Beth oscila entre documentar e festejar samba
Resenha de CD / DVD
Título: 40 Anos de Carreira ao Vivo no Theatro Municipal
Artista: Beth Carvalho
Gravadora: Andança / Sony BMG
Cotação: * * *
Em 1º de dezembro de 2005, véspera do Dia Nacional do Samba, Beth Carvalho exerceu mais uma vez seu poder aglutinador e reuniu diversas gerações de sambistas no palco do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. O show foi gravado e seu registro está sendo lançado, um ano depois, em DVD e em CD duplo (com dois volumes vendidos separadamente). Ambos inauguram o selo da cantora, Andança, batizado com o nome da música que projetou a artista (em 1967).
O DVD começa em tom documental. Após emocionante entrada do Jongo da Serrinha, com Vapor da Paraíba, jongo de Mestre Fuleiro, vem a reprodução de valioso depoimento do seminal João da Baiana - captado em conversa com Donga e Pixinguinha - sobre a repressão policial sofrida pelo samba dos anos 10 aos 30. "Pandeiro dava (enquadramento por) porte de arma", corrobora logo depois Monarco, um dos convidados do show. É a deixa para a apresentação de Delegado Chico Palha com o toque luxuoso do Quinteto em Branco e Preto. Detalhe: o delegado que deu nome ao antigo samba de Hélio e Campolino existiu e entrou tristemente para a História por perseguir (e espancar) os pioneiros sambistas.
A reunião dos bambas no palco (elitista) do Municipal tem valor antropológico por simbolizar a vitória do samba contra quem o oprimiu ao longo de décadas - simbologia já exposta na letra de Tempos Idos, parceria de Cartola e Carlos Cachaça, revivida pelo Quinteto em Branco e Preto. Mas, infelizmente, o tom documental vai se esmaecendo à medida que o DVD avança e o registro acaba se limitando à apresentação do longo roteiro dividido em blocos temáticos pelo diretor Túlio Feliciano, com direito às presenças ilustres de Vó Maria (viúva de Donga, cheia de vitalidade em Pelo Telefone), Dona Ivone Lara (majestosa na bela Acreditar) e Diogo Nogueira (em evolução como cantor, como prova sua leitura de O Poder da Criação, a jóia de seu pai João Nogueira). É uma pena...
Como é impossível historiar o desenvolvimento do samba em 28 números, autores emblemáticos como Noel Rosa ficaram ausentes do roteiro. Se falta documento, sobra festa, sobretudo no redentor pagode armado no palco do Municipal com a reunião de nomes do porte de Zeca Pagodinho, Luiz Carlos da Vila, Dudu Nobre e Almir Guineto. Algumas músicas dessa segunda metade do show já são recorrentes na voz de Beth Cavalho e foram, inclusive, registradas no primeiro DVD da intérprete, A Madrinha do Samba ao Vivo Convida, editado em 2004 com capa que lembra o atual DVD pela repetição do figurino da artista. O roteiro é semelhante.
No fim, a Bateria da Mangueira entra em cena e faz o Carnaval em números como Coisinha do Pai (com intervenção afetiva de Luana Carvalho, filha de Beth) e Vou Festejar. Mais celebrando do que documentando a evolução do samba, 40 Anos de Carreira ao Vivo no Theatro Municipal reforça o poder já matriarcal de Beth Carvalho, cujo currículo pautado pela devoção ao samba a credencia a comandar o espetáculo de caráter histórico e festivo.
Título: 40 Anos de Carreira ao Vivo no Theatro Municipal
Artista: Beth Carvalho
Gravadora: Andança / Sony BMG
Cotação: * * *
Em 1º de dezembro de 2005, véspera do Dia Nacional do Samba, Beth Carvalho exerceu mais uma vez seu poder aglutinador e reuniu diversas gerações de sambistas no palco do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. O show foi gravado e seu registro está sendo lançado, um ano depois, em DVD e em CD duplo (com dois volumes vendidos separadamente). Ambos inauguram o selo da cantora, Andança, batizado com o nome da música que projetou a artista (em 1967).
O DVD começa em tom documental. Após emocionante entrada do Jongo da Serrinha, com Vapor da Paraíba, jongo de Mestre Fuleiro, vem a reprodução de valioso depoimento do seminal João da Baiana - captado em conversa com Donga e Pixinguinha - sobre a repressão policial sofrida pelo samba dos anos 10 aos 30. "Pandeiro dava (enquadramento por) porte de arma", corrobora logo depois Monarco, um dos convidados do show. É a deixa para a apresentação de Delegado Chico Palha com o toque luxuoso do Quinteto em Branco e Preto. Detalhe: o delegado que deu nome ao antigo samba de Hélio e Campolino existiu e entrou tristemente para a História por perseguir (e espancar) os pioneiros sambistas.
