23 de fevereiro de 2009

Alcina recusa nostalgia ao refazer seu Carnaval

Resenha de CD
Título: Maria Alcina
Confete e Serpentina
Artista: Maria Alcina
Gravadora: Outros Discos
Cotação: * * * * 

"Não quero só a nostalgia / Quero a alegria de outros Carnavais", avisa Maria Alcina em versos da esfuziante Das Tripas, Coração (Adalberto Rabelo Filho e Piero Damiani), um das onze músicas do CD Maria Alcina Confete e Serpentina, que chega ao modelo físico convencional em plena folia de 2009 depois de ter sido lançado somente em formato digital em maio de 2008. Sim, Alcina - elétrica cantora projetada em 1972 que teve sua carreira asfixiada dois anos depois pela acusação de subversão em processo movido pelo regime militar da época - refaz seu Carnaval sem nostalgia, mesmo quando revisita sucessos de velhos carnavais como a marcha Eu Quero É Botar meu Bloco na Rua (Sérgio Sampaio, 1972), rebobinada com o grupo Bojo. A propósito, foi com o Bojo que Alcina botou novamente seu bloco na rua fonográfica em 2003 num CD, Agora, que já anunciava no título a sonoridade contemporânea. Agora é hora de voltar à cena.

Integrante do Bojo, Maurício Bussab produz o sexto título solo da artista e reconduz Alcina à folia com dose exata de modernidade. Herdeira de Carmen Miranda (1909 - 1955), de cujo repertório regrava Cachorro Vira-Lata (Alberto Ribeiro), sucesso do Carnaval de 1937, a cantora fez, enfim, um disco à altura de seu talento, desperdiçado nos anos 80 em trabalhos voltados para as músicas nordestinas de duplo sentido. Sem censura estética ou ideológica, mas sem escorregar na vulgaridade, Alcina aproveita bem as liberdades tropicalistas e revisita tema de Paulinho da Viola (Roendo as Unhas, 1973) - em arranjo urdido com samples de brinquedos - com a mesma naturalidade com que investe no repertório do talentoso compositor alagoano Wado (Não Pára), com que interpreta música da dupla Alzira E & Arruda (Colapso) e com que canta deliciosas marchinhas contemporâneas como Espaço Sideral (Moisés Santana) e a que dá nome ao disco, Maria Alcina, Confete e Serpentina, afinado presente do compositor e admirador Adalberto Rabelo Filho. Em tempo: Espaço Sideral foi gravada com a Banda do Fumaça, recrutada literalmente na rua. E, no meio dessa rua impregnada da alegria da intérprete, passam também a primeira parceria de Tom Zé com Lô Borges, Açúcar Sugar - um carnavalesco mix da irreverência tropicalista com os estatutos do Clube da Esquina - e um samba torto, O Drama, da lavra de um roqueiro baiano, Ronei Jorge. Enfim, cercada de músicos e músicas da cena indie, Alcina levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima em disco de alegria consciente. Sem nostalgia.

12 Comments:

Blogger Mauro Ferreira said...

"Não quero só a nostalgia / Quero a alegria de outros Carnavais", avisa Maria Alcina em versos da esfuziante Das Tripas, Coração (Adalberto Rabelo Filho e Piero Damiani), um das onze músicas do CD Maria Alcina Confete e Serpentina, que chega ao modelo físico convencional em plena folia de 2009 depois de ter sido lançado somente em formato digital em maio de 2008. Sim, Alcina - elétrica cantora projetada em 1972 que teve sua carreira asfixiada dois anos depois pela acusação de subversão em processo movido pelo regime militar da época - refaz seu Carnaval sem nostalgia, mesmo quando revisita sucessos de velhos carnavais como a marcha Eu Quero É Botar meu Bloco na Rua (Sérgio Sampaio, 1972), rebobinada com o grupo Bojo. A propósito, foi com o Bojo que Alcina botou novamente seu bloco na rua fonográfica em 2003 num CD, Agora, que já anunciava no título a sonoridade contemporânea. Agora é hora de voltar à cena.

Integrante do Bojo, Maurício Bussab produz o sexto título solo da artista e reconduz Alcina à folia com dose exata de modernidade. Herdeira de Carmen Miranda (1909 - 1955), de cujo repertório regrava Cachorro Vira-Lata (Alberto Ribeiro), sucesso do Carnaval de 1937, a cantora fez, enfim, um disco à altura de seu talento, desperdiçado nos anos 80 em trabalhos voltados para as músicas nordestinas de duplo sentido. Sem censura estética ou ideológica, mas sem escorregar na vulgaridade, Alcina aproveita bem as liberdades tropicalistas e revisita tema de Paulinho da Viola (Roendo as Unhas, 1973) - em arranjo urdido com samples de brinquedos - com a mesma naturalidade com que investe no repertório do talentoso compositor alagoano Wado (Não Pára), com que interpreta música da dupla Alzira E & Arruda (Colapso) e com que canta deliciosas marchinhas contemporâneas como Espaço Sideral (Moisés Santana) e a que dá nome ao disco, Maria Alcina, Confete e Serpentina, afinado presente do compositor e admirador Adalberto Rabelo Filho. Detalhe: Espaço Sideral foi gravada com a Banda do Fumaça, recrutada literalmente na rua. E, no meio dessa rua impregnada da alegria da intérprete, passam também a primeira parceria de Tom Zé com Lô Borges, Açúcar Sugar - um carnavalesco mix da irreverência tropicalista com os estatutos do Clube da Esquina - e um samba torto, O Drama, da lavra de um roqueiro baiano, Ronei Jorge. Enfim, cercada de músicos e músicas da cena indie, Alcina levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima em disco de alegria consciente. Sem nostalgia.

