22 de janeiro de 2009

Suingue intuitivo de Dona Edith deixa saudades

A saída de cena de Dona Edith do Prato - em 8 de janeiro de 2009, aos 94 anos, em decorrência de um AVC sofrido em 18 de dezembro de 2008 - entristeceu Santo Amaro da Purificação, a cidade do interior da Bahia que viu nascer esta sambista de suingue intuitivo. E deveria ter entristecido todo o Brasil. O nome artístico de Edith Oliveira Nogueira já aludia explicitamente à habilidade com que ela, munida com uma faca, percutia o prato, dando um balanço todo especial e pessoal aos sambas-de-roda e às chulas que compunham seu repertório, formado em sua maioria por temas de domínio público. A Arte desenvolvida por Edith do Prato é do tipo que não se aprende na escola. É apr(e)endida pelo próprio artista de forma natural, inserida no universo das tradições populares. É muito provável que o Brasil talvez nunca tivesse tomado conhecimento de Dona Edith se em 1973 Caetano Veloso não tivesse convocado sua mãe-de-leite para tocar prato e fraca em Viola meu Bem - faixa de Araça Azul, um dos álbuns mais controvertidos do compositor baiano. Dona Edith vivenciou sua arte, em geral, nos domínios de sua Santo Amaro. Somente na maturidade é que teve algo próximo do que se pode chamar de vida de artista. Patrocinada pelo Governo da Bahia, gravou em 2001 - quando tinha 86 anos - um disco com o grupo Vozes da Purificação que ganharia reedição e maior visibilidade ao ser relançado por Maria Bethânia em 2003 na abertura do selo da cantora, Quitanda, vinculado à gravadora Biscoito Fino. No embalo da calorosa acolhida obtida por seu primeiro e único álbum, do qual participaram discípulos como a cantora Mariene de Castro e o próprio Caetano, Dona Edith fez alguns shows fora do circuito baiano. Um deles - realizado em 2004 no Instituto Itaú Cultural, em São Paulo (SP), com o grupo Vozes da Purificação - foi gravado ao vivo para viabilizar a edição de um DVD, lançado na série Toca Brasil. É pela imagem perpetuada neste DVD que a Arte de Edith do Prato pode ser visualizada e apreciada postumamente. Edith já se foi, deixando a saudade de seu prato cheio de...suingue.

19 Comments:

Blogger Mauro Ferreira said...

A saída de cena de Dona Edith do Prato - em 8 de janeiro de 2009, aos 94 anos, em decorrência de um AVC sofrido em 18 de dezembro de 2008 - entristeceu Santo Amaro da Purificação, a cidade do interior da Bahia que viu nascer esta sambista de suingue intuitivo. E deveria ter entristecido todo o Brasil. O nome artístico de Edith Oliveira Nogueira já aludia explicitamente à habilidade com que ela, munida com uma faca, percutia o prato, dando um balanço todo especial e pessoal aos sambas-de-roda e às chulas que compunham seu repertório, formado em sua maioria por temas de domínio público. A Arte desenvolvida por Edith do Prato é do tipo que não se aprende na escola. É apr(e)endida pelo próprio artista de forma natural, inserida no universo das tradições populares. É muito provável que o Brasil talvez nunca tivesse tomado conhecimento de Dona Edith se em 1973 Caetano Veloso não tivesse convocado sua mãe-de-leite para tocar prato e fraca em Viola meu Bem - faixa de Araça Azul, um dos álbuns mais controvertidos do compositor baiano. Dona Edith vivenciou sua arte, em geral, nos domínios de sua Santo Amaro. Somente na maturidade é que teve algo próximo do que se pode chamar de vida de artista. Patrocinada pelo Governo da Bahia, gravou em 2001 - quando tinha 86 anos - um disco com o grupo Vozes da Purificação que ganharia reedição e maior visibilidade ao ser relançado por Maria Bethânia em 2003 na abertura do selo da cantora, Quitanda, vinculado à gravadora Biscoito Fino. No embalo da calorosa acolhida obtida por seu primeiro e único álbum, do qual participaram discípulos como a cantora Mariene de Castro e o próprio Caetano, Dona Edith fez alguns shows fora do circuito baiano. Um deles - realizado em 2004 no Instituto Itaú Cultural, em São Paulo (SP), com o grupo Vozes da Purificação - foi gravado ao vivo para viabilizar a edição de um DVD, lançado na série Toca Brasil. É pela imagem perpetuada neste DVD que a Arte de Edith do Prato pode ser visualizada e apreciada postumamente. Edith já se foi, deixando a saudade de seu prato cheio de...suingue.

