17 de agosto de 2010

'Feminina' flagra Joyce em grande auge criativo

Resenha de CD
Título: Feminina
Artista: Joyce
Gravadora: EMI Music
Cotação: * * * * *

Em 1980, Joyce era uma voz bem atuante no movimento de afirmação feminina / feminista que desafiara no ano anterior as tradições machistas da música brasileira. Gravado no embalo do choque de cor rosa de 1979, Feminina foi o quinto álbum da compositora que, àquela altura, já tinha músicas imortalizadas nas vozes de Elis Regina (1945 - 1982) e Maria Bethânia. Mas pode ser encarado também como o primeiro, pois marcou a volta de Joyce - cantora e compositora revelada ainda nos anos 60 - ao mercado fonográfico depois de uma parada para ter suas filhas, Clara e Ana, cuja gestação e nascimento foram celebrados em Clareana, bela canção que, classificada no Festival MPB-80, rendeu projeção nacional a Joyce. Clareana foi o hit deste disco oportunamente reeditado 30 anos após a edição original. Até então relançado em CD somente em 1993, em edição paupérrima da série 2 em 1, Feminina retorna ao catálogo em formato digipack com capa e contracapa originais - além de um encarte que traz as letras de nove das dez músicas do álbum (Aldeia de Ogum é um tema instrumental), fotos da gravação realizada em janeiro de 1980 e lúcido texto da própria Joyce que contextualiza com propriedade esse disco que mais parece um best of da artista. Afinal, estão ali - em registros autorais cheios de frescor, produzidos por José Milton - Feminina (o samba-título lançado pelo Quarteto em Cy em 1979), a sensibilíssima canção Mistérios (lançada por Milton Nascimento em 1978 e regravada pelo Boca Livre em 1979), Clareana (com as vozes então infantis das hoje cantoras Clara Moreno e Ana Martins), Da Cor Brasileira (música embebida em feminilidade e lançada por Maria Bethânia em 1979), Revendo Amigos (uma das inéditas do repertório) e, claro, Essa Mulher (a sensível canção que dera título ao LP lançado por Elis em 1979, ano em que a cantora adotou imagem mais feminina ao estrear na Warner Music). Apenas a canção Compor e os sambas Banana e Coração de Criança não se tornaram clássicos ao longo desses 30 anos, pois - como lembra Joyce no seu texto - o tema instrumental Aldeia de Ogum foi o responsável, nos anos 90, por sua explosão nas pistas européias ao ser descoberto por DJs ingleses. Ou seja, Feminina flagra Joyce em seu auge criativo. Outros bons discos viriam, só que nenhum com a força autoral deste álbum de 1980. Um trabalho capitaneado pela voz e pelo violão de Joyce (com o auxílio sempre luxoso da bateria de Tutty Moreno, do baixo de Fernando Leporace e das cordas bem arranjadas pelo pianista e maestro Gilson Peranzzetta). Sem a preocupação de carregar nas tintas vocais, Joyce deu sua visão de compositora e de mulher a músicas que - sabia ela - já estavam irremediavelmente associadas a vozes bem mais potentes como as de Elis, Milton e Bethânia. O resultado foi um disco que conjugou harmoniosamente suingue e delicadeza. Analisado em perspectiva 30 anos após sua criação, Feminina se impõe como um dos clássicos da música brasileira.

17 Comments:

Blogger MARCOS said...

Joyce é cantora e compositora do quilate de uma Fátima Guedes. Pedras preciosíssimas. Acho que não preciso falar mais nada.

17 de agosto de 2010 às 14:04  
Blogger Mauro Ferreira said...

Em 1980, Joyce era uma voz bem atuante no movimento de afirmação feminina / feminista que desafiara no ano anterior as tradições machistas da música brasileira. Gravado no embalo do choque de cor rosa de 1979, Feminina foi o quinto álbum da compositora que, àquela altura, já tinha músicas imortalizadas nas vozes de Elis Regina (1945 - 1982) e Maria Bethânia. Mas pode ser encarado também como o primeiro, pois marcou a volta de Joyce - cantora e compositora revelada ainda nos anos 60 - ao mercado fonográfico depois de uma parada para ter suas filhas, Clara e Ana, cuja gestação e nascimento foram celebrados em Clareana, bela canção que, classificada no Festival MPB-80, rendeu projeção nacional a Joyce. Clareana foi o hit deste disco oportunamente reeditado 30 anos após a edição original. Até então relançado em CD somente em 1993, em edição paupérrima da série 2 em 1, Feminina retorna ao catálogo em formato digipack com capa e contracapa originais - além de um encarte que traz as letras de nove das dez músicas do álbum (Aldeia de Ogum é um tema instrumental), fotos da gravação realizada em janeiro de 1980 e lúcido texto da própria Joyce que contextualiza com propriedade esse disco que mais parece um best of da artista. Afinal, estão ali - em registros autorais cheios de frescor, produzidos por José Milton - Feminina (o samba-título lançado pelo Quarteto em Cy em 1979), a sensibilíssima canção Mistérios (lançada por Milton Nascimento em 1978 e regravada pelo Boca Livre em 1979), Clareana (com as vozes então infantis das hoje cantoras Clara Moreno e Ana Martins), Da Cor Brasileira (música embebida em feminilidade e lançada por Maria Bethânia em 1979), Revendo Amigos (uma das inéditas do repertório) e, claro, Essa Mulher (a sensível canção que dera título ao LP lançado por Elis em 1979, ano em que a cantora adotou imagem mais feminina ao estrear na Warner Music). Apenas a canção Compor e os sambas Banana e Coração de Criança não se tornaram clássicos ao longo desses 30 anos, pois - como lembra Joyce no seu texto - o tema instrumental Aldeia de Ogum foi o responsável, nos anos 90, por sua explosão nas pistas européias ao ser descoberto por DJs ingleses. Ou seja, Feminina flagra Joyce em seu auge criativo. Outros bons discos viriam, só que nenhum com a força autoral deste álbum de 1980. Um trabalho capitaneado pela voz e pelo violão de Joyce (com o auxílio sempre luxoso da bateria de Tutty Moreno, do baixo de Fernando Leporace e das cordas bem arranjadas pelo pianista e maestro Gilson Peranzzetta). Sem a preocupação de carregar nas tintas vocais, Joyce deu sua visão de compositora e de mulher a músicas que - sabia ela - já estavam irremediavelmente associadas a vozes bem mais potentes como as de Elis, Milton e Bethânia. O resultado foi um disco que conjugou harmoniosamente suingue e delicadeza. Analisado em perspectiva 30 anos após sua criação, Feminina se impõe como um dos clássicos da música brasileira.

