11 de março de 2009

Amores e canções à moda da Broadway dos 70

Resenha de Musical
Título: Esta é a Nossa Canção
Texto: Neil Simon (em tradução de Tadeu Aguiar)
Música: Marvin Hamlisch
Letras: Carole Bayer Sager (em versões de Flávio Marinho)
Direção: Charles Randolph-Wright
Coreografias: Ken Roberson
Elenco: Amanda Costa, Tadeu Aguiar e outros
Foto: Divulgação / Brasílio Wille
Cotação: * * * 1/2
Em cartaz desde 4 de março de 2009 no Teatro Maison
de France (RJ), de quarta-feira a domingo. R$ 60 a 100

Despido dos números musicais e das coreografias, o espetáculo Esta É a Nossa Canção poderia passar por uma das várias comédias românticas que rotineiramente ocupam os palcos do Rio de Janeiro (RJ). Mas há a música e essa música - a rigor, a personagem principal - dá significado especial ao texto de Neil Simon, encenado pela primeira vez no Brasil 30 anos depois de fazer sucesso na Broadway, onde estreou em 11 de fevereiro de 1979. O musical expõe os (des)encontros de um compositor de sucesso, Vernon Gersh (Tadeu Aguiar, produtor do espetáculo), com uma letrista em início de carreira, Sonia Walsk (Amanda Costa). Ao longo de quase duas horas, o espectador vê um musical fincado nos cânones da Broadway. O norte-americano Charles Randolph-Wright foi convocado para dirigir a correta encenação brasileira à moda da produção norte-americana e o resultado é um musical romântico e agradável, vocacionado para as senhoras que predominam nas platéias conservadoras dos teatros cariocas.

Como intérprete de musicais, Amanda Costa confirma o talento festejado na recente montagem paulista de My Fair Lady. Como cantora, ela soa meio desconfortável no seu primeiro solo, Se Ele me Enxergasse (If he Really Knew Me , na versão de Flávio Marinho), mas logo se impõe. Mais adiante, já senhora da cena, Amanda dispara toda sua artilharia vocal em canções como Just for Tonight (Por Hoje Só) e I Still Believe in Love (Mesmo Assim Eu Sou Feliz). Este número evidencia o caráter melodramático das letras de Carole Bayer Sager, geralmente vertidas com fluência para o português pelo experiente Flávio Marinho (para quem não liga a letrista aos seus versos, Sager é hitmaker veterana na indústria fonográfica dos EUA, tendo fornecido repertório meloso para intérpretes como Barbra Streisand, Dionne Warwick e Celine Dion, entre outros). Autor das melodias, Marvin Hamlisch exibe especial inspiração na música que dá nome ao musical - They're Playing our Song, no título original em inglês - sem reeditar o brilhantismo de seu trabalho mais celebrado na Broadway, A Chorus Line. Esta É a Nossa Canção não é um musical de grandes canções avulsas. É o conjunto da obra que faz com que o espetáculo, no todo, resulte atraente. Inclusive as tiradas ácidas dos diálogos de Neil Simon. O humor não se esvai na boa tradução.

Embora seja cantor de recursos vocais mais modestos do que os de Amanda Costa, limitação evidenciada em seus solos, Tadeu Aguiar está totalmente à vontade em cena como o compositor sedutor que se vê envolvido pela espontânea letrista com quem começa a trabalhar e, aos poucos, a se envolver afetivamente no vaivém típico das comédias românticas. E, se o romance soa movimentado em cena, o mérito é das coreografias de Ken Roberson, que explora bem a entrada em cena dos alter-egos de Vernon e Sonia. Cada qual tem quatro alter-egos que entram cena para garantir a vibração dos números coletivos como Só Ralação (Workin' It Out) e Ao te Abraçar (When You're in my Arms). A caracterização e as coreografias do elenco no número do restaurante são especialmente sedutoras, embora as referências do espetáculo (inclusive as visuais) aos anos 70 - década marcada pela explosão da disco music - delimitam a ação a um tempo específico que, no entender de alguns espectadores, pode dar ao musical um ar datado. Como os desencontros amorosos que fazem a trama avançar são atemporais, a suposta deficiência adquire peso insignificante no conjunto. E, acima de datas, vale ressaltar a segurança de Liliane Secco na direção musical e na condução da banda estrategicamente posicionada em cima da réplica de uma ponte erguida ao fundo do sobre-palco giratório posto no Maison de France. A execução do tema instrumental apresentado entre os dois atos é especialmente envolvente. Enfim, bem temperado com humor e romance, o musical Esta É a Nossa Canção cumpre bem sua função de entreter sem que chegue - de fato - a arrebatar.

4 Comments:

Blogger Mauro Ferreira said...

