22 de fevereiro de 2009

Sabino tira o passado a limpo sem novo sentido

Resenha de CD/DVD
Título: Que Nega
É Essa
Artista: Verônica
Sabino
Gravadora: MP,B
Discos / Universal
Music
Cotação: * * *

Em carreira solo desde 1985, ano em que lançou o LP Metamorfose, a boa cantora Verônica Sabino apresentou alguns álbuns antenados que não lhe deram o devido status no mercado fonográfico. Novo Sentido (1997), flerte com o pop londrino produzido por Celso Fonseca, foi o melhor deles. Que Nega É Essa, nono título de sua discografia, é um registro do show feito no estúdio 24p, no Rio de Janeiro (RJ), em 30 de março de 2008. Quase um ano depois de sua captação, a gravação ao vivo chega às lojas nos formatos de CD e DVD (o primeiro da artista). Sob produção do violonista Sérgio Chiavazzoli, cercada de virtuoses como o percussionista Marcos Suzano e o pianista Marcelo Caldi, a cantora tira seu passado a limpo - exatamente como fez na coletânea editada em 1999 - em roteiro assinado pelo jornalista Tárik de Souza. Há inéditas autorais - como Túnel do Tempo e Blues em Braille, parceria inaugural de Sabino com Zeca Baleiro - e novidades na voz afinada da intérprete (entre elas, o samba-canção Saia do Caminho, de Custódio Mesquita e Evaldo Ruy). Contudo, o material novo não dilui o caráter retrospectivo da gravação e tampouco consegue apontar um novo sentido ou conceito na obra fonográfica da artista - como fizeram títulos anteriores como Vênus (1995), álbum de alma feminina do qual Sabino rebobina uma jóia desconhecida de Adriana Calcanhotto, Tardes. Ao contrário, parece haver uma ausência de sentido na condução do show, aberto com a música-título, Que Nega É Essa? (com a interrogação intencionalmente suprimida no título de tom afirmativo do CD/DVD), faixa em que Sabino e banda perseguem o suingue personalíssimo de Jorge Ben Jor. Entre temas divididos com os convidados Rodrigo Maranhão (voz e cavaquinho no baião Rosa que me Encanta, da lavra de Maranhão com Pedro Luís) e Vítor Ramil (voz em Longe de Você), a cantora intercala músicas autorais como Agora, faixa-título do último álbum de Verônica, editado em 2002. Em Agora, a compositora ainda titubeante mostra que a veia pop está dilatada em sua obra autoral, numa pulsação que evoca o estilo de Paula Toller. E certamente não é por acaso que uma balada do repertório do Kid Abelha, Lágrimas e Chuva (de Leoni, Bruno Fortunato e George Israel - e não Jorge Israel, como creditado desatentamente no encarte do DVD), tem sua melancolia realçada pela interpretação de Sabino, mais sutil do que o registro roqueiro do Kid. Com similar teor melancólico, e imagens em preto e branco, Rindo de mim (Maysa) é apresentada como uma vinheta que introduz Lua Branca (Chiquinha Gonzaga), iluminada em clima seresteiro, com destaque para o bandolim tocado por Chiavazzoli. Da mesma forma que o piano de Marcelo Caldi pontua Peito Vazio (Cartola e Elton Medeiros) e dueta com a voz de Sabino em Todo Sentimento (Chico Buarque e Cristóvão Bastos), propagada na voz da cantora em 1988 na trilha sonora nacional da novela Vale Tudo. Em latitude diversa, Invento reafirma o talento do compositor Vitor Ramil, só que, para quem viu a interpretação de Ney Matogrosso no show Beijo Bandido, o bom registro de Sabino não alcança o pico de sedução atingido pelo cantor. Nos extras, há faixa-bônus, A Moeda de um Lado Só, de Moska. Exemplo de que as antenas de Verônica Sabino captam há anos as melhores novidades da música brasileira. Urge um CD de inéditas que confira novo sentido à trajetória da artista, cujo caráter mutante foi alardeado já no título do primeiro disco solo...

18 Comments:

Blogger Mauro Ferreira said...

