14 de junho de 2010

Em cena, cabaré estiloso de Pethit soa uniforme

Resenha de Show
Título: Berlim, Texas
Artista: Thiago Pethit (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Cinemathèque (RJ)
Data: 13 de junho de 2010
Cotação: * * *

Cultuado na cena indie paulista como um dos mais promissores cantores e compositores da geração projetada na segunda metade dos anos 2000, Thiago Pethit faz sua viagem interior a bordo de repertório autoral ambientado em cabaré de primeira classe. Sucessor do EP Em Outro Lugar (2008), seu primeiro álbum - Berlim, Texas, editado em março deste ano de 2010 - destila fina melancolia que, no palco, se dilui um pouco. Em cena, o chic cabaré de Pethit peca por uniformidade limitadora. A ponto de um sucesso de Lady Gaga - Bad Romance, cantado pelo intérprete ao piano - ficar com a mesma cara musical de um hit da KC and the Sunshine Band, Please Don't Go, rotulada por Pethit como "música de Santo Antônio bastante contemporânea" em alusão viajante ao dia do santo casamenteiro, 13 de junho, data do show apresentado pelo artista na casa carioca Cinemathèque em fria noite dominical.

Please Don't Go foi cantada no bis do terceiro show do rapaz no Rio de Janeiro (RJ), antes de ele repetir Mapa-Múndi, uma das canções mais bonitas e melodiosas de seu primeiro álbum. Ao bisar Mapa-Múndi, já mais solto em cena, Pethit reiterou a beleza delicada de seu canto, deixando boa impressão ao sair do palco. Ator que se transmutou em cantor, Pethit afoga mágoas num tom de delicadeza romântica que remete ao som folk de Tiê, sua prima-irmã musical. Foi Tiê, aliás, que deu o apelido Pethit, incorporado ao nome artístico do cantor batizado Thiago Fidanza Corrêa da Silva. Nítidas no CD produzido por Yury Kalil (do grupo Cidadão Instigado), as semelhanças entre um e outro se dissipam no show.

Ao traçar sua rota musical a partir do cruzamento da delicadeza do folk com a teatralidade urbana do cabaré, Pethit faz o ouvinte embarcar em sua viagem, sob a condução de versos tristonhos. "Nos meus sonhos, eu fujo / Faço as malas e sumo", avisa já nos versos iniciais de Fuga nº 1. O destino incerto pode ser qualquer lugar onde esteja o ser amado ausente. "Por onde é que andarás?", pergunta, mais de uma vez, na letra de Forasteiro, bela parceria com Hélio Flanders, do grupo Vanguart. Tanto no disco como no show, Forasteiro se destaca na safra autoral poliglota. Sim, além de cantar em português, Pethit também exala sua melancolia em inglês e em francês. Voix de Ville, a propósito, é um dos números que mais bem traduz o clima de cabaré do show - no caso, urdido pelo toque do piano de Camila Lord, que se reveza nos teclados e no acordeom. Já Nightwalker ganha peso no show pela pressão do arranjo que evidencia o entrosamento do trio que acompanhou Pethit em sua incursão pela cena carioca e que, além de Camila Lord, inclui o violonista Pedro Pêra e o baterista Guga Machado. Ao apresentar roteiro que alinha música de seu EP de 2008 (Essa Canção Francesa) e belo tema em inglês do primeiro CD (Sweet Funny Melody), Thiago Pethit deixa marcada forte personalidade musical no seu confessional "cabarezinho", como o cantor chamou carinhosamente em cena a minúscula casa Cinemathèque. Mas, se a personagem teatralizada é forte, o som do moço é de fino trato...

6 Comments:

Blogger Mauro Ferreira said...

Cultuado na cena indie paulista como um dos mais promissores cantores e compositores da geração projetada na segunda metade dos anos 2000, Thiago Pethit faz sua viagem interior a bordo de repertório autoral ambientado em cabaré de primeira classe. Sucessor do EP Em Outro Lugar (2008), seu primeiro álbum - Berlim, Texas, editado em março deste ano de 2010 - destila fina melancolia que, no palco, se dilui um pouco. Em cena, o chic cabaré de Pethit peca por uniformidade excessiva. A ponto de um sucesso de Lady Gaga - Bad Romance, cantado pelo intérprete ao piano - ficar com a mesma cara musical de um hit da KC and the Sunshine Band, Please Don't Go, rotulada por Pethit como "música de Santo Antônio bastante contemporânea" em alusão viajante ao dia do santo casamenteiro, 13 de junho, data do show apresentado pelo artista na casa carioca Cinemathèque em fria noite dominical.

