Filme não mensura força musical de Chacrinha
Resenha de Documentário
Título: Alô, Alô, Terezinha!
Direção: Nelson Hoineff
Cotação: * *
Em cartaz nos cinemas desde 30 de outubro de 2009
Título: Alô, Alô, Terezinha!
Direção: Nelson Hoineff
Cotação: * *
Em cartaz nos cinemas desde 30 de outubro de 2009
Fenômeno massivo de comunicação na TV dos anos 70 e 80, o apresentador Abelardo Barbosa (1917 - 1988), o Chacrinha, teve força incomum no mercado fonográfico brasileiro na época em que reinou com seu programa de anarquia tropicalista. Como relatam com certa nostalgia cantores como Fafá de Belém no documentário Alô, Alô, Terezinha!, em cartaz nos cinemas brasileiros desde 30 de outubro de 2009, apresentar uma música no programa do Chacrinha era quase sempre a forma mais rápida de emplacar um hit em escala nacional. Infelizmente, o filme de Nelson Hoineff não dimensiona o poder de Chacrinha na música e na televisão. O diretor preferiu focar e explorar a miséria humana, expondo na tela o ridículo de ex-calouros e a fase crespuscular de ex-chacretes. Nada é dito sobre a origem de Chacrinha. Nada é revelado sobre sua biografia bastante peculiar. A rigor, Alô, Alô, Terezinha! é um filme mais sobre as personagens que habitavam o mundo bizarro do apresentador - ou seja, os calouros e as chacretes - do que sobre o comunicador. Assunto não iria faltar. Figura polêmica, Chacrinha sabia usar a seu favor o poder que estava em suas mãos. Em troca de aparições em seu programa, artistas em início de carreira - e mesmo veteranos sem prestígio - eram obrigados a fazer shows com as chacretes por clubes das periferias. Era a moeda de troca, complementada pelo corriqueiro jabá. Quem se recusasse a pagar não ia para o trono. Mas Chacrinha era também amado porque, sem preconceitos, dava espaço em seus programas a cantores popularescos que - fora daquele circo - não teriam espaço nobre na TV. Daí as sucessivas declarações de amor e gratidão feitas no filme por nomes como Agnaldo Timóteo, Jerry Adriani e Wanderley Cardoso. Até o arisco Roberto Carlos deu seu depoimento. Mas poucos vão além do clichê. Alceu Valença vai e defende a similaridade de Chacrinha com os velhos espirituosos (safados, na definição de Alceu) que comandam os pastoris nas ruas nordestinas. Muito mais havia para ser dito. Mas o diretor pareceu mais interessado em revelar ligações sexuais das chacretes com os cantores (há especulações sobre o caso nunca confirmado de Chacrinha com Clara Nunes). Não era preciso enfatizar tanto a miséria humana, pois a simples exibição das imagens dos programas - colhidas nos arquivos das TVs Globo, Tupi e Bandeirantes - expõe por si só na tela os efeitos devastadores do tempo. Sendo assim, Alô, Alô, Terezinha! não justifica a expectativa. Vai ser preciso um outro documentário que mensure corretamente a força e a importância de Chacrinha...
