração, balada lançada por Roberto Carlos em 1986. Já Marisa Monte inaugurou parceria com Erasmo em Mais um na Multidão, faixa do disco Pra Falar de Amor - editado pelo cantor em 2000 na Abril Music.

Alaíde canta Tom em CD feito com Assis Brasil

Alaíde Costa (foto) lança esta semana CD gravado com o pianista João Carlos Assis Brasil. A produção é de José Milton. Além de três músicas de Tom Jobim (Estrada Branca, Janelas Abertas e Pois É) e de bissexta parceria de Antonio Maria com Vinicius de Moraes (Quando Tu Passas por mim), o repertório de Voz & Piano inclui Ocultei (Ary Barroso), Nunca (Lupicínio Rodrigues) e Essa Mulher, música de Joyce e Ana Terra que deu título ao álbum lançado por Elis Regina em 1979 pela Warner.

O lançamento do disco está sendo feito pela Lua Music, gravadora que editou o último trabalho de Alaíde, Tudo o que Tempo me Deixou. O CD é o segundo dividido pela cantora com o pianista. Em 1995, a gravadora Movieplay pôs nas lojas o primoroso álbum Alaíde Costa & João Carlos Assis Brasil - já fora de catálogo.

5 de novembro de 2006

CD ao vivo de Fafá trará duas faixas de estúdio

O projeto ao vivo gravado por Fafá de Belém em 5 e 6 de outubro no Theatro da Paz - o mais tradicional da capital paraense - para registro em CD e DVD (o primeiro da artista) terá duas faixas feitas em estúdio. Trata-se de Brilho Dental (de Carlos Tê e Rui Veloso) e de História de Amor (versão de canção italiana). O lançamento foi agendado (em princípio) para 3 de dezembro, pela gravadora EMI.

No roteiro do show, de caráter retrospectivo, Fafá incluiu Raça, Filho da Bahia, Dentro de mim Mora um Anjo, Vermelho, Pode Entrar, Coração do Agreste, Memórias, Nuvem de Lágrimas, Sedução, Sob Medida, Meu Dilema, Meu Homem, Que me Venha esse Homem, Maria Solidária (em dueto com sua filha, Mariana Belém), Foi Assim (com a intervenção do cantor paraense Walter Bandeira), Meu Disfarce, Menestrel das Alagoas e Pauapixuna - além de pot-pourri de carimbó e das inéditas Aonde (de Dalto e Cláudio Rabello), Brilho Dental e História de Amor (na foto de João Ramid, Fafá aparece no palco durante a gravação do show).

Em tempo: Sem Anos de Solidão - o título sugerido por Millôr Fernandes para o projeto ao vivo da cantora - deverá ser usado por Fafá para batizar o livro de memórias que pretende escrever.

Terceiro disco de Norah Jones chega em janeiro

Not Too Late é o título do terceiro álbum de Norah Jones, a cantora de pop jazz projetada em escala global em 2002 com o disco Come Away with me e que não bisou o estouro com seu segundo CD, Feels Like Home, editado no começo de 2004. Produzido por Lee Alexander, Not Too Late tem lançamento mundial agendado para 29 de janeiro pela EMI. O primeiro single, Thinking About You, será lançado em novembro nas rádios dos Estados Unidos. Jones já gravou o clipe da música em Nova York. Como previsível, o repertório do novo álbum é essencialmente autoral.

Bosco explica mar e tempo de Dorival Caymmi

Escritor e letrista (parceiro de compositores como Ivan Lins e João Bosco), Francisco Bosco deu mergulho profundo no mar e no tempo de Dorival Caymmi. O que emerge desse trabalho de pesquisa é uma visão lúcida e coloquial da obra do mestre, compartilhada por Bosco com o público nas páginas do 70º título da série Folha Explica, do jornal Folha de S. Paulo. O livro (foto) já está à venda desde outubro e será lançado oficialmente no Rio de Janeiro na próxima terça-feira, 7 de novembro, em noite única de autógrafos na conceituada Livraria da Travessa, em Ipanema (RJ).

Para caracterizar a música aparentemente simples, mas a rigor complexa e originalíssima de Caymmi, Bosco dividiu a obra do compositor em três afluentes básicos: as canções praieiras, os sambas sacudidos e os sambas-canções. Sua análise fluente é indicada para quem quer se iniciar nos doces mistérios do autor. Ao evitar a linguagem acadêmica e os rebuscamentos típicos de publicações do gênero, Bosco oferece visão esclarecedora do cancioneiro deste compositor dono de um tempo todo próprio - com direito a uma discografia e cronologia da vida do Buda Nagô.

Becker grava Ary, Cartola e Chico com Filipe

Os violonistas Luis Filipe de Lima e Zé Paulo Becker (foto) já vão entrar no estúdio da gravadora carioca Deckdisc em meados de novembro para gravar CD instrumental. No repertório, sambas de Ary Barroso, Cartola e de Chico Buarque, além de choros de Garoto e João Pernambuco. O duo pretende também registrar temas de sua própria autoria. Luis Filipe tocará violão de sete cordas. Becker, o violão tradicional. Os músicos são crias do Bar Semente, reduto do samba e do choro no reativado circuito da Lapa (RJ), bairro boêmio do Centro carioca.

Nana fecha na Som Livre sua trilogia de Dorival

Nana Caymmi (foto) vai lançar pela gravadora Som Livre o disco que fecha a trilogia de álbuns dedicados pela cantora ao repertório de seu pai, Dorival Caymmi. Desta vez, o foco são os sambas-canções como Sábado em Copacabana, clássico do compositor no gênero. O primeiro CD da trilogia, O Mar e o Tempo, saiu em 2002 pela Universal Music. O segundo (Para Caymmi 90 Anos - De Nana, Dori e Danilo) foi centrado nos sambas do homenageado e dividido por Nana com seus irmãos Danilo e Dori Caymmi. Foi editado via Warner Music em 2004, ano em que o patriarca da família completou nove décadas de vida. O show de lançamento gerou DVD e CD ao vivo - também lançados em 2004.

Venturini grava samba com Leila e Hamilton

A foto acima foi clicada no estúdio Toca do Bandido, no Rio de Janeiro, após a gravação do samba Aqui no Rio, faixa do novo disco de inéditas de Flávio Venturini, Canção sem Fim, nas lojas em meados de novembro pelo selo Trilhos. Arte. Letrado pelo ator mineiro Kimura em cima de melodia de Venturini, o samba ganhou arranjo do bandolinista Hamilton de Holanda (à direita na foto) e a voz de Leila Pinheiro - convidados do álbum.

Produzido por Torcuato Mariano, parceiro de Aloysio Reis na balada Neblina, Canção sem Fim reúne 12 músicas. A faixa-título vem da obra do grupo 14 Bis (integrado por Venturini nos anos 70 e 80), mas a maior parcela do repertório é de inéditas. Amor pra Sempre abre o disco, com letra e música de Venturini. Em parceria com Murilo Antunes, o compositor apresenta Belo Horizonte, Retiro da Pedra (composta assim que Venturini voltou a morar na capital mineira) e a balada Retratos. Casa no Vento tem letra de Ronaldo Bastos. Já a toada Quanto Mais teus Olhos Calam leva a assinatura de Thomas Roth. Há ainda a regravação de Fênix, um sucesso na voz de Jorge Vercilo, co-autor da canção.