17 de agosto de 2010 às 14:15  
Anonymous Anônimo said...

Fátima e Joyce são nossas melhores compositoras ao lado de Dolores Duran e Sueli Costa.

17 de agosto de 2010 às 14:36  
Anonymous Denilson Santos said...

Bons tempos da música brasileira... Me recordo com saudades.

abração,
Denilson

17 de agosto de 2010 às 15:40  
Anonymous Lurian said...

Mistérios é uma das mais belas canções de nossa MPB não á toa foi regravada por vários intérpretes. Gosto desse periodo da Joyce ainda meio ligada aos mineiros de quem se tornara amiga.
Mas Joyce ainda teria grandes discos a nos oferecer, frutos do sucesso no exterior e da fase de aproximação com João Donato onde ela investe pesado na gafiera e no samba-jazz, como Ilha Brasil, Tudo Bonito e Gafieira moderna que é uma trilogia potentíssima dessa cantora-instrumentista-compositora de primeira.
Sabemos que ela chegou a gravar um disco nos EUA com Klaus Ogerman, o mesmo maestro do Tom Jobim, mas como Joyce preferiu cuidar das filhas e voltar no Brasil (posição feminina?) o maestro chateado engavetou o projeto já iniciado e nunca liberou a gravação desses preciosos takes! Uma pena para o mundo. Os EUA perderam (naquele momento) a Joyce que nos brasileiros ganhamos.

17 de agosto de 2010 às 17:33  
Anonymous Anônimo said...

Revendo Amigos já tinha sido gravada em 79 pelo Viva Voz, com participação da própria Joyce, em compacto lançado pela Continental

17 de agosto de 2010 às 18:15  
Anonymous Anônimo said...

Relançamento bem vindo! "Feminina" é realmente um clássico!

17 de agosto de 2010 às 19:43  
Anonymous Anônimo said...

"Mistérios" tem a sua melhor versão nas vozes de Joyce e Gal num dueto num cd da Joyce. A gravação é primorosa!

17 de agosto de 2010 às 20:52  
Anonymous Anônimo said...

Bons tempos da música brasileira.Até os produtores como Jose Milton podiam ser mais criativos.

17 de agosto de 2010 às 21:52  
Anonymous Anônimo said...

Finalmente! Quando esperei por esta reedição em CD! Tenho a edição da série 2 em 1, mas como o próprio Mauro afirmou, é terrível! Sem encarte, ficha técnica, etc. Agora quem sabe não sai também em cd o Tardes Cariocas, gravado no meio dos anos 1980....

17 de agosto de 2010 às 22:01  
Anonymous Alexandre Siqueira said...

Álbum importantíssimo! Clássico. Golaço eterno de Joyce!

17 de agosto de 2010 às 23:26  
Anonymous Anônimo said...

Joyce e produto de primeirissima qualidade...adoro seu trabalho e tenho todos os discos lancados desde a homenagem a Vinicius com convidados ... Adoro o "Feminina" mas esta trilogia citada qui e um escandalo de boa, tudo de muito bom...e "Misterios" e um dos mais emocionantes duetos ja gravados por Gal...uma perfeita harmonia de vozes e de astros; de uma delicadeza sem par - sempre me emociona muito e a voz de Gal e o som do violao de Joyce me levam para lugares magicos. Momento de pura beleza!

17 de agosto de 2010 às 23:36  
Blogger Cris Carriconde said...

Fiquei feliz com a novidade. Amo esse disco. Para mim é o melhor dela.
Tenho o LP e pretendo comprar a nova versão.
Eu também queria ver os primeiros ( e todos outros) discos da Fátima Guedes de volta.

18 de agosto de 2010 às 02:14  
Anonymous Anônimo said...

Joyce é uma de nossas cantoras que melhor entendeu as mudanças de mercado e o tempo em sua carreira: segue compondo inéditas, segue cantando lindo e grava discos antológicos, mesmo que muitas vezes o Brasil nem saiba. Não importa. Ela sabe que fazer música é sua arte e necessidade.

18 de agosto de 2010 às 10:53  
Blogger Jorge Reis said...

O que eu não daria agora, do alto dos meus 45 anos, por uma tarde com o pessoa, do 2º grau, vinho, Joyce, Ro Ro, e Fátima Guedes, Eita tempo Bom...

18 de agosto de 2010 às 17:37  
Anonymous Anônimo said...

A melhor compositora da MPB atual e um cantora de um suingue irresistível e sotaque carioca característico.

18 de agosto de 2010 às 21:19  
Anonymous Anônimo said...

Coração de Criança não é samba, é marcha.

3 de agosto de 2018 às 10:45  

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