A reunião dos bambas no palco (elitista) do Municipal tem valor antropológico por simbolizar a vitória do samba contra quem o oprimiu ao longo de décadas - simbologia já exposta na letra de Tempos Idos, parceria de Cartola e Carlos Cachaça, revivida pelo Quinteto em Branco e Preto. Mas, infelizmente, o tom documental vai se esmaecendo à medida que o DVD avança e o registro acaba se limitando à apresentação do longo roteiro dividido em blocos temáticos pelo diretor Túlio Feliciano, com direito às presenças ilustres de Vó Maria (viúva de Donga, cheia de vitalidade em Pelo Telefone), Dona Ivone Lara (majestosa na bela Acreditar) e Diogo Nogueira (em evolução como cantor, como prova sua leitura de O Poder da Criação, a jóia de seu pai João Nogueira). É uma pena...
Como é impossível historiar o desenvolvimento do samba em 28 números, autores emblemáticos como Noel Rosa ficaram ausentes do roteiro. Se falta documento, sobra festa, sobretudo no redentor pagode armado no palco do Municipal com a reunião de nomes do porte de Zeca Pagodinho, Luiz Carlos da Vila, Dudu Nobre e Almir Guineto. Algumas músicas dessa segunda metade do show já são recorrentes na voz de Beth Cavalho e foram, inclusive, registradas no primeiro DVD da intérprete, A Madrinha do Samba ao Vivo Convida, editado em 2004 com capa que lembra o atual DVD pela repetição do figurino da artista. O roteiro é semelhante.
No fim, a Bateria da Mangueira entra em cena e faz o Carnaval em números como Coisinha do Pai (com intervenção afetiva de Luana Carvalho, filha de Beth) e Vou Festejar. Mais celebrando do que documentando a evolução do samba, 40 Anos de Carreira ao Vivo no Theatro Municipal reforça o poder já matriarcal de Beth Carvalho, cujo currículo pautado pela devoção ao samba a credencia a comandar o espetáculo de caráter histórico e festivo.
12 Comments:
Beth precisa gravar um disco com músicas novas, como fazia antigamente.
Mauro, alguns intelectuais ainda nutrem a idéia furada de que o Teatro Municipal do Rio é freqüentado pela alta sociedade. Provavelmente nunca foram lá.
Vou muito aos concertos da OSB e a outras apresentações. A grande maioria do público chega mesmo é de ônibus e de metrô. Todo mundo de classe média remediada, como eu. Ricos, como Beth Carvalho, preferem outras paragens.
Eu abro um grande bocejo quando vem mais um Secretário de Cultura e resolve requentar a idéia de começar a revolução social pela Cinelândia. Acham grande novidade botar o samba de Clementina de Jesus, Beth Carvalho e Elizeth Cardoso (todas elas artistas valorosas) no palco do Municipal, como se aquelas paredes não tivessem tremido durante anos a fio ao som das orquestras dos bailes de carnaval, com prejuízo grave para o patrimônio da cidade.
O samba é grande, é o que a gente tem de melhor, e não precisa do Municipal. A música clássica precisa.
Repertório
1. Vapor da Paraíba - Com Jongo da Serrinha
2. Delegado Chico Palha - Com Quinteto Em Branco E Preto
3. Tempos Idos - Com Quinteto Em Branco E Preto
4. Nas Veias do Brasil
5. Apoteose do Samba
6. Pelo Telefone - Com Vó Maria
7. Se Você Jurar
8. Linguagem do Morro
9. O Mundo Encantado de Monteiro Lobato / Samba do Trabalhador - Com Darcy da Mangueira
10. Lapa Em 3 Tempos / Reunião De Bacana (Se Gritar Pega Ladrão) / Mordomia - Com Ary Do Cavaco
11. Cântico à Natureza (Primavera) / Agoniza Mas Não Morre - Com Nelson Sargento
12. Vai Vadiar / Coração Em Desalinho - Com Monarco
13. Folhas Secas
14. O Poder Da Criação - Com Diogo Nogueira
15. Acreditar - Participação: D.Ivone Lara
16. Samba No Quintal / Doce Refúgio - Participação: Luiz Carlos da Vila
17. O Show Tem Que Continuar - Participação: Sombrinha e Luiz Carlos da Vila
18. Só Pra Contrariar - Com Sombrinha
19. Não Quero Saber Mais Dela - Participação: Sombrinha
20. Conselho - Com Almir Guineto
21. Quem É Ela - Com Zeca Pagodinho e Dudu Nobre
22. Camarão Que Dorme A Onda Leva / S. José de Madureira - Participação: Zeca Pagodinho
23. Iaia / Bagaço da Laranja - Participação: Zeca Pagodinho
24. Coisa de Pele
25. O Meu Guri
26. Exaltação À Mangueira - Participação: Bateria da Mangueira
27. Coisinha do Pai - Participação: Luana Carvalho e Bateria da Mangueira
28. Vou Festejar - Participação: Bateria da Mangueira
Beleza saber que Beth gravou o Jongo, poderia ter regravado a seleção que continha no seu disco Firme e Forte de 83. Faltaram grandes sucessos como Senhora Rezadeira, Ô Isaura, Virada, Firme e Forte, Caciqueando, Toque de Malícia, Escasseia, Padroeira, Além da Razão. Dispensável as mesmas músicas gravadas no primeiro dvd, tanto sucesso, não tinha necessidade.