22 de janeiro de 2009 às 09:34  
Anonymous Anônimo said...

Emanuel Andrade

Mauro, é uma pena que nossa cultura é ridicula, pobre, nojenta. A imprensa do Sudeste nem sabe o que é cultura. Os cadernos culturais se tornaram patéticos, com seus repórteres metidos a intecetualóides. Para eles, vale abrir espaço com estardalhaço ao submundo pop de uma Madonna, que chega aqui e nos vê como meros idiotas. Já dona Edith só mereceu espaço com uma resenha fútil de seu CD e agora uma matéria maiorzinha porque morreu. E o Brasil não sabe o que é samba de roda da Bahia!!! Aliás, o país sabe o que é a doença da axé music e a máfia do dendê. Viva dona Edith!!!

22 de janeiro de 2009 às 11:23  
Blogger Vitor said...

duas semanas se passaram e só agora surge a noticia? Realmente o Brasil sabe valorizar sua cultura popular

22 de janeiro de 2009 às 13:52  
Anonymous Anônimo said...

Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa: até mesmo em Santo Amaro D.Edith era conhecida bem mais pela sua irreverência do que pela sua 'arte'.
Devagar com o andor...

22 de janeiro de 2009 às 15:43  
Anonymous Anônimo said...

Ô Emanuel,

Pega leve, meu camarada. Seja menos provinciano e bairrista.


O Mauro sempre divulgou o trabalho da Edith (e de outros grandes artistas nordestinos menos conhecidos) por aqui.

Eu sou carioca e moro no Nordeste há mais de 5 anos. A imprensa que trabalha na área cultural aqui é um lixo. Um lixo! Desconhecem profundamente a produção cultural local. A esmagadora maioria dos jornalistas da área musical desconhecem a diferença entre samba de roda, samba de coco ou samba de latada.

Paulo Macedo

22 de janeiro de 2009 às 17:13  
Anonymous Anônimo said...

O nordeste é repleto de ediths...
Já ouviram aquelas senhorinhas cantando (entoando----carpindo) AVÉÉÉÉ AVÉÉÉÉ MARIIIIAAAAAAA com aquelas vozes curiosamente esganiçadas?! Aqui jamais falta nas procissões, nas igrejas, nas colheitas, nos velórios (ainda). Isso é cultura, mas será ARTE??? Um dos senhores, esclarescidos, me faça - por favor - a diferença.

22 de janeiro de 2009 às 17:34  
Anonymous Anônimo said...

O Poder de Bethânia é mesmo assustador. Mas D.Edith mereceu.

22 de janeiro de 2009 às 21:01  
Anonymous Anônimo said...

Boa pergunta, José, me pegou.
Adoro ouvir e ver as festas de Congado no interior de Minas Gerais - ONDE PASSO FÉRIAS E FERIADOS PARA FUGIR DESTE RIO ESTUFA, BARULHENTO e MILICIANO - mas será que compraria um CD com a "trilha" ?
Repito, estou sem resposta e tendendo para o NÃO.
Posso anular o voto ?

22 de janeiro de 2009 às 21:20  
Anonymous Anônimo said...

"ARAÇA AZUL" é um dos piores discos da MPB. Não serve como elogio, não. Nesse Caetano Veloso superou-se em seus experimentalismos.

22 de janeiro de 2009 às 21:58  
Anonymous Anônimo said...

José, tô contigo. O sul maravilha acha "exótico" este tipo de coisa, e frequentemente chama de arte o que é apenas manifestação popular. Depois vem uns e outros e se queixam que a ARTE do nordeste não tem espaço na grande mídia.
Faça-me o favor!!!

22 de janeiro de 2009 às 22:03  
Anonymous Anônimo said...

