Marisa desvenda em filme a nobreza do samba
Resenha de filme
Título: O Mistério
do Samba
Idéia: Marisa Monte
Produção:
Conspiração Filmes
e Phonomotor
Direção: Carolina
Jabor e Lula Buarque
de Hollanda
Elenco: Velha Guarda
da Portela, Marisa
Monte, Paulinho da
Viola e Zeca
Pagodinho
Cotação: * * * * *
"Explicar não é o mais importante", defende Paulinho da Viola em conversa com Marisa Monte sobre a feliz comunhão artística e espiritual observada nas reuniões dos veteranos sambistas da escola de samba Portela, uma das mais tradicionais do Carnaval carioca. O comentário de Paulinho é ouvido nos minutos finais de O Mistério do Samba e já absolve de qualquer eventual falha documental este belíssimo filme sobre a Velha Guarda da Portela que entra em cartaz nos cinemas brasileiros em 29 de agosto de 2008 e que consumiu dez anos de trabalho entre as primeiras pesquisas (iniciadas por Marisa em 1998 quando ela garimpava repertório para a produção de Tudo Azul, o CD da Velha Guarda da Portela que a cantora editou em 1999 por seu selo Phonomotor), a confecção do filme (viabilizado com o patrocínio da Natura) e o lançamento no circuito comercial. E nasce clássico!
Mais do que qualquer mistério, Marisa desvenda a nobreza que se esconde nas faces e obras desses operários do samba. Muito é revelado através dos silêncios e das emoções estampadas, por exemplo, nos olhos marejados da pastora ao fim de Quantas Lágrimas, samba entoado por elas na companhia reverente de Marisa Monte, quase a capella, apenas com as palmas das mãos a marcar o ritmo deste clássico portelense. Já nas primeiras tomadas, quando ouve-se o samba Nascer e Florescer enquanto são projetadas imagens do bairro carioca de Oswaldo Cruz, sede da Portela, O Mistério do Samba se revela extremamente sensível na montagem do rico painel humano e artístico que compõe a história da Portela e de sua Velha Guarda - modelo para as de outras agremiações. Uma roda de samba captada em 2007 com os bambas - com a adição de Marisa e do simpatizante Zeca Pagodinho - ilustra na forma de samba o que é contado através dos depoimentos. Fotos de Paulo da Portela (1901 - 1949) e imagens extraídas do programa MPB Especial, exibido pela TV Cultura em 1975 ajudam a construir uma perspectiva histórica. E as histórias vão se sucedendo através dos depoimentos espontâneos dos veteranos bambas. "Se não houver tristeza, o samba não fica bonito", sentencia Casemiro da Cuíca. Sim, mas há também alegria quando o entrevistado é Argemiro do Patrocínio (1923 - 2003), maroto ao contar sua descoberta do significado da palavra copular. "Argemiro era safado", confirma Zeca Pagodinho.
Ao longo do filme, 57 sambas são apresentados em trechos, em off ou mesmo na íntegra - caso de Sofrimento de Quem Ama (Alberto Lonato), revivido por Marisa com Paulinho da Viola. A edição do documentário, extremamente caprichada, costura o roteiro de tal forma que uma cena parece levar à outra. E muitos mistérios são revelados: os sambas inéditos de Manacéa (1921 - 1995), descobertos por Marisa Monte ao visitar a casa onde moram a filha e a viúva do compositor; a cultura machista perceptível nos depoimentos malandros dos sambistas sobre suas mulheres (as oficiais e as extra-oficiais) e a paradoxal força feminina, decisiva na propagação dos sambas compostos pela ala masculina ("As vozes que reinam nos terreiros são as das pastoras", contextualiza Monarco). Mas, como diz Paulinho da Viola, o mais importante não é explicar. O Mistério do Samba não persegue a idéia de explicar a Velha Guarda da Portela. Tampouco de documentar sua trajetória - embora informações biográficas e comportamentais sejam pinceladas ao longo da narrativa através das conversas informais de Marisa com Paulinho e com os integrantes do grupo.
