Resenha de CDTítulo: Os Bossa NovaArtista: Carlos Lyra, João Donato, Marcos Valle eRoberto Menescal Gravadora: Biscoito FinoCotação: * * * 1/2Dentre os projetos idealizados para festejar os 50 anos que a Bossa Nova completou em 2008, um dos mais interessantes é
Os Bossa Nova, álbum que a Biscoito Fino acaba de pôr nas lojas com a reunião - até então inédita em disco - de quatro ases da bossa cinqüentenária. Carlos Lyra, Marcos Valle e Roberto Menescal foram três dos principais fornecedores de clássicos da fase inicial do movimento, sendo suplantados somente pelo soberano Tom Jobim (1927 - 1994). João Donato foi a ovelha desgarrada do moderno rebanho, mas ninguém duvida de que sua bossa já era nova na década de 50. Juntos pela primeira vez num disco inteiro, os quatro craques da bossa soam renovados pelo (feliz) encontro.
Idealizado pelo produtor José Milton e gravado entre agosto e outubro de 2008, o CD
Os Bossa Nova não é projeto de caráter retrospectivo. Os já exauridos clássicos de cada compositor foram evitados. A rigor, os quatro cantam ou tocam juntos somente em duas das 14 faixas -
Bossa Entre Amigos (Roberto Menescal e Marcos Valle) e
Samba do Carioca, composto por Lyra com Vinicius de Moraes (1913 -1980) em 1963 para o musical
Pobre Menina Rica - mas o interesse do disco se sustenta pelo troca-troca de repertório e pelo revezamento entre os mestres. Se Menescal se une a Lyra para reviver o
Balansamba que compôs com Ronaldo Bôscoli (1927 - 1994), Marcos Valle entoa
Até Quem Sabe, parceria de Donato com seu irmão Lysias Ênio. Há também temas instrumentais como
Sextante (da safra inédita de Lyra),
Entardecendo (parceria de Valle com Menescal) e
A Cara do Rio (de Menescal com Donato) - com destaque para os dois primeiros. São nestes temas que fica mais evidente o refinamento harmônico do disco, para o qual contribuem os ótimos músicos convidados - entre eles, o trompetista Jessé Sadoc, o baixista Jorge Helder e o baterista Paulo Braga, hábeis na sustentação da leveza das bossas.
Há fino entrosamento entre os quatro ases. O que joga contra
Os Bossa Nova são dois fatos incontestáveis. O primeiro é que nenhuma música nova ou mesmo mais antiga - caso de
Ciúme, composta por Lyra em 1954 - chega sequer a roçar a beleza dos clássicos da bossa. O segundo é que nenhum dos quatro ases prima exatamente pelo virtuosismo vocal. Lyra e Valle até se viram bem no microfone. Já Menescal nunca foi mesmo talhado para o canto, como comprova o registro de
Vagamente, parceria dele com Bôscoli que deu título ao primeiro LP de Wanda Sá. Mas é justo reconhecer que o dueto de Menescal com João Donato (outro
desafinado) em
Teresa da Praia é gracioso. No geral, o álbum deixa a (boa) impressão de que a festa da bossa não tem fim. Aliás, os sintomáticos versos que encerram o disco ("Vamos já pensando numa próxima vez / Pois a nossa bossa entre amigos / Ninguém vai separar", de
Bossa entre Amigos) sinalizam que vai ser sempre tempo de celebrar a modernidade atemporal da bossa.