30 de dezembro de 2006

Retrô 2006 - Negra pareceu livre apenas na TV

Liberdade foi afinal tudo o que Negra Li parece não ter tido na gravação de seu segundo disco na gravadora Universal Music, Negra Livre - na realidade, o primeiro disco solo da rapper paulista. Mas sua participação no elenco da série Antônia - em que atuou como atriz ao lado de colegas como Cindy e Leilah Moreno, que também lançaram CDs pela Universal - salvou o ano de Negra Li. Exibidos pela Rede Globo nas noites de sexta-feira, com uma expressiva audiência, os episódios do seriado de ficção projetaram a artista e apagaram a má impressão deixada pelo CD Negra Livre. Livre??!!

Li pareceu livre na TV, mas não no disco, ainda que a faixa-título, presente de Nando Reis, tenha corroborado a idéia de liberdade que permeou o repertório. Ao contrário, Li pareceu aprisionada no formato pop tão ao gosto de gravadoras multinacionais como a Universal Music. Se ela ainda impôs a presença do parceiro Helião no disco anterior (Guerreiro, Guerreira, 2004), no atual quem esteve mais ao seu lado foi o produtor Paul Ralphes, da cena pop. Estranho no ninho do rap, Ralphes se fez presente com seus beats e com a co-autoria de (boa) parte do repertório, assinado com Li.

Foi difícil identificar a liberdade que devia haver no coletivo RZO (Rapaziada Zona Oeste), o trio que projetou Li na forte cena do hip hop paulista. Negra Livre não deixou de ser disco dominado por batidas de rap, rhythm and blues e black music em geral. Só que o domínio foi invadido por estratégico dueto com Caetano Veloso (na romantizada balada Meus Telefonemas, extraída do repertório do grupo AfroReggae) e pela - não menos estratégica - escolha de Você Vai Estar na Minha para puxar o disco. Incluída na trilha da novela Pé na Jaca, a música é um improviso de Lino Crizz em cima de Eu Sei (na Mira), jóia da lavra mais pop de Marisa Monte.

"Eu não vou deixar você triste", avisou Negra em verso da festiva Chegou a Hora. Tudo bem, Li tem todo o direito de ser feliz e de exercer sua liberdade musical e estética. Mas que Negra Livre deixou a sensação de que essa liberdade foi arquitetada e vigiada pela indústria fonográfica, lá isso deixou... Daí talvez o tom até já defensivo dos versos iniciais de Ninguém Pode me Impedir, o rap que abriu o disco. Veja só: "Ninguém pode me impedir de ser / Eu sei que não é tudo que eu posso mudar / Mas eu não vou deixar / Não posso deixar de ser livre / Já não existe escravidão, não me oprime / ... / Sei que vou me lembrar quem eu sou / De onde vim, pra onde eu vou". É como se o argumento do direito à liberdade de expressão soasse como desculpa para o que se escutou a seguir...

1 Comments:

Anonymous José said...

ainda gosto dela ha ha

27 de janeiro de 2010 às 20:13  

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