Mais do que um documentário, O Mistério do Samba é um inventário afetivo dos sentimentos e vivências de artistas que, driblando as dificuldades do duro cotidiano, fazem e cultuam o samba mais nobre. Nisso reside o mistério. E o olhar afetivo de Marisa sobre estes artistas emociona pela riqueza do que é dito. E do que não é dito, mas transparece na tela. O Mistério do Samba repousa no mesmo alto nível de Buena Vista Social Club (1999) - o filme de Win Wenders sobre os astros da velha guarda de Cuba - pelo caráter profundo do que é visto e ouvido no escurinho do cinema. É imperdível: Vale repetir: já nasce clássico.
Título: O Mistério
do Samba
Idéia: Marisa Monte
Produção:
Conspiração Filmes
e Phonomotor
Direção: Carolina
Jabor e Lula Buarque
de Hollanda
Elenco: Velha Guarda
da Portela, Marisa
Monte, Paulinho da
Viola e Zeca
Pagodinho
Cotação: * * * * *
"Explicar não é o mais importante", defende Paulinho da Viola em conversa com Marisa Monte sobre a feliz comunhão artística e espiritual observada nas reuniões dos veteranos sambistas da escola de samba Portela, uma das mais tradicionais do Carnaval carioca. O comentário de Paulinho é ouvido nos minutos finais de O Mistério do Samba e já absolve de qualquer eventual falha documental este belíssimo filme sobre a Velha Guarda da Portela que entra em cartaz nos cinemas brasileiros em 29 de agosto de 2008 e que consumiu dez anos de trabalho entre as primeiras pesquisas (iniciadas por Marisa em 1998 quando ela garimpava repertório para a produção de Tudo Azul, o CD da Velha Guarda da Portela que a cantora editou em 1999 por seu selo Phonomotor), a confecção do filme (viabilizado com o patrocínio da Natura) e o lançamento no circuito comercial. E nasce clássico!
Mais do que qualquer mistério, Marisa desvenda a nobreza que se esconde nas faces e obras desses operários do samba. Muito é revelado através dos silêncios e das emoções estampadas, por exemplo, nos olhos marejados da pastora ao fim de Quantas Lágrimas, samba entoado por elas na companhia reverente de Marisa Monte, quase a capella, apenas com as palmas das mãos a marcar o ritmo deste clássico portelense. Já nas primeiras tomadas, quando ouve-se o samba Nascer e Florescer enquanto são projetadas imagens do bairro carioca de Oswaldo Cruz, sede da Portela, O Mistério do Samba se revela extremamente sensível na montagem do rico painel humano e artístico que compõe a história da Portela e de sua Velha Guarda - modelo para as de outras agremiações. Uma roda de samba captada em 2007 com os bambas - com a adição de Marisa e do simpatizante Zeca Pagodinho - ilustra na forma de samba o que é contado através dos depoimentos. Fotos de Paulo da Portela (1901 - 1949) e imagens extraídas do programa MPB Especial, exibido pela TV Cultura em 1975 ajudam a construir uma perspectiva histórica. E as histórias vão se sucedendo através dos depoimentos espontâneos dos veteranos bambas. "Se não houver tristeza, o samba não fica bonito", sentencia Casemiro da Cuíca. Sim, mas há também alegria quando o entrevistado é Argemiro do Patrocínio (1923 - 2003), maroto ao contar sua descoberta do significado da palavra copular. "Argemiro era safado", confirma Zeca Pagodinho.
Ao longo do filme, 57 sambas são apresentados em trechos, em off ou mesmo na íntegra - caso de Sofrimento de Quem Ama (Alberto Lonato), revivido por Marisa com Paulinho da Viola. A edição do documentário, extremamente caprichada, costura o roteiro de tal forma que uma cena parece levar à outra. E muitos mistérios são revelados: os sambas inéditos de Manacéa (1921 - 1995), descobertos por Marisa Monte ao visitar a casa onde moram a filha e a viúva do compositor; a cultura machista perceptível nos depoimentos malandros dos sambistas sobre suas mulheres (as oficiais e as extra-oficiais) e a paradoxal força feminina, decisiva na propagação dos sambas compostos pela ala masculina ("As vozes que reinam nos terreiros são as das pastoras", contextualiza Monarco). Mas, como diz Paulinho da Viola, o mais importante não é explicar. O Mistério do Samba não persegue a idéia de explicar a Velha Guarda da Portela. Tampouco de documentar sua trajetória - embora informações biográficas e comportamentais sejam pinceladas ao longo da narrativa através das conversas informais de Marisa com Paulinho e com os integrantes do grupo.