8 Comments:
Fenômeno massivo de comunicação na TV dos anos 70 e 80, o apresentador Abelardo Barbosa (1917 - 1988), o Chacrinha, teve força incomum no mercado fonográfico brasileiro na época em que reinou com seu programa de anarquia tropicalista. Como relatam com certa nostalgia cantores como Fafá de Belém no documentário Alô, Alô, Terezinha!, em cartaz nos cinemas brasileiros desde 30 de outubro de 2009, apresentar uma música no programa do Chacrinha era quase sempre a forma mais rápida de emplacar um hit em escala nacional. Infelizmente, o filme de Nelson Hoineff não dimensiona o poder de Chacrinha na música e na televisão. O diretor preferiu focar e explorar a miséria humana, expondo na tela o ridículo de ex-calouros e a fase crespuscular de ex-chacretes. Nada é dito sobre a origem de Chacrinha. Nada é revelado sobre sua biografia bastante peculiar. A rigor, Alô, Alô, Terezinha! é um filme mais sobre as personagens que habitavam o mundo bizarro do apresentador - ou seja, os calouros e as chacretes - do que sobre o comunicador. Assunto não iria faltar. Figura polêmica, Chacrinha sabia usar a seu favor o poder que estava em suas mãos. Em troca de aparições em seu programa, artistas em início de carreira - e mesmo veteranos sem prestígio - eram obrigados a fazer shows com as chacretes por clubes das periferias. Era a moeda de troca, complementada pelo corriqueiro jabá. Quem se recusasse a pagar não ia para o trono. Mas Chacrinha era também amado porque, sem preconceitos, dava espaço em seus programas a cantores popularescos que - fora daquele circo - não teriam espaço nobre na TV. Daí as sucessivas declarações de amor e gratidão feitas no filme por nomes como Agnaldo Timóteo, Nelson Motta e Wanderley Cardoso. Até o arisco Roberto Carlos deu seu depoimento. Mas poucos vão além do clichê. Alceu Valença vai e defende a similaridade de Chacrinha com os velhos espirituosos (safados, na definição de Alceu) que comandam os pastoris nas ruas nordestinas. Muito mais havia para ser dito. Mas o diretor pareceu mais interessado em revelar ligações sexuais das chacretes com os cantores (há especulações sobre o caso nunca confirmado de Chacrinha com Clara Nunes). Não era preciso enfatizar tanto a miséria humana, pois a simples exibição das imagens dos programas - colhidas nos arquivos das TVs Globo, Tupi e Bandeirantes - expõem por si só na tela os efeitos devastadores do tempo. Enfim, Alô, Alô, Terezinha! não justifica a expectativa. Vai ser preciso um outro documentário que mensure corretamente a força e a importância de Chacrinha...
Oi, Mauro! Você, como sempre, escrevendo divinamente, tecendo comentários deliciosos. Obrigado, sempre! Só queria apontar um detalhe, mais para ser chato do que apra qualquer coisa. No fim do texto, quando você diz "expõem", me parece que mais adequado talvez fosse o verbo no singular. Enfim, me desculpe a pentelhação! É que, como sempre noto o apuro com que você escreve, tomei a liberdade.
Obrigado! Abraço!
Bruno, não tem que pedir desculpas! Eu é que agradeço a sua observação. Ia escrever 'imagens exibidas... expõem'. depois, mudei a frase e me descuidei da concordância. Portanto, grato por ter me atentado para o erro, já corrigido. Abs, MauroF
Mauro, eu não vi o filme, mas pelo que você escreveu, percebi que é mais explorado o período posterior ao aval que o apresentador recebeu do tropicalismo. Antes, excetuada a excentricidade, ele foi apenas o que outros comunicadores também foram: um profissional destinado a divulgar a música que se fazia para as chamadas classes populares. Não diferia em nada dos demais disc-joqueis que só tocavam discos ou músicas daqueles que "prestigiavam" seus programas radifônicos.Quem não fazia esse jogo, como o pessoal da bossa nova, por exemplo, era considerado elitista e seus discos só tocavam em duas ou três emissoras voltadas para um público de maior poder aquisitivo.
Mauro,
Acabei de ver o filme e fiquei decepcionado.
Posso estar enganado, mas acho que não tem o Nelson Motta lá não.
Abs
Tem toda razão, Adilson. Eu ia escrever Nelson Ned e, ao digitar, me equivoquei. Obrigado, MauroF
Mauro,
Discordo totalmente. Não é um filme sobre a miséria humana, é um retrato sem retoques do povão brasileiro -- como dizia Glauber, povo faminto, pobre, desdentado, doente -- mas que sabe rir das suas desgraças, e que tem sua cota de sonhos e fantasias como qualquer cidadão "superior".
É também um filme sobre a efemeridade do sucesso, sobre fama e decadência, sobre saber (ou não) envelhecer. Há por aí biografias do Chacrinha, existe o Google. O diretor dá uma visão não-didática, muito pessoal, bem-humorada e, talvez isso o tenha incomodado, politicamente não-correta sobre mais transgressor dos comunicadores. Há muito tempo não dava tantas gargalhadas no cinema.
Chacrinha era um palhaço de circo jabazeiro que sabia muito bem fazer o seu trabalho.
Esse papo de sem preconceito musical pra mim é balela, era só pagar e entrar pra "Caravana do Velho Guerreiro" que entrava no programa....
Abs
Marcelo
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