31 de dezembro de 2006

Retrô 2006 - Historiador invadiu palácio do Rei

Chegou às livrarias - em 1º de dezembro - uma das melhores (e mais polêmicas) biografias de um astro brasileiro. Em 504 páginas, Roberto Carlos em Detalhes (foto) esmiúçou a vida e a obra do cantor mais popular do país. Coube ao historiador baiano Paulo Cesar de Araújo invadir o palácio do Rei para desvendar pontos nebulosos de sua bela e, sim, heróica trajetória.

Avesso a exposições de sua vida privada, inclusive para manter irretocada a imagem criada de bom moço, Roberto Carlos chiou e protestou publicamente contra a biografia na entrevista coletiva concedida para divulgar o lançamento do CD e DVD Duetos. Na ocasião, o cantor revelou ter acionado seu advogados para agir "dentro da lei" contra o livro escrito por Araújo após 16 anos de entrevistas e pesquisas. Por ora, nenhuma ação judicial retirou o livro do mercado, para a alegria de curiosos súditos e não-súditos.

Em narrativa (muito) reverente à obra de Roberto Carlos, Araújo reconstituiu os primeiros passos profissionais do cantor na cidade natal de Cachoeiro de Itapemirim (ES) sem esquecer de detalhar o acidente de trem que provocou a perda da parte inferior da perna direita de Roberto, em 29 de junho de 1947 - triste episódio a que o artista se referiu de forma cifrada em músicas dos anos 70 como Traumas e O Divã. Os tempos difíceis no Rio de Janeiro, quando o cantor batalhava por um lugar em rádios e gravadoras, também são revividos. Araújo revela que Roberto foi visto (e aprovado) por João Gilberto quando dava expediente na Boate Plaza. Mas o aval do papa da Bossa Nova não impediu o artista iniciante de ser recusado por quase todas as gravadoras. E de ter enfrentado forte resistência da elite universitária quando estourou e foi acusado (mesmo por colegas famosos!!!) de ser contra a música brasileira.

Com o argumento de que a obra de Roberto Carlos é o espelho de sua vida, o historiador fez entrar em cena namoradas como Magda Fonseca, musa de Quero que Vá Tudo pro Inferno, música de 1965 que sedimentou a carreira do cantor. Araújo desvendou as farras sexuais da turma da Jovem Guarda e mostrou como o Rei soube se desvincular do movimento na hora certa para iniciar a transição para o estilo romântico que o entronizaria (definitivamente) na preferência popular, a partir dos anos 70. Foi uma brasa, mora??

Além de esmiuçar a gênese e a repercussão de canções famosas (Jesus Cristo, de 1970, traria problemas ao cantor até dentro da Igreja católica) e de detalhar o rico processo de composição de Roberto com Erasmo Carlos, seu fiel parceiro e irmão camarada, Araújo entra em terreno bem pessoal no capítulo Amante à Moda Antiga. É quando dominaram a narrativa namoradas como Silvia Amélia e, novamente, Magda Fonseca, provável musa inspiradora de Detalhes, outra canção emblemática do Rei. Detalhe de alcova.

O biógrafo mostrou que a separação de Nice, a primeira mulher de Roberto, em março de 1978, não foi tão amigável como retratada pela imprensa da época. O artista teria saído de casa após briga e, dias depois, comunicado a Nice (morta de câncer em 1990) sua decisão de dissolver o casamento por um oficial de Justiça. Em contrapartida, foi a atriz Myrian Rios, segunda esposa do cantor, que pediu a separação em decisão que - avalia ela em entrevista ao historiador - foi precipitada. A atriz revelou que se sentia tolhida.

Acima de tudo, Araújo mostra como a história de Roberto Carlos foi sendo marcada por dores e superações. A luta para manter a visão do filho Roberto Carlos Braga II, o Dudu, foi marcada pela perseverança que se repetiria no enfrentamento do câncer de Maria Rita, última mulher de Roberto, derrotada pela doença em 1999. Enfim, Roberto Carlos em Detalhes é leitura essencial para quem quer entender o homem que sempre se escondeu sob os olhos tristes do mito. Corra às livrarias enquanto é tempo...

9 Comments:

Anonymous Anônimo said...

quem não é avesso a exposição de sua vida privada?

31 de dezembro de 2006 às 14:21  
Anonymous Anônimo said...

comprei e tentei ler mas achei um saco. dei para minha avó no natal.

2 de janeiro de 2007 às 14:41  
Blogger Guto Melo said...

E teve a suposta relação com a Sônia Braga, que você não comentou no seu texto.

2 de janeiro de 2007 às 15:50  
Anonymous Anônimo said...

Cada vez que ouço falar do Roberto Carlos, tenho que tomar um rivotril.

2 de janeiro de 2007 às 16:59  
Anonymous Anônimo said...

Tbm tentei ler mas não rolou. Esperava mais. Aguardo outro. Seria interessante conhecer além da trajetória, os escaninhos, bastidores, o mercado por dentro, etc...de um artista que, pelo bem ou pelo mau, se mantém há décadas como o mais amado e popular artista do país.

3 de janeiro de 2007 às 00:00  
Anonymous Anônimo said...

Luc, Roberto deve ter tido mais motivos que vc para fazer uso do rivotril. Tem alternado - desde sempre - incursões igualmente vigorosas ao paraíso e ao inferno.
E, em minha opinião, tem conseguido se manter ERETO frente a um destino que lhe oferta e lhe subtrai sem meias medidas.

3 de janeiro de 2007 às 23:22  
Anonymous Anônimo said...

Ele é o REI . Pronto !

4 de janeiro de 2007 às 08:27  
Anonymous Anônimo said...

Péssima e Baby, eu aceito que o problema seja comigo, já que o Roberto Carlos é a outra unanimidade nacional.

Tenho uma dificuldade com ele e com o Tom Zé. Cada vez que os vejo ou ouço, parece que a vida vai piorar. Tenho que dobrar o rivotril. A psiquiatra fica revoltada, não quer liberar a receita azul, ela é fã do Rei.

A coisa ainda vai quando ouço suas canções (as do Roberto) na voz de grandes intérpretes. Aí, seguro a onda na base do maracugina, ou então fico fazendo o lalalá de uma música qualquer do Edu Lobo dentro da cabeça.

Sinistro!

4 de janeiro de 2007 às 11:01  
Anonymous Anônimo said...

Luc, gostei...rs...
Bem, honey, vc deve se conhecer o suficiente para saber o que lhe vai melhor.(espero que a psiquiatra idem)
Tom Zé tb não me faz pensar em um dia de sol. Roberto... bem, o ano tem quatro estações, concorda? e eu ADORO o outono.
beijoca.

5 de janeiro de 2007 às 17:27  

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