Defeitos e virtudes na África brazuca de Sandra
Resenha de CD
Título: AfricaNatividade - Cheiro de Brasil
Artista: Sandra de Sá
Gravadora: Nega Produções / Universal Music
Cotação: * * 1/2
Em seu primeiro disco de inéditas em dez anos, Sandra de Sá faz pulsar a veia autoral que bombeou o repertório de seus trabalhos iniciais. Mas é justamente essa opção radical por sua produção autoral que faz de AfricaNatividade - Cheiro de Brasil mais um título irregular na discografia titubeante da artista. Por sua potente voz calorosa, Sandra de Sá é - sem favor nenhum - uma das grandes cantoras do Brasil. Mas poucas vezes gravou discos à altura de seu talento vocal. Sandra! (1990) - trabalho guiado por Nelson Motta - é um deles. A Lua Sabe Quem Eu Sou - disco pop de 1996 que marcou a estreia da artista na Warner Music - é outro. Já AfricaNatividade - Cheiro de Brasil fica no meio do caminho. O conceito do álbum não se sustenta ao longo de suas 15 faixas. Apesar de Sandra citar a África já nos primeiros versos da funkeada faixa que abre e subintitula o disco, Cheiro de Brasil (Sandra de Sá e Macau), os arranjos quase não buscam um elo da soul music e do funk com a música africana. A rigor, há pouca África e muito Brasil no CD - sem que tal desequilíbrio deponha necessariamente contra o disco, já que Sandra transita muito bem pelas versões brazucas desses ritmos de origem norte-americana.
Idealizado e gravado sem a pressão da indústria fonográfica, que tantas vezes induziu a artista a seguir por trilhas errantes, o CD AfricaNatividade equilibra erros e acertos. Crioulo (pouco inspirada parceria de Sandra com Adriana Milagres, co-produtora do disco) soa conceitualmente quase como um simulacro de Olhos Coloridos (a composição de Macau, lançada por Sandra em 1981, que virou hino do orgulho negro), apesar de as guitarras pesadas guiarem o tema pelo estilo rotulado apropriamente pela artista de rock'n'soul. Já Baile no Asfalto (Sandra de Sá e Mombaça) é retrato bem feito do sambalanço que rola em festas da periferia. A participação de Seu Jorge contribui para o êxito da faixa. Em outra zona carioca, Copacabana (Sandra de Sá e Zé Ricardo) também convence ao pintar retrato sem retoques do bairro mítico que dá nome ao samba-canção. No campo das baladas, a melhor é Imaginação (Sandra de Sá) - embebida em calorosa sensualidade.
Em rota menos inspirada, Evoluir (Sandra de Sá e Renata Arruda) é tema positivista que direciona o disco para Angola por incluir o rap de MC K, egresso da cena de hip hop desse país africano. Fé (Sandra de Sá) também segue por caminho mais espiritualizado ao incorporar na letra a oração dita pela cantora Ana Firmino, de Cabo Verde. Apesar das boas intenções, as faixas não se impõem no repertório porque as músicas são fracas. Assim como também é rala a inspiração da suingante Tem Alguma Coisa Errada Aí (Sandra de Sá e Macau) e de temas românticos como E... Vamos Namorar, Viver pra Viver e Saudade da Gente, três parcerias de Sandra com Zé Ricardo que bem poderiam ter cedido lugar no repertório para músicas mais sedutoras como Sina, o sucesso de Djavan que a cantora regrava com suavidade. Também de lavra antiga são o samba-soul Pé de Meia (música de Sandra que abriu o primeiro álbum da artista, editado em 1980) e África (Gil Gerson e César Rossini), que esboça elo com a juju music sem reeditar a pressão do arranjo do registro original de 1988. Enfim, "Defeitos e virtudes dormem no mesmo berço", como reconhece a cantora em verso de Movimento (Bagulho Doido), a parceria de Sandra com Luiz Caldas e César Rasec que fecha este disco honesto. Entre erros e acertos, Sandra de Sá chega aos 30 anos de carreira com um trabalho que exala fé e verdade. Tomara que obtenha sucesso!!
Título: AfricaNatividade - Cheiro de Brasil
Artista: Sandra de Sá
Gravadora: Nega Produções / Universal Music
Cotação: * * 1/2
Em seu primeiro disco de inéditas em dez anos, Sandra de Sá faz pulsar a veia autoral que bombeou o repertório de seus trabalhos iniciais. Mas é justamente essa opção radical por sua produção autoral que faz de AfricaNatividade - Cheiro de Brasil mais um título irregular na discografia titubeante da artista. Por sua potente voz calorosa, Sandra de Sá é - sem favor nenhum - uma das grandes cantoras do Brasil. Mas poucas vezes gravou discos à altura de seu talento vocal. Sandra! (1990) - trabalho guiado por Nelson Motta - é um deles. A Lua Sabe Quem Eu Sou - disco pop de 1996 que marcou a estreia da artista na Warner Music - é outro. Já AfricaNatividade - Cheiro de Brasil fica no meio do caminho. O conceito do álbum não se sustenta ao longo de suas 15 faixas. Apesar de Sandra citar a África já nos primeiros versos da funkeada faixa que abre e subintitula o disco, Cheiro de Brasil (Sandra de Sá e Macau), os arranjos quase não buscam um elo da soul music e do funk com a música africana. A rigor, há pouca África e muito Brasil no CD - sem que tal desequilíbrio deponha necessariamente contra o disco, já que Sandra transita muito bem pelas versões brazucas desses ritmos de origem norte-americana.
