10 de fevereiro de 2010

Caixa '10.000 Anos à Frente' resume bem Raul

Resenha de caixa de CDs
Título: 10.000 Anos à Frente
Artista: Raul Seixas
Gravadora: Universal Music
Cotação: * * * * *

A rigor, a caixa 10.000 Anos à Frente nada acrescenta à coleção de quem já comprou as criteriosas reedições dos álbuns gravados por Raul Seixas (1945 - 1989) para a extinta gravadora Philips entre 1973 e 1977. Postas nas lojas pela Universal Music em 2005, para celebrar os 60 anos que o artista baiano teria completado na ocasião, tais reedições remasterizadas - com a adição de faixas-bônus - são exatamente as mesmas que foram embaladas na atual caixa (a rigor, as únicas diferenças são o selo estampado nos CDs e os textos do libreto em que o jornalista Silvio Essinger contextualiza cada um dos seis títulos). Contudo, 10.000 Anos à Frente é ideal para quem quer tomar contato com a obra de Raul porque expõe o supra-sumo dessa obra superestimada. Por ter adquirido aura mitológica, o Maluco Beleza é idolatrado com cegueira por fãs que preferem ignorar o fato de que a discografia do artista foi ficando menos inspirada a partir de 1978, apesar de eventuais acertos. 10.000 Anos à Frente reapresenta os álbuns que justificam o carimbo de artista inovador posto em Raul Seixas. Krig-Ha, Bandolo! (1973), o primeiro álbum de inéditas do artista, é um deles, resistindo bem ao tempo com seu rock embebido em brasilidade. Mosca na Sopa, Metamorfose Ambulante, Ouro de Tolo, Al Capone e How Could I Know são alguns clássicos que deram ao álbum imediato status de obra-prima e projetaram a música desafiadora de Raulzito, intrusa mosca na sopa conformista da classe média brasileira iludida pelo falso milagre econômico alardeado pelo governo esmagador do presidente Emílio Garrastazu Médici (1905 - 1985). Na sequência, Gita (1974) roça o alto nível de seu antecessor, entre baladas como O Medo da Chuva e O Trem das 7 (esta em rota interiorana que conduz a música aos trilhos do sertão) e rocks como o hino Sociedade Alternativa. Instantâneo hit radiofônico e televisivo, a faixa-título, Gita, exemplificou os caminhos místicos percorridos na época por Raul e seu parceiro, Paulo Coelho. Já no posterior Novo Aeon (1975) Raul voltou a espetar o conformismo da classe média de forma mais aguda. Hino de fé na vida, Tente Outra Vez é a música deste álbum que tem atravessado gerações, mas o repertório é coeso, destacando também É Fim de Mês, Rock do Diabo, A Maçã, Tu És o MDC da Minha Vida (sarcástico flerte com a música dita cafona da época) e, sobretudo, a faixa-título, Novo Aeon, country rock da pesada. Por sua vez, Há Dez Mil Anos Atrás (1976) já sinalizou o desgaste da parceria de Raul com Paulo Coelho, que se dissolveria em breve. Contudo, o estouro imediato da música que inspirou o título do disco, Eu Nasci Há Dez Mil Anos Atrás, disfarçou o fato de que a obra de Raul Seixas começava a perder o vigor (embora, no todo, o álbum seja bom). Tanto que, na sequência, o artista antes tão visionário se voltou para o passado do rock'n'roll no viril álbum Raul Rock Seixas (1977), título de covers que tem similaridade com o último CD da caixa, 30 Anos de Rock (1985), que, a bem da verdade, nada mais é do que o primeiro real disco do cantor, pois foi lançado em 1973 com o título de Os 24 Maiores Sucesso da Era do Rock e sem o devido crédito para Raul Seixas, então ainda em busca de um lugar no mercado fonográfico brasileiro. No geral, apesar de um ou outro álbum ser ligeiramente inferior, o conteúdo da caixa 10.000 Anos à Frente traz o supra-sumo da obra inicialmente inovadora de Raul e, por isso, merece cotação e atenção máximas.

5 Comments:

Blogger Mauro Ferreira said...