Ivete põe seu 'Berimbau Metalizado' na internet

Enquanto já liga o motor para gravar DVD e CD ao vivo em show no Maracanã, em 16 de dezembro, Ivete Sangalo (foto) lança música na rede. Feito em estúdio, o single de Berimbau Metalizado será comercializado apenas na internet ou então via operadoras de celular. Só que a música estará no repertório do show do Maracanã. A propósito, o CD e o DVD gravados no estádio carioca - com as intervenções de nomes como Alejandro Sanz e Buchecha - trarão a versão ao vivo de Berimbau Metalizado e têm previsão de lançamento para março de 2007 via Universal Music.

Odair volta ao universo pop com Rafael Ramos

Odair José - que já experimentou nos anos 70 fazer até ópera-rock tupiniquim no disco O Filho de José e Maria (1977), fracasso de vendas - vai voltar, de certa forma, ao universo pop. O cantor (foto) entra em estúdio em abril para gravar CD pilotado por Rafael Ramos, produtor de álbuns de Pitty e de bandas lançadas pela Deckdisc - a atual gravadora de Odair, cuja obra mereceu recente justo tributo da turma do rock.

Senise celebra Edu Lobo e ganha duas inéditas

Compositor de aparições bissextas com material inédito, Edu Lobo tem sua obra celebrada pelo saxofonista - e flautista - Mauro Senise no bom CD Casa Forte - Mauro Senise Toca Edu Lobo (foto), lançado esta semana pela Biscoito Fino. Lobo não somente participa do projeto, entoando sua Canção do Amanhecer, como ofereceu seis músicas inéditas para o CD. Das seis, Senise selecionou duas - o abolerado samba-canção Arpoador e a Valsa Carioca, composta para o filme O Xangô de Baker Street - para ganhar registro fonográfico em álbum que conta com Gilson Peranzzetta no piano e nos arranjos.

O repertório mistura parcerias de Edu Lobo com Chico Buarque (Nêgo Maluco, Choro Bandido, Beatriz, A História de Lily Braun), Vinicius de Moraes (Canto Triste e a supra-citada bela Canção do Amanhecer), Paulo César Pinheiro (Vento Bravo) e Torquato Neto (Pra Dizer Adeus). Embora todos os letristas sejam devidamente creditados no encarte, Casa Forte é belo álbum essencialmente instrumental que ressalta os requintados caminhos melódicos e harmônicos percorridos por Edu Lobo como (genial) compositor.

Platão rebobina RoRo e RPM em 'Negro Amor'

Toni Platão lança esta semana, pela Som Livre, o álbum que poderá pôr seu nome entre os grandes cantores nacionais. Sucessor de Calígula Free Jack, disco editado em 2000, Negro Amor (foto) tem coeso repertório baseado no roteiro do bem-sucedido show homônimo que o artista vem fazendo no Rio de Janeiro nos últimos meses. Nas 11 faixas do CD, Toni Platão mostra - com um registro vocal que fica habitualmente entre o soul e o blues - releituras personalíssimas de músicas como Mares da Espanha (Ângela Ro Ro), Louras Geladas (primeiro hit do extinto grupo RPM), E Não Vou Mais Deixar Você Tão Só (sucesso de Roberto Carlos nos anos 60), Impossível Acreditar que Perdi Você (pérola do cancioneiro popular, lançada pelo compositor Márcio Greyck na década de 70), Movimento dos Barcos (Jards Macalé e Waly Salomão) e Mammy Blue (tema da trilha internacional da novela Bandeira 2, exibida pela Rede Globo entre novembro de 1971 e julho de 1972). A pedido da Som Livre, Platão gravou versão de Without You - hit de Harry Nilson. A Falta é o nome dessa versão.

4 de novembro de 2006

Canazio pode produzir próximo CD de Simone

Simone (foto) deverá bisar sua parceria com o produtor Moogie Canazio, responsável pela gravação do show editado em 2005 no CD e DVD Simone ao Vivo. A cantora teria convidado Canazio para produzir o seu próximo disco, ainda em estágio embrionário.

Com passe bastante valorizado no mercado fonográfico brasileiro, o engenheiro de som foi recrutado este ano por Maria Bethânia para comandar a gravação de estúdio dos recém-editados álbuns Mar de Sophia e Pirata, tendo recebido o crédito de produtor dos dois discos - ambos entre os melhores lançamentos de 2006.

Zélia registra em DVD seu show 'Pré-Pós-Tudo'

Paralelamente aos shows e aos compromissos já assumidos como atual vocalista do grupo Mutantes, Zélia Duncan (em foto de Nana Moraes) vai dar continuidade à sua carreira individual com a gravação de seu terceiro DVD. A cantora vai registrar o azeitado show Pré-Pós-Tudo-Bossa-Band ao longo de minitemporada no Auditório Ibirapuera (SP), de 17 a 19 de novembro. Na seqüência, a Sony BMG lança o DVD e CD duplo gravados ao vivo pelo grupo em show feito em Londres - em 22 de maio - com Zélia nos vocais.

Alcione saúda Jamelão em CD de samba-enredo

A voz de Alcione (foto) será ouvida no CD dos sambas-enredos do Grupo Especial das escolas de samba do Rio de Janeiro para o Carnaval de 2007. A Marrom vai saudar Jamelão na introdução do samba da Mangueira. É que, pela primeira vez, o intérprete não pôde pôr sua voz no disco do Carnaval carioca, já em fase final de gravação. Vítima de isquemia cerebral, Jamelão, que tem 93 anos, precisou ser internado. Já foi substituído por Luizito, um integrante do time de puxadores da agremiação verde-e-rosa.

Mayer ganha peso como autor em 'Continuum'

Resenha de CD
Título: Continuum
Autor: John Mayer
Gravadora: Sony BMG
Cotação: * * * *

Continnum é a melhor resposta de John Mayer para os ouvidos limitados que escutavam o artista como se ele fosse um clone de Dave Matthews. Trata-se do inspirado quarto CD de estúdio do cantor, compositor e guitarrista norte-americano - se levado em conta o obscuro Inside Wants Out, editado em 1999 e parcialmente regravado em Room for Squares, o disco que projetou Mayer em 2001 com o sucesso Your Body Is a Wonderland. A safra de músicas autorais, tão boa quanto a dos CDs anteriores, solidifica e situa sua obra bem além do folk e do pop adulto contemporâneo.

Sim, há baladas que alvejam o público feminino que se encanta com a bela estampa do rapaz. Dreaming with a Broken Heart transita nesse universo. Mas Mayer extrapola a seara amorosa e, em tom confessional, expõe sua impotência para mudar o mundo em temas como Waiting on the World to Change (trunfo do coeso repertório) e Belief. E, para quem se surpreendeu com os blues de seu CD anterior (Try!, gravado ao vivo com o John Mayer Trio), Gravity reafirma a salutar aproximação do artista com o gênero.

O toque inusitado é o cover do repertório de Jimi Hendrix, Bold as Love, em que brilha o guitarrista, com técnica que também salta aos ouvidos em In Repair. Como já anunciara no título de seu último álbum de estúdio, John Mayer tem real capacidade para heavier things e ganha peso como compositor em Continnum.

