Tributo a Bezerra capta o espírito de seu samba
Resenha de CD
Título: Tributo a
Bezerra da Silva
Artista: Vários
Gravadora: Som Livre
Cotação: * * * *
Bezerra da Silva (1927 - 2005) deu voz através de seus discos a uma gama de bons compositores postos à margem pelo mercado fonográfico brasileiro por serem oriundos, em sua grande maioria, de morros e favelas cariocas. Ou de distritos muito pobres da Baixada Fluminense (RJ). Por radiografar os códigos e costumes desse povo, em constante luta contra a dureza do cotidiano, o samba cantado por Bezerra era tão peculiar que parecia somente fazer sentido em sua voz. Tese desmentida pelo CD e DVD Tributo a Bezerra da Silva, gravados ao vivo em 2005, em show na Fundição Progresso, e ora editados pela gravadora Som Livre. A turma de convidados - BNegão, Beth Carvalho, Dicró, Jards Macalé, Marcelo D2, Nação Zumbi e Otto, entre outros - entendeu o espírito da coisa e defende bem os sambas lançados por Bezerra.
Se o CD apresenta 14 números, o DVD entrelaça 17 com trechos de entrevista concedida por Bezerra - ele faleceu pouco antes da gravação do tributo - e com os depoimentos de compositores recorrentes na obra do artista, nascido em Pernambuco, mas radicado no Rio de Janeiro (RJ) desde a juventude. D2 obviamente está à vontade em A Fumaça Já Subiu pra Cuca pela afinidade temática que o faz voltar à cena - em dueto com João Gordo - em A Semente. Pela intimidade com o samba, Beth Carvalho dá boa voz ao Desabafo do Juarez na Boca do Mato. Estranhos no ninho, Max de Castro canta Vida de Operário e Daúde reafirma o suingue ao fazer Transação de Malandro. BNegão encara Bicho Feroz com a força do rap. Já Elza Soares defende Candidato Caô Caô com a habitual ginga. Por sua vez, Jards Macalé - um artista bem mais marginalizado pelo mercado do que o próprio Bezerra - revive Defunto Cagüete sem trair o compasso do samba enquanto a Nação Zumbi se revela talhada para cortar o Côco do B com seu balanço antenado. A música é lembrança dos tempos - meados dos anos 70 - em que Bezerra tentava seu lugar ao sol fonográfico gravando discos de côco. Já Pedro Luís e a Parede reabilitam Verdadeiro Canalha com a espontaneidade que inexiste em Tuca da Silva, filho de Bezerra, escalado pelo parentesco para entoar Se Não Fosse o Samba. Enfim, trata-se de um tributo com os naturais altos e baixos. E, como tributo, o DVD e o CD cumprem sua função de celebrar a obra peculiar de Bezerra da Silva, partideiro indigesto para a elite por ter dado voz a sambas politizados que denunciam injustiças sociais e que - por isso mesmo - infelizmente permanecem atuais...
Título: Tributo a
Bezerra da Silva
Artista: Vários
Gravadora: Som Livre
Cotação: * * * *
Bezerra da Silva (1927 - 2005) deu voz através de seus discos a uma gama de bons compositores postos à margem pelo mercado fonográfico brasileiro por serem oriundos, em sua grande maioria, de morros e favelas cariocas. Ou de distritos muito pobres da Baixada Fluminense (RJ). Por radiografar os códigos e costumes desse povo, em constante luta contra a dureza do cotidiano, o samba cantado por Bezerra era tão peculiar que parecia somente fazer sentido em sua voz. Tese desmentida pelo CD e DVD Tributo a Bezerra da Silva, gravados ao vivo em 2005, em show na Fundição Progresso, e ora editados pela gravadora Som Livre. A turma de convidados - BNegão, Beth Carvalho, Dicró, Jards Macalé, Marcelo D2, Nação Zumbi e Otto, entre outros - entendeu o espírito da coisa e defende bem os sambas lançados por Bezerra.