Mais do que um documentário, O Mistério do Samba é um inventário afetivo dos sentimentos e vivências de artistas que, driblando as dificuldades do duro cotidiano, fazem e cultuam o samba mais nobre. Nisso reside o mistério. E o olhar afetivo de Marisa sobre estes artistas emociona pela riqueza do que é dito. E do que não é dito, mas transparece na tela. O Mistério do Samba repousa no mesmo alto nível de Buena Vista Social Club (1999) - o filme de Win Wenders sobre os astros da velha guarda de Cuba - pelo caráter profundo do que é visto e ouvido no escurinho do cinema. É imperdível: Vale repetir: já nasce clássico.
16 Comments:
"Explicar não é o mais importante", defende Paulinho da Viola em conversa com Marisa Monte sobre a feliz comunhão artística e espiritual observada nas reuniões dos veteranos sambistas da escola de samba Portela, uma das mais tradicionais do Carnaval carioca. O comentário de Paulinho é ouvido nos minutos finais de O Mistério do Samba e já absolve de qualquer eventual falha documental este belíssimo filme sobre a Velha Guarda da Portela que entra em cartaz nos cinemas brasileiros em 29 de agosto de 2008 e que consumiu dez anos de trabalho entre as primeiras pesquisas (iniciadas por Marisa em 1998 quando ela garimpava repertório para a produção de Tudo Azul, o CD da Velha Guarda da Portela que a cantora editou em 1999 por seu selo Phonomotor), a confecção do filme (viabilizado com o patrocínio da Natura) e o lançamento no circuito comercial. E nasce clássico!
Mais do que qualquer mistério, Marisa desvenda a poesia que se esconde nas faces e obras desses operários do samba. Muito é revelado através dos silêncios e das emoções estampadas, por exemplo, nos olhos marejados da pastora ao fim de Quantas Lágrimas, samba entoado por elas na companhia reverente de Marisa Monte, quase a capella, apenas com as palmas das mãos a marcar o ritmo deste clássico portelense. Já nas primeiras tomadas, quando ouve-se o samba Nascer e Florescer enquanto são projetadas imagens do bairro carioca de Oswaldo Cruz, sede da Portela, O Mistério do Samba se revela extremamente sensível na montagem do rico painel humano e artístico que compõe a história da Portela e de sua Velha Guarda - modelo para as de outras agremiações. Uma roda de samba captada em 2007 com os bambas - com a adição de Marisa e do simpatizante Zeca Pagodinho - ilustra na forma de samba o que é contado através dos depoimentos. Fotos de Paulo da Portela (1901 - 1949) e imagens extraídas do programa MPB Especial, exibido pela TV Cultura em 1975 ajudam a construir uma perspectiva histórica. E as histórias vão se sucedendo através dos depoimentos espontâneos dos veteranos bambas. "Se não houver tristeza, o samba não fica bonito", sentencia Casemiro da Cuíca. Sim, mas há também alegria quando o entrevistado é Argemiro do Patrocínio (1923 - 2203), maroto ao contar sua descoberta do significado da palavra copular. "Argemiro era safado", confirma Zeca Pagodinho.