'Love', o 'novo' CD dos Beatles, chega no dia 20

A capa acima é a de Love, o novo álbum dos Beatles. A rigor, o CD apresenta, em 26 faixas, visão diferente do cancioneiro dos Fab Four, com base no homônimo espetáculo concebido pelo Cirque du Soleil a partir da obra do quarteto. Produtor dos álbuns dos Beatles, George Martin arquitetou colagem de clássicos do grupo ao lado de seu filho, Giles. Passagens instrumentais e solos vocais foram deslocados das gravações originais e inseridos em outras músicas. O lançamento mundial de Love foi agendado pela EMI para 20 de novembro. No Brasil, o disco vai ser lançado em 21 de novembro em um evento restrito a convidados da gravadora EMI.

Sarto faz pop com correção e sem originalidade

Resenha de CD
Título: Desassossego
Artista: Daniel Del Sarto
Gravadora: Indie Records
Cotação: * *

Atualmente no elenco popular do programa humorístico A Turma do Didi, Daniel Del Sarto ganhou projeção como ator de novelas da TV Globo, especialmente Desejos de Mulher. Paralelamente aos trabalhos televisivos, Sarto transitava na cena indie carioca como cantor e compositor, com a experiência de ter soltado a voz no teatro ao interpretar os temas compostos por Chico Buarque, Edu Lobo e Lenine para o musical Cambaio. Daí que não chega a ser surpresa o lançamento de seu primeiro disco, Desassossego. Embora sem qualquer traço de originalidade nas composições e nos arranjos, o artista debuta oficialmente no mundo da música com correto CD de pop rock, produzido pelo próprio Sarto em parceria com Paulo Mills. Faixa escolhida como single pela gravadora Indie Records, O Beijo tem razoável pegada radiofônica. Entre baladas (Tchau!), temas de versos ácidos como O Veto (espécie de auto-retrato em que Sarto alerta o ouvinte sobre o poder manipulador da mídia) e músicas com tom falado próximo do rap (sobretudo Cambalhote - Em suas Mãos), o artista exibe algum talento. Ainda que sua voz não seja exatamente talhada para o canto. Algo, aliás, já comum...

Som Livre Masters 2 - Obra-prima ainda nova

Com a chegada às lojas da boa série Som Livre Masters 2, acabou a espera por reedição decente da obra-prima do grupo Novos Baianos. Acabou Chorare é um dos 19 títulos restaurados na segunda (boa) fornada da coleção produzida pelo pesquisador Charles Gavin. Lançado em 1972, o clássico álbum já tinha chegado ao CD mais de uma vez. Mas nunca com o capricho da presente reedição, que recupera a capa original (foto), a arte gráfica e os textos do LP que projetou Moraes Moreira, Baby Consuelo, Pepeu Gomes e Galvão nos anos 70. Foi feita nova remasterização, mas, justiça seja feita, a da reedição de 2000 para a série Gala já tinha sido satisfatória. Acabou Chorare foi o segundo disco da turma, mas o primeiro em que os Novos Baianos realmente disseram a que vinham, tocando samba e choro com renovada atitude pop.

Som Livre Masters 2 - Cláudia desponta mal...

Dentre os 19 títulos reeditados por Charles Gavin na série Som Livre Masters 2, um dos mais raros é o primeiro disco de Cláudia, a cantora que despontou em fins dos anos 60, fazendo frente até mesmo a Elis Regina pela primorosa técnica vocal. Mas o fato é que Cláudia, o álbum de estréia da intérprete, já soava antiquado em 1967, ano em que a música brasileira vivia a efervescência dos festivais e da fase pré-tropicalista de Caetano Veloso e Gilberto Gil - compositor, aliás, presente na ficha técnica por conta da autoria de Vento de Maio e Ninguém Dá o que Não Tem, parcerias com Torquato Neto e João Augusto, respectivamente. A despeito de a produção do álbum ter sido do antenado Manoel Barenbein, a cantora estreou com repertório irregular e de ranço saudosista em faixas como Silêncio para um Rancho Passar. Não poderia ser mais inapropriado para uma época em que a MPB começava a respirar ares mais modernos. Mas Cláudia já era em 1967 a grande cantora que - por capricho da sorte ou do mercado fonográfico - acabaria não tendo a grande carreira que deveria (e merecia) ter tido pela voz privilegiada. Que, dizem, deixou Elis Regina mexida.

Olivia Byington lança disco autoral em Portugal

Depois de regravar (inteiramente) o álbum Canção do Amor Demais, que fez história em 1958 na voz de Elizeth Cardoso, Olivia Byington (à direita) lança em Portugal CD com repertório autoral. A artista canta as suas parcerias com colegas como Geraldo Carneiro, Tiago Torres da Silva, Marcelo Pires e o saudoso poeta Cacaso. Leandro Braga é o arranjador das músicas, com exceção de duas faixas orquestradas pelo instrumentista lusitano Pedro Jóia. A música de trabalho, que já ganhou um clipe filmado em São Paulo, é Areias do Leblon.

Álbum de Williams reúne Orbit e Pet Shop Boys

Foi lançado esta semana, nos Estados Unidos e na Europa, o novo álbum do cantor inglês Robbie Williams, Rudebox (capa acima). O disco conta com as intervenções de William Orbit (produtor que tem no currículo trabalhos com Madonna) e dos Pet Shop Boys. O duo britânico marca presença em duas faixas, She's Madonna e We're the Pet Shop Boys. O repertório inclui cover de música de Manu Chao, Bongo Bong. O primeiro single é The 80's. Rudebox tem lançamento no Brasil agendado para 25 de novembro pela gravadora EMI Music. O CD é trunfo da major inglesa para o Natal.

3 de novembro de 2006

Maria Rita leva dois troféus na festa de Shakira

A festa foi de Shakira na insossa cerimônia de premiação do 7º Grammy Latino, realizada na noite de quinta-feira, 2 de novembro, em Nova York (EUA). A cantora colombiana conseguiu levar quatro dos cinco troféus a que concorria, vencendo todas as categorias principais. Fijación Oral Vol. 1 foi eleito o Álbum do Ano e Melhor Álbum Pop Vocal Feminino. Uma das músicas do disco, La Tortura foi duplamente laureada como Gravação do Ano e Canção do Ano.

Nas fracas categorias dedicadas à música brasileira, Maria Rita foi a grande vencedora, tendo levado os troféus de Melhor Canção Brasileira (por Caminho das Águas) e Melhor Álbum de Música Popular Brasileira (pelo controvertido CD Segundo - de 2005).

No geral, a 7ª edição do Grammy Latino repetiu a triste tradição das anteriores de premiar os artistas brasileiros em categorias específicas - em que concorrem apenas nomes e discos nacionais - e de esquecê-los nas indicações para os troféus principais, como Álbum do Ano, Gravação do Ano e Canção do Ano. Lamentável...

