11 de novembro de 2007

Sapucahy põe seu pagode no quintal de Arlindo

Resenha de CD
Título: Sambista Perfeito
Artista: Arlindo Cruz

Gravadora: Deckdisc
Cotação: * * *

Leandro Sapucahy freqüenta o quintal de Arlindo Cruz. Não é à toa que Arlindo assina seis dos 14 sambas gravados por Maria Rita em seu terceiro CD, cuja produção deu upgrade no status de Sapucahy no mercado de disco. Associado aos grupos de pagode que nivelaram por baixo o samba dos anos 90, Sapucahy tenta projeção em área mais nobre. E ter produzido o primeiro CD de Arlindo na Deckdisc, Sambista Perfeito, foi mais um passo nesse sentido. Maria Rita, aliás, é uma das convidadas, regravando preguiçosamente a mesma música, O Que É o Amor, que quis incluir em seu (bom) disco Samba Meu.

A associação de Arlindo - cria do Fundo de Quintal e do Cacique de Ramos, celeiros do samba mais puro - com Sapucahy é curiosa. Nas lojas esta semana, o CD põe Arlindo no quintal do pagode. Mas Arlindo, bamba esperto, dribla a banalidade do samba mais ralo - ainda que o tecladista Jota Moraes seja sintomaticamente o autor dos arranjos de seis das 14 faixas deste bom Sambista Perfeito.

Fãs daquele delicioso pagode carioca projetado nos anos 80 - com Zeca Pagodinho, Jovelina Pérola Negra, Almir Guineto e o próprio Fundo de Quintal - devem começar a ouvir o álbum mais pelo fim. Sambas como Pára de Paradinha e Sujeito Enjoado - faixa que traz Xande de Pilares, cantor do Grupo Revelação, nos vocais e na co-autoria - exibem a cozinha mais tradicional (à moda do Cacique de Ramos) e fazem irreverentes crônicas dos costumes dos subúrbios cariocas como era praxe nos LPs daquela esperta turma revelada nos anos 80. Dona de astral alto - como o da faixa Entra no Clima.

Arlindo consegue se equilibrar bem entre supostas modernidades e tradições. Arregimenta Sereno, do grupo Fundo de Quintal, para dividir com ele o medley que une A Rosa e Flor que Não se Cheira. E convoca Zeca Pagodinho, seu parceiro em Se Eu Encontrar com Ela, um dos mais belos sambas do disco, gravado com a histórica reunião das vozes de Zeca e de integrantes das Velhas Guardas da Portela e do Império Serrano, duas escolas de samba tradicionais que dividem torcidas em Madureira, bairro da Zona Norte carioca que Arlindo exalta orgulhoso em Meu Lugar, parceria com Mauro Diniz que abre o CD ("O meu lugar tem seus mitos e seres de luz").

A faixa-título, Sambista Perfeito, também se impõe no repertório. É parceria de Arlindo com Nei Lopes, que traça na letra o perfil do bamba ideal, relacionando nomes como Candeia, Geraldo Pereira e Paulinho da Viola. Em Quem Gosta de mim é o próprio Arlindo quem tem o perfil esboçado, em versos de caráter autobiográfico.

A presença trivial de Marcelo D2 desloca o CD de seu eixo estético básico. O rapper é convidado e co-autor de O Brasil É Isso Aí, ode ufanista à miscigenação nacional. A boa faixa sinaliza a crescente banalização do rap de D2, que virou arroz de festa. No todo, o CD Sambista Perfeito não é dos mais inspirados de Arlindo Cruz. Os discos gravados pelo sambista em dupla com Sombrinha ainda continuam imbatíveis. Contudo, Arlindo não mancha seu nome no quintal do pagode de Leandro Sapucahy. Ele conhece o seu lugar.

3 Comments:

Anonymous Anônimo said...

quanto preconceito e veneno destilado contra Leandro Sapucahy. Lamentável.

11 de novembro de 2007 às 14:40  
Anonymous Anônimo said...

Maria Rita, aliás, é uma das convidadas, regravando preguiçosamente a mesma música.

Como assim preguiçosamente? Não ficou claro...

