14 de outubro de 2007

Elza engole repertório de sambas em 'Beba-me'


Resenha de CD / DVD
Título: Beba-me
Artista: Elza Soares (em foto de João Wainer)
Gravadora: Biscoito Fino
Cotação: * * * 1/2

Elza Soares perdeu grande oportunidade de estrear em DVD com o registro do show Do Cóccix até o Pescoço - inspirado no álbum homônimo de 2002, um dos melhores da carreira da cantora. Não por acaso, ecos daquele espetáculo impagável ainda reverberam em Beba-me, show idealizado em 2006 para marcar o retorno da Mulata Assanhada ao samba. Com roteiro de leque estético mais reduzido, Beba-me não se revelou coeso como Do Cóccix até o Pescoço - há sambas dispensáveis como Contas, Exagero, Cartão de Visita e Palmas no Portão - e tampouco teve a aura renovadora de Vivo Feliz (2003). Seu sustento está fincado na voz resistente de Elza, de (incríveis!!!) 77 anos. Voz de guerreira que expressa sua longa via-crúcis já na pungente versão a capella de Meu Guri, ouvida enquanto aparece na tela a apresentação do menu do DVD - gravado em show no Sesc Vila Mariana (SP), em março, um mês após a data inicialmente prevista (por problemas de saúde, Elza teve que cancelar dias antes a gravação prevista para fevereiro).
Mesmo debilitada por conta de operação de diverticulite, a diva driblou as dores do corpo e da alma para encarar repertório que, de certa maneira, traduz sua sofrida história de vida. A ponto de encaixar seu nome nos versos dos sambas Lata D'Água (1952) e Dura na Queda (2000). Escorada nos arranjos bem suingantes de Eduardo Neves, calcados nos sopros, Elza entorta os compassos de sambas como Estatuto de Gafieira (com direito a rebolados em cena), Beija-me (cujo verso-título é adaptado para gerar o nome do show) e Pra que Discutir com Madame?. "Madame é louca...", opina Elza ao fim do número, sentada na cadeira exposta no palco para dar apoio ao corpo castigado pelas dores do pós-operatório.
Às vezes, Elza exagera. Como nas dramatizações e nos improvisos maliciosos feitos ao longo de O Neguinho e a Senhorita. São todos desnecessários porque o canto de Elza dispensa enfeites. A ponto de ela até dispensar o microfone na apresentação exibicionista de Pranto Livre, uma das jóias de seu (irregular) repertório dos anos 70 que são revividas neste show dirigido por José Miguel Wisnik. Ele comparece ao piano em Flores Horizontais, número de calma bissexta no roteiro, cujo momento mais inventivo é o pot-pourri que une, no ritmo do tango, Volta por Cima e Fadas (herança do CD Do Cóccix até o Pescoço) e que a intérprete canta com rara desenvoltura. Enfim, é um show de Elza... E Elza Soares tem voz e molejo para tragar de um gole só o punhado de sambas maiores ou menores que canta em Beba-me. Em cena, a mulata ainda é a tal.

10 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Elza é tudo de bom,e Flores Horizontais é belíssima na voz dela.Quem assiste um show da Fênix Elza não esquece jamais.

14 de outubro de 2007 às 11:46  
Anonymous Anônimo said...

ELZA SOARES é TUDO!!!

14 de outubro de 2007 às 22:34  
Anonymous Anônimo said...

Demorou mesmo um DVD da Elza, é uma pena, mas nunca é tarde. Elza é uma das maiores.

14 de outubro de 2007 às 22:43  
Anonymous Anônimo said...

admiro muito a fibra e a tenacidade de elza, portanto fui assistir a seu show.
achei-a, no entanto, muito excessiva na maneira de cantar, com aquele armstrong sempre pairando a seu lado.
se contivesse um pouco mais aqueles 'trinados', com a energia que emana dela, seria uma cantora ainda mais vibrante.
e não soaria cansativa.

15 de outubro de 2007 às 10:07  
Anonymous Anônimo said...

(2)se contivesse um pouco mais aqueles 'trinados', com a energia que emana dela, seria uma cantora ainda mais vibrante.
e não soaria cansativa.

15 de outubro de 2007 às 15:59  
Anonymous Anônimo said...

concordo com os 2 comentários acima...mas não assisti o show...falo dos cds.

15 de outubro de 2007 às 16:06  
Anonymous Anônimo said...

Também concordo com todos os comentários anteriores, tanto sobre a qualidade como os excessos. Estive no show, no belíssimo Auditório do Ibirapuera, só não gostei de uma coisa, depois de interpretar, TÃO BEM, tantas canções maravilhosas, a Elza encerra a apresentação com "Ah!,Ah!, Ah!, minha pipa tá no ar."
e a gente vai pra casa com esta "praga" na cabeça...

15 de outubro de 2007 às 19:54  
Anonymous Anônimo said...

Admiro muito a MULHER Elza.
quanto à cantora..."contigo en la distancia..."

16 de outubro de 2007 às 17:11  
Anonymous Anônimo said...

Acabei de ouvir o CD, sem dúvida é o melhor CD de SAMBA do ano. Parabéns a Elza e ao Arranjador. Pena, que no final todos os prêmios vão para Alcione.

19 de outubro de 2007 às 21:34  
Anonymous Anônimo said...

Amo Elza Soares. Do porte de Billie, Aretha, é nossa maior cantora viva!
Aplusos para a diva!

28 de janeiro de 2009 às 11:36  

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