Salada franco-carioca de 'Oui' tem até Gretchen
Resenha de Musical
Título: Oui, Oui... A França É Aqui
Texto: Gustavo Gasparani e Eduardo Rieche
Direção: João Fonseca
Elenco: César Augusto, Cristiano Gualda, Gottsha,
Gustavo Gasparani, Marya Bravo e Solage Badim
Foto: Divulgação / Dalton Valério
Cotação: * * * 1/2
Em cartaz no Teatro Maison de France, no Rio de Janeiro
Após pintar o retrato do casal Cabrocha e Malandro com vários matizes do samba no musical Opereta Carioca (2008), o ator e dramaturgo Gustavo Camparini revive o Teatro de Revista em seu sagaz terceiro texto, escrito em parceria com Eduardo Rieche. Em cartaz no Teatro Maison de France, no Rio de Janeiro (RJ), Oui, Oui... A França É Aqui realça com humor debochado e ferino a influência da música francesa no universo da canção brasileira da primeira metade do século 20. O roteiro alinha 45 músicas, numa salada franco-carioca temperada até com o erotismo de Gretchen, de cujo repertório os autores pinçam Je Suis la Femme (Melô do Piripipi), tema creditado a Gretchen no programa do espetáculo, mas, a rigor, composto por Mister Sam, produtor que a descobriu. Je Suis la Femme é entoada por Gottsha num tom inicialmente opertístico que logo cai no deboche, a marca principal do musical.
A música pontua todo o espetáculo, à moda do Teatro de Revista, mas a espinha dorsal do texto é a trama de antiga comédia de França Jr. intitulada O Tipo Brasileiro. História que serve de pretexto para a criação de quadros que saltam aleatoriamente no tempo e no espaço sem a preocupação com o nexo. O riso é o objetivo. Entre piadas de caráter sócio-político, o roteiro inclui até sucesso de Manu Chao, representado por espirituosa versão de Clandestino. O elenco entra no espírito e no tom carioca do texto com desenvoltura. Contudo, na parte musical, o trio feminino (Gottsca, Marya Bravo e Solagem Badim) ofusca o masculino (César Augusto, Cristiano Gualda e Gustavo Gasparani - com certo destaque para a voz de Gualda). Pena que Marya Bravo não tenha grandes oportunidades. Já Gottsha as tem e aproveita todas elas, marcando presença em números maliciosos como La Choupetta, que vem a ser a versão feita por Maurice Chevalier (1888 - 1972) para a célebre marchinha Mamãe Eu Quero (Vicente Paiva e Jararaca, 1937). Vivaz, o musical ganha brilho todo especial nos números coletivos como Cabelo no Pão Careca, hilário samba de Barbeirinho e Rodi do Jacarezinho, extraído do repertório de Zeca Pagodinho. A direção de João Fonseca entende e explora o non-sense que rege o texto e o roteiro, que, entre hits de Edith Piaf (1915 - 1963), pesca no baú brasileiro pérolas como Paris (Alberto Ribeiro e Alcyr Pires Vermelho), O Baião em Paris (Humberto Teixeira) e O Rei do Creoléu (Ou Grand Monde do Creoléu), tema tão obscuro como espirituoso de Ary Barroso (1903 - 1964). Daí o êxito desse musical que cativa pelo seu humor anárquico e afiado.
Título: Oui, Oui... A França É Aqui
Texto: Gustavo Gasparani e Eduardo Rieche
Direção: João Fonseca
Elenco: César Augusto, Cristiano Gualda, Gottsha,
Gustavo Gasparani, Marya Bravo e Solage Badim
Foto: Divulgação / Dalton Valério
Cotação: * * * 1/2
Em cartaz no Teatro Maison de France, no Rio de Janeiro
Após pintar o retrato do casal Cabrocha e Malandro com vários matizes do samba no musical Opereta Carioca (2008), o ator e dramaturgo Gustavo Camparini revive o Teatro de Revista em seu sagaz terceiro texto, escrito em parceria com Eduardo Rieche. Em cartaz no Teatro Maison de France, no Rio de Janeiro (RJ), Oui, Oui... A França É Aqui realça com humor debochado e ferino a influência da música francesa no universo da canção brasileira da primeira metade do século 20. O roteiro alinha 45 músicas, numa salada franco-carioca temperada até com o erotismo de Gretchen, de cujo repertório os autores pinçam Je Suis la Femme (Melô do Piripipi), tema creditado a Gretchen no programa do espetáculo, mas, a rigor, composto por Mister Sam, produtor que a descobriu. Je Suis la Femme é entoada por Gottsha num tom inicialmente opertístico que logo cai no deboche, a marca principal do musical.
