1 de outubro de 2008

Titãs fazem a festa dos fãs com imagens do baú

Resenha de filme
Título: Titãs - A Vida
até Parece uma Festa
Direção: Branco Mello
e Oscar Rodrigues
Alves
Cotação: * * * *
Em exibição no Festival
do Rio 2008
Mostra Première Brasil
* 1º de outubro
(Odeon, às 13h30m)
* 2 de outubro
(Estação Vivo Gávea 3,
às 13h30m e às 20h)

Em muitos momentos dos anos 80 e 90, a vida pareceu mesmo uma festa, e das boas, para os Titãs, o octeto paulista que pulou da cena underground de Sampa para o primeiro escalão do rock made in Brazil que arrombou as portas da indústria fonográfica a partir de 1982. Enquanto se divertia, um dos músicos do grupo, Branco Mello, registrou toda a festa, na qual sua banda entrou em 1984. Valendo-se somente desse vasto material de arquivo e de imagens cedidas por várias emissoras de televisão, o delicioso documentário Titãs - A Vida até Parece uma Festa - um filme de Branco, mas com direção e edição assinadas por ele com Oscar Rodrigues Alves - conta a jogação do grupo naqueles tempos de diversão e arte. Por não apresentar entrevistas e depoimentos colhidos especialmente para o filme, o documentário se isenta de oferecer visão crítica da trajetória do grupo, pontuada por altos e baixos. Mas é inegável que faz a festa dos fãs com imagens raras (ou mesmo inéditas) captadas em estúdios de gravação, ensaios, camarins e momentos de lazer. O valor documental das imagens é indiscutível. O roteiro eterniza desde apresentações seminais da banda que ainda se intitulava Titãs do Iêiê - e fazia shows com seus inacreditáveis penteados em palcos paulistas como o do Sesc Pompéia - até imagens consagradoras como o espontâneo e forte coro popular que encorpou a interpretação de Marvin solada por Nando Reis no show da banda no festival Rock in Rio II, no Maracanã (RJ), em 1991. A edição e a mixagem do som - na qual Denílson Campos colaborou com Branco e Oscar - são primorosas, sobretudo quando o documentário rebobina Sonífera Ilha num mix de takes extraídos de dublagens da música em programas de auditório comandados por apresentadores de TV como Barros de Alencar, Bolinha, Chacrinha e Hebe Camargo. A propósito, os Titãs transitaram desde sempre pelas atrações mais populares da televisão, sem preconceitos, e essa disposição para fazer parte do circo da telinha rende uma das cenas mais hilárias do filme, quando alguns integrantes da banda topam salvar uma moça de uma aranha gigante, no programa de Gugu Liberato. É impagável!

Ao rememorar a festa dos Titãs, o filme atiça a memória afetiva do espectador que viveu aqueles tempos roqueiros. A rigor, entre imagens de bastidores profissionais e cenas de lazer como o banho de cachoeira tomado na Chapada dos Guimarães (MT), pouco ou nada é revelado no filme. Contudo, a cena em que o produtor Liminha dá um esporro monumental no baterista Charles Gavin - durante a gravação da música Violência - desvenda ainda que por breves instantes a tensão que cerca a produção de um disco. Aliás, a vida nem sempre foi uma festa. E a morte de Marcelo Fromer em 2001, abordada a partir de reportagens exibidas pela televisão, exemplifica os momentos de ressaca raramente retratados no filme. A partida de Fromer fez a banda acordar de seu sonho de Peter Pan e perceber que "a vida é de verdade", como confidencia Tony Belloto em lúcido depoimento para um telejornal. A festa começaria a perder um pouco o encanto quando Nando Reis também resolveu partir, mas apenas do grupo, reduzindo os Titãs a um quinteto e abrindo ferida ainda não cicatrizada. Enfim, Titãs - A Vida até Parece uma Festa cumpre bem a proposta de pincelar momentos da história da banda a partir de seus arquivos pessoais e funciona como o complemento visual da boa biografia homônima editada pelos jornalistas Luiz André Alzer e Hérica Marmo. Indicado apenas para iniciados no tema, o filme jamais expõe a importância capital do grupo no rock brasileiro dos anos 80 e 90, mas, caso os Titãs façam parte de sua vida, você já sabe a importância da banda e, portanto, vai se divertir - muito - na festa.

