Precisão pauta dueto de Salmaso com Mehmari
Resenha de show
Título: Voz e Piano
Artista: Mônica Salmaso e André Mehmari
Local: Teatro Rival (RJ)
Data: 31 de outubro de 2007
Em cartaz até 1º de novembro de 2007
Cotação: * * * *
Em cartaz já desde 2001, o recital de voz, piano (e percussão) feito por Mônica Salmaso com André Mehmari voltou ao Rio de Janeiro esta semana para duas apresentações no Teatro Rival. E o que se viu e ouviu no palco reformado do Rival foi uma cantora de fartos recursos vocais em total interação com um exímio pianista. Aliás, Salmaso se porta em cena como um músico. Voz e Piano é show pautado pela economia e pela precisão. Desde o primeiro número - Camisa Amarela, de Ary Barroso - até o curtíssimo bis dado com Canoeiro (Dorival Caymmi). Não há excessos. Nada sobra. E nada falta. Nem na voz cálida da cantora. Nem no toque minimalista do piano de Mehmari. O músico arma a cama para a cantora deitar e rolar. E poucas cantoras no Brasil têm voz e técnica para encarar recital de voz e piano. Salmaso tem. E tem também cumplicidade com Mehmari, denunciada nos olhares trocados em Senhorinha (Guinga e Paulo César Pinheiro), pérola gravada no CD Voadeira.
A propósito, o roteiro exibe pouca novidade para quem conhece a discografia de Salmaso. Uma surpresa é Tonada de Luna Llena, de Simón Díaz, compositor apresentado em cena pela cantora como "o Dorival Caymmi da Venezuela". Se Mehmari permanece o tempo todo no piano, com direito a solo em O Futebol (Chico Buarque), a intérprete se alterna no suave pandeiro e na frigideira, bem usada em números como Doce na Feira, samba de Jair do Cavaquinho e Altair Costa. Falando em samba, Pra que Discutir com Madame? (Janet Almeida) ganha contorno quase sinfônico, com passagens instrumentais. De forma bastante similar, Insensatez (Tom Jobim e Vinicius de Moraes) tem acentuada sua inspiração erudita. Entre tema de domínio público (Bate Canela, já gravado por Salmaso em seu álbum Trampolim), um Chico Buarque quase desconhecido (Sinhazinha, da trilha do filme Para Viver um Grande Amor) e um Caetano Veloso mais popular (Desde que o Samba É Samba, em tom sussurrante), a cantora e o pianista ainda apresentam um tema afro de Sérgio Santos e Paulo César Pinheiro - o Saruê, com versos multilingües, enfrentados com segurança pela intérprete - e o preciso Baião de Quatro Toques, de José Miguel Wisnik. Enfim, um repertório irretocável que realça o pleno entendimento entre Mônica Salmaso e André Mehmari. Menos, às vezes, é bem mais...
Título: Voz e Piano
Artista: Mônica Salmaso e André Mehmari
Local: Teatro Rival (RJ)
Data: 31 de outubro de 2007
Em cartaz até 1º de novembro de 2007
Cotação: * * * *
Em cartaz já desde 2001, o recital de voz, piano (e percussão) feito por Mônica Salmaso com André Mehmari voltou ao Rio de Janeiro esta semana para duas apresentações no Teatro Rival. E o que se viu e ouviu no palco reformado do Rival foi uma cantora de fartos recursos vocais em total interação com um exímio pianista. Aliás, Salmaso se porta em cena como um músico. Voz e Piano é show pautado pela economia e pela precisão. Desde o primeiro número - Camisa Amarela, de Ary Barroso - até o curtíssimo bis dado com Canoeiro (Dorival Caymmi). Não há excessos. Nada sobra. E nada falta. Nem na voz cálida da cantora. Nem no toque minimalista do piano de Mehmari. O músico arma a cama para a cantora deitar e rolar. E poucas cantoras no Brasil têm voz e técnica para encarar recital de voz e piano. Salmaso tem. E tem também cumplicidade com Mehmari, denunciada nos olhares trocados em Senhorinha (Guinga e Paulo César Pinheiro), pérola gravada no CD Voadeira.
