Resenha de CDTítulo: Quando o CéuClarearArtista: Fabiana CozzaGravadora: EldoradoCotação: * * * *Com sua voz calorosa, Fabiana Cozza logo pede licença para incensar em
Incensa, o samba que abre seu segundo CD,
Quando o Céu Clarear. O belo samba é de Roque Ferreira, também autor da faixa-título. Projetada em São Paulo (SP), Cozza põe o pé no terreiro neste disco de tom afro-brasileiro para reafirmar que o samba é seu dom - como já anunciara no título de seu primeiro álbum, editado em 2004, e como reitera na letra de
Novo Viver, tema que conta com adesão do Quinteto em Branco e Preto (Magnu Souza e Maurílio Oliveira são os autores da faixa). O CD já figura entre os melhores de 2007.
As louvações aos orixás permeiam o repertório do CD de forma explícita (em
Saudação para Iemanjá e no lento
Ponto de Nanã ofertado por Roque Ferreira) ou implícita como em
Nação. Cozza rebobina a obra-prima de João Bosco, Paulo Emílio e Aldir Blanc - que deu título ao último CD de Clara Nunes - em ritmo de sambão. Como se estivesse na quadra de uma escola de samba. Em
Canto de Ossanha, a intérprete (re)ergue a ponte Brasil-Cuba-África ao inserir incidentalmente um canto cubano de domínio público. O trompete do cubano Julio Padrón - captado em Caracas, a capital da Venezuela - arremata a integração proposta pela boa gravação.
Fabiana Cozza transita tanto pelo samba mais gingado -
Parte, de Rubens Nogueira e Paulo César Pinheiro, atesta sua boa divisão - como pelos temas mais dolentes. Caso de
Doces Recordações, em que a cantora une sua voz à da autora Ivone Lara - de quem Cozza revive
Tendência, em registro que inicia no estilo voz-e-piano até ganhar intensidade. A propósito, o piano
jazzy do cubano Yaniel Matos é o tempero especial de
Xangô te Xinga, tema de Leandro Medina. Entre sambas pautados por sutis dissonâncias (
Não Sai de mim, do mesmo Leandro Medina) e pelas tradições (
Pela Sombra, parceria dos bambas Nei Lopes e Nelson Sargento), Fabiana Cozza se (con)firma como grande cantora. Basta a luminosa releitura de
Agradecer e Abraçar, hit dos baianos Gerônimo e Vevé Calazans, para atestar o poder da voz desta intérprete que merece projeção além dos redutos do samba de São Paulo. O samba é, sim, seu dom.