4 Comments:

Blogger Mauro Ferreira said...

Em muitos momentos dos anos 80 e 90, a vida pareceu mesmo uma festa, e das boas, para os Titãs, o octeto paulista que pulou da cena underground de Sampa para o primeiro escalão do rock made in Brazil que arrombou as portas da indústria fonográfica a partir de 1982. Enquanto se divertia, um dos músicos do grupo, Branco Mello, registrou toda a festa, na qual sua banda entrou em 1984. Valendo-se somente desse vasto material de arquivo e de imagens cedidas por várias emissoras de televisão, o delicioso documentário Titãs - A Vida até Parece uma Festa - um filme de Branco, mas com direção e edição assinadas por ele com Oscar Rodrigues Alves - conta a jogação do grupo naqueles tempos de diversão e arte. Por não apresentar entrevistas e depoimentos colhidos especialmente para o filme, o documentário se isenta de oferecer visão crítica da trajetória do grupo, pontuada por altos e baixos. Mas é inegável que faz a festa dos fãs com imagens raras (ou mesmo inéditas) captadas em estúdios de gravação, ensaios, camarins e momentos de lazer. O valor documental das imagens é indiscutível. O roteiro eterniza desde apresentações seminais da banda que ainda se intitulava Titãs do Iêiê - e fazia shows com seus inacreditáveis penteados em palcos paulistas como o do Sesc Pompéia - até imagens consagradoras como o espontâneo e forte coro popular que encorpou a interpretação de Marvin solada por Nando Reis no show da banda no festival Rock in Rio II, no Maracanã (RJ), em 1991. A edição e a mixagem do som - na qual Denílson Campos colaborou com Branco e Oscar - são primorosas, sobretudo quando o documentário rebobina Sonífera Ilha num mix de takes extraídos de dublagens da música em programas de auditório comandados por apresentadores de TV como Barros de Alencar, Bolinha, Chacrinha e Hebe Camargo. A propósito, os Titãs transitaram desde sempre pelas atrações mais populares da televisão, sem preconceitos, e essa disposição para fazer parte do circo da telinha rende uma das cenas mais hilárias do filme, quando alguns integrantes da banda topam salvar uma moça de uma aranha gigante, no programa de Gugu Liberato. É impagável!

Ao rememorar a festa dos Titãs, o filme atiça a memória afetiva do espectador que viveu aqueles tempos roqueiros. A rigor, entre imagens de bastidores profissionais e cenas de lazer como o banho de cachoeira tomado na Chapada dos Guimarães (MT), pouco ou nada é revelado no filme. Contudo, a cena em que o produtor Liminha dá um esporro monumental no baterista Charles Gavin - durante a gravação da música Estado Violência - desvenda por breves instantes a tensão que cerca a produção de um disco. Aliás, a vida nem sempre foi uma festa. E a morte de Marcelo Fromer em 2001, abordada a partir de reportagens exibidas pela televisão, exemplifica os momentos de ressaca raramente retratados no filme. A partida de Fromer fez a banda acordar de seu sonho de Peter Pan e perceber que "a vida é de verdade", como confidencia Tony Belloto em depoimento para um telejornal. A festa começaria a perder um pouco o encanto quando Nando Reis também resolveu partir, mas apenas do grupo, reduzindo os Titãs a um quinteto e abrindo ferida ainda não cicatrizada. Enfim, Titãs - A Vida até Parece uma Festa cumpre muito bem a proposta de contar a história da banda a partir de seus arquivos pessoais e funciona como o complemento visual da boa biografia homônima editada pelos jornalistas Luiz André Alzer e Hérica Marmo. Entre nessa festa, pois os Titãs provavelmente fizeram parte de sua vida.

1 de outubro de 2008 às 10:30  
Anonymous Anônimo said...

Bom, vai aqui uma opinião suspeita - não faço segredo para ninguém que o hoje quinteto é das minhas bandas preferidas, ontem, hoje e talvez sempre - e de quem ainda não viu o filme, esperando a Mostra de Cinema de SP, no fim do mês.

Primeiro, é ótimo saber que o resultado parece bom. Vindo de uma opinião abalizada como a de Mauro, a confiança aumenta mais.