Please Don't Go foi cantada no bis do terceiro show do rapaz no Rio de Janeiro (RJ), antes de ele repetir Mapa-Múndi, uma das canções mais bonitas e melodiosas de seu primeiro álbum. Ao bisar Mapa-Múndi, já mais solto em cena, Pethit reiterou a beleza delicada de seu canto, deixando boa impressão ao sair do palco. Ator que se transmutou em cantor, Pethit afoga mágoas num tom de delicadeza romântica que remete ao som folk de Tiê, sua prima-irmã musical. Foi Tiê, aliás, que deu o apelido Pethit, incorporado ao nome artístico do cantor batizado Thiago Fidanza Corrêa da Silva. Nítidas no CD produzido por Yury Kalil (do grupo Cidadão Instigado), as semelhanças entre um e outro se dissipam no show.

Ao traçar sua rota musical a partir do cruzamento da delicadeza do folk com a teatralidade urbana do cabaré, Pethit faz o ouvinte embarcar em sua viagem, sob a condução de versos tristonhos. "Nos meus sonhos, eu fujo / Faço as malas e sumo", avisa já nos versos iniciais de Fuga nº 1. O destino incerto pode ser qualquer lugar onde esteja o ser amado ausente. "Por onde é que andarás?", pergunta, mais de uma vez, na letra de Forasteiro, bela parceria com Hélio Flanders, do grupo Vanguart. Tanto no disco como no show, Forasteiro se destaca da safra autoral poliglota. Sim, além de cantar em português, Pethit também destila melancolia em inglês e em francês. Voix de Ville, a propósito, é um dos números que mais bem traduz o clima de cabaré do show - no caso, urdido pelo toque do piano de Camila Lord, que se reveza nos teclados e no acordeom. Já Nightwalker ganha peso no show pela pressão do arranjo que evidencia o entrosamento do trio que acompanhou Pethit em sua incursão pela cena carioca e que, além de Camila Lord, inclui o violonista Pedro Pêra e o baterista Guga Machado. Ao apresentar roteiro que alinha música de seu EP de 2008 (Essa Canção Francesa) e belo tema em inglês do primeiro CD (Sweet Funny Melody), Thiago Pethit deixa marcada forte personalidade musical no seu confessional "cabarezinho", como o cantor chamou carinhosamente em cena a minúscula casa Cinemathèque. Mas, se a personagem teatralizada é forte, o som do moço é de fino trato...

14 de junho de 2010 às 00:59  
Blogger Denilson Santos said...

Bela foto, hein, Mauro?

Parabéns por mais esse seu talento.

abração,
Denilson Santos

14 de junho de 2010 às 11:53  
Blogger CN said...

Mauro, assisti ao Thiago recentemente em SP e ele me chamou bastante a atenção. Tem algo de Rufus, Cida Moreira, Tom Waits, Nina Simone, bebe na fonte de Leonard Cohen, mas com tanta doçura e despretensão que acaba sendo ele mesmo. Há muito para crescer, como todos os que estão nesta caminhada, mas já tem cara própria e o que dizer. E o recado é belo, suave. Envolve. E isso é o mais que importa e será isso o que vai realmente permanecer.Sou-lhe fã.
Que bom que você está prestigiando o seu trabalho. Carlos Navas

14 de junho de 2010 às 18:15  
Blogger Vitor said...

vi uns videos no youtube e achei "delicado" demais

15 de junho de 2010 às 00:23  
Anonymous Felipe said...

Pethit é muito talentoso, como cantor e compositor. Seu disco "Berlim, Texas" é suave e forte ao mesmo tempo, as composições muito inspiradas e a voz, ah, como me agrada. Espero um dia poder assistir ao vivo.

15 de junho de 2010 às 00:26  
Blogger Unknown said...

Fiquei curioso em ouvi-lo, vou baixar o disco dele no blog "Um que tenha"

E qual o problema em ser delicado?

"O que eu quero contar é tão delicado quanto a própria vida."
(Clarice Lispector)

15 de junho de 2010 às 14:01  

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