Mas existe um grande número de músicas que não entraram no primeiro. E bola dentro da Beth amadrinhando Diogo Nogueira, cantando com Vó Maria e interpretando com Darcy o clássico samba da Mangueira sobre Monteiro Lobato.
Faltaram as participações de Jorge Aragão, Fundo de Quintal, e dos já falados Martinho da Vila, Paulinho da Viola e Alcione.
Como sempre maravilha de repertório, mas concordo que a Beth deva gravar um disco de inéditas. Já está passando da hora.
Marcelo Barbosa - Brasília (DF)
Cá entre nós, figurino não é o forte dos nossos artistas. Será que não ninguém competente para fazer esse serviço! Beth durante anos parecia que vestia a mesma bata e não mudou muito coisa. O figurino vermelho de Bethânia no novo show dá medo de tão feio, assim como outros figurinos lamentáveis como aquelas capas horrendas, estilo Ângela Maria, do show Âmbar - Imitação da Vida. Gal pelo menos ousou mais nesse item e muitas vezes acertou, descontando, especialmente, aquelas pijamas de seda de O Sorriso do Gato de Alice. Alcione, com todo exagero e alguma cafonice, justiça seja feita, se preocupa mais com as roupas de show, assim como a quase sempre elegante Zizi Possi. Mas um pouco mais atenção para os figurinos do show pelos nossos artista não faz mal, inclusive do pessoal do pop rock.
Flávio
Flávio
Gosto da voz da Beth Carvalho . É verdade que é rasa e não tem o poder que a Madame Marron tem mas isso não importa .
Assim como uma das minha preferidas , Fernanda Abreu , ela sabe driblar essa deficiência com competência e até um certo charme . Agora a não inclusão de um samba de Noel Rosa é imperdoavel . A não participação de nomes como Paulinho ( sempre esquecido ... ) , Martinho e Alcione idem !
Arrisco até em dizer que alguns poderiam estar na lista , mesmo não sendo " sambistas " . Como : Marisa Monte , Marcelo D2 , Fernanda Abreu , Ney Matogrosso , Roberta Sá e até Jair Rodrigues . Não é raro notar em seus trabalhos uns sambinhas pra lá de bom . Não sei não .... mas a Beth deu primazia para seus " afilhados " .
Se o carater documental era importante porquê não incluir " Desde que o samba é samba " de Caetano Veloso ou " Não deixe o samba morrer " de Alcione ?
No mais , continuo esperando o CD de sambas da Bahia . E pra Beth parabéns pelo selo Andaça .Tá virando moda né ?
Não gostei do repertório pois muita coisa boa ficou de fora pra Beth inlcuir Coisinha do Pai , sem falar na capa do DVD/CD que é a mesma de sempre . Ui !!
rosemberg
mauro gostariade saber se o dvd que a beth gravou cantando os sambas da bahia ficará para 2007.
um abraço
rosemberg
Sim, Rosemberg, desde o início o plano da cantora era lançar o projeto baiano somente em 2007 para não embolar com esta gravação do Municipal.
Quem disse que ela é a madrinha do samba ?
É verdade ela não é a madrinha, é a Rainha do Samba.
Beth Carvalho é importantíssima para o samba mas, pessoalmente, acho-a um picolé de chuchú. Voz monocórdia, repertório manjadíssimo, sem nenhum brilho pessoal. Mas tem seu valor pq tem estilo e fez escola.
Graças a Deus, respeitando a opinião do anônimo, este "picolé de chuchu" sempre desceu doce na minha goela e sempre foi sinônimo de música de qualidade para os meus ouvidos.
De que adianta ter uma bela voz, dar muitos agudos e ser fraca de repertório? Não me refiro aos medalhões, mas tem muita coisa "nova" que é simplesmente sofrível. E elas ainda se auto-intitulam cantoras de MPB. Raras exceções como Roberta Sá. Teve uma destas novas já citadas pelo Mauro, que ouvi na loja e não consegui nem ir para a segunda faixa. Prefiro ficar com o velho e refinado gosto. Um abraço,
Marcelo Barbosa - Brasília (DF)
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