Se o CD apresenta 14 números, o DVD entrelaça 17 com trechos de entrevista concedida por Bezerra - ele faleceu pouco antes da gravação do tributo - e com os depoimentos de compositores recorrentes na obra do artista, nascido em Pernambuco, mas radicado no Rio de Janeiro (RJ) desde a juventude. D2 obviamente está à vontade em A Fumaça Já Subiu pra Cuca pela afinidade temática que o faz voltar à cena - em dueto com João Gordo - em A Semente. Pela intimidade com o samba, Beth Carvalho dá boa voz ao Desabafo do Juarez na Boca do Mato. Estranhos no ninho, Max de Castro canta Vida de Operário e Daúde reafirma o suingue ao fazer Transação de Malandro. BNegão encara Bicho Feroz com a força do rap. Já Elza Soares defende Candidato Caô Caô com a habitual ginga. Por sua vez, Jards Macalé - um artista bem mais marginalizado pelo mercado do que o próprio Bezerra - revive Defunto Cagüete sem trair o compasso do samba enquanto a Nação Zumbi se revela talhada para cortar o Côco do B com seu balanço antenado. A música é lembrança dos tempos - meados dos anos 70 - em que Bezerra tentava seu lugar ao sol fonográfico gravando discos de côco. Já Pedro Luís e a Parede reabilitam Verdadeiro Canalha com a espontaneidade que inexiste em Tuca da Silva, filho de Bezerra, escalado pelo parentesco para entoar Se Não Fosse o Samba. Enfim, trata-se de um tributo com os naturais altos e baixos. E, como tributo, o DVD e o CD cumprem sua função de celebrar a obra peculiar de Bezerra da Silva, partideiro indigesto para a elite por ter dado voz a sambas politizados que denunciam injustiças sociais e que - por isso mesmo - infelizmente permanecem atuais...
12 Comments:
Bezerra da Silva (1927 - 2005) deu voz através de seus discos a uma gama de bons compositores postos à margem pelo mercado fonográfico brasileiro por serem oriundos, em sua grande maioria, de morros e favelas cariocas. Ou de distritos muito pobres da Baixada Fluminense (RJ). Por radiografar os códigos e costumes desse povo, em constante luta contra a dureza do cotidiano, o samba cantado por Bezerra era tão peculiar que parecia somente fazer sentido em sua voz. Tese desmentida pelo CD e DVD Tributo a Bezerra da Silva, gravados ao vivo em 2005, em show na Fundição Progresso, e ora editados pela gravadora Som Livre. A turma de convidados - BNegão, Beth Carvalho, Dicró, Jards Macalé, Marcelo D2, Nação Zumbi e Otto, entre outros - entendeu o espírito da coisa e defende bem os sambas lançados por Bezerra.
Se o CD apresenta 14 números, o DVD entrelaça 16 com trechos de entrevista concedida por Bezerra - ele faleceu pouco antes da gravação do tributo - e com os depoimentos de compositores recorrentes na obra do artista, nascido em Pernambuco, mas radicado no Rio de Janeiro (RJ) desde a juventude. D2 obviamente está à vontade em A Fumaça Já Subiu pra Cuca pela afinidade temática que o faz voltar à cena - em dueto com João Gordo - em A Semente. Pela intimidade com o samba, Beth Carvalho dá boa voz ao Desabafo do Juarez na Boca do Mato. Estranhos no ninho, Max de Castro canta Vida de Operário e Daúde reafirma o suingue ao fazer Transação de Malandro. BNegão encara Bicho Feroz com a força do rap. Já Elza Soares defende Candidato Caô Caô com a habitual ginga. Por sua vez, Jards Macalé - um artista bem mais marginalizado pelo mercado do que o próprio Bezerra - revive Defunto Cagüete sem trair o compasso do samba enquanto a Nação Zumbi se revela talhada para cortar o Côco do B com seu balanço antenado. A música é lembrança dos tempos - meados dos anos 70 - em que Bezerra tentava seu lugar ao sol fonográfico gravando discos de côco. Já Pedro Luís e a Parede reabilitam Verdadeiro Canalha com a espontaneidade que falta a Tuca da Silva, filho de Bezerra, escalado pelo parentesco para entoar Se Não Fosse o Samba. Enfim, trata-se de um tributo com os naturais altos e baixos. E, como tributo, o DVD e o CD cumprem sua função de celebrar a obra peculiar de Bezerra da Silva, partideiro indigesto para a elite.
Esse DVD está sensacional!
Ao contrário do Mauro, não vi altos e baixos, só vi altos.
A Nação Zumbi tocando um côco envenenado está uma maravilha e o filho do cara manda muitoooo bem, sim!
Dou um belo destaque também para o Max de Castro, muito bom!
PS: A estória da música "Minha Sogra Parece um Sapatâo" é muiiito boa! Dei muita gargalhada.
Recomendo a todos
Jose Henrique
Há de se lembrar também que a RAINHA Beth convenceu o dono da gravadora a dar a primeira oportunidade ao então percussionista Bezerra. Beth sem dúvida nenhuma é a Maior! Ajudou muita gente a ter a sua primeira oportunidade e ela canta brilhantemente Desabafo de Juarez da Boca do Mato, uma canção política que defende o morador do morro, critica e "combate" a elite selvagem e marginal. E ainda saúda o compositor e o cantor, só mesmo ela! Bravo minha Rainha! ESTÁ PRA NASCER OUTRA NA HISTÓRIA DA MPB!!!
Sem mais,
Marcelo Barbosa - Brasília (DF)
PS: Só comentei porque realmente vale muito esse tributo! E há de se lembrar também da citação de Max de Castro ao Coral do Grupo As Gatas. Pena que Dinorah já havia falecido! E fazem MUITA falta nos discos de samba.
