O caliente sangue tropical de Bethânia e Omara
Resenha de show
Título: Omara Portuondo e Maria Bethânia
Artista: Omara Portundo e Maria Bethânia
Local: Canecão (RJ)
Data: 7 de março de 2008
Cotação: * * * * 1/2
"Nossa música tem sangue tropical", reiteraram Maria Bethânia e Omara Portuondo ao cantar verso de Havana-me na estréia do show que vai passar por dez cidades brasileiras até encerrar sua turnê internacional em junho, na Argentina e no Chile. A música de Joyce e Paulo César Pinheiro, que enfatiza as afinidades entre Brasil e Cuba, foi um dos muitos pontos altos do show. "Bethânia-me", afagou a veterana cubana. "Omara-me", devolveu Bethânia, em (apropriado) acréscimo de versos na letra festiva de Pinheiro.
O caliente sangue tropical deu ao show um calor que inexiste no disco que gerou o inédito encontro das intérpretes no palco. Em sintonia, o cenário de cores explosivas criado por Gringo Cardia realçou esse caráter tropical em tom kitsch. A sedutora entrada das cantoras em cena - quando sobe a cortina, as duas já estão no palco entoando em uníssono os vocais que anunciam Cio da Terra - já sinalizou que, no show, haveria a interação que faltou no CD. Na seqüência, o dueto em Cálix Bento enfatizou o acento ruralista de parte do repertório - exposto no palco num tom menos íntimo.
Com invejável vitalidade para seus 77 anos, notada sobretudo em sua parte solo, dona Omara arriscou cantar em espanhol músicas brasileiras como Gente Humilde, a já citada Havana-me e O Que Será, que fecha o roteiro (antes do bis) com o molho cubano. E foi essa interação com Bethânia que valorizou o show. Embora lendo as letras dos temas nacionais que interpretava em espanhol, dona Omara disfarçou bem a natural insegurança de estar apresentando músicas com as quais ainda tem pouca intimidade. Quando ficou em casa, sozinha no palco, a intérprete cubana deitou e rolou ao passear por boleros como Veinte Años, Mil Congojas (em um tom suave, às vezes até sussurrante que deu outra nuance aos doídos versos de Juan Pablo Miranda) e Dos Gardenias. O medley com os acalantos Lacho e Drume Negrita foi especialmente sedutor. Sob seca base percussiva, Omara pareceu encarnar uma preta velha, travando diálogo imaginário com crianças insones e enfatizando a raiz negra que fez brotar as músicas de Brasil e Cuba. Inesquecível.
A fina costura do roteiro se revela mais frouxa na parte individual de Bethânia. Do Partido Alto de Chico Buarque (entoado num tom incisivo, quase raivoso), a cantora pula para o sofisticado bolero Arrependimento e, na seqüência, revive Negue com um belíssimo arranjo que renova a música que regravou com grande sucesso no álbum Álibi (1978). Logo depois, recorda a rumba Escandalosa - sucesso de Emilinha Borba (1923 - 2005) - para em seguida fazer pulsar novamente a veia romântica com a dispensável Você Não Sabe (Roberto e Erasmo Carlos), música linda, só que totalmente fora de contexto neste sobe-e-desce. É em O Ciúme que a grande intérprete reaparece com toda sua força e majestade, em registro arrebatador merecidamente ovacionado ao fim do número. É de chorar. Finalizando seu set individual, Bethânia apresentou bela inédita de Roque Ferreira - Doce, um singelo tributo à baianidade nagô de Dorival Caymmi - reunida em link com A Bahia te Espera.
No fim do show, reunidas novamente no palco, Bethânia e Omara realçaram a delicadeza ruralista de Você (Penas do Tiê), caíram no suingue de Só Vendo que Beleza (Marambaia), enfatizaram o fino lirismo da cubana Para Cantarle a mi Amor e se derramaram nos compassos abolerados de Começaria Tudo Outra Vez, do mesmo Gonzaguinha que reaparece no roteiro - no bis - com Palavras na voz de Bethânia. O efusivo duo das intérpretes em Guantanamera encerra o bis no clima caliente que fez ferver o sangue tropical de todos que testemunharam a estréia antológica do espetáculo que sedimenta o encontro de Omara Portuondo com Maria Bethânia.