Em carreira solo desde 1985, ano em que lançou o LP Metamorfose, a boa cantora Verônica Sabino apresentou alguns álbuns antenados que não lhe deram o devido status no mercado fonográfico. Novo Sentido (1997), flerte com o pop londrino produzido por Celso Fonseca, foi o melhor deles. Que Nega É Essa, nono título de sua discografia, é um registro do show feito no estúdio 24p, no Rio de Janeiro (RJ), em 30 de março de 2008. Quase um ano depois de sua captação, a gravação ao vivo chega às lojas nos formatos de CD e DVD (o primeiro da artista). Sob produção do violonista Sérgio Chiavazzoli, cercada de virtuoses como o percussionista Marcos Suzano e o pianista Marcelo Caldi, a cantora tira seu passado a limpo - exatamente como fez na coletânea editada em 1999 - em roteiro assinado pelo jornalista Tárik de Souza. Há inéditas autorais - como Túnel do Tempo e Blues em Braille, parceria inaugural de Sabino com Zeca Baleiro - e novidades na voz afinada da intérprete (entre elas, o samba-canção Saia do Caminho, de Custódio Mesquita e Evaldo Ruy). Contudo, o material novo não dilui o caráter retrospectivo da gravação e tampouco consegue apontar um novo sentido ou conceito na obra fonográfica da artista - como fizeram títulos anteriores como Vênus (1995), álbum de alma feminina do qual Sabino rebobina uma jóia desconhecida de Adriana Calcanhotto, Tardes. Ao contrário, parece haver uma ausência de sentido na condução do show, aberto com a música-título, Que Nega É Essa? (com a interrogação intencionalmente suprimida no título de tom afirmativo do CD/DVD), faixa em que Sabino e banda perseguem o suingue personalíssimo de Jorge Ben Jor. Entre temas divididos com os convidados Rodrigo Maranhão (voz e cavaquinho no baião Rosa que me Encanta, da lavra de Maranhão com Pedro Luís) e Vítor Ramil (voz em Longe Daqui), a cantora intercala músicas autorais como Agora, faixa-título do último álbum de Verônica, editado em 2002. Em Agora, a compositora ainda titubeante mostra que a veia pop está dilatada em sua obra autoral, numa pulsação que evoca o estilo de Paula Toller. E certamente não é por acaso que uma balada do repertório do Kid Abelha, Lágrimas e Chuva (de Leoni, Bruno Fortunato e George Israel - e não Jorge Israel, como creditado desatentamente no encarte do DVD), tem sua melancolia realçada pela interpretação de Sabino, mais sutil do que o registro roqueiro do Kid. Com similar teor melancólico, e imagens em preto e branco, Rindo de mim (Maysa) é apresentada como uma vinheta que introduz Lua Branca (Chiquinha Gonzaga), iluminada em clima seresteiro, com destaque para o bandolim tocado por Chiavazzoli. Da mesma forma que o piano de Marcelo Caldi pontua Peito Vazio (Cartola e Elton Medeiros) e dueta com a voz de Sabino em Todo Sentimento (Chico Buarque e Cristóvão Bastos), propagada na voz da cantora em 1988 na trilha sonora nacional da novela Vale Tudo. Em latitude diversa, Invento reafirma o talento do compositor Vitor Ramil, só que, para quem viu a interpretação de Ney Matogrosso no show Beijo Bandido, o bom registro de Sabino não alcança o pico de sedução atingido pelo cantor. Nos extras, há faixa-bônus, A Moeda de um Lado Só, de Moska. Exemplo de que as antenas de Verônica Sabino captam há anos as melhores novidades da música brasileira. Urge um CD de inéditas que confira novo sentido à trajetória da artista, cujo caráter mutante foi alardeado já no título do primeiro disco solo...

22 de fevereiro de 2009 às 18:19  
Anonymous Anônimo said...

É uma grande pena que o mercado de discos brasileiros seja tão restrito, comportando tão poucas cantoras ao mesm tempo (cantor tem pouco mesmo). Cantoras excelentes como Verônica Sabino infelizmente acabam ficando de escanteio.

22 de fevereiro de 2009 às 19:46  
Anonymous Anônimo said...