A música pontua todo o espetáculo, à moda do Teatro de Revista, mas a espinha dorsal do texto é a trama de antiga comédia de França Jr. intitulada O Tipo Brasileiro. História que serve de pretexto para a criação de quadros que saltam aleatoriamente no tempo e no espaço sem a preocupação com o nexo. O riso é o objetivo. Entre piadas de caráter sócio-político, o roteiro inclui até sucesso de Manu Chao, representado por espirituosa versão de Clandestino. O elenco entra no espírito e no tom carioca do texto com desenvoltura. Contudo, na parte musical, o trio feminino (Gottsca, Marya Bravo e Solagem Badim) ofusca o masculino (César Augusto, Cristiano Gualda e Gustavo Gasparani - com certo destaque para a voz de Gualda). Pena que Marya Bravo não tenha grandes oportunidades. Já Gottsha as tem e aproveita todas elas, marcando presença em números maliciosos como La Choupetta, que vem a ser a versão feita por Maurice Chevalier (1888 - 1972) para a célebre marchinha Mamãe Eu Quero (Vicente Paiva e Jararaca, 1937). Vivaz, o musical ganha brilho todo especial nos números coletivos como Cabelo no Pão Careca, hilário samba de Barbeirinho e Rodi do Jacarezinho, extraído do repertório de Zeca Pagodinho. A direção de João Fonseca entende e explora o non-sense que rege o texto e o roteiro, que, entre hits de Edith Piaf (1915 - 1963), pesca no baú brasileiro pérolas como Paris (Alberto Ribeiro e Alcyr Pires Vermelho), O Baião em Paris (Humberto Teixeira) e O Rei do Creoléu (Ou Grand Monde do Creoléu), tema tão obscuro como espirituoso de Ary Barroso (1903 - 1964). Daí o êxito desse musical que cativa pelo seu humor anárquico e afiado.
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Após pintar o retrato do casal Cabrocha e Malandro com vários matizes do samba no musical Opereta Carioca (2008), o ator e dramaturgo Gustavo Camparini revive o Teatro de Revista em seu sagaz terceiro texto, escrito em parceria com Eduardo Rieche. Em cartaz no Teatro Maison de France, no Rio de Janeiro (RJ), Oui, Oui... A França É Aqui realça com humor debochado e ferino a influência da música francesa no universo da canção brasileira da primeira metade do século 20. O roteiro alinha 45 músicas, numa salada franco-carioca temperada até com o erotismo de Gretchen, de cujo repertório os autores pinçam Je Suis la Femme (Melô do Piripipi), tema creditado a Gretchen no programa do espetáculo, mas, a rigor, composto por Mister Sam, produtor que a descobriu. Je Suis la Femme é entoada por Gottsha num tom inicialmente opertístico que logo cai no deboche, a marca principal do musical.
A música pontua todo o espetáculo, à moda do Teatro de Revista, mas a espinha dorsal do texto é a trama de antiga comédia de França Jr. intitulada O Tipo Brasileiro. História que serve de pretexto para a criação de quadros que saltam aleatoriamente no tempo e no espaço sem a preocupação com o nexo. O riso é o objetivo. Entre piadas de caráter sócio-político, o roteiro inclui até sucesso de Manu Chao, representado por espirituosa versão de Clandestino. O elenco entra no espírito e no tom carioca do texto com desenvoltura. Contudo, na parte musical, o trio feminino (Gottsca, Marya Bravo e Solagem Badim) ofusca o masculino (César Augusto, Cristiano Gualda e Gustavo Camparini - com destaque para a voz de Gualda). Pena que Marya Bravo não tenha grandes oportunidades. Já Gottsha as tem e aproveita todas elas, marcando presença em números maliciosos como La Choupetta, que vem a ser a versão feita por Maurice Chevalier (1888 - 1972) para a célebre marchinha Mamãe Eu Quero (Vicente Paiva e Jararaca, 1937). Vivaz, o musical ganha brilho todo especial nos números coletivos como Cabelo no Pão Careca, hilário samba de Barbeirinho e Rodi do Jacarezinho, extraído do repertório de Zeca Pagodinho. A direção de João Fonseca entende e explora o non-sense que rege o texto e o roteiro, que, entre hits de Edith Piaf (1915 - 1963), pesca no baú brasileiro pérolas como Paris (Alberto Ribeiro e Alcyr Pires Vermelho), O Baião em Paris (Humberto Teixeira) e O Rei do Creoléu (Ou Grand Monde do Creoléu), tema tão obscuro como espirituoso de Ary Barroso (1903 - 1964). Daí o êxito desse musical que cativa pelo seu humor anárquico e afiado.
Ótima resenha. Taí um musical que eu pretendo ver. Só uma correçãozinha: o nome do autor saiu "Camparini", mas é Gasparani (como no serviço logo acima).
Obrigado pelo ótimo blog, como sempre.
Grato, Alexandre, por detectar o erro de digitação, já corrigido.
abs, MauroF
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