Título: Omara Portuondo e Maria Bethânia
Artista: Omara Portundo e Maria Bethânia
Local: Canecão (RJ)
Data: 7 de março de 2008
Cotação: * * * * 1/2
"Nossa música tem sangue tropical", reiteraram Maria Bethânia e Omara Portuondo ao cantar verso de Havana-me na estréia do show que vai passar por dez cidades brasileiras até encerrar sua turnê internacional em junho, na Argentina e no Chile. A música de Joyce e Paulo César Pinheiro, que enfatiza as afinidades entre Brasil e Cuba, foi um dos muitos pontos altos do show. "Bethânia-me", afagou a veterana cubana. "Omara-me", devolveu Bethânia, em (apropriado) acréscimo de versos na letra festiva de Pinheiro.
O caliente sangue tropical deu ao show um calor que inexiste no disco que gerou o inédito encontro das intérpretes no palco. Em sintonia, o cenário de cores explosivas criado por Gringo Cardia realçou esse caráter tropical em tom kitsch. A sedutora entrada das cantoras em cena - quando sobe a cortina, as duas já estão no palco entoando em uníssono os vocais que anunciam Cio da Terra - já sinalizou que, no show, haveria a interação que faltou no CD. Na seqüência, o dueto em Cálix Bento enfatizou o acento ruralista de parte do repertório - exposto no palco num tom menos íntimo.
Com invejável vitalidade para seus 77 anos, notada sobretudo em sua parte solo, dona Omara arriscou cantar em espanhol músicas brasileiras como Gente Humilde, a já citada Havana-me e O Que Será, que fecha o roteiro (antes do bis) com o molho cubano. E foi essa interação com Bethânia que valorizou o show. Embora lendo as letras dos temas nacionais que interpretava em espanhol, dona Omara disfarçou bem a natural insegurança de estar apresentando músicas com as quais ainda tem pouca intimidade. Quando ficou em casa, sozinha no palco, a intérprete cubana deitou e rolou ao passear por boleros como Veinte Años, Mil Congojas (em um tom suave, às vezes até sussurrante que deu outra nuance aos doídos versos de Juan Pablo Miranda) e Dos Gardenias. O medley com os acalantos Lacho e Drume Negrita foi especialmente sedutor. Sob seca base percussiva, Omara pareceu encarnar uma preta velha, travando diálogo imaginário com crianças insones e enfatizando a raiz negra que fez brotar as músicas de Brasil e Cuba. Inesquecível.
A fina costura do roteiro se revela mais frouxa na parte individual de Bethânia. Do Partido Alto de Chico Buarque (entoado num tom incisivo, quase raivoso), a cantora pula para o sofisticado bolero Arrependimento e, na seqüência, revive Negue com um belíssimo arranjo que renova a música que regravou com grande sucesso no álbum Álibi (1978). Logo depois, recorda a rumba Escandalosa - sucesso de Emilinha Borba (1923 - 2005) - para em seguida fazer pulsar novamente a veia romântica com a dispensável Você Não Sabe (Roberto e Erasmo Carlos), música linda, só que totalmente fora de contexto neste sobe-e-desce. É em O Ciúme que a grande intérprete reaparece com toda sua força e majestade, em registro arrebatador merecidamente ovacionado ao fim do número. É de chorar. Finalizando seu set individual, Bethânia apresentou bela inédita de Roque Ferreira - Doce, um singelo tributo à baianidade nagô de Dorival Caymmi - reunida em link com A Bahia te Espera.
No fim do show, reunidas novamente no palco, Bethânia e Omara realçaram a delicadeza ruralista de Você (Penas do Tiê), caíram no suingue de Só Vendo que Beleza (Marambaia), enfatizaram o fino lirismo da cubana Para Cantarle a mi Amor e se derramaram nos compassos abolerados de Começaria Tudo Outra Vez, do mesmo Gonzaguinha que reaparece no roteiro - no bis - com Palavras na voz de Bethânia. O efusivo duo das intérpretes em Guantanamera encerra o bis no clima caliente que fez ferver o sangue tropical de todos que testemunharam a estréia antológica do espetáculo que sedimenta o encontro de Omara Portuondo com Maria Bethânia.
26 Comments:
Mauro querido, cade a critica do cd?
esqueceu de fazer ou preferiu nao postar pra não falar mal?
Mauro, que inveja deliciosa...imagino teres vivido uma grande noite.
AMO Bethânia e de tudo o que vi de Omara, criei por ela uma tremenda simpatia. Imagino que a menininha possa realmente ferver em cena.
Infelizmente minha deusa baiana tem insistido em colocar uns Robertos onde não tem N-A-D-A a ver; lembre do 'remendo' em Dentro do Mar...
Das outras canções que vc citou, gostei de tudo.
