16 de maio de 2007

'Biograffiti' expõe músicas e mutações de Rita

Resenha de DVDs
Título: Biograffiti
(Ovelha Negra, Baila Comigo e Cor de Rosa Choque)
Artista: Rita Lee
Gravadora: Biscoito Fino
Cotação: * * *

Como mutante, mas no fundo nem sempre sozinha, Rita Lee seguiu seu caminho. Prestes a completar 60 anos, em 31 de dezembro de 2007, a roqueira faz o primeiro balanço público de vida na caixa de DVDs Biograffiti, que abrange três documentários - Ovelha Negra, Baila Comigo e Cor de Rosa Choque - embalados graciosa e luxuosamente pela gravadora Biscoito Fino nos moldes das caixas da série de TV Chico Buarque. O diretor - inclusive - é o mesmo Roberto de Oliveira, que conduz Rita nesta viagem através de suas memórias. Também vendidos separadamente, os DVDs mostram, cada um, uma música inédita. Apesar da gordura da narrativa (os três documentários poderiam ter sido condensados em um único alentado filme sem prejuízo de música e informação), Biograffiti é o melhor painel já montado sobre a vida e a obra dessa roqueira que adora andar na contramão. Eis a síntese crítica da Biograffiti:

Ovelha Negra
O primeiro DVD é o de caráter mais biográfico. “Eu gosto de remar contra a maré, de desacatar a autoridade...”, adverte Rita logo na abertura, antes de fazer boa viagem pela São Paulo afetiva de seus tempos de menina sapeca. Entre descrições dos pais e lembranças das travessuras do Instituto Pasteur, que visita de carro numa das seqüências mais interessantes, a roqueira cita os primeiros ídolos (James Dean e Carmen Miranda) e rememora o início na música, como integrante do Teenage Singers, quarteto feminino formado nos tempos de escola. Pois foi a histórica junção das Teenage com os Wooden Faces que gerou o grupo Os Bruxos - ou melhor - Os Mutantes, como foi batizado por ninguém menos do que Ronnie Von. Aliás, uma das imagens mais raras do DVD é a apresentação dos Mutantes em programa de TV, tocando Panis et Circensis. Na entrevista, costurada com números de show gravado em Limeira (SP) em maio de 2006, Rita atribui (boa) parte da criatividade de Arnaldo e Sérgio Dias Baptista a um terceiro irmão, Cláudio Cezar. "Ele era capaz de criar instrumentos que reproduzissem qualquer som de qualquer disco que a gente levasse para ele”, testemunha. Depois de Rita remoer mais uma vez a mágoa de ter sido expulsa dos Mutantes, entra em cena o Tutti Frutti. Dois números raros de Rita Lee com o grupo, Pé de Meia e Mamãe Natureza, valorizam a parte de arquivo. Já entre as imagens atuais, o destaque é o dueto com Caetano Veloso em Eu Sou Terrível, o rock da Jovem Guarda. E, deixando claro que seu tempo é hoje, a cantora apresenta num clipe de estúdio a inédita Eu Sou do Tempo, tema que persegue o balanço carioca e relaciona na letra ícones e símbolos do passado (como Nara Leão e a Rádio Nacional) para chegar no futuro, alvo da Ovelha Negra, rebelde por natureza. Rita é de vários tempos...

Baila Comigo
O segundo DVD foca no processo criativo da artista, capturando, inclusive, suposto momento de composição de Dinheiro, a inédita música pop apresentada no vídeo. A costura do roteiro é urdida com números do show feito pela cantora na Praia de Copacabana (RJ) em janeiro de 2007. “Eu entro no palco e fico metida à besta, sem vergonha”, assume. Sem meias palavras, Rita Lee conta como nasceu a paixão avassaladora entre ela e Roberto de Carvalho. Um dos frutos foi Mania de Você, composta após uma transa especial. “Em cinco minutos, a gente fez a trilha sonora daquela cama que a gente tinha acabado de fazer. Psicografia perde”, debocha. Dentre as raridades de arquivo, o DVD rebobina o encontro de Rita e João Gilberto em especial exibido pela Rede Globo. A convite do papa da bossa, que se encantara justamente com Mania de Você, Rita se uniu a ele para interpretar Joujoux & Balangandãs, de Lamartine Babo. Depois de revelar que compor é um vício, a ovelha negra conta que fez suas melhores músicas (“e as piores também...”) sob efeito de drogas. Mas jura que já se libertou deste vício (as drogas, não a música) há dez anos. “Não sou Madalena arrependida, mas tô a fim de mudar o filme”. E o filme de fato muda de tom quando a paulista branquela entoa a Valsa de uma Cidade (1954) e declara (simbolicamente) amor ao Rio de Janeiro, fiel à natureza mutante.


Cor de Rosa Choque
“Rock também tem ovários e útero”, sentencia a roqueira de Pagu (reapresentada em número de estúdio) e de Todas as Mulheres do Mundo numa das primeiras seqüências do terceiro DVD. É o filme de narrativa mais gordurosa. O foco é a feminilidade na música da compositora de Luz del Fuego, rebobinada em histórico take do Acústico MTV de 1998 que uniu Rita Lee a Cássia Eller. “A ovelha negra dos últimos tempos foi Cássia Eller. Ela peitou”, avaliza titia, quase sessentona. Que se transforma em avó coruja nas cenas em que paparica a neta Izabelle. E logo reassume a inquietude típica ao apresentar o rock Tão, de letra desaforada endereçada a uma destinatária mantida em sigilo. É, Rita Lee adora a sua fama de má.

7 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Rita é rock na veia, no útero, em todo lugar... Uma das poucas que não faz tipo. Até faz, mas é pra divertir a molecada

16 de maio de 2007 às 20:42  
Anonymous Anônimo said...

Uma das, infelizmente, poucas artistas coerentes desse país. Sou fã!

16 de maio de 2007 às 23:24  
Anonymous Anônimo said...

Rita é tudo!!
Mudando de assunto,e agora Marcelo(DF) que a sua Maria te trocou pelo Ronaldinho o fenômeno ?

17 de maio de 2007 às 05:28  
Anonymous Anônimo said...

Está a cara da Endora.

17 de maio de 2007 às 10:12  
Anonymous Anônimo said...

Sério, Mauro, que dava pra condensar 3 em 1? Li que ainda sairão novos dvd's do Roberto de Oliveira sobre a Rita... Cê acha que ainda rende mais um box?

Anderson Falcão.

Brasília - DF

17 de maio de 2007 às 16:05  
Anonymous Anônimo said...

Rita Lee fez o som de minha adolescência. Estas coisas a gente não esquece. E seu último CD de dois ou três anos atrás tem um puta vigor, comprovando o talento da titia.
Ela merece ter sua obra no mercado. E eu aguardo seu próximo cd de inéditas.

17 de maio de 2007 às 17:10  
Anonymous Anônimo said...

a discografia solo de Rita é incoerente!

dos anos 80 então!

17 de maio de 2007 às 21:33  

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