Idealizado e gravado sem a pressão da indústria fonográfica, que tantas vezes induziu a artista a seguir por trilhas errantes, o CD AfricaNatividade equilibra erros e acertos. Crioulo (pouco inspirada parceria de Sandra com Adriana Milagres, co-produtora do disco) soa conceitualmente quase como um simulacro de Olhos Coloridos (a composição de Macau, lançada por Sandra em 1981, que virou hino do orgulho negro), apesar de as guitarras pesadas guiarem o tema pelo estilo rotulado apropriamente pela artista de rock'n'soul. Já Baile no Asfalto (Sandra de Sá e Mombaça) é retrato bem feito do sambalanço que rola em festas da periferia. A participação de Seu Jorge contribui para o êxito da faixa. Em outra zona carioca, Copacabana (Sandra de Sá e Zé Ricardo) também convence ao pintar retrato sem retoques do bairro mítico que dá nome ao samba-canção. No campo das baladas, a melhor é Imaginação (Sandra de Sá) - embebida em calorosa sensualidade.
Em rota menos inspirada, Evoluir (Sandra de Sá e Renata Arruda) é tema positivista que direciona o disco para Angola por incluir o rap de MC K, egresso da cena de hip hop desse país africano. Fé (Sandra de Sá) também segue por caminho mais espiritualizado ao incorporar na letra a oração dita pela cantora Ana Firmino, de Cabo Verde. Apesar das boas intenções, as faixas não se impõem no repertório porque as músicas são fracas. Assim como também é rala a inspiração da suingante Tem Alguma Coisa Errada Aí (Sandra de Sá e Macau) e de temas românticos como E... Vamos Namorar, Viver pra Viver e Saudade da Gente, três parcerias de Sandra com Zé Ricardo que bem poderiam ter cedido lugar no repertório para músicas mais sedutoras como Sina, o sucesso de Djavan que a cantora regrava com suavidade. Também de lavra antiga são o samba-soul Pé de Meia (música de Sandra que abriu o primeiro álbum da artista, editado em 1980) e África (Gil Gerson e César Rossini), que esboça elo com a juju music sem reeditar a pressão do arranjo do registro original de 1988. Enfim, "Defeitos e virtudes dormem no mesmo berço", como reconhece a cantora em verso de Movimento (Bagulho Doido), a parceria de Sandra com Luiz Caldas e César Rasec que fecha este disco honesto. Entre erros e acertos, Sandra de Sá chega aos 30 anos de carreira com um trabalho que exala fé e verdade. Tomara que obtenha sucesso!!
15 Comments:
Em seu primeiro disco de inéditas em dez anos, Sandra de Sá faz pulsar a veia autoral que bombeou o repertório de seus trabalhos iniciais. Mas é justamente essa opção radical por sua produção autoral que faz de AfricaNatividade - Cheiro de Brasil mais um título irregular na discografia titubeante da artista. Por sua potente voz calorosa, Sandra de Sá é - sem favor nenhum - uma das grandes cantoras do Brasil. Mas poucas vezes gravou discos à altura de seu talento vocal. Sandra! (1990) - trabalho guiado por Nelson Motta - é um deles. A Lua Sabe Quem Eu Sou - disco pop de 1996 que marcou a estreia da artista na Warner Music - é outro. Já AfricaNatividade - Cheiro de Brasil fica no meio do caminho. O conceito do álbum não se sustenta ao longo de suas 15 faixas. Apesar de Sandra citar a África já nos primeiros versos da funkeada faixa que abre e subintitula o disco, Cheiro de Brasil (Sandra de Sá e Macau), os arranjos quase não buscam um elo da soul music e do funk com a música africana. A rigor, há pouca África e muito Brasil no CD - sem que tal desequilíbrio deponha necessariamente contra o disco, já que Sandra transita muito bem pelas versões brazucas desses ritmos de origem norte-americana.