Estou em SP, ansiosa, à espera da noite que vc viveu ontem.
Sei que vc publicará o roteiro na íntegra. Espero.
Merci.
Sorte dos que tiverem a oportunidade de conferir este grande encontro.
Ao contrário do Mauro, achei o repertório do CD impecável (embora diminuto). Mas o que mais me impressionou foi a perfeita simbiose entre as vozes das duas. Trate-se, até agora, do grande lançamento do ano.
Hoje Bethânia é a maior cantora do Brasil. Ela no palco não tem pra ninguém! Junto com Omara então!
Já ouço muitos comentários sobre o show e todos foram positivos. Segundo um amigo meu, as pessoas saíram embasbacadas do Canecão com a performace das duas, primeiro com a entrada que já foi uma porrada atrás da outra, depois Bethânia sozinha cantando Caetano/Chico/Milton/Gonzaguinha uma atrás da outra, logo depois a Diva Omara entra cantando seus boleros e, por fim, as duascantando juntas, em perfeita interação, num encerramento triunfal.
Mais um acerto pra carreira perfeita da Abelha Rainha! Salve Bethânia!
Hoje Bethania é a melhor cantora do mundo, bruno.
Estive no Canecão e estou em êxtase até o momento. Corri aqui para ler a opinião do Mauro. Concordo com sua apreciação.
O único momento que consegui tomar fôlego foi qdo ela cantou Você não Sabe, que também achei completamente out no roteiro.
E, sim, Bethânia estava linda, luminosa. E dona Omara é uma artista de primeiríssima.
Meus sais!!!
ok, esperava mais da performance de Bethania no Escandalosa...mas estréia, né...
Duas grandes damas da canção mundial. Só podia ser muito bom.
Concordo que o disco foi morno, aquele repertório abolerado anos 50 ficou com cara de boite requentada, faltou ao estúdio um pouco mais de salsa e pimenta, uma Havana-me, Tal Vez...
Mas o show só tinha a crescer, MB é sempre assim tem uma força assombrosa no palco.
Será que o show vai a Cuba?
Mauro adorei as cores do post: CUBA-BRASIL, e o cenario, com essas duas araras é fantástico!!! De uma tropicalidade deliciosa.
O QUE BETHANIA TEM QUE AS OUTRAS NÃO TEM????
CABELO, DIRÃO ALGUNS INCAUTOS. POIS LHES AFIRMO: NEURÔNIOS. É ISSO QUE A BAIANA TEM DE SOBRA. E SABE USÁ-LOS. ELA OS LAPIDA E OS APRESENTA EM ARTE PURA.
INCOMPARÁVEL BETHÂNIA!!!!!!!!!
gente, tudo bem que estou no calor da emoção mas ouvindo pela terceira vez o cd, este me parece o melhor que bethânia fez desde âmbar, que adoro.
pena que as duas não tenham incluído minha cidade no roteiro.
espero que gravem o show em dvd.
Nossa, marquei em relação a data do show e quase tive um treco agora.
Nossa! Maravilha.Maravilhosas!
Espero que Bethania ajeite a parte individual dela(acho que o tom è outro,mais pra ciumes do que pra partido alto, uma outra ou outras do Chico seria a perfeição, atè mesmo gema cairia que è uma maravilha) Mas um cd ao vivo e um dvd irão fazer a minha alegria.
Viva Omara! Viva Bethania!
ah, sim. Concordo, coloca Roberto onde não tem nada ver.
Gente, no you tube um fragmento do show (partido alto) Maravilhoso.
ESTOU SEM PALAVRAS, HA MUITOS NÃO ASSISTIA UM SHOW DE MARIA BETHANIA, QUANDO AS CORRTINAS SE ABRIRAM E ELA COMEÇOU A CANTAR JUNTO COM OMARA PORTUONDO SENTI UMA COISA MUITO FORTE, PARECIDA COM AQUELA QUE SENTI QUANDO ASSISTI ELA ANTERIORMENTE NO SHOW IMITAÇÃO DA VIDA.
BETHANIA É UMA JÓIA, DEVEMOS EXAUTÁ-LA SEMPRE, POIS ELA ESTÁ CADA VEZ MELHOR E MAIS ENVOLVENTE. UM BEIJO A TODOS
JÚLIA
quem é rainha não perde a majestade! BETHANIA, sempre será a nossa rainha da MPB. e dona Omara? nao tenho palavras para definir essa senhora cubana maravilhosa, elá merece nosso respeito e admiração. Essas duas meninas (da musica) com louvores do deuses são extraordinárias.