Ao longo do filme, 57 sambas são apresentados em trechos, em off ou mesmo na íntegra - caso de Sofrimento de Quem Ama (Alberto Lonato), revivido por Marisa com Paulinho da Viola. A edição do documentário, extremamente caprichada, costura o roteiro de fal forma que uma cena parece levar à outra. E muitos mistérios são revelados: os sambas inéditos de Manacéa (1921 - 1995), descobertos por Marisa Monte ao visitar a casa onde moram a filha e a viúva do compositor; a cultura machista perceptível nos depoimentos malandros dos sambistas sobre suas mulheres (as oficiais e as extra-oficiais) e a paradoxal força feminina, decisiva na propagação dos sambas compostos pela ala masculina ("As vozes que reinam nos terreiros são as das pastoras", contextualiza Monarco). Mas, como diz Paulinho da Viola, o mais importante não é explicar. O Mistério do Samba não persegue a idéia de explicar a Velha Guarda da Portela. Tampouco de documentar sua trajetória - embora informações biográficas e comportamentais sejam pinceladas ao longo da narrativa através das conversas informais de Marisa com Paulinho e com os integrantes do grupo.
Mais do que um documentário, O Mistério do Samba é um inventário afetivo dos sentimentos e vivências de artistas que, driblando as dificuldades do duro cotidiano, fazem e cultuam o samba mais nobre. Nisso reside o mistério. E o olhar afetivo de Marisa sobre estes artistas emociona pela riqueza do que é dito. E do que não é dito, mas transparece na tela. O Mistério do Samba repousa no mesmo alto nível de Buena Vista Social Club (1999) - o filme de Win Wenders sobre os astros da velha guarda de Cuba - pelo caráter profundo do que é visto e ouvido no escurinho do cinema. É imperdível: Vale repetir: já nasce clássico.
marisa monte cinco estrelas always
Marisa estará nesta terça em SP para a pré-estréia do filme, seguido de um debate com a participação da cantora e do diretor.
marisa é única. artista completa. pequisadora, gosto indiscutível, elegante.
Argemiro do Patrocínio (1923 - 2203)
Mauro o ano deve ser 2003 e não 2203.
Salve a Portela, celeiro de grandes bambas.
Glauber 97
rosemberg
esse documentário chega no momento certo, afinal, o ano de 2008 nos levou dercy, jamelão, zelia gatai, geraldo casé e agora dorival.
grandes brasileiros que contruiram suas obras com talento e verdade.
parabens a marisa monte, por valorizar esse povo portelense.
memoria_pele@hotmail.com
Não se pode confiar no Mauro. Quando o assunto é Marisa Monte, Bethânia e Roberta Sá ele sempre é parcial.
Tem que ver.
Onde encontro este DVD?
Me avisem!
mapl.lins@gmail.com
Dr. Marcio Lins
California - EUA
Tô doido pra ver. Me amarro em documentários ( principalmente sobre musica ... ) e tenho o mesmo discurso que Zeca Pagodinho : Mais do que Portela, eu sou Velha Guarda!
Acho que ninguém, que não é sambista de fato, fez tanto pelo ritmo quanto Marisa Monte.
Um trabalho realmente belo, nota-se que ela faz com paixão verdadeira.
O samba é mágico, vc ouve um samba triste e não fica tristonho, pelo contrário, fica alegre e com leveza por sua beleza.
Já dizia Mano Caetano em um dos mais belos sambas da história: A tristeza é senhora desde de que o samba é samba é assim...
Jose Henrique
nao esta em DVd ainda nao..ainda esta no circuito comercial...
"...costura o roteiro de fal forma..."
só eu reparei nesse FAL?
Putz, neguinho(a) se importar com uma besteira dessas(fal forma).
Só pode ser falta do que fazer, aconselho carregar pedra nas costas. :>)
PS: Ainda bem que Marisa fez esse filme, a velha guarda da Portela(nem nenhuma)não tem gente pra reposição à altura dos que se foram. Quando Monarco zarpar, já era.
Jose Henrique
Mauro, me perdoa, mas você é muito superficial e raso. O filme nada mais é do que uma maneira pretenciosa de Marisa Monte se revelar com a descobridora do "Mistério do Samba". Seja mais imparcial, ok.
Sublime.
E Marisa cada dia mais certa do que faz e fazendo cada vez melhor.
Adoro documentários,aliás é o único gênero de cinema que eu gosto.
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