A propósito, o roteiro exibe pouca novidade para quem conhece a discografia de Salmaso. Uma surpresa é Tonada de Luna Llena, de Simón Díaz, compositor apresentado em cena pela cantora como "o Dorival Caymmi da Venezuela". Se Mehmari permanece o tempo todo no piano, com direito a solo em O Futebol (Chico Buarque), a intérprete se alterna no suave pandeiro e na frigideira, bem usada em números como Doce na Feira, samba de Jair do Cavaquinho e Altair Costa. Falando em samba, Pra que Discutir com Madame? (Janet Almeida) ganha contorno quase sinfônico, com passagens instrumentais. De forma bastante similar, Insensatez (Tom Jobim e Vinicius de Moraes) tem acentuada sua inspiração erudita. Entre tema de domínio público (Bate Canela, já gravado por Salmaso em seu álbum Trampolim), um Chico Buarque quase desconhecido (Sinhazinha, da trilha do filme Para Viver um Grande Amor) e um Caetano Veloso mais popular (Desde que o Samba É Samba, em tom sussurrante), a cantora e o pianista ainda apresentam um tema afro de Sérgio Santos e Paulo César Pinheiro - o Saruê, com versos multilingües, enfrentados com segurança pela intérprete - e o preciso Baião de Quatro Toques, de José Miguel Wisnik. Enfim, um repertório irretocável que realça o pleno entendimento entre Mônica Salmaso e André Mehmari. Menos, às vezes, é bem mais...
18 Comments:
Mauro,
Fico mesmo feliz de ler este seu comentario sobre este tipo de show de Monica Salmaso. Assisti a um show dela no Teatro SESC em Sao Paulo e achei a voz e tecnica dela maravilhosas...repertorio tambem muito bom...tenho todos os discos de Monica com excessao do primeiro com o Paulo Belinatti, mesmo assim, sendo admirador da obra dela, nao consigo ouvi-la muito. Meu album favorito eh o "Voadeira" mas de forma geral ela me cansa...existe algo estranho ao redor dela no palco..nao acho que ela tem uma presenca impactante...nao sei se esta e a palavra mas o fato eh que nao consigo "amar de paixao", "adora-la" e sinto uma preocupacao de masiada em ser chic e elegante e sofisticada em tudo..nos arranjos, no repertorio e na divisao melodica...isso me incomoda. As "novas roupagens" para velhas musicas soam todas distantes das versoes originais,como uma necessidade de estar longe. Exemplo disso, os sambas em que Monica sempre esta cantando em tom menor, em ritmo lento...acho um saco! Ouca "Ilu aye" e talvez voce sentira o que eu sinto.
Gostaria que ela fosse mais POP e menos impostada! Voz e tecnica ela tem.
Desculpa se estou pecando em falar assim de tao otima artista mas ja que o seu espaco eh um dos mais deliciosos do genero, me sinto confortavel em expor meu pensamento.
Beijinhos
Mauro assisti a poucos dias Salmaso, Toninho Ferraguti e Teco Cardoso aqui em Fortaleza, e só confirmou o que já pensava dela - MELHOR CANTORA DE SUA GERAÇÃO. Técnica apuradíssima, voz aveludada, repertório irretocável, e realmente comportamento de músico (economia de gestos para que a música soe, é seu estilo). Aqui me chamaram atenção os temas "Avesso" (do repertório da Ceumar), Baião de quatro toques (citado por vc), Casamiento de negros (Milton Nascimento) e, sobretudo "Estranha forma de vida" (Amália Rodrigues) que espero um dia Salmaso venha a gravar.
Mauro, acho que Senhorinha está no disco Iaiá, e não no Voadeira... mas não tenho certeza.
Parabéns pela resenha e pelo aniversário do blog.
Vamos ver quanto tempo vai demorar para começarem a criticar a Salmaso! Espero estar errado.
PÔ, será que vai rolar CD Piano e Voz com a Mõnica depois do snsacional CD que o Mehmari gravu com a Ná Ozzetti?
Nossa Mauro que vontade de ver esse show... ^que repertorio lindo... valeu pela resenha... mas uma pergunta...
Por que você não deu 5 estrela?
Diego
Vi esse show, há uns cinco anos mais ou menos, num teatro improvisado do Tusp, em São Paulo.Num tempo em que a Monica era a novidade e a expectativa num cenário em que não havia cantoras novas como atualmente.O show é realmente uma pérola,mas lembro bem que alguém comentou que era erudito demais,mas acho que a proposta da Salmaso é essa mesmo,usar a voz como instrumento.A música Senhorinha(Voadeira) é uma beleza e o Guinga disse em show dele que a fez para sua filha ainda criança,que inveja boa,ganhar uma pérola dessas.Para quem se interessar,
a cantora apresenta o show “Mônica Salmaso em Soneto”, acompanhada de Toninho Ferragutti, (acordeon), Luiz Guello (percussão), Zé Alexandre Carvalho (baixo acústico) e Camilo Carrara (violões). No repertório canções , como “Cabrochinha”, de Paulo César Pinheiro; “Vingança”, de José Maria de Abreu e Francisco Mattoso e “Béradêro”, de Chico César. 80 lugares, com distribuição de senhas no local. 1 Grátis
Dia(s) 06/11 Terça, 17h30.