Ao contrário do tom ambíguo de sua resenha Mauro, eu gostei muito do DVD que por ser o primeiro de sua discografia, não podia deixar de fora os melhores registros de Verônica. Ali estão músicas que tem a leveza pop sofisticada que a meu ver pouca gente nesse país sabe imprimir. Na falta de Marina Lima que é uma delas, Verônica é um dos principais destaques e, como vc bem afirma Verônica sempre antenada no melhor, foi a primeira a gravar uma núsica de Rodrigo Maranhão, a retomar com vigor o excelente repertório de Vitor Ramil, além do que teve temas de sua lavra recentemente inseridos em shows de Rita Ribeiro (Agora), Selmma Carvalho (Túnel do tempo), assinalando que tem influência no universo pop.
Concordo que ela não aponta novos caminhos, mas o fato é que se continuar a gravar os bons compositores que ela elenca nesse trabalho, já é garantia de audições de bom gosto.

22 de fevereiro de 2009 às 19:56  
Anonymous Anônimo said...

Perfeita a resenha Mauro. Sou fã desta linda voz desde "Todo Sentimento" que ouvi em "Vale Tudo", o que não me impede de concordar justamente no ponto fraco de Verônica: sua carreira e repertório irregulares.
Com exceção do primeiro disco, tenho os demais e impressiona não o ecletismo - que não é ruim - mas a falta de uma linha condutora de arranjos, identidade e estilo.
Em um mesmo disco é capaz de cantar como se estivesse "em oração" e, na faixa seguinte, como se fosse apenas obrigação, o que torna seu trabalho sempre mediano, já que vai da nota 10 para a 5 em um piscar de olhos.
Já são muitos anos de carreira e não tenho esperança em ver - ouvir, perdão - o linear dessa estrada não.
MPB ou POP ? Verônica mistura tudo mas dando roupagem POP à MPB ou roupagem MPB ao POP. Não chega a ficar ruim, já que sua voz compensa na maioria das vezes, mas continuo achando que faltou sempre um diretor artístico ou um produtor "linha dura" para mapear a estrada dessa menina. De qualquer forma é MUITO BENVINDO O DVD - já comprei mas ainda não ouvi - pois é seu primeiro registro ao vivo e já não era sem tempo.

22 de fevereiro de 2009 às 22:04  
Anonymous Anônimo said...

Mauro o nome da música que Verônica dueta com Vitor Ramil é "Longe de você" e não "Longe daqui" como foi postado.
Belíssima composição e interpretações, diga-se de passagem.

23 de fevereiro de 2009 às 10:34  
Blogger Mauro Ferreira said...

Grato, Lurian, pela observação atenta. Já acertei o texto.

23 de fevereiro de 2009 às 11:18  
Anonymous Anônimo said...

Veronica é uma das melhores cantoras da nossa música. Sua voz seria perfeita pras canções de Edu Lobo e Herbert Vianna. Bem vinda Verônica e não fique tanto tempo longe da gente!!

23 de fevereiro de 2009 às 19:25  
Anonymous Anônimo said...

"Todo Sentimento" era recheada de teclados eletrônicos. Seria a moda da época antes de cair em desgraça ou o fato de ser Chico, Cristóvão Bastos e Verônica justifica a inesquecível gravação ?

23 de fevereiro de 2009 às 22:08  
Anonymous Anônimo said...

Só o fato de gravar Vitor Ramil mostra que continua antenada, buscando a diferença, mesmo num DVD ao vivo onde tal fato é raro.
Fique por aqui mesmo, sempre e sempre bela - em todos os sentidos - Verônica. Os fãs e ouvidos de bom gosto agradecem.

23 de fevereiro de 2009 às 22:13  
Anonymous Anônimo said...

A gravação de TODO SENTIMENTO deixava ainda mais pungentes as cenas da alcóolatra Heleninha Roitman na novela "Vale Tudo". É uma música inesquecível do repertório de Verônica. Assim como "Demais", da novela "Selva de pedra", em 1986.

23 de fevereiro de 2009 às 23:30  
Anonymous Anônimo said...

Pena mesmo esse caráter retrospectivo da gravação ... em que pese, claro , o fato de ser o primeiro DVD de Verônica ! Outra coisa. Sou fã de Adriana Calcanhotto sim mas " Tardes " muito chata e pouca inspirada.

