'Mar de Sophia' abrange águas mais profundas
Resenha de CD
Título: Mar de Sophia
Artista: Maria Bethânia
Gravadora: Biscoito Fino
Cotação: * * * * *
Dos dois discos temáticos lançados por Maria Bethânia, Mar de Sophia é o que apresenta águas mais profundas. A imersão da cantora nos versos da poeta portuguesa Sophia de Mello Breyner Andresen (1919 - 2004) foi o ponto de partida para a criação deste álbum bem mais denso e introspectivo do que seu gêmeo Pirata. Urdido pela percussão personalíssima de Naná Vasconcellos em faixas como Yemanjá Rainha do Mar (Pedro Amorim e Paulo César Pinheiro), Grão de Mar (Márcio Arantes e Chico César) e a épica Kirimurê (Jota Velloso), o CD Mar de Sophia é um luxo só.
Sempre hábil na costura de música de poesia, Bethânia insere os versos de Sophia entre saudações aos orixás como a que abre o disco (Canto de Oxum, tema de Vinicius de Moraes e Toquinho em que a intérprete arrisca canto mais agudo com ótimo resultado) e a que o fecha (Canto de Nanã, de Dorival Caymmi), sublinhando o acento afro-brasileiro que emerge forte do disco Mar de Sophia.
Por evocar sentimentos inspirados pela mitologia construída em torno do mar, a poesia de Sophia conduz o barco de Bethânia para portos românticos como As Praias Desertas (clássico de Tom & Vinicius, rebobinado com o piano de Antonio Adolfo, convidado também de Poema Azul, de Sérgio Ricardo), a valseada Lágrima (faixa camerística em que desponta o piano de João Carlos Assis Brasil) e Cantiga da Noiva, tema de um Dorival Caymmi mais surpreendente. Mas surpresa mesmo é ouvir na voz da cantora - com batucada tipicamente carioca e com o bandolim de Luciana Rabello - um samba-enredo da Portela. Das Maravilhas do Mar, Fez-se o Esplendor de uma Noite (1981) é das peças mais lindas do gênero e até alegra a (interiorizada) viagem marítima de Bethânia.
A interiorização atinge um de seus pontos máximos em Debaixo D'Água, música em que Arnaldo Antunes discorre poeticamente sobre as águas do ventre materno. Na faixa, Bethânia arrebanha os versos escritos pelos Titãs para Agora, ditos pela intérprete num canto falado próximo do rap. E o fato é que, aos 60 anos, feitos em junho, Bethânia está cantando bem e sem sinais de desgaste vocal.
Pelo roteiro bem mais inesperado, a viagem proposta por Mar de Sophia leva o ouvinte por caminhos bem mais difíceis do que os navegados por Pirata, embora Bethânia já tenha mergulhado em águas que, em síntese, fazem emergir a cultura popular brasileira.
Título: Mar de Sophia
Artista: Maria Bethânia
Gravadora: Biscoito Fino
Cotação: * * * * *
Dos dois discos temáticos lançados por Maria Bethânia, Mar de Sophia é o que apresenta águas mais profundas. A imersão da cantora nos versos da poeta portuguesa Sophia de Mello Breyner Andresen (1919 - 2004) foi o ponto de partida para a criação deste álbum bem mais denso e introspectivo do que seu gêmeo Pirata. Urdido pela percussão personalíssima de Naná Vasconcellos em faixas como Yemanjá Rainha do Mar (Pedro Amorim e Paulo César Pinheiro), Grão de Mar (Márcio Arantes e Chico César) e a épica Kirimurê (Jota Velloso), o CD Mar de Sophia é um luxo só.
Sempre hábil na costura de música de poesia, Bethânia insere os versos de Sophia entre saudações aos orixás como a que abre o disco (Canto de Oxum, tema de Vinicius de Moraes e Toquinho em que a intérprete arrisca canto mais agudo com ótimo resultado) e a que o fecha (Canto de Nanã, de Dorival Caymmi), sublinhando o acento afro-brasileiro que emerge forte do disco Mar de Sophia.
Por evocar sentimentos inspirados pela mitologia construída em torno do mar, a poesia de Sophia conduz o barco de Bethânia para portos românticos como As Praias Desertas (clássico de Tom & Vinicius, rebobinado com o piano de Antonio Adolfo, convidado também de Poema Azul, de Sérgio Ricardo), a valseada Lágrima (faixa camerística em que desponta o piano de João Carlos Assis Brasil) e Cantiga da Noiva, tema de um Dorival Caymmi mais surpreendente. Mas surpresa mesmo é ouvir na voz da cantora - com batucada tipicamente carioca e com o bandolim de Luciana Rabello - um samba-enredo da Portela. Das Maravilhas do Mar, Fez-se o Esplendor de uma Noite (1981) é das peças mais lindas do gênero e até alegra a (interiorizada) viagem marítima de Bethânia.
A interiorização atinge um de seus pontos máximos em Debaixo D'Água, música em que Arnaldo Antunes discorre poeticamente sobre as águas do ventre materno. Na faixa, Bethânia arrebanha os versos escritos pelos Titãs para Agora, ditos pela intérprete num canto falado próximo do rap. E o fato é que, aos 60 anos, feitos em junho, Bethânia está cantando bem e sem sinais de desgaste vocal.
Pelo roteiro bem mais inesperado, a viagem proposta por Mar de Sophia leva o ouvinte por caminhos bem mais difíceis do que os navegados por Pirata, embora Bethânia já tenha mergulhado em águas que, em síntese, fazem emergir a cultura popular brasileira.
3 Comments:
me emociono até hoje com esse disco
um dos meus preferidos dentre tantos de Bethânia
Bom!
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