'Mar de Sophia' abrange águas mais profundas

Resenha de CD
Título:
Mar de Sophia
Artista:
Maria Bethânia
Gravadora:
Biscoito Fino
Cotação:
* * * * *

Dos dois discos temáticos lançados por Maria Bethânia, Mar de Sophia é o que apresenta águas mais profundas. A imersão da cantora nos versos da poeta portuguesa Sophia de Mello Breyner Andresen (1919 - 2004) foi o ponto de partida para a criação deste álbum bem mais denso e introspectivo do que seu gêmeo Pirata. Urdido pela percussão personalíssima de Naná Vasconcellos em faixas como Yemanjá Rainha do Mar (Pedro Amorim e Paulo César Pinheiro), Grão de Mar (Márcio Arantes e Chico César) e a épica Kirimurê (Jota Velloso), o CD Mar de Sophia é um luxo só.

Sempre hábil na costura de música de poesia, Bethânia insere os versos de Sophia entre saudações aos orixás como a que abre o disco (Canto de Oxum, tema de Vinicius de Moraes e Toquinho em que a intérprete arrisca canto mais agudo com ótimo resultado) e a que o fecha (Canto de Nanã, de Dorival Caymmi), sublinhando o acento afro-brasileiro que emerge forte do disco Mar de Sophia.

Por evocar sentimentos inspirados pela mitologia construída em torno do mar, a poesia de Sophia conduz o barco de Bethânia para portos românticos como As Praias Desertas (clássico de Tom & Vinicius, rebobinado com o piano de Antonio Adolfo, convidado também de Poema Azul, de Sérgio Ricardo), a valseada Lágrima (faixa camerística em que desponta o piano de João Carlos Assis Brasil) e Cantiga da Noiva, tema de um Dorival Caymmi mais surpreendente. Mas surpresa mesmo é ouvir na voz da cantora - com batucada tipicamente carioca e com o bandolim de Luciana Rabello - um samba-enredo da Portela. Das Maravilhas do Mar, Fez-se o Esplendor de uma Noite (1981) é das peças mais lindas do gênero e até alegra a (interiorizada) viagem marítima de Bethânia.

A interiorização atinge um de seus pontos máximos em Debaixo D'Água, música em que Arnaldo Antunes discorre poeticamente sobre as águas do ventre materno. Na faixa, Bethânia arrebanha os versos escritos pelos Titãs para Agora, ditos pela intérprete num canto falado próximo do rap. E o fato é que, aos 60 anos, feitos em junho, Bethânia está cantando bem e sem sinais de desgaste vocal.

Pelo roteiro bem mais inesperado, a viagem proposta por Mar de Sophia leva o ouvinte por caminhos bem mais difíceis do que os navegados por Pirata, embora Bethânia já tenha mergulhado em águas que, em síntese, fazem emergir a cultura popular brasileira.

'Pirata' é mergulho íntimo de Bethânia nos rios

Resenha de CD
Título:
Pirata
Artista:
Maria Bethânia
Gravadora: Quitanda / Biscoito Fino
Cotação:
* * * * *

O artesanato que ilustra capa e encarte do CD Pirata - o delicado trabalho de costura feito por família de bordadeiras que vivem nas proximidades do Rio São Francisco - é uma imagem perfeita para traduzir o espírito do álbum. Dos dois discos temáticos sobre as águas lançados simultaneamente por Maria Bethânia, Pirata é o de textura bem mais artesanal. Remete logo a Brasileirinho, o incensado álbum editado pela intérprete em 2003, inclusive pelo caráter (eventualmente) folclórico. Ambos primam pelo requinte.

Criada entre os rios que atravessavam a interiorana Santo Amaro de Purificação (BA), Maria Bethânia esteve imersa nas memórias dessas águas para formatar o conceito de Pirata, CD centrado nos rios, apesar do nome que remete ao mar (Dentro do Mar Tem Rio é o conceito que abrange os dois álbuns e nomeia o show que estréia em São Paulo, em 10 de novembro). Como seu gêmeo Mar de Sophia, Pirata costura elementos que sempre moldaram a obra teatral da cantora para formar mosaico auto-referente que inclui cantigas folclóricas, sambas de roda, poesia e compositores recorrentes na discografia (extremamente) coerente de Bethânia.

Se Bethânia adentrou as matas em Brasileirinho, ela se joga nos rios de sua infância em Pirata, entre textos de Guimarães Rosa e a súplica por sertão mais chuvoso, feita em Meu Divino São José. Para reforçar seu conceito de que o rio deságua no mar, Bethânia regrava fado do mano Caetano Veloso, Os Argonautas. Caetano está representado ainda por Onde Eu Nasci Passa um Rio, outro tema recorrente no repertório da cantora. Nada parece gratuito.

Entre a lembrança de um Dorival Caymmi nada óbvio (História pro Sinhozinho) e uma recriação superior de O Tempo e o Rio, a intérprete pisa no terreiro de Jovelina Pérola Negra. Pedra mais surpreendente deste rio caudaloso, Águas de Cachoeira é samba gravado pela autora em 1993, em um disco de pouca repercussão comercial e artística (Vou na Fé). A faixa tem deliciosa levada carioca realçada pelo arranjo do maestro convidado Rildo Hora.

A veia sertaneja da artista pulsa firme em De Papo pro Ar - com a viola caipira de Jaime Alem, diretor musical dos dois discos - e em A Saudade Mata a Gente. São contrapontos para a sensualidade de Eu que Não Sei Quase Nada do Mar, a inédita parceria de Ana Carolina com Jorge Vercilo que tem pegada radiofônica por conta do refrão-chiclete. Já Vanessa da Mata reafirma a origem ruralista no samba Sereia de Água Doce, que evoca brejeiramente lenda do folclore brasileiro sobre os rios com grande inspiração. É luxo só!

Por conta do andamento baiano de sambas como Santo Amaro, composto por Roque Ferreira com Délcio Carvalho e arranjado pelo violonista Luiz Brasil, Pirata tem leveza que quase inexiste no mais denso e suntuoso Mar de Sophia. Mas tem melancolia também, expressa em Francisco, Francisco - uma obra-prima de Roberto Mendes e Capinam. É, em síntese, um mergulho íntimo e pessoal de Maria Bethânia em águas que já lhe são bem familiares.

Som Livre Masters 2 - Um Toquinho solo e raro

A parceria de Toquinho com Vinicius de Moraes obteve tanto sucesso popular na década de 70 que a discografia solo de Toquinho ficou ofuscada frente aos álbuns gravados por ele com o Poetinha. Daí a importância de Charles Gavin ter incluído entre os 19 títulos da série Som Livre Masters 2 o até então raro Boca da Noite (foto), lançado por Toquinho em 1974. Produzido por Antonio Carlos Oliveira, com arranjos do próprio Toquinho, o álbum apresenta parcerias do artista com Paulo Vanzolini (Noite Longe, No Fim Não se Perde Nada e a faixa-título) e Geraldo Vandré (Presença). Da lavra de Toquinho & Vinicius, grife já famosa naquele ano, há apenas Uma Rosa em Minha Mão. Ouça!!!!

Som Livre Masters 2 - Francis e Chico no auge

Um dos discos emblemáticos de Francis Hime, Passaredo (1977) precisava de criteriosa reedição como a produzida por Charles Gavin para a coleção Som Livre Masters 2. A reedição anterior, lançada em 1995 na série Cast, tinha som de boa qualidade, mas veio sem as letras e com arte gráfica pobre. A atual corrige o erro.