Agora, não vou negar que imagino que a película deve ter ficado mais "tocante" do que propriamente boa.

Porque deve ter ficado até meio saudosista, quando lembra do auge que o então octeto atingiu nos 80.

Arnaldo Antunes não era o "intelectual-da-geração-80" que virou depois (podem ver, sempre que alguém daquela época é abordado em um discurso mais acadêmico, é ele).

Nando Reis não era o hitmaker que se revelaria.

Nenhum dos membros que ainda estão aí hoje era conhecido pelo trabalho extra-Titãs: Paulo Miklos não era ator, Charles Gavin não era produtor e restaurador musical, Tony Bellotto não era escritor.

Eram todos partes da banda. Mais ou menos importantes, mas partes. E talvez fosse isso o fator que fazia aquela profusão de gente soar tão potente, tão forte, no palco.

Bem certo que a unidade na desunião que existia então provavelmente acabaria, uma hora ou outra. Afinal, se já é difícil um trio manter-se equilibrado na corda, que dirá um octeto.

Mas isso os Titãs perderam. Talvez não recuperem, mesmo com os bons discos que foram "A Melhor Banda..." e "Como Estão Vocês?". Hoje, ainda que aí na atividade, me parecem numa situação limítrofe: se sai mais um, acho que o fim fica muito próximo.

Mas, aí, a gente volta ao parágrafo inicial: é das minhas bandas preferidas. E, provavelmente, sempre será.

Vejamos o que vem aí, com Rick Bonadio na produção.

Felipe dos Santos Souza

1 de outubro de 2008 às 14:44  
Anonymous Anônimo said...

POXA E COMO FIZERAM PARTE DA MINHA VIDA...
ACERTOU EM CHEIO MAURO...
AINDA ME LEMBRO O EXATO DIA EM QUE COMPREI O "CABEÇA DINOSSAURO"... FOI O DIA QUE A MINHA VIDA MUDOU PRA SEMPRE...
ATÉ HOJE,POR RAZÕES AFETIVAS,OS TITÃS AINDA SÃO A MINHA BANDA PREFERIDA,EMBORA CONCORDO PLENAMENTE COM VC,QUE SEM NANDO REIS A FESTA FICA UM POUCO ...AHH SEI LÁ...
É DIFÍCIL PENSAR NOS TITÃS SEM LEMBRAR DAQUELE "CANTOR LIMITADO" (CARINHOSAMENTE FALANDO) EMPUNHANDO SEU BAIXO FENDER VERMELHO ....
ACHO QUE COM RELAÇÃO A "FESTA" A BANDA INTEIRA TOMOU UM CHOQUE TOTAL COM A PARTIDA DO MARCELO,AFINAL ERA O CARA QUE CUIDAVA DO LADO BUROCRÁTICO DA BANDA,QUE TOMAVA FRENTE NOS CONTRATOS,CHAMAVA A RESPONSABILIDADE DOS BASTIDORES PARA SÍ E TRANSITAVA MUITO BEM NESTA ÁREA...
É ENGRAÇADO PORQUE QUANDO O ARNALD SAIU DA BANDA,MUITA GENTE ACHAVA QUE OS TITÃS ACABARIAM ALÍ,O QUE NÃO ACONTECEU... PORÉM A SAÍDA DO BAIXISTA E DO GUITARRISTA BASE,FIZERAM COM QUE A FESTA FICASSE MENOS ANIMADA,PORÉM SEMPRE TITÂNICA...
TOMARA QUE O FILE VÁ MESMO PARA OS CINEMAS,OU QUE PELO MENOS O DOCUMENTÁRIO SEJA LANÇADO RÁPIDO EM DVD...

"A VIDA ATÉ PARECE UMA FESTA...
MAS NEM SEMPRE SE PODE SER DEUS.."

VIDA LONGA AOS TITÃS!!!

ITAMAR DIAS

1 de outubro de 2008 às 15:09  
Anonymous Anônimo said...

Gosto muitooooo dos Titãs das antigas, mas pela resenha tem mais firula do que música.
Eu queria mesmo é que eles colocassem na praça um DVD com um show dos bons tempos, o do Rock'in'Rio 2 seria uma maravilha.

Jose Henrique

2 de outubro de 2008 às 01:00  

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