A rigor, a caixa 10.000 Anos à Frente nada acrescenta à coleção de quem já comprou as criteriosas reedições dos álbuns gravados por Raul Seixas (1945 - 1989) para a extinta gravadora Philips entre 1973 e 1977. Postas nas lojas pela Universal Music em 2005, para celebrar os 60 anos que o artista baiano teria completado na ocasião, tais reedições remasterizadas - com adição de faixas-bônus - são exatamente as mesmas que foram embaladas na atual caixa (a rigor, as únicas diferenças são o selo estampado nos CDs e os textos do libreto em que o jornalista Silvio Essinger contextualiza cada um dos seis títulos). Contudo, 10.000 Anos à Frente é ideal para quem quer tomar contato com a obra de Raul porque expõe o supra-sumo dessa obra superestimada. Por ter adquirido aura mitológica, o Maluco Beleza é idolatrado com cegueira por fãs que preferem ignorar o fato de que a discografia do artista foi ficando menos inspirada a partir de 1978, apesar de eventuais acertos. 10.000 Anos à Frente reapresenta os álbuns que justificam o carimbo de artista inovador posto em Raul Seixas. Krig-Ha, Bandolo! (1973), o primeiro álbum de inéditas do artista, é um deles, resistindo bem ao tempo com seu rock embebido em brasilidade. Mosca na Sopa, Metamorfose Ambulante, Ouro de Tolo, Al Capone e How Could I Know são alguns clássicos que deram ao álbum imediato status de obra-prima e projetaram a música desafiadora de Raulzito, intrusa mosca na sopa conformista da classe média brasileira iludida pelo falso milagre econômico alardeado pelo governo esmagador do presidente Emílio Garrastazu Médici (1905 - 1985). Na sequência, Gita (1974) roça o alto nível de seu antecessor, entre baladas como O Medo da Chuva e O Trem das 7 (esta em rota interiorana que conduz a música aos trilhos do sertão) e rocks como o hino Sociedade Alternativa. Instantâneo hit radiofônico e televisivo, a faixa-título, Gita, exemplificou os caminhos místicos percorridos na época por Raul e seu parceiro, Paulo Coelho. Já no posterior Novo Aeon (1975) Raul voltou a espetar o conformismo da classe média de forma mais aguda. Hino de fé na vida, Tente Outra Vez é a música deste álbum que tem atravessado gerações, mas o repertório é coeso, destacando também É Fim de Mês, Rock do Diabo, A Maçã, Tu És o MDC da Minha Vida (sarcástico flerte com a música dita cafona da época) e, sobretudo, a faixa-título, Novo Aeon, country rock da pesada. Por sua vez, Há Dez Mil Anos Atrás (1976) já sinalizou o desgaste da parceria de Raul com Paulo Coelho, que se dissolveria em breve. Contudo, o estouro imediato da música que inspirou o título do disco, Eu Nasci Há Dez Mil Anos Atrás, disfarçou o fato de que a obra de Raul Seixas começava a perder o vigor (embora, no todo, o álbum seja bom). Tanto que, na sequência, o artista antes tão visionário se voltou para o passado do rock'n'roll no viril álbum Raul Rock Seixas (1977), título de covers que tem similaridade com o último CD da caixa, 30 Anos de Rock (1985), que, a bem da verdade, nada mais é do que o primeiro real disco do cantor, pois foi lançado em 1973 com o título de Os 24 Maiores Sucesso da Era do Rock e sem o devido crédito para Raul Seixas, então ainda em busca de um lugar no mercado fonográfico brasileiro. No geral, apesar de um ou outro álbum ser ligeiramente inferior, o conteúdo da caixa 10.000 Anos à Frente traz o supra-sumo da obra inicialmente inovadora de Raul e, por isso, merece cotação e atenção máximas.

10 de fevereiro de 2010 às 12:39  
Anonymous Anônimo said...

Raul Seixas era bom.

Mas Tom Jobim, Chico Buarque, Gilberto Gil, Mílton Nascimento, Paulinho da Viola, Caetano Veloso, Edu Lobo, todos esses, são muito melhores.

Mauro utilizou duas plavras chave: "superestimado" e "Cegueira".

10 de fevereiro de 2010 às 14:23  
Anonymous Anônimo said...

O título da caixa é ótimo.
Nada a ver comparar Raul com esses figurões da MPB.
Raul fez rock, e foi o maior de todos nesse gênero aqui no Brasil.
Contestador, carismático e, acima de tudo, verdadeiro.
Por seus primeiros disco merece toda a fama que tem.
Quem diabos não tem trabalhos menos inspirados?

11 de fevereiro de 2010 às 01:08  
Blogger Célia Porto said...

TOCA RAUL. DEMAIS.

12 de fevereiro de 2010 às 22:35  
Blogger Ronnie said...

Estragaram o som do Raul nesse box, essa meuda de 'Loudness War' acaba com toda a dinamica do som, horrivel!

18 de setembro de 2015 às 22:28  

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