Passaredo apresenta Francis no auge de sua parceria com Chico Buarque (atualmente, os dois compositores andam estremecidos). Chico, inclusive, participa do disco, fazendo duetos com Francis em Maravilha e em Luisa. A outra convidada, Olivia Hime, sola Meu Melhor Amigo e entoa Carta com o marido. Mas os destaques do repertório de 13 músicas foram e continuam sendo Passaredo - a faixa-título foi alerta ecológico quando quase ninguém falava em preservação do meio-ambiente - e Trocando em Miúdos, espécie de sucessora de Atrás da Porta. Enfim, belo disco cuja reedição serve como aperitivo enquanto a Biscoito Fino não concretiza o projeto de editar caixa com a obra fonográfica de Francis Hime.

Som Livre Masters 2 - Um Valle pop e malhado

Aos que ouviram em recente comercial de TV o pálido cover de Estrelar na batida trivial do grupo Cidade Negra, um aviso: a imbatível gravação original, feita em 1983 pelo autor do hit, Marcos Valle, pode ser encontrada no disco (foto) ora reeditado pelo pesquisador Charles Gavin na série Som Livre Masters 2. A música foi pioneira na propagação do culto ao corpo e pegou, pois, na época, malhar passou a ser obrigação para quem queria estar na onda.

Justamente por conta do estouro de Estrelar nas rádios, Marcos Valle, o disco, foi o mais bem-sucedido trabalho do compositor em sua fase pop, iniciada na gravadora Som Livre em 1980 com Vontade de Rever Você, título, aliás, reeditado por Gavin no primeiro lote da coleção. Marcos Valle foi feito para exaltar o sal, o céu e o sol do Rio de Janeiro. Daí a releitura tecnopop de Samba de Verão, tema que projetou Valle em escala nacional, então rebobinado pelos sintetizadores de Lincoln Olivetti, um dos músicos que caracterizam o som dos anos 80. O álbum é irregular, mas capta o espírito de seu tempo. Daí a importância da reedição.

Som Livre Masters 2 - A boa estréia de Arantes

Incluído entre os 19 discos reeditados por Charles Gavin no segundo lote da coleção Som Livre Masters 2, já nas lojas, o CD Guilherme Arantes (foto) foi o ótimo primeiro trabalho solo do autor de Meu Mundo e Nada Mais. O álbum saiu em 1976 no embalo do sucesso nacional dessa balada na trilha da novela Anjo Mau. Na seqüência, emplacou hit mediano, Cuide-se Bem, faixa que sinalizava o tom pop do disco em época em que o rock não estava estabelecido no mercado fonográfico brasileiro. O som progressivo feito por Arantes no grupo Moto Perpétuo, em 1974, ainda reverberava nos arranjos de músicas como Nave Errante. Enfim, um título importante que até já tinha sido reeditado em CD pela gravadora Som Livre, em 1994, na série Cast, mas sem a capa e a contracapa originais - agora recuperadas pelo criterioso Gavin.

SNZ prossegue sem Sara e já apronta 'Zunzum'

Reduzido a uma dupla com a saída de Sara Sheeva em 2003, o SNZ - originalmente um trio integrado por três filhas de Baby do Brasil - prossegue sem a irmã dissidente e se prepara para lançar ainda neste mês de novembro o CD Zunzum e Pronto (foto), produzido pela própria dupla ao lado de Paulo Jeveaux. Editado com o selo da Natasha, em parceria com a Universal Music, o disco conta com as intervenções de Davi Moraes e de Pedro Baby em Acabou Chorare, música do grupo Novos Baianos que inspirou o título do álbum. Sananá, Você Virou Poema, Digo Adeus e Não Pare são algumas faixas. A música de trabalho, Busca, é de autoria de Nãna Shara. Em tempo: por conta da saída de Sara, o significado da sigla SNZ foi alterado para Só Nãna e Zabelê. Aliás, uma bela sacada...

Show do 'Rock in Rio 3' retrata Cássia no auge

Resenha de CD
Título: Cássia Eller ao

Vivo Rock in Rio
Artista: Cássia Eller
Gravadora: MZA Music
Cotação: * * * *

Já exumaram demais a obra de Cássia Eller (1962 - 2001), mas, justiça seja feita, de todas as gravações que vieram à tona postumamente, a apresentação da cantora no Rock in Rio 3 é o retrato mais fiel e vigoroso da artista, com vantagem de flagrar Cássia no auge artístico. O registro do show da cantora no festival está sendo editado em CD (foto) e, na seqüência, em DVD (nas lojas em 20 de novembro). É o primeiro produto de série de gravações do festival, idealizada pela gravadora MZA Music em parceria com a Artplan, a empresa de Roberto Medina, o produtor do evento.

Cássia Eller não sabia, mas ao subir no Palco Mundo do Rock in Rio 3, em 13 de janeiro de 2001, teria menos de um ano de vida. Pela maneira visceral com que cantou o roteiro de 13 números, até parece que intuía que, em 29 de dezembro daquele trágico ano, ela sairia precocemente de cena após alcançar explosivo sucesso comercial com ótimo CD e DVD na série Acústico MTV.

A releitura demolidora de Partido Alto - música do repertório de Chico Buarque que Cássia gravaria em seguida no acústico da MTV - já exemplifica a energia da cantora no show. Intérprete exata, a artista sabia valorizar as letras que cantava com detalhes como o riso de descrença na providência divina que ela deixava escapar após o verso "Diz que Deus dará". O registro igualmente nervoso de E.C.T. - mais pesado do que o registro original e com forte camada percussiva - corrobora a potência de Cássia no consagrador show.

"Vamos tocar uma música do Cazuza", anunciou Cássia antes de iniciar Obrigado (Por Ter se Mandado) em andamento hardcore. A ironia dos versos desta parceria de Cazuza e Zé Luiz - gravada pela cantora no álbum Veneno Antimonotonia (1997) - foi perfeita para Cássia mostrar toda sua sabedoria de intérprete.

"Vamos fazer uma música do Nando Reis", emendou a artista para, então, apresentar O Segundo Sol, número mais zen (assim como a versão voz & violão de 1º de Julho que abriu o show) de roteiro endiabrado que inclui ainda Infernal, outra música de Nando, turbinada com diabólicos solos de guitarra. "Cássia Eller é a maior cantora do Brasil", saudou, não sem razão naquele momento, Fábio Allman, o Fabão, depois de dividir com a artista Faça o que Quiser Fazer, música do grupo carioca A Bruxa, integrado na época pelo cantor, e que já tinha sido gravada pela roqueira no disco Veneno Vivo (1998). O dueto começa bluesy e descamba para o hardcore. Da mesma forma que Malandragem até começa suave, com uma pegada quase folk, e vai ganhando (muito) peso.

Ao se apresentar no Rock in Rio 3, Cássia Eller já formatava seu Acústico MTV. Por isso, Quando a Maré Encher, do repertório da Nação Zumbi, foi anunciada como "uma música do disco novo" depois da releitura - cheia de improvisos e citações - de Coroné Antonio Bento, dividida com Márcio Mello, anunciado por Cássia como "um roqueiro baiano da pesada". A Nação Zumbi - que dá depoimento no DVD sobre seu encontro com Cássia - encheu a Maré com seus tambores depois de tocar em Come Together, o clássico dos Beatles acoplado a Corpo de Lama, música da Nação.