Idealizado e gravado sem a pressão da indústria fonográfica, que tantas vezes induziu a artista a seguir por trilhas errantes, o CD AfricaNatividade equilibra erros e acertos. Crioulo (pouco inspirada parceria de Sandra com Adriana Milagres, co-produtora do disco) soa conceitualmente quase como um simulacro de Olhos Coloridos (a composição de Macau, lançada por Sandra em 1981, que virou hino do orgulho negro), apesar de as guitarras pesadas guiarem o tema pelo estilo rotulado apropriamente pela artista de rock'n'soul. Já Baile no Asfalto (Sandra de Sá e Mombaça) é retrato bem feito do sambalanço que rola em festas da periferia. A participação de Seu Jorge contribui para o êxito da faixa. Em outra zona carioca, Copacabana (Sandra de Sá e Zé Ricardo) também convence ao pintar retrato sem retoques do bairro mítico que dá nome ao samba-canção. No campo das baladas, a melhor é Imaginação (Sandra de Sá) - embebida em calorosa sensualidade.
Em rota menos inspirada, Evoluir (Sandra de Sá e Renata Arruda) é tema positivista que direciona o disco para Angola por incluir o rap de MC K, egresso da cena de hip hop desse país africano. Fé (Sandra de Sá) também segue por caminho mais espiritualizado ao incorporar na letra a oração dita pela cantora Ana Firmino, de Cabo Verde. Apesar das boas intenções, as faixas não se impõem no repertório porque as músicas são fracas. Assim como também é rala a inspiração da suingante Tem Alguma Coisa Errada Aí (Sandra de Sá e Macau) e de temas românticos como E... Vamos Namorar, Viver pra Viver e Saudade da Gente, três parcerias de Sandra com Zé Ricardo que bem poderiam ter cedido lugar no repertório para músicas mais sedutoras como Sina, o sucesso de Djavan que a cantora regrava com suavidade. Também de lavra antiga são o samba-soul Pé de Meia (música de Sandra que abriu o primeiro álbum da artista, editado em 1980) e África (Gil Gerson e César Rossini), que esboça elo com a juju music sem reeditar a pressão do arranjo do registro original de 1988. Enfim, "Defeitos e virtudes dormem no mesmo berço", como reconhece a cantora em verso de Movimento (Bagulho Doido), a parceria de Sandra com Luiz Caldas e César Rasec que fecha este disco honesto. Entre erros e acertos, Sandra de Sá chega aos 30 anos de carreira com um trabalho que exala fé e verdade. Tomara que obtenha sucesso!!
Mauro,
Desculpe o desconhecimento, mas o que significa "juju music"?
abração,
Denilson
juju music é o pop da Nigéria, feito por músicos como King Sunny Adé. Abs, MauroF
Sandra fez o que já pode ser considerado o melhor registro de " Sina ". Sandra acertou em baixar os tons.
O dueto com Ana Firmino em " Fé " é belissimo e a pop " Baile no Asfalto " tem boa pegada." Copacabana " é envolvente mas a letra é fraca.
No mais,o album não é nenhuma obra-prima mas ao ouvi-lo esperava que Mauro desse mais do que meros " * * 1/2 " ...
PS: Esperava mais da capa.
PS 2 : O título não condiz com o ambiente do album.
Idealizado e gravado sem a pressão da indústria fonográfica - que tantas vezes induziu a artista a seguir por trilhas errantes - é um trabalho que exala fé e verdade. Tomara que obtenha sucesso!! (2)
Um abraço e saudações flamenguistas
Concordo com tudo. Sandra é uam ótima cantora que flertou com a música "ultrarromântica" desperdiçando seu talento, mas gravou A Lua Sabe Quem Eu Sou, o melhor título de sua discografia.
Curioso, eu achei a capa linda.
Gosto é gosto.
abração,
Denilson
Sandra é sem dúvida uma grande cantora. E parece ser uma pessoa bacana, é o que dizem... Pena fazer tantos discos ruins. A moda romântica acabou com ela. Era muito cafona. Mas adora Sandra de Sá!
Se a Sandra sempre quis ser soul, claro que ela tinha que ser romantica. Não entendo porque se criticam tantos as cantoras brazucas quando cantam baladas românticas e endeusam as americanas que fazem o mesmo.
E desde quando acertou na capa ?
Curioso pra ouvir SINA ...
Depois dos comentários e elogios a Sandrinha também fiquei.Adoro!!!!
Com Revelação ficou 10!!
Sucesso guerreira!!!
O que eu queria mesmo era um Acústico MTV com Sandra de Sá e os velhos sucessos repaginados que a gente não encontra nem mais em coletâneas, tipo: Retratos e canções, Quem é você, Olhos coloridos, Joga fora no lixo, Solidão, etc.
Abraços
Fabrício.
Sandra está muito bem na capa!
Dizem que Madonna se empolgou mesmo foi ao som de 'Olhos Coloridos' no show dos Loucomotivos no Circo Voador!
Pesquisando, na tentativa de encontrar a letra da música "criolo", encontrei seu blog, muito interessante por sinal. A letra infelizmente não encontrei. Beijinho.
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