PS2: Barão Vermelho ou melhor Frejat arrebenta em Malandragem dá um tempo!
PS3: Leci, Elza e todos os sambistas mandaram MUITO BEM, faltaram muitos!
PS4: Emocionante o final com o Grupo de Compositores do Bezerra.
PS5: Já adquiri o dvd de Montreaux da Rainha mas, sem dúvida é o seu pior dvd. Sempre exigente, voz prejudicada e dando muitas broncas nos músicos! rs
Marcelo Barbosa - Brasília (DF)
Salve o dvd da Bahia que já até perdi as contas de como vendeu!
Se Deus quiser que venha o Grammy Latino! Independente de ganhar ou não mais uma vez os gringos provando e comprovando que entendem MUITO MAIS de samba do que alguns pseudo-especialistas donos de prêmio e sua turma de "ilustres" sumidades como jurados. Deveriam sumir todos!
Taí um dvd-tributo que dá vontade de ver/comprar! Mais ainda depois de sua resenha Mauro ...
Agradeço ao ministro do samba Marcelo Barbosa pela informação de que foi a madrinha Beth Carvalho quem convenceu o dono da gravadora a dar a primeira oportunidade ao Bezerra da Silva. Não sabia mesmo!Aliás, com tanto estranhos nesse ninho, uma sambinha como ela até soa deslocada.
Vale também pelas presenças de Nação Zumbi e Pedro Luis e A Parede, duas bandas " anos 90 " que sou fãzaço!
Um abraço, Marcelo
Diogo Santos
Concordo Zé! Não me lembro de nenhum baixo no projeto. Só o dono do blog mesmo! Até mesmo a Sra. Daúde, canastrona ao quadrado, está bem! Gostei muito do Tuca! E dispensável somente foi a babaquice do Sr. João Gordo num discurso de que só mesmo o Bezerra para fazê-lo enfrentar essa "palhaçada". Que ficasse em casa! Não faria a menor falta! Faltou O Rappa e Paulo Ricvardo que souberam valorizá-lo em vida!
Salve Bezerra! A voz dos excluídos e a verdadeira voz do morro!
Marcelo Barbosa - Brasília (DF)
Abração Diogo! Tô em dívida com você!
Marcelo Barbosa - Brasília (DF)
Fala, meu amigo Marcelo.
Concordo contigo, até a Daúde está bem, pasmem! ehehehe
O João Gordo falou, do jeito dele, com respeito. Vai por mim.
O Rappa faltou mesmo, massssssssssss, Paulo Ricardo?!?!
Deus me livre!
PS: Diogo, o Marcelo é um expert do samba, não há dúvida, mas ministro não!
"Eu que não tenho violão faço samba na mão.
Juro por Deus que não minto.
Quero na minha mensagem presta uma homenagem e dizer tudo o que sinto.
Salve o Paulinho da Viola
Salve a turma da sua escola.
Salve o samba em tempo de inspiração.
O samba bem merecia, ter ministério algum dia.
Então seria ministro Paulo Cesar Batista Faria"
Batatinha
Jose Henrique
Um abraço a todos
É algumas informações que li aqui para mim são novas.E pode ser até boa a participação da grande Beth(apesar de não ter escutado ainda),mas pelo que sei Bezerra não morria de amores por ela.Eles tiveram desentendimento por causa de músicos,e á uma história de um samba que ele gravou em desagravo a ela.E pelas participações que li,faltou mais sambista nesta homenagem.
Grande Zé! Ministro do Samba é mesmo o Paulinho e essa música foi feita pelo grande Batatinha em homenagem ao Príncipe! Mas, o Diogo brinca porque sabe que eu trabalho em um Ministério e ainda por cima moro no Planalto Central. Forte abraço e salve Batatinha um dos expoentes do samba baiano!
Marcelo Barbosa - Brasília (DF)
PS: Eu citei o Paulo Ricardo pois o RPM foi o primeiro dos times dos roqueiros a convidar o Bezerra para uma participação especial.
Zé,
Já o Seu Jorge chamou o Zeca Pagodinho de " Ministro do Samba " mas como o Marcelo tem créditos comigo, pra mim é ele quem deve ficar com a pasta. Claro que nas mãos de Paulinho e/ou Zeca estaria bem mas " cada um tem seu momento, quando a hora é da razão " como diz o mesmo Batatinha ... rsrs
Abração a todos !
Saudações Rubro Negras!
Ahhhh, tá.
Depois das explicações, notei que o apelido está bem posto.
Não faltou sambista não, cara. Tem um penca deles. E no final tem um número com vários dos compositores no palco.
PS: As saudações rubro negras eu dispenso, dá azar! ehehe :>)
Jose Henrique
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