Despido dos números musicais e das coreografias, o espetáculo Esta É a Nossa Canção poderia passar por uma das várias comédias românticas que rotineiramente ocupam os palcos do Rio de Janeiro (RJ). Mas há a música e essa música - a rigor, a personagem principal - dá significado especial ao texto de Neil Simon, encenado pela primeira vez no Brasil 30 anos depois de fazer sucesso na Broadway, onde estreou em 11 de fevereiro de 1979. O musical expõe os (des)encontros de um compositor de sucesso, Vernon Gersh (Tadeu Aguiar, produtor do espetáculo), com uma letrista em início de carreira, Sonia Walsk (Amanda Costa). Ao longo de quase duas horas, o espectador vê um musical fincado nos cânones da Broadway. O norte-americano Charles Randolph-Wright foi convocado para dirigir a correta encenação brasileira à moda da produção norte-americana e o resultado é um musical romântico e agradável, vocacionado para as senhoras que predominam nas platéias conservadoras dos teatros cariocas.

Como intérprete de musicais, Amanda Costa confirma o talento festejado na recente montagem paulista de My Fair Lady. Como cantora, ela soa meio desconfortável no seu primeiro solo, Se Ele me Enxergasse (If he Really Knew Me , na versão de Flávio Marinho), mas logo se impõe. Mais adiante, já senhora da cena, Amanda dispara toda sua artilharia vocal em canções como Just for Tonight (Por Hoje Só) e I Still Believe in Love (Mesmo Assim Eu Sou Feliz). Este número evidencia o caráter melodramático das letras de Carole Bayer Sager, geralmente vertidas com fluência para o português pelo experiente Flávio Marinho (para quem não liga a letrista aos seus versos, Sager é hitmaker veterana na indústria fonográfica dos EUA, tendo fornecido repertório meloso para intérpretes como Barbra Streisand, Dionne Warwick e Celine Dion, entre outros). Autor das melodias, Marvin Hamlisch exibe especial inspiração na música que dá nome ao musical - They're Playing our Song, no título original em inglês - sem reeditar o brilhantismo de seu trabalho mais famoso na Broadway, A Chorus Line. Esta É a Nossa Canção não é um musical de grandes canções avulsas. É o conjunto da obra que faz com que o espetáculo, no todo, resulte atraente. Inclusive as tiradas ácidas dos diálogos de Neil Simon. O humor não se esvai na boa tradução.

Embora seja cantor de recursos vocais mais modestos do que os de Amanda Costa, limitação evidenciada em seus solos, Tadeu Aguiar está totalmente à vontade em cena como o compositor sedutor que se vê envolvido pela espontânea letrista com quem começa a trabalhar e, aos poucos, a se envolver afetivamente no vaivém típico das comédias românticas. E, se o romance soa movimentado em cena, o mérito é das coreografias de Ken Roberson, que explora bem a entrada em cena dos alter-egos de Vernon e Sonia. Cada qual tem quatro alter-egos que entram cena para garantir a vibração dos números coletivos como Só Ralação (Workin' It Out) e Ao te Abraçar (When You're in my Arms). A caracterização e as coreografias do elenco no número do restaurante são especialmente sedutoras, embora as referências do espetáculo (inclusive as visuais) aos anos 70 - década marcada pela explosão da disco music - delimitam a ação a um tempo específico que, no entender de alguns espectadores, pode dar ao musical um ar datado. Como os desencontros amorosos que fazem a trama avançar são atemporais, a suposta deficiência adquire peso insignificante no conjunto. E, acima de datas, vale ressaltar a segurança de Liliane Secco na direção musical e na condução da banda estrategicamente posicionada em cima da réplica de uma ponte erguida ao fundo do sobre-palco giratório posto no Maison de France. A execução do tema instrumental apresentado entre os dois atos é especialmente envolvente. Enfim, temperado com humor e romance, o musical Esta É a Nossa Canção cumpre bem sua função de entreter sem que chegue - de fato - a arrebatar.

11 de março de 2009 às 10:32  
Anonymous Anônimo said...

Oi Mauro!
tudo bem? Cara, suas resenhas são muito boas...acabei de descobrir seu blog.
Bom, lhe escrevo também porque sou o guitarrista do Instiga..uma banda de Campinas, que ja tem 3 álbuns.Estamos divulgado o último chamado "Tenho uma banda" ( vc pode baixa-lo e escutar no nosso site o www.instiga.com )
Deixo também um link para o nosso clipe que estréia esta semana na Mtv.
Grande abraço!
siga firme
Chris
http://www.youtube.com/watch?v=9Fq7bEemJDo

11 de março de 2009 às 11:55  
Anonymous Anônimo said...

Mauro, você teima em ficar falando nas suas críticas que os cantores 'naõ tem vozes talhadas para o canto' ou que nao tem 'recursos vocais'. Cara, isso é uma questão de ponto de vista. Chet Baker tinha 'recursos vocais'? não, não tinha e pra mim suas interpretações sempre estiveram entre oque há de melhor em música. sou de Porto Alegre, acho difícil que veja esse musical, de que nunca tinha ouvido falar, mas me incomdou profundamente essa sua postura. e já vem de algum tempo.

11 de março de 2009 às 17:36  
Anonymous Anônimo said...

Sérgio, para fazer teatro musical é preciso ter recursos vocais, mesmo com os microfones.

E não vejo por aí ninguém com o talento do Chet Baker para poder dar o caô da falta de recursos vocais.

11 de março de 2009 às 22:38  

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