12 de novembro de 2007 às 21:18  
Anonymous Anônimo said...

Verdade. Como assim preguiçosamente? Porque não escolheu outra música ou porque gravou com aquele charme todo que imprimiu no seu SAMBA MEU cheio de bossa e jazzamba?


Novembro 18, 2007 3:31 AM

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[Photo] Resenha de CD
Título: Sambista Perfeito
Artista: Arlindo Cruz
Gravadora: Deckdisc
Cotação: * * *

Leandro Sapucahy freqüenta o quintal de Arlindo Cruz. Não é à toa que Arlindo assina seis dos 14 sambas gravados por Maria Rita em seu terceiro CD, cuja produção deu upgrade no status de Sapucahy no mercado de disco. Associado aos grupos de pagode que nivelaram por baixo o samba dos anos 90, Sapucahy tenta projeção em área mais nobre. E ter produzido o primeiro CD de Arlindo na Deckdisc, Sambista Perfeito, foi mais um passo nesse sentido. Maria Rita, aliás, é uma das convidadas, regravando preguiçosamente a mesma música, O Que É o Amor, que quis incluir em seu (bom) disco Samba Meu.

A associação de Arlindo - cria do Fundo de Quintal e do Cacique de Ramos, celeiros do samba mais puro - com Sapucahy é curiosa. Nas lojas esta semana, o CD põe Arlindo no quintal do pagode. Mas Arlindo, bamba esperto, dribla a banalidade do samba mais ralo - ainda que o tecladista Jota Moraes seja sintomaticamente o autor dos arranjos de seis das 14 faixas deste bom Sambista Perfeito.

Fãs daquele delicioso pagode carioca projetado nos anos 80 - com Zeca Pagodinho, Jovelina Pérola Negra, Almir Guineto e o próprio Fundo de Quintal - devem começar a ouvir o álbum mais pelo fim. Sambas como Pára de Paradinha e Sujeito Enjoado - faixa que traz Xande de Pilares, cantor do Grupo Revelação, nos vocais e na co-autoria - exibem a cozinha mais tradicional (à moda do Cacique de Ramos) e fazem irreverentes crônicas dos costumes dos subúrbios cariocas como era praxe nos LPs daquela esperta turma revelada nos anos 80. Dona de astral alto como o da faixa Entra no Clima.

Arlindo consegue se equilibrar bem entre supostas modernidades e tradições. Arregimenta Sereno, do grupo Fundo de Quintal, para dividir com ele o medley que une A Rosa e Flor que Não se Cheira. E convoca Zeca Pagodinho, seu parceiro em Se Eu Encontrar com Ela, um dos mais belos sambas do disco, gravado com a histórica reunião das vozes de Zeca e de integrantes das Velhas Guardas da Portela e do Império Serrano, duas escolas de samba tradicionais que dividem torcidas em Madureira, bairro da Zona Norte carioca que Arlindo exalta orgulhoso em Meu Lugar, parceria com Mauro Diniz que abre o CD ("O meu lugar tem seus mitos e seres de luz").

A faixa-título, Sambista Perfeito, também se impõe no repertório. É parceria de Arlindo com Nei Lopes, que traça na letra o perfil do bamba ideal, relacionando nomes como Candeia, Geraldo Pereira e Paulinho da Viola. Em Quem Gosta de mim é o próprio Arlindo quem tem o perfil esboçado em versos de caráter autobiográfico.

A presença trivial de Marcelo D2 desloca o CD de seu eixo estético básico. O rapper é convidado e co-autor de O Brasil É Isso Aí, ode ufanista à miscigenação nacional. A boa faixa sinaliza a crescente banalização do rap de D2, que virou arroz de festa. No todo, o CD Sambista Perfeito não é dos mais inspirados de Arlindo Cruz. Os discos gravados pelo sambista em dupla com Sombrinha ainda continuam imbatíveis. Contudo, Arlindo não mancha seu nome no quintal do pagode de Leandro Sapucahy. Ele conhece o seu lugar.
postado por Mauro Ferreira às 13:01 em 11/11/2007

18 de novembro de 2007 às 03:33  

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