23 de fevereiro de 2009 às 11:14  
Anonymous Anônimo said...

Linda capa dessa artista transgressora e essencial.

23 de fevereiro de 2009 às 12:50  
Anonymous Anônimo said...

Capa linda e a voz de Alcina continua em boa forma. Mas cotação 5 estrelas é demais pra mim Mauro. O repertório é bem mediano. Maria Alcina merecia um repertório inédito d emelhor qualidade. Isso é a maior prova que não é por ser inédito que o trabalho é bom. Antes ela tivesse regravado coisas conhecidas com uma pegada moderna.

23 de fevereiro de 2009 às 19:22  
Anonymous Anônimo said...

Comprei o disco e é muito interessante:10 esprelas!A música precisa da Maria Alcina,musa das minorias,do diferente.Tudo que ela canta tem graça.A música do Paulinho da Viola é sensacional.O Confete e Serpentina é uma deliciosa folia,como Maria Alcina.
Mauro sua crítica é de quem entende,de verdade,de música e de Brasil.Continue firme na sua estrada.Nós,consumidores de música boa,temos muito respeito por vc.

23 de fevereiro de 2009 às 21:11  
Anonymous Anônimo said...

Não é por nada não. Talvez eu fosse muito jovem ou estou ficando maluco. Mas aquela Maria Alcina que enchia o meu saco em programas como o do Chacrinha é esta aí ?
Tantos elogios que me sinto vindo de outro planeta. Ou os malucos seriam vocês ? Boiei.

23 de fevereiro de 2009 às 22:03  
Anonymous Anônimo said...

O jovem de hoje não conhece nada mesmo....................
Vc está boiando mesmoooooooooooooooo.Ainda bem que não afogou.Ainda existe esperança onde tem vida.

24 de fevereiro de 2009 às 09:43  
Anonymous Anônimo said...

É lamentável ouvir comentário tão preconceituoso e ignorante. Alô,amigos : existe vida útil na MPB fora do esquemão Bethânia / Marisa Monte.

24 de fevereiro de 2009 às 21:34  
Anonymous Anônimo said...

Maria Alcina é uma das maiores estrelas brasileiras de todos os tempos, precursora, de personalidade própria , ousada e única. Herdeira de Carmem Miranda, antenada e ousada, merece todo o reconhecimento possível. Parabéns a ela e ao Mauricio por este disco impecável que deve ser ouvido sem nenhum tipo de preconceito.
Carlos Navas

25 de fevereiro de 2009 às 12:43  
Anonymous Anônimo said...

Comprei ontem o CD novo da Maria Alcina. Tenho 27 anos e musicalmente sou bem aberto a tudo que tenha real qualidade sonora... De Joni Mitchell à Maria Alcina.
Sou de SP e conheço DE LONGE um ou outro integrante desse CD... E sim, finalmente M.A. ganha um disco a sua altura.

O CD É UMA DELICIA!
Ao repertório dou nota 8,0. Arranjos, 9,0. Mas o geral é nota DEZ! CEM! Não paro de ouvir...

Capa limpa, letras interessantes, sonoridade atemporal, sim, atemporal, pois não há ranço de modernidades escancaradas que ficarão datadas em dois anos.

Pena que a indústria e o público mudaram tanto, esse disco merecia uma divulgação gigantesca e vender como água, tocar nas rádios (Ah... Saudade dos bons tempos das rádios...).

Em um mundo tão pasteurizado, cheio de cantorinhas sonsas, CONFETE E SERPENTINA é o som de um Brasil atual, globalizado, e porque não, por cima da carne seca? O mérito vai para para os músicos e o produtor, mas Maria Alcina é quem segura a faixa, o estandarte, E A VOZ, e nossa grande foliona merece todas as reverencias!

Que esse disco seja um sucesso e traga mais bons frutos dessa parceria.

O seu BLOG é ótimo, sempre visito.

Abraços, Cauê V M.

27 de fevereiro de 2009 às 10:33  
Anonymous Anônimo said...

Li os comentários e fui comprar o CD.Agora tenho minha opinião.Discão,dos bons.Valeu Maria Alcina...Deus te ilumine.

28 de fevereiro de 2009 às 23:10  
Anonymous Anônimo said...

Mauro desculpa a palavra,mas vc é foda.Que crítica inteligente sobre o disco da Maria Alcina.Fui buscar o cd.Estou enfeitiçado,"roendo as unhas"rsrsrsr
Que delícia de vida.Que delícia de disco.Eu quero é "botar meu bloco na rua".rsrsrsrrs
Parabéns Mauro,mas vc é foda.Saca tudo de música.

22 de abril de 2009 às 22:59  
Anonymous Anônimo said...

Esse é um dos melhores discos lançados no ano passado! Alcina já estava merecendo um trabalho à altura do seu talento. Depois do sensacional álbum anterior, "Agora", ficou difícil imaginar algo melhor. Mas "Confete e serpentina" superou minha expectativa. Tenho os outros cds, (que reeditaram os Lps clássicos dos anos 70, já fora de catálogo), Lps e até compactos. Sou fã desde criancinha...Alcina faz parte da memória afetiva de minha família, desde "Fio Maravilha".
Quando (quase) ninguém mais dava um tostão por ela, soube se reinventar de forma inteligente e bem acompanhada. Parabéns, Alcina continue nos deliciando com seu desbunde saudável e tipicamente brasileiro!
Abs, Mauro e parabéns pela resenha
Ricardo Guima

25 de março de 2010 às 10:52  

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