O fim apoteótico foi com Smells Like Teen Spirit, hino do Nirvana. O público já estava totalmente nas mãos da garotinha. E ela deu show naquele 13 de janeiro de 2001, sem o tom mais comportado de seu espetáculo seguinte, Acústico MTV, com o qual a artista rodaria o Brasil naquele ano em bem-sucedida turnê. O show do Rock in Rio 3, de certa forma, foi o último grande momento em que Cássia Eller foi realmente Cássia Eller... Daí a sua importância.

Segundo solo do titã Sérgio Britto tem pegada

Resenha de CD
Título:
Eu Sou 300
Artista:
Sérgio Britto
Gravadora:
Arsenal

/ Universal Music
Cotação:
* * *

Um dos fundadores do grupo Os Titãs, hoje reduzido a um quinteto com a morte de Marcelo Fromer e as saídas de Arnaldo Antunes e Nando Reis, Sérgio Britto sempre esteve na sombra de outros integrantes da banda, a despeito de ter assinado alguns clássicos do repertório titânico. Com seu título extraído de poema homônimo de Mário de Andrade, o segundo disco solo de Britto, Eu Sou 300, confirma a afiada verve autoral do cantor e compositor. O sucessor de A Minha Cara (2000) é um CD bem menos hermético. Basta ouvir Vem Andar Comigo, pop ganchudo de batida envolvente, para atestar sua vocação para as paradas.

Com poética inquieta, na qual são ouvidos ecos tropicalistas na já explícita Como Já Dizia Rogério Duarte e em versos da ótima faixa de abertura, São Paulo (Cosmópolis), o titã retrata o caos urbano em repertório de pegada roqueira. Na ácida Anticorporativa, o alvo são multinacionais e apetrechos hi-tech da vida moderna. "Não são o paraíso esses portões automáticos", decreta verso da letra. Com levada frenética, o delicioso pop rock Café Expresso atenta para essa automação urgente do cotidiano que sufoca os habitantes da cosmópolis sem perder o sabor de hit radiofônico.

Peça-chave do punch roqueiro de Eu Sou 300, a ótima guitarra de Emerson Villani - o eficiente produtor e arranjador do disco - geme em músicas como Um Novo Samba-Enredo. No terreno das baladas, Raquel (DDD) ratifica o tom palatável do repertório. Que ainda tem canção melodiosa de Arnaldo Antunes, Na Linha do Horizonte, letrada por Britto. Destoantes, mas nem por isso menos interessantes, Nós (faixa mais introspectiva criada pelo titã em parceria com o poeta Carlos Rennó), a irreverente e esportista Chulapa Free (regravação da banda Tiroteio, de Santos - SP) e o tema instrumental José - solado ao piano por Britto em ambiente camerístico - completam o bom disco que, a despeito de perder um pouco o pique na segunda metade, mostra que Sérgio Britto merece ter mais holofotes sob sua produção autoral e sua cara.

2 de novembro de 2006

Em foco, a visão tupiniquim do rock estrangeiro

Resenha de CD / DVD
Título: Rockin' Days
Artista: Vários
Gravadora: Indie Records
Cotação: * *

Pela capa, típica de coletânea barata, já dá para perceber que este projeto criado para festejar os 50 anos do rock não chega às lojas com o requinte que merecia. A boa idéia do produtor Luiz Carlos Meu Bom foi reunir nomes do pop rock nativo para regravar clássicos de grupos estrangeiros. Com exceção do Skank, que afia a pegada roqueira para rebobinar You Really Got me (The Kinks, 1964), o elenco apresenta bandas do segundo e do terceiro escalão. Mas o que empana o brilho da festa é o resultado bem irregular dos covers. Nenhum chega a ser constrangedor, mas tampouco alguém realmente brilha no CD e DVD Rockin' Days, editados pela Indie Records com gravações feitas em estúdio com banalidade condizente com a insossa capa.

Justiça seja feita: o Biquíni Cavadão consegue clonar em Overkill (Men at Work, 1983) a pegada do registro original, com dose a menos de melancolia. Da mesma forma que o Autoramas toca Blue Suede Shoes (Elvis Presley, 1956) fiel à batida do registro mais célebre do rock de Carl Perkins. Mas tem músicas, como Lithium (Nirvana, 1991), que são osso duro de roer pela carga emocional adicionada pelos cantores originais - no caso, Kurt Cobain. E aí até uma boa banda, como a Leela, acaba soando como Danni Carlos, por mais personalidade que tenha. Era missão quase impossível.

Se Os Britos cantam clássico dos Rolling Stones (Let's Spend the Night Together, 1967) como se fossem os Beatles, Vinny até tenta evocar o universo de Led Zeppelin (Black Dog, 1971) e o grupo Tantra fica com a ingrata missão de reapresentar Mr. Tambourine Man (Bob Dylan e The Byrds, 1965). Já o Uns e Outros se arrisca a pisar no território sagrado dos Doors (People Are Strange, 1967). Nos extras do DVD, os artistas repetem frases feitas sobre o rock, cujos dias são melhores do que fazem supor o projeto de covers.

Uma fantástica volta ao mundo da música pop

Resenha de livro
Título: De A-Ha a U2
Autor: Zeca Camargo
Editora: Globo
Cotação: * * * 1/2

Para quem ainda associa Zeca Camargo somente aos shows da vida dominical, o segundo delicioso livro do apresentador do programa Fantástico pode ser uma agradável surpresa. De A-Ha a U2 - Os Bastidores das Entrevistas do Mundo da Música faz uma fantástica viagem pelo universo pop. Camargo já rodou a terra para entrevistar estrelas como Björk, Madonna e Elton John. O livro traça esse roteiro com a sabedoria de evitar os cartões-postais comuns. O barato é poder conhecer os bastidores da viagem, desnudando os esquemas da indústria fonográfica e, sobretudo, a face oculta de astros que, em frente das câmeras, quase sempre se apresentam amáveis e ternos com frases feitas de encomenda pelas suas equipes de marketing.

Com texto saboroso, Camargo tira o véu de 53 ícones da cena pop. Entre eles, Nirvana, R.E.M. e Coldplay, além de nativos como Rita Lee, Caetano Veloso, Cazuza e. Mas o jornalista também se revela por inteiro - e aí é que está a maior parte do charme do livro: nas informais impressões pessoais do escritor sobre cada artista ou entrevista. É quando sabemos que o entrevistado não conseguiu ocultar sua admiração por Beck e por Michael Stipe, por exemplo. Que esperou nove horas para falar com Courtney Love. Que saiu de sua conversa com Avril Lavigne com a forte impressão de que a rebeldia da jovem estrela fora arquitetada na sala de marketing da gravadora BMG. E que amargou (profunda) decepção com a má-vontade de Damon Albarn (Blur) ao recebê-lo para entrevista que acabou nem sendo exibida e também com o ralo material colhido em conversa marítima com os integrantes do grupo Red Hot Chili Peppers. Mas que vibrou ao driblar involuntariamente a proibição de falar com Elton John sobre a morte da amiga Diana, a princesa.

