Becker reúne Gonzagas em CD maior de grande
Resenha de CD
Título: Dois Maior
de Grande
Artista: Clara Becker
Gravadora: Vila
Pirutinga CulturaCotação: * * * *
Separados por divergências ideológicas (inclusive as de cunho estritamente político), Luiz Gonzaga (13/12/1912 - 02/08/1989), o Gonzagão, e seu filho Luiz Gonzaga do Nascimento Jr. (22/09/1945 - 30/04/1991), o Gonzaguinha, selaram a paz apenas no fim da vida. A convergência desses dois universos tão distantes e tão ricos é o mote e o mérito do segundo CD de Clara Becker, Dois Maior de Grande, de título inspirado em composição de Gonzaguinha (Coisa Mais Maior de Grande, 1981) que não consta entre as 12 faixas do (grande) disco.
Becker já tinha mostrado forte personalidade artística em seu primeiro álbum, Pétalas (2003). Neste tributo aos dois geniosos gênios da música brasileira, a cantora supera a ótima impressão deixada na estréia ao reapresentar com originalidade duas obras já exaustivamente regravadas. E o faz num tempo de delicadeza, urdida pelos arranjos concebidos (não por acaso...) por dois pianistas, Benjamim Taubkin e Leandro Braga. Ao primeiro toque do clarinete de Dirceu Leite, que introduz o samba Com a Perna no Mundo (Gonzaguinha, 1979), já fica claro o tom incomum da releitura da intérprete. A suavidade conduz até a regravação de Sangrando (Gonzaguinha, 1980), em que - na contramão das cantoras que procuram exacerbar o canto para realçar a emoção exposta nos versos da canção - Becker transita em tom bem mais introspectivo, assinalando que o sentimento pode ser ainda mais intenso quanto interiorizado. Conseguiu dar frescor à música.
A despeito de incluir Sangrando e o samba É (por sinal, a leitura mais óbvia do tributo), a seleção de músicas de Gonzaguinha prima por jogar luz em temas menos conhecidos do compositor - casos de Paixão (1980), Pessoa (1978) e Questão de Fé (1980), músicas de época em que o compositor era fonte tão profícua de sucessos que as paradas e o público nem tiveram chance de absorver essas pérolas ora lustradas pela voz afinada de Becker.
Feita sob o mesmo prisma da delicadeza, a abordagem da obra de Gonzagão é ainda mais original por se tratar de autor de grande vivacidade rítmica, ralentada em Dois Maior de Grande em favor do realce de uma melancolia que permeia a maior parte do cancioneiro de Gonzagão em que pese seu andamento geralmente festivo. Instrumento que simboliza essa obra, o acordeom está no disco, mas inserido em contexto de refinamento harmônico que possibilita a valorização de letras e melodias primorosas. O tom dolente é o elo entre Sabiá (1951), Estrada de Canindé (1950), Assum Preto (1950) e Qui nem Jiló (1950). Em clima de arrasta-pé, há somente a quase obscura Numa Sala de Reboco (1964).
E o fato é que o disco caminha por estradas melódicas e poéticas de rara beleza até chegar ao destino final: Da Vida (1980), tema de Gonzaguinha em que Clara Becker une sua voz a do talentoso filho do autor, Daniel Gonzaga (de timbre espantosamente semelhante ao do pai), para celebrar a vida e, em sentido figurado, também toda a saudade desses dois compositores maior de grande - cujo tamanho salta aos ouvidos no sensível disco dessa cantora que merece ser bem mais ouvida por quem gosta de música brasileira.
Título: Dois Maior
de Grande
Artista: Clara Becker
Gravadora: Vila
Pirutinga CulturaCotação: * * * *
Separados por divergências ideológicas (inclusive as de cunho estritamente político), Luiz Gonzaga (13/12/1912 - 02/08/1989), o Gonzagão, e seu filho Luiz Gonzaga do Nascimento Jr. (22/09/1945 - 30/04/1991), o Gonzaguinha, selaram a paz apenas no fim da vida. A convergência desses dois universos tão distantes e tão ricos é o mote e o mérito do segundo CD de Clara Becker, Dois Maior de Grande, de título inspirado em composição de Gonzaguinha (Coisa Mais Maior de Grande, 1981) que não consta entre as 12 faixas do (grande) disco.
Becker já tinha mostrado forte personalidade artística em seu primeiro álbum, Pétalas (2003). Neste tributo aos dois geniosos gênios da música brasileira, a cantora supera a ótima impressão deixada na estréia ao reapresentar com originalidade duas obras já exaustivamente regravadas. E o faz num tempo de delicadeza, urdida pelos arranjos concebidos (não por acaso...) por dois pianistas, Benjamim Taubkin e Leandro Braga. Ao primeiro toque do clarinete de Dirceu Leite, que introduz o samba Com a Perna no Mundo (Gonzaguinha, 1979), já fica claro o tom incomum da releitura da intérprete. A suavidade conduz até a regravação de Sangrando (Gonzaguinha, 1980), em que - na contramão das cantoras que procuram exacerbar o canto para realçar a emoção exposta nos versos da canção - Becker transita em tom bem mais introspectivo, assinalando que o sentimento pode ser ainda mais intenso quanto interiorizado. Conseguiu dar frescor à música.
A despeito de incluir Sangrando e o samba É (por sinal, a leitura mais óbvia do tributo), a seleção de músicas de Gonzaguinha prima por jogar luz em temas menos conhecidos do compositor - casos de Paixão (1980), Pessoa (1978) e Questão de Fé (1980), músicas de época em que o compositor era fonte tão profícua de sucessos que as paradas e o público nem tiveram chance de absorver essas pérolas ora lustradas pela voz afinada de Becker.
Feita sob o mesmo prisma da delicadeza, a abordagem da obra de Gonzagão é ainda mais original por se tratar de autor de grande vivacidade rítmica, ralentada em Dois Maior de Grande em favor do realce de uma melancolia que permeia a maior parte do cancioneiro de Gonzagão em que pese seu andamento geralmente festivo. Instrumento que simboliza essa obra, o acordeom está no disco, mas inserido em contexto de refinamento harmônico que possibilita a valorização de letras e melodias primorosas. O tom dolente é o elo entre Sabiá (1951), Estrada de Canindé (1950), Assum Preto (1950) e Qui nem Jiló (1950). Em clima de arrasta-pé, há somente a quase obscura Numa Sala de Reboco (1964).
E o fato é que o disco caminha por estradas melódicas e poéticas de rara beleza até chegar ao destino final: Da Vida (1980), tema de Gonzaguinha em que Clara Becker une sua voz a do talentoso filho do autor, Daniel Gonzaga (de timbre espantosamente semelhante ao do pai), para celebrar a vida e, em sentido figurado, também toda a saudade desses dois compositores maior de grande - cujo tamanho salta aos ouvidos no sensível disco dessa cantora que merece ser bem mais ouvida por quem gosta de música brasileira.
2 Comments:
gonzagão, saudade
os dois compositores,um regional e o outro urbano,são ótimos,quanto a cantora,careço ouvir melhor.
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