Tenho o CD - quase coletanea - " Passado a Limpo " que ela lançou em 99 e como tem muita coisa que ela regravou nesse novo projeto a minha vontade de tê-lo dilui ...

Gosto de Sabino e torço pra que volte a ribalta!

Diogo Santos
São Paulo - SP

24 de fevereiro de 2009 às 16:42  
Anonymous Anônimo said...

Estou com o Odimar e com o anônimo das 10:30, o trabalho está na medida pra quem vai lançar o seu primeiro DVD quase metade do repertório é inédito na voz de Verônica Sabino. As duas músicas do Vitor Ramil ficaram show de bola, além do que o 'Blues em Braille' e 'Túnel do tempo' (inéditas com a autora) confirmam o talento de Verônica Sabino como compositora. De outro lado concordo com o Mauro num ponto: depois de 7 anos esperando um trabalho preferiamos que não fosse retrospectivo, até pq ela já tinha feito o Passando a limpo; no entanto como os arranjos estão diferentes vale a pena sim !!! 'Tardes', por exemplo ficou bem mais bonita e menos morosa, o mesmo se deu com 'Rosa que me encanta'.
*Na espera de ouvir 'Invento' com o Ney, mas espero que ele não tenha posto uma sensualidade forçada que acontece quando ele baixa o tom da voz. Vitor Ramil é um compositor de outras nuances...

25 de fevereiro de 2009 às 10:57  
Anonymous Anônimo said...

Eu concordo com o Mauro e com o Oliveira, sempre achei que falta algo em Verônica. A única certeza que tenho é que voz não é.

25 de fevereiro de 2009 às 18:12  
Anonymous Anônimo said...

Emanuel Andrade disse

Ahh Verônica Sabino é mil. Canta legal, nao é chata e acima de tudo, é uma tremenda gata madura. Coisa rara na MPB é mulher bonita como ela. Ah ela precisa de um espaço mais cult na midia porque nos anos 80 tentaram queimá-la. Claro, a Globo.

25 de fevereiro de 2009 às 18:48  
Anonymous Anônimo said...

Emanuel, aqui o papo é música mas já que insistes: minha certeza agora é que voz e beleza não são.
Se bem que além de voz, beleza é o que não falta em nossas cantoras. Não vou listar para não me alongar.

25 de fevereiro de 2009 às 19:19  
Anonymous Anônimo said...

Verônica tem uma carreira e repertório muito coerentes, o mercado é que não absorve esta cantora sensível e com bom gosto para escolher o que canta. Infelizmente não tem uma carreira regular, apesar de ter sucessos registrados em várias trilhas de novela. Sou um seguidor de seu trabalho e seu canto me emociona. Terei este DVD/CD na minha (pequena)coleção de Verônica, mas espero um novo CD em breve.

PS. A gravação de Lágrimas e Chuva é definitivamente melhor. Como disse o Mauro, reveleou a linda canção que existe ali.

26 de fevereiro de 2009 às 14:41  
Anonymous Anônimo said...

Emanuel Andrade respode

Mas a beleza de Veronica sempre me encantou quando a vi pela primeira vez e, claro, da Simone, Paula Toller( que em termos de voz....)e poucas das novinhass que apareceram no Som Brasil da Globo. Mas aqui é uma questão de gosto. O que me irrita aqui é alguém querer criticar voz/afinação de outrem. Ora, tenho certeza que as G-R-A-N-D-E-S vozes sao raríssimas, as verdadeiras já foram há muito. Por exemplo, hoje, no cenário de hoje só tem, para mim, TRES homens que cantam de verdade, o resto é cantorrrrr, cantorassss a toque de caixa.

26 de fevereiro de 2009 às 17:38  
Anonymous Anônimo said...

A meu ver Verônica sempre fez um som diferenciado prenunciando algumas tendências modernas nessa ponte entre a MPB e o pop. O problema é o ouvido dos brasileiros; não lhe falta nada, nem a reclamada coerência, basta ouvir com atenção seus discos...Ney Matogrosso (citado na resenha) sempre foi mutante, camaleônico e ninguém nunca reclama disso... o que falta é capacidade para compreender a obra de algumas pessoas. Verônica faz é muita falta ao universo da nossa música, isso sim!

26 de fevereiro de 2009 às 22:02  

Postar um comentário

<< Home