Camargo expõe preferências e impressões em um relato simples, direto e sedutor. De A-Ha a U2 não se leva muito a sério. Por isso é que até deve ser levado. Em vez de defender teses sobre a indústria fonográfica ou sobre os artistas, o autor vai mostrando como é o cotidiano de um jornalista musical - parcial como todo ser humano. E duas amenas seções que se repetem nos 53 relatos valorizam ainda mais o roteiro: Se Você Tiver que Ouvir Apenas uma Música desse Artista, Ouça.... (com dicas geralmente pouco óbvias) e Perdido na Música, em que Zeca Camargo rememora andanças por lojas de CDs à cata de tesouros que ele nem mesmo sabia que existia. Um belo achado que torna o livro altamente recomendável para todos que se interessam pelo mundo pop e que viajam ao ouvir uma música de seu artista ou grupo predileto.

Becker reúne Gonzagas em CD maior de grande

Resenha de CD
Título: Dois Maior

de Grande
Artista: Clara Becker
Gravadora: Vila

Pirutinga CulturaCotação: * * * *

Separados por divergências ideológicas (inclusive as de cunho estritamente político), Luiz Gonzaga (13/12/1912 - 02/08/1989), o Gonzagão, e seu filho Luiz Gonzaga do Nascimento Jr. (22/09/1945 - 30/04/1991), o Gonzaguinha, selaram a paz apenas no fim da vida. A convergência desses dois universos tão distantes e tão ricos é o mote e o mérito do segundo CD de Clara Becker, Dois Maior de Grande, de título inspirado em composição de Gonzaguinha (Coisa Mais Maior de Grande, 1981) que não consta entre as 12 faixas do (grande) disco.

Becker já tinha mostrado forte personalidade artística em seu primeiro álbum, Pétalas (2003). Neste tributo aos dois geniosos gênios da música brasileira, a cantora supera a ótima impressão deixada na estréia ao reapresentar com originalidade duas obras já exaustivamente regravadas. E o faz num tempo de delicadeza, urdida pelos arranjos concebidos (não por acaso...) por dois pianistas, Benjamim Taubkin e Leandro Braga. Ao primeiro toque do clarinete de Dirceu Leite, que introduz o samba Com a Perna no Mundo (Gonzaguinha, 1979), já fica claro o tom incomum da releitura da intérprete. A suavidade conduz até a regravação de Sangrando (Gonzaguinha, 1980), em que - na contramão das cantoras que procuram exacerbar o canto para realçar a emoção exposta nos versos da canção - Becker transita em tom bem mais introspectivo, assinalando que o sentimento pode ser ainda mais intenso quanto interiorizado. Conseguiu dar frescor à música.

A despeito de incluir Sangrando e o samba É (por sinal, a leitura mais óbvia do tributo), a seleção de músicas de Gonzaguinha prima por jogar luz em temas menos conhecidos do compositor - casos de Paixão (1980), Pessoa (1978) e Questão de Fé (1980), músicas de época em que o compositor era fonte tão profícua de sucessos que as paradas e o público nem tiveram chance de absorver essas pérolas ora lustradas pela voz afinada de Becker.

Feita sob o mesmo prisma da delicadeza, a abordagem da obra de Gonzagão é ainda mais original por se tratar de autor de grande vivacidade rítmica, ralentada em Dois Maior de Grande em favor do realce de uma melancolia que permeia a maior parte do cancioneiro de Gonzagão em que pese seu andamento geralmente festivo. Instrumento que simboliza essa obra, o acordeom está no disco, mas inserido em contexto de refinamento harmônico que possibilita a valorização de letras e melodias primorosas. O tom dolente é o elo entre Sabiá (1951), Estrada de Canindé (1950), Assum Preto (1950) e Qui nem Jiló (1950). Em clima de arrasta-pé, há somente a quase obscura Numa Sala de Reboco (1964).

E o fato é que o disco caminha por estradas melódicas e poéticas de rara beleza até chegar ao destino final: Da Vida (1980), tema de Gonzaguinha em que Clara Becker une sua voz a do talentoso filho do autor, Daniel Gonzaga (de timbre espantosamente semelhante ao do pai), para celebrar a vida e, em sentido figurado, também toda a saudade desses dois compositores maior de grande - cujo tamanho salta aos ouvidos no sensível disco dessa cantora que merece ser bem mais ouvida por quem gosta de música brasileira.

Caio Mesquita apela para o sentimento natalino

Um dos sucessos comerciais do mercado fonográfico em 2006, por conta das (alegadas) 250 mil cópias vendidas de seu CD Jovem Brazilidade, o teen saxofonista Caio Mesquita vai passar ainda este ano pelo teste do segundo disco. Gravado na esperança do aquecimento do mercado na época das festas, Natal (foto) chega às lojas em fins de novembro - em parceria da EMI Music com a Luar Music, a gravadora administrada pelo filho de Raul Gil, o apresentador de TV que projetou o músico em seu programa. O repertório enfileira clássicos da festa católica. Mesquita toca temas como Noite Feliz, Então É Natal, Bate o Sino, Boas Festas e (até...) White Christmas.

Coletânea festeja com atraso os 65 de Erasmo

Erasmo Carlos fez 65 anos em 5 de junho e ganhou coletânea para festejar a data. Mas o CD idealizado por Leonardo Esteves, filho do Tremendão, chega às lojas somente nesta semana. Erasmo 65 - Na Estrada (foto) é álbum duplo de 32 gravações que, apesar do imperdoável atraso de sua edição, merece atenção pelo conteúdo.

No CD 1, Erasmo Canta a MPB, a tônica são músicas de outros compositores na voz do artista. Para colecionadores da obra do Tremendão, os atrativos são Papai Sabe Tudo (rock de Leandro e Leo Jaime, gravado por Erasmo em 1984 para o disco da trilha do especial infantil Plunct Plact Zuuum II), Neném (fonograma do álbum comemorativo dos 20 anos do grupo Boca Livre) e Beira d'Água - A Festa (faixa-bônus extraída do raro disco Cavalo das Alegrias, lançado em 1979 por Marku Ribas, parceiro de Erasmo na música, gravada em dueto pelos autores). Já valem a coletânea.

No CD 2, A MPB Canta Erasmo, intérpretes de diversos estilos cantam as músicas do Tremendão. Reúne Maria Bethânia (Jesus Cristo, fonograma de 1971), Nara Leão (Além do Horizonte, em registro de 1978) e Simone (As Curvas da Estrada de Santos, em outra boa gravação de 1978). As faixas mais raras são Meu Mar - gravação de Cláudia que saiu somente em compacto de 1972 - e Uma Noite na Discoteca da Moda, única incursão de Erasmo pela disco music, feita para compacto editado em 1979 por Ronaldo Corrêa, integrante dos Golden Boys. Outros fonogramas de alto valor documental são Jóia (a balada feita por Roberto e Erasmo Carlos em 1982 para Rosemary) e Banana Split, bissexta parceria do Tremendão com Bernardo Vilhena, composta para a trilha do pop filme homônimo e lançada por João Penca e seus Miquinhos Amestrados em 1988 no (fraco) álbum Além da Imaginação.