SESC 24 de Maio
Beleza Pura!
Poxa, queria ter estado no Rio para assistir a esse show. Até hoje não vi a Monica Salmaso ao vivo, mas os discos já são tão bons!
Acho a parceria com Andre Mehmari especial. Esse pianista (arranjador, compositor, etc.) é um troço! Ele fica de igual para igual com as cantoras, não se sobrepõe, mas também não se limita a fazer o tradicional colchão harmônico para as intérpretes se deitarem. Usa células rítmicas tão apropriadas quanto surpreendentes, seus acordes vão do perfeito maior até os dissonantes, usa todos os recursos do teclado sem medo de ser feliz.
Desde CC Mariano - que fez evoluir o papel do pianista acompanhador (penso em 'Voz e Suor' e nos sambas que gravou com Elis) - não tinha visto um negócio tão interessante.
Quanto à Mônica Salmaso, concordo com o Edu Lobo, um dos integrantes da minha santíssima trindade: é a melhor voz que apareceu nos últimos anos. Uma voz que tem por detrás um coração e uma grande inteligência musical.
Oi, luc
Concordo com você em relação à comparação entre o Andre Mehmari e César Camargo Mariano. Ambos são maravilhosos, mas tendo a gostar mais do Andre.
Quanto a Mônica, tenho minhas ressalvas. Discordo de você, pois sinto que é justamente coração que falta nas interpretações dela.
Acho que penso assim porque conheço tantas cantoras maravilhosas e muito, mas muito, melhores do que Mônica Salmaso, mas que não são conhecidas do público em geral.
abração,
Denilson
NA Salmaso falta sobretudo um gosto pra repertório. VAsculhe a obra toda dela e vai que ela tem de razoável são os shows armados de grnades pianistas.
Mais uma cantora a fazer autópsias de compositores falecidos.
Reinaugura a cada ano uma era de regravações que ja devia ter acabado.
Oi Denilson, a carreira musical não é moleza, a pessoa dá uma semibreve e muitas vezes recebe uma semifusa de volta. Gosto muito de música, mas não teria energia para ser mais do que um ouvinte. Os cantores sofrem (mas gozam, diria o José Simão).
O bom deste blog é que a gente pode ficar conhecendo os cantores que a mídia de massa não divulga.
Eu adoooro 'Pra que Discutir com Madame?', mas vou avisando que me identifico mais com a madame da canção do que com o sambista que a critica.
Mônica é o que Há !
Adoro, chego a me confundir com os fundamentalistas da colméia ensandecida de MB...
Acho que sou meio ou totalmente louco gosto de Selma Reis e vem um bando e diz que ela é "OVER", sobra emoção, gosto de Mônica e me dizem que falta emoção, será que vou ter que escolher o meio termo e me virar com Ivete Sangalo ?
Senhorinha é do Voadeira mesmo. Sinhazinha (Despertar) é do Iaiá. Talvez os diminutivos um pouco parecidos estejam fazendo confusão. Ambas as músicas são maravilhosas na voz da Mônica.
Flávio
Iniciar o segundo ano do teu blog com Mônica Salmaso e André Mehmari, sem dúvida, vai trazer sorte ao Notas Musicais, viu Mauro?
Amo os dois. Aliás, os três!
Abraço,
Anderson Falcão
Brasília - DF
Acabei de ver o espetáculo Soneto com a Salmaso num espaço bem intimista,e queiram ou não ela continua deslumbrante.Cada vez melhor!!!!
E ae galera!!
To passando por aqui pra da um toque de outra combinação do André Mehmari, agora com Hamilton de Holanda no projeto "Continua Amizade" um trabalho muito bom , eles vão se aoresenta no auditorio ibirapuera nos dias 16,17 e18 de novembro. Da uma olhada no site www.auditorioibirapuera.com.br
La tem videos e melhores informações sobre o Show
quem puder ir não vai se arrepender, abraços Fabricio
Este show tinha q virar disco ou entao DVD. MOnica Salmaso ate hoje nao lancou DVD. Eu a considero a melhor voz q surgiu mesmo nos ulitmos tempos.
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