15 de novembro de 2007

Gota d'Água é a encenação da tragédia nacional

Resenha de Musical
Título: Gota d'Água
Autor: Chico Buarque e Paulo Pontes
Diretor: João Fonseca
Elenco: Izabella Bicalho, Thelmo Fernandes, Lucci
Ferreira, Kelzi Eckard, Karen Coelho, Pedro Lima, Lilian
Valeska, Sheila Mattos, Luca de Castro e André Araújo
(em foto de Paula Kossatz)
Em cartaz: Teatro Glória (RJ), até 16 de dezembro.
Quinta-feira a sábado, às 20h. Domingo, às 19h. R$ 25.
Cotação: * * * 1/2

Musical escrito por Chico Buarque em parceria com Paulo Pontes (1940 - 1976), Gota d'Água ganhou histórica montagem original em 1975, com Bibi Ferreira à frente, na pele da amarga Joana - a Medéia brasileira que, por ódio e por desespero, decide se vingar do amante sambista (Jasão) que a abandonara para se casar com a filha do dono de um conjunto habitacional da periferia. Tanto pelo primoroso texto escrito em versos como pelas boas músicas (em especial, Bem Querer, Basta um Dia e a intensa canção que batiza o musical), Gota d'Água ainda resiste como um dos títulos mais fortes da dramaturgia tupiniquim. Bem mais do que trazer o texto clássico de Eurípedes para a dura realidade nacional, os autores transpuseram para o palco a própria tragédia brasileira que pulsa firme nos bolsões de pobreza e injustiça social que corroem o país.

A remontagem de Gota d'Água, ora encenada por João Fonseca no palco do Teatro Glória, no Rio de Janeiro, desafia a densa aura mitológica que insiste em cercar a produção original de 1975, que durou até 1980. Trinta e dois anos depois da consagração de Bibi (existiu montagem paulista que passou brevemente pelo Rio, em 2006), Joana reapareceu nos palcos cariocas na pele de Izabella Bicalho, atriz que compensa a pouca idade para a personagem- a caracterização é insuficiente para torná-la uma quarentona - com a alta voltagem emocional necessária para encarnar o papel. Uma iluminação quente realça o (permanente) estado de ebulição em que se debatem os moradores e - em particular - a trágica Joana.

O numeroso elenco pulsa harmonioso no ritmo da música forte e atemporal de Chico Buarque. E o diretor João Fonseca tomou até a liberdade de acrescentar dois sucessos do compositor - Partido Alto (de 1972) e O Que Será - À Flor da Pele (de 1976) - que não constam do texto original, mas que se adequam perfeitamente ao universo da história. Partido Alto abre a encenação em intrincado jogo vocal que envolve todo o elenco. Mais tarde, O Que Será (À Flor da Pele) pontua a tensão da narrativa, ficando o ator e cantor Pedro Lima com a ingrata tarefa de reproduzir a divina introdução vocal da gravação original de Milton Nascimento, realizada para o disco Geraes (1976). Pedro Lima, assim como Thelmo Fernandes (Creonte), valoriza elenco homogêneo que contribui para o êxito da encenação. Há equilíbrio entre protagonistas e coadjuvantes.

No todo, Gota d'Água resiste muito bem nessa remontagem que, a despeito de uma ou outra liberdade poética, tem vigor e honra o musical de Chico Buarque e Paulo Pontes. É o Brasil real em cena.

13 Comments:

Anonymous Anônimo said...

qualquer obra do Chico vai sempre resistir bem

15 de novembro de 2007 às 19:10  
Anonymous Anônimo said...

O original não abria com Flor da Idade? A mesa posta de peixe deixa um cheirinho da sua filha. A canção foi cortada?

15 de novembro de 2007 às 23:16  
Anonymous Anônimo said...

Não foi não, Luc, "Flor da Idade" está lá, com todo o elenco cantando.

16 de novembro de 2007 às 18:26  
Anonymous Anônimo said...

Outra resistência maioral e que deveria ser comentado pelo Mauro é a peça "Mulheres de Hollanda". Recentemente montada em Belo HOrizonte pelo diretor Pedro Paulo Cava, a remotagem desse sucesso dos traz um novo roteiro, uma nova visão das mulheres ao longo das décadas, encenadas pelas histórias de mulheres criadas por Chico.
Vale muito a pena!

17 de novembro de 2007 às 10:59  
Anonymous Anônimo said...

Realmente, a montagem recente é excelênte. O recurso cênico com a música O que será (a flor da pele) é um ponto alto da peça. Além dessas tiveram músicas como Diz que Deus Dará, Flor da Idade, Basta um dia, Gota d`água etc. Recomendadíssima!

26 de novembro de 2007 às 12:01  
Blogger CASÉ said...

Um recém-publicitário não especializado em música porém louco pela mesma - fã de cantor(as) e colecionador de CDs e DVDs - que acredita no ofício de escrever racionalmente sobre um pouco de tudo,inclusive arte.

que plágio hien!?

bom...caí aqui de para-quedas enquanto procurava a música gotad'agua pois vi semana passada a peça e falar o quê?...esperava o melhor e foi me dado ainda mais.
adorei o elenco e o roteiro,ainda que eu não conheça o original de que falam.
parabenizo você pelo espaço,e futuramente darei outras conferidas aqui.

um abraço!!!

4 de dezembro de 2007 às 19:02  
Anonymous Anônimo said...

as pessoas gostam mesmo de qualquer coisa...fui ver a peça e saí no intervalo. a direção e as marcações de cena eram ridículas e o elenco não segurava. coitado do ator que interpreta Jasão...não tem força alguma, e o personagem pedia muita! mas é muito fácil mesmo agradar um público ignorante no Brasil.

19 de dezembro de 2007 às 12:44  
Anonymous Anônimo said...

Eu, como público ignorante brasileiro que sou, gostaria de registrar que assisti ao trabalho, e entendi o significado pleno de " Espetáculo". Durante e depois do apresentação, ´foi assim que me senti: Completamente extasiado e feliz pelo privilégio de ter presenciado esse sucesso. Parabéns à todos.

3 de março de 2008 às 12:04  
Anonymous Anônimo said...

Eu também, Denis, ESTUPIDAMENTE IGNORANTE, só encontro elogios para a produção de Gota d'Água.

O que NÃO ignoro, é que nossa Constituição garante a liberdade de manifestação do pensamento VEDANDO o anonimato.

Mas, enfim, quem correr ainda pode deleitar-se com um último fim de semana de uma peça maravilhosa enquanto ostenta, orgulhosamente, o quanto vale a pena ser ignorante.

6 de março de 2008 às 16:39  
Blogger Unknown said...

acabei de ver o espetáculo.
genial!

14 de outubro de 2008 às 01:12  
Blogger Dora said...

Estive ontem na estreia em Lisboa e estou fascinada!
Que actores, que vozes, que força, que espectáculo!!!
Amei Izabella Ficalho!:-)

7 de maio de 2009 às 06:38  
Anonymous Anônimo said...

Prezado Mauro,

Faço parte dum grupo de cantores,e gostaríamos de fazer uma apresentação com algumas canções de musicais brasileiros. Estou procurando partituras de GOTA D`ÁGUA. Você tem como me sugerir onde possa encontrá-las?
Luiz Cunha
bomfim.luiz@yahoo.com.br

15 de agosto de 2009 às 10:53  
Blogger Unknown said...

Olá Mauro,
voc~e poderia me informar se existe um cd ou DVD do Gota d´Água?
recebí esta encomenda de uma amiga de Portugal, onde o musical acaba de se apresentar.
abs da Eli

12 de maio de 2010 às 12:32  

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