ôoooo anômimo, nada de barrista até porque englobo aí também a imprensa cultural do Nordeste, é uma porcaria sim. Aliás, as redações de um modo geral estão cheias de jovens que sequer lêem seus jornais. Mas a granndddeeeeee notícia para o pessoal de seu Sudeste foi dizer que Edith está no antlógico disco Araçá Azul, do Caetano(assim o fez o Jornal da Globo). Ou seja descobriram a pólvora moderna e mais nada. Ora, os grandes jornalistas da área muscial sairam dos jornais, basta ver a porcaria que é o caderno da Folha, as revistas semanai etc. Nçao se vê mais a grande reportagem musical e nem literária. Ora, o impresso entrou há muito no clímax musical e na cobertura sub-mundistas dos Zezés, Vitores e Léos, Calypsos da vida.. e quando se fala de MPB voltam com os mesmos cacoentes. É melhor ir ler bem longe qualquer livro que dê sono. Ah, essa gente bem que podia ler o livro do André Midani pra saber o que aconteceu com a MPB da pré-bossa pra cá. O José Lima nem merece resposta, senão o ruído reco reco reco reco reco do prato de Edith.

23 de janeiro de 2009 às 01:28  
Blogger Carlos Lopes said...

O Caetano Veloso escreveu um texto muito interessante sobre a morte de "sua mãe de leite" no seu site Obra em Progresso. Vale a pena conferir...

23 de janeiro de 2009 às 07:02  
Anonymous Anônimo said...

José, acho que muita gente 'cabeça' confunde sim manifestação popular com manifestação artística.
Conheci Edith através de Caetano e Bethania e não considero sua manifestação, artística, senão folclore de sua terra.

23 de janeiro de 2009 às 10:02  
Anonymous Anônimo said...

"Araça Azul" é dose pra leão, ou pra "Leãozinho".

23 de janeiro de 2009 às 19:57  
Anonymous Anônimo said...

Araça Azul "controvertido", Mauro ?
Quanta gentileza. Aquilo é inaudível isso sim.
Caetano quando inventa...

23 de janeiro de 2009 às 20:09  
Anonymous Anônimo said...

Cá pra nós, sem contar os medalhões como Alceu, Geraldo Azevedo, Zé Ramalho, Elba, Fagner, Dominguinhos... ainda chega ou chegou por aqui Xangai, Ednardo, Vital Farias, Francisco Aafa, Elomar, Quinteto Violado...
O argumento é fraquinho.

23 de janeiro de 2009 às 20:32  
Blogger Carlos Lopes said...

Gosto muito de Araçá Azul! Todos sabemos que não é um disco para se ouvir todos os dias, é claro. Mas tem canções lindíssimas: Tu Me Acostumbraste, Júlia/Moreno, Eu Quero Essa Mulher, aquela passagem "sou um mulato nato no sentido lato mulato democrático do litoral, e a MARAVILHOSA Araçá Azul.

É um disco histórico!

24 de janeiro de 2009 às 11:16  
Anonymous Anônimo said...

Histórico sim, é verdade. Como fazer um disco estranho e ruim de doer. Caetano tem uma inquietude, uma necessidade de inventar - e não precisa - que dá nisso aí.
E tem mais "história", até recente, mas deixemos para lá que o assunto aqui é outro.

24 de janeiro de 2009 às 21:17  
Anonymous Anônimo said...

D. Edith não tem nada de exótico. Não sei que mania é essa de achar que o Sul-Sudeste enxerga a manifestação cultural do Nordeste como exótica. Será auto-preconceito ou ignorância (no sentido real de ignorar/desconhecer)?

D. Edith representava uma rica produção cultural que encontra-se sufocada pela indústria do Axé, do Forró Eletrônico e de tantas e tantas porcarias produzidas (e consumidas) no Nordeste.

Alguém aí em cima citou Zé Ramalho. Nossa... quer música (harmonia + ritmo + melodia + letra) mais infantil (no mau sentido) do que a produzida pelo Zé Ramalho?

Viva Roque Ferreira, gênio da raça!
Viva Elba, delícia da raça!
Viva Siba, pura raça!

Roberto Sobrinho

25 de janeiro de 2009 às 05:17  

Postar um comentário

<< Home