Editada com critério, a coletânea dupla tem seu trunfo na ótima remasterização de Luigi Hoffer, na capa esperta e no encarte farto de informações sobre a origem das faixas. O mérito do encarte é do pesquisador Rodrigo Faour, autor dos textos e da seleção de repertório. É, enfim, compilação válida que teria gerado atenção maior da mídia se a gravadora Universal Music tivesse se dignado a lançá-la quando Eramos Carlos completava, feliz, seus 65 anos.

Aydar dá tratamento moderno e jovial ao samba

Resenha de CD
Título: Kavita 1
Artista: Mariana Aydar
Gravadora: Universal

Music
Cotação: ****

Mais uma ótima cantora chega ao mercado fonográfico tendo o samba como o eixo do disco. Se a (afinada) carioca Mariana Baltar apresenta abordagem (bem) mais tradicional do gênero em seu recém-lançado primeiro CD, Uma Dama Também Quer se Divertir, sua colega paulista de nome similar, Mariana Aydar, dá tom mais contemporâneo ao samba em Kavita 1 - sem exagerar na dose de eletrônica. O álbum até lembra a irretocável estréia de Roberta Sá em 2005 com Braseiro pela harmônica combinação de canto, arranjos e repertório. E já é um dos destaques de 2006!!

Filha do compositor Mário Manga, Aydar se mostra uma cantora segura, de gosto apurado e fraseado impecável - como atestado na interpretação de Deixa o Verão, bonito tema do hermano Rodrigo Amarante. Mas é fato que boa parte do mérito do CD repousa nas mãos do produtor BiD, responsável pela excelência dos arranjos. Em Vento no Canavial, música de João Donato regravada com a presença do autor ao piano e ao trombone, BiD consegue simular ventania com seus efeitos. Zé do Caroço é outro exemplo do feliz tratamento dado ao repertório. Com percussão mais econômica, o samba de Leci Brandão tem realçada a mensagem social da letra, cantada por Aydar em dueto com a autora. Zé do Caroço ganha banho de loja e parece outra pessoa - sem nunca soar modernoso.

Felizmente, a inspiração dos arranjos nunca empana o canto de Aydar, que esbanja suingue em Menino das Laranjas, samba de Théo de Barros popularizado por Elis Regina nos anos 60, e evoca a vertente afro da obra de Clara Nunes em Candomblé (Edmundo Souto, Danilo Caymmi e Paulo Antônio). O disco seria perfeito se Aydar tivesse resistido à tentação de se exibir como compositora. Festança - parceria da artista com Duani, multi-instrumentista que assina a produção de três das 11 faixas - é a música mais fraca do repertório, aberto esplendidamente com releitura de Minha Missão (João Nogueira e Paulo César Pinheiro) e fechado de forma igualmente primorosa com Maior É Deus, outro samba letrado por Paulo César Pinheiro, só que no caso sobre melodia de Eduardo Gudin. Entre as duas obras-primas, há refrescante tema litorâneo de Chico César, Prainha, que (re)afirma o talento do compositor.

Como Roberta Sá em Braseiro, Mariana Aydar exala frescor em Kavita 1. Se entender que sua área de atuação é o canto, e não a composição, tem tudo para se firmar de vez numa escala nacional.

'Tim Maia Racional Vol. 1' gera CD com remixes

A Trama lança em novembro o CD Tim Maia Racional Vol. 1 Remixado (foto). Como o título explicita, trata-se de disco com remixes de faixas do primeiro volume de Tim Maia Racional, clássico de 1975 reeditado oficialmente em CD pela gravadora em abril de 2006. Cultuado por DJs e produtores, o álbum teve várias músicas remixadas para as pistas por um time que inclui Max de Castro (produtor e arranjador da nova versão de Bom Senso), o coletivo Instituto (Imunização Racional - Que Beleza), Mau Mau (You Don't Know What I Know), BossaCucaNova (Bom Senso), Zegon (Universo em Desencanto), Parteum (Rational Culture), Rappin' Hood (rimas em Leia o Livro Universo em Desencanto), Bruno E. (Rational Culture), Silvera (Bom Senso), João Marcello Bôscoli (You Don't Know What I Know), Mad Zoo (Imunização Racional - Que Beleza) e Grand Master Ney (Rational Culture). 10!

Janet evoca 'Control' para tentar voltar ao topo

Janet Jackson fazia tanto sucesso nos anos 80 que o fato de ser irmã de Michael era mero detalhe em sua biografia diante de marcas fabulosas como os 5,3 milhões de cópias vendidas de seu álbum Control, lançado em março de 1986. É esse passado de glória que a cantora evoca no marketing concebido para divulgar seu novo CD, 20 Y.O. (foto). Já editado nos Estados Unidos, o disco chega ao Brasil neste mês de novembro, com título que alude aos 20 anos do álbum que a consagrou na década em que seu irmão foi rei. Mas, como os tempos são outros, Janet recrutou também Jermaine Dupri, o produtor que reergueu Mariah Carey, a fim de clonar as batidas do disco The Emancipation of Mimi.

A óbvia intenção da gravadora EMI é recolocar Janet no topo das paradas após CDs de desempenho decepcionante como All for You (2001) e Damita Jo (2004). Control - o terceiro álbum da artista - não é explicitamente citado por acaso. O disco solidificou a trajetória da intérprete com discurso feminista embalado pela produção azeitada da dupla Jimmy Jam e Terry Lewis. Nem foi o álbum mais vendido de Janet na década. Rhythm Nation 1814, o sucessor de Control, chegaria aos 6,3 milhões de cópias. Mas Control definiu Janet Jackson no mercado. Só que, como já disse um certo ilustre alguém, a história somente se repete como farsa...

'Ella and Louis' ganha boa reedição aos 50 anos

Então no auge como cantora, Ella Fitzgerald (1917 - 1996) entrou em estúdio com Louis Armstrong (1901 - 1971), em 1956, e gravou com o genial trompetista e intérprete a obra-prima Ella and Louis, ora reeditada no mercado nacional pela Universal Music dentro da bela série Classics, dedicada a recuperar o valioso acervo da gravadora Verve. A reedição do disco chega às lojas 50 anos depois da gravação em que, sob a batuta eficaz do produtor Norman Granz, Ella e Louis registraram standards como Tenderly, A Foggy Day, Cheek to Cheek e April in Paris - com o luxo de ter Oscar Peterson ao piano. Enfim, é mesmo um clássico, novamente ao alcance de todos - com capa (foto), encarte e textos originais.

Ricky Martin regrava ao vivo versão da Legião

Primeiro programa da série Unplugged MTV registrado com câmeras de alta definição, o acústico de Ricky Martin (na foto, na gravação em Miami - EUA) vai chegar às lojas ainda neste mês de novembro, em CD e DVD, com a regravação de Gracias por Pensar en mi, versão em espanhol de A Via Láctea, música do repertório da Legião Urbana. A composição é parceria de Renato Russo com Marcelo Bonfá e Dado Villa Lobos. O registro original da versão foi feito pelo próprio Ricky Martin - em 1998 - em seu álbum Vuelve.