No show tb?
No CD 'dona' Omara dá show de bola. Que voz, que sensibilidade...Ela arrasa!!!
Bethânia não está mal, mas muito longe da cubana septua.
MB fez um disco maravilhoso com as canções de Roberto e Erasmo. Elevou-as ao mais alto com sua sensibilidade e elegância. Arranjos maravilhosos para mostrar ao REI que, fugindo da mesmice, seu repertório tem muita coisa de qualidade.
Deveria, entretanto, deixar o repertório de seu ídolo para outras ocasiões. Em seus últimos shows não havia espaço para ele.
Você Não Sabe é belíssima e Bethânia vai fundo em sua interpretação mas, vc está certo, Mauro, está acéfala neste roteiro. A emoção tratada aqui é de outra natureza. É Cio da Terra, é kubanakan, é Penas do Tiê.
Até mesmo o romantismo delicado necessita de ambientação para emocionar.
Assisti duas vezes ao excelente show de Omara Portuondo e Maria Bethânia no Canecão e ao ler a crítica publicada hoje nesse jornal sobre a estréia do show (por sinal atrasadinha, o show foi sexta, a crítica só saiu na segunda, parece que esse jornal ainda não adotou a tecnologia digital) fiquei intrigada com dados completamente equivocadas. Qual o problema de Bethânia ler a letra de O que será? Ninguém se incomoda, gostamos, inclusive. O que incomoda é um jornal afirmar erroneamente que Bethânia desafinou na palavra rum???????? Está faltando tudo nesse jornal: informação correta, conhecimento musical e respeito por uma das maiores cantoras do mundo.
Eu sei que o editor do segundo caderno desse jornal não é fã da Bethânia e cultua uma admiração doentia, coisa que só Freud explica, por uma cantora falecida, além de adotar uma postura completamente equivocada e rançosa de que para gostar de A não se pode gostar de B.
Feliz sou eu que gosto de Bethânia-me e Omara-me
Adélia Caldas – Rio
Mauro, mandei essa carta para o jornal o Globo.
BELÍSSIMO SHOW.
DOIS CAVALOS DE RAÇA!
AINDA BEM QUE EXISTEM ARTISTAS DE VERDADE EM CIRCULAÇÃO NO MERCADO. DÁ UM ALÍVIO...
GOSTARIA DE MAIS OPINIÕES SOBRE O SHOW...
Eu gosto da Adélia Caldas. Ela vai fundo na admiração por Bethânia. Defende, se mobiliza. É uma ativista da causa. Quisera eu ter esse entusiasmo por qualquer coisa na vida.
Também concordo com a Adélia. Não tem nada demais ler a letra, todos os grandes cantores do mundo fazem isso. Aliás acho que esse é um dos charmes que Bethânia faz, por que se ela consegue decorar todo o show, que são longos, todas as poesias, por que uma determinada música não decora? Acho que faz parte do charme dessa baiana maravilhosa. Os fãs costumam disputar a tapa essas letras que ela joga displicentemente no palco,inclusive eu.
Cláudio Teixeira
MAURO: vc tem mais detalhes da cenografia ? Achei lindo demais essa foto do show !
Edu - abc
Lindo o cenário.
Duas aves sonoras. De belíssimo canto.
E quanta cor...
maria
Desculpem, mas acho este negócio de ler letra de música pq não decorou, um acinte. Charme nenhum.
Dentro de um certo contexto, ler uma bela letra da canção para enfatizar seu conteúdo, ainda vá lá.
Bethania, todos sabem, adora ensaiar. E ensaia mesmo. Quem trabalha com ela já sabe - hora para entrar sem hora para sair. E não é burra. Deveria abrir o pano com tudo em cima.
Um deslize, um esquecimento, ok, humanus est, mas 'escolher' aleatoriamente uma música para ler em todas as sessões pq não consegue decorá-la chega a ser bizarro.
Injustificável.
Bethanetes, perdão, mas a baiana precisa fazer valer seu decantado perfeccionismo, concordam?
Não acho não.
Bethânia já é perfeita mesmo lendo uma letra. Sabe que eu também gosto...
Tem um vídeo na internet, um show antigo, ela cantando Podres Poderes, com a letra na mão. O número é maravilhoso, forte, tem tudo a ver. Acho que Bethânia escolhe a dedo a canção que quer ler. Acho que só quem não enxerga além não percebe.
E outra coisa, ela adora provocar...
Salve a rainha.
Frederico Carvalho
Postar um comentário
<< Home