24 de fevereiro de 2009

Tocante, 'Contratempo' foca mundo dissonante

Resenha de Filme
Título: Contratempo
Gênero: Documentário
Direção: Malu Mader
e Mini Kerti
Cotação: * * * *
Em cartaz nos cinemas

Em exibição regular desde 13 de fevereiro de 2009 nos cinemas do Brasil, após ter estreado em alguns festivais em 2008, Contratempo é documentário tocante cuja importância extrapola o fato - já devidamente explorado além da conta pela mídia - de marcar a afinada estréia da atriz Malu Mader na direção cinematográfica. Em parceria com Mini Kerti, da Conspiração Filmes, Mader concebeu um documentário de estrutura bastante convencional que narra as vitórias, as superações e, sim, os contratempos de jovens oriundos do mundo às vezes dissonante das comunidades carentes em busca de uma chance no universo da música erudita. Daí o engenhoso título de duplo sentido que não significa somente os tempos fracos de um compasso. Contratempo, no caso das personagens enfocadas no filme, pode ser a luta inglória contra as drogas (como no caso de Thiago, a quem o filme é dedicado pelo fim trágico e precoce de sua vida, interrompida em 2007 quando o percussionista aprendiz foi assassinado no Morro do Juramento, situado na Zona Norte do Rio de Janeiro) ou o sacríficio para equilibrar o emprego com a dedicação ao instrumento (casos dos gêmeos Wagner e Walter, ambos estudando atualmente no exterior). O foco repousa nos jovens carentes recrutados para o Projeto Villa-Lobinhos, que congrega jovens de outros projetos que estimulam a educação da música clássica através do aprendizado de um instrumento. As diretoras acompanharam um grupo desses jovens ao longo de 2006. Não há depoimentos de professores. O filme somente dá voz aos jovens e, em alguns casos, aos seus familiares. Como a mãe do aluno Ramón. Ela narra o sacríficio de adquirir o violão pedido pelo filho depois que ele desistiu de tocar flauta. Há cenas tocantes como o depoimento da jovem (Marcela) que se agarrou ao violoncelo para superar a perda do irmão e, aos poucos, se reintegrar ao mundo. Mas há cenas em que o bom-humor dá o tom - como nos flagrantes dos gêmeos Wagner e Walter pelas ruas de Nova York (EUA), para onde foram participar de um concerto. Musicalmente, a propósito, o roteiro entrelaça temas eruditos e populares. Até porque nem todos os jovens trilham o caminho da música clássica. Alguns nem mesmo seguem na vida musical. Na cena final, por exemplo, Contratempo informa que Serizak trocou o cavaquinho pela profissão de office-boy. No todo, o filme mantém o interesse do espectador porque costura boas histórias sem fazer juízo moral dos (des)caminhos dos jovens enfocados. As diretoras nunca carregam a mão no drama. Contudo, tampouco enfatizam finais felizes, mostrando a vida como ela é, com todas as (des)afinações - e as possíveis modulações da injusta escala social.

2 Comments:

Blogger Mauro Ferreira said...

Em exibição regular desde 13 de fevereiro de 2009 nos cinemas do Brasil, após ter estreado em alguns festivais em 2008, Contratempo é documentário tocante cuja importância extrapola o fato - já devidamente explorado além da conta pela mídia - de marcar a afinada estréia da atriz Malu Mader na direção cinematográfica. Em parceria com Mini Kerti, da Conspiração Filmes, Mader concebeu um documentário de estrutura bastante convencional que narra as vitórias, as superações e, sim, os contratempos de jovens oriundos do mundo às vezes dissonante das comunidades carentes em busca de uma chance no universo da música erudita. Daí o engenhoso título de duplo sentido que não significa somente os tempos fracos de um compasso. Contratempo, no caso das personagens enfocadas no filme, pode ser a luta inglória contra as drogas (como no caso de Thiago, a quem o filme é dedicado pelo fim trágico e precoce de sua vida, interrompida em 2007 quando o percussionista aprendiz foi assassinado no Morro do Juramento, situado na Zona Norte do Rio de Janeiro) ou o sacríficio para equilibrar o emprego com a dedicação ao instrumento (casos dos gêmeos Wagner e Walter, ambos estudando atualmente no exterior). O foco repousa nos jovens carentes recrutados para o Projeto Villa-Lobinhos, que congrega jovens de outros projetos que estimulam a educação da música clássica através do aprendizado de um instrumento. As diretoras acompanharam um grupo desses jovens ao longo de 2006. Não há depoimentos de professores. O filme somente dá voz aos jovens e, em alguns casos, aos seus familiares. Como a mãe do aluno Ramón. Ela narra o sacríficio de adquirir o violão pedido pelo filho depois que ele desistiu de tocar flauta. Há cenas tocantes como o depoimento da jovem (Marcela) que se agarrou ao violoncelo para superar a perda do irmão e, aos poucos, se reintegrar ao mundo. Mas há cenas em que o bom-humor dá o tom - como nos flagrantes dos gêmeos Wagner e Walter pelas ruas de Nova York (EUA), para onde foram participar de um concerto. Musicalmente, a propósito, o roteiro entrelaça temas eruditos e populares. Até porque nem todos os jovens trilham o caminho da música clássica. Alguns nem mesmo seguem na vida musical. Na cena final, por exemplo, Contratempo informa que Serizak trocou o cavaquinho pela profissão de office-boy. No todo, o filme mantém o interesse do espectador porque costura boas histórias sem fazer juízo moral dos (des)caminhos dos jovens enfocados. As diretoras nunca carregam a mão no drama. Contudo, tampouco enfatizam finais felizes, mostrando a vida como ela é, com todas as (des)afinações e as possíveis modulações da injusta escala social...

24 de fevereiro de 2009 às 21:41  
Anonymous Anônimo said...

Puxa Mauro, uma das coisas mais bacanas de assistir esse filme é acompanhar a história dos meninos sem saber o que vai acontecer.
Daí você vem e conta que um foi assassinado - um soco no estômago para quem está acompanhando a história -, que os gêmeos foram para o exterior, e fala até do final.
Ah, tenha paciência, né?
Marcelo

25 de fevereiro de 2009 às 10:55  

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