Ezequiel sai de cena exatos 20 anos após Cazuza
Há 20 anos, em 7 de julho de 1990, Cazuza (1958 - 1990) saiu de cena e entrou para a História da música brasileira pela poesia crua que radiografou com precisão sua geração sem ideologia. Exatos 20 anos depois, Ezequiel Neves - descobridor do Barão Vermelho, o grupo que projetou Cazuza na cena pop dos anos 80 - é quem sai de cena, aos 74 anos, vítima de complicações decorrentes de tumor no cérebro, enfisema e cirrose. A coincidência de datas é um dado curioso que fecha a trajetória de um produtor e agitador cultural tão Exagerado quanto seu pupilo. Mas a vida e a obra de Ezequiel Neves - ou Zeca Jagger, como ele era conhecido no meio musical - não se limitam à relação profissional e pessoal travada com Cazuza com a intensidade que caracterizava a vida de ambos. Dez anos antes de revelar Cazuza, de quem foi parceiro (com Leoni) no hit Exagerado, Zeca já militava na imprensa musical alternativa - mantida com heroísmo na década de 70, tempos ditatoriais que não contavam com as facilidades tecnológicas da era virtual - com artigos espirituosos que fugiam dos padrões formais do jornalismo pop nacional. Mordaz, Ezequiel não fazia média - nem mesmo com a mídia. Não tinha papas na língua. Mas tinha faro. E foi esse faro que o levou a jogar todas suas fichas no som cru e stoneano do Barão Vermelho tão logo ouviu o grupo fundado por Frejat e Guto Goffi. Há quem pense injustamente que o Barão Vermelho estreou em disco, em 1982, porque Cazuza era o filhinho do papai João Araújo, diretor da gravadora Som Livre. Mas não foi bem assim. Foi Ezequiel quem - com o auxílio do produtor Guto Graça Melo - convenceu Araújo de que o Barão merecia um contrato com a Som Livre. Vencida a resistência inicial do executivo, o grupo deslanchou - não de imediato, mas a partir de 1983, com os avais imediatos de Caetano Veloso e Ney Matogrosso - e Ezequiel passou a ser uma espécie de sexto Barão, zelando pela alma da banda ao produzir os discos da turma. Como produtor, Zeca também entrelaçou nos anos 90 sua trajetória fonográfica com as de Ângela RoRo - ao pilotar o primeiro disco ao vivo da artista, gravado em 1993 - e de Cássia Eller (1962 - 2001), que abordou a obra de Cazuza em disco de peso, Veneno Antimonotonia (1997), que desafiou o padrão pop imposto à Cássia pela gravadora PolyGram (atual Universal Music). Enfim, Zeca Jagger - assim chamado por cultuar o rock básico dos Rolling Stones - tinha personalidade. Era expansivo - e sua sonora gargalhada era a perfeita tradução de seu jeito exagerado de viver - e ferino. Às vezes, até cruel. Mas fiel aos seu ideais e ao seu rock.
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Há 20 anos, em 7 de julho de 1990, Cazuza (1958 - 1990) saiu de cena e entrou para a História da música brasileira pela poesia crua que radiografou com precisão sua geração sem ideologia. Exatos 20 anos depois, Ezequiel Neves - descobridor do Barão Vermelho, o grupo que projetou Cazuza na cena pop dos anos 80 - é quem sai de cena, aos 74 anos, vítima de complicações decorrentes de tumor no cérebro, enfisema e cirrose. A coincidência de datas é um dado curioso que fecha a trajetória de um produtor e agitador cultural tão Exagerado quanto seu pupilo. Mas a vida e a obra de Ezequiel Neves - ou Zeca Jagger, como ele era conhecido no meio musical - não se limitam à relação profissional e pessoal travada com Cazuza com a intensidade que caracterizava a vida de ambos. Dez anos antes de revelar Cazuza, de quem foi parceiro (com Leoni) no hit Exagerado, Zeca já militava na imprensa musical alternativa - feita com heroísmo na década de 70, tempos ditatoriais que não contavam com as facilidades tecnológicas da era virtual - com artigos espirituosos que fugiam dos padrões formais do jornalismo pop nacional. Mordaz, Ezequiel não fazia média - nem mesmo com a mídia. Não tinha papas na língua. Mas tinha faro. E foi esse faro que o levou a jogar todas suas fichas no som cru e stoneano do Barão Vermelho tão logo ouviu o grupo fundado por Frejat e Guto Goffi. Há quem pense injustamente que o Barão Vermelho estreou em disco, em 1982, porque Cazuza era o filhinho do papai João Araújo, diretor da gravadora Som Livre. Mas não foi bem assim. Foi Ezequiel quem - com o auxílio do produtor Guto Graça Melo - convenceu Araújo de que o Barão merecia um contrato com a Som Livre. Vencida a resistência inicial do executivo, o grupo deslanchou - não de imediato, mas a partir de 1983, com os empurrãozinhos de Caetano Veloso e Ney Matogrosso - e Ezequiel passou a ser uma espécie de quinto Barão, zelando pela alma da banda ao produzir os discos da turma. Como produtor, Zeca também entrelaçou nos anos 90 sua trajetória fonográfica com as de Ângela RoRo - ao pilotar o primeiro disco ao vivo da artista, gravado em 1993 - e de Cássia Eller (1962 - 2001), que abordou a obra de Cazuza em disco de peso, Veneno Antimonotonia (1997), que desafiou o padrão pop imposto à Cássia pela gravadora PolyGram (atual Universal Music). Enfim, Zeca Jagger - assim chamado por cultuar o rock básico dos Rolling Stones - tinha personalidade. Era expansivo - e sua sonora gargalhada era a perfeita tradução de seu jeito exagerado de viver - e ferino. Às vezes, até cruel. Mas fiel aos seu ideais e ao seu rock.
não acredito em acaso, Ezequiel não se foi hoje por acaso
viva Cazuza! viva Ezequiel!
Certa vez numa matéria sobre Cazuza, Ezequiel afirmou que não havia um dia em que seu primeiro pensamento não fosse a memória de Cazuza (maisou menos osentido era esse).
Faz sentido que sua partida seja também compartilhada com essa memória. Ele deve estar em paz.
grande perda apesar de ser pouco conhecido do grande público.
Poeta, contestador, arrojado em suas opiniões e um jornalista genial, comandou nos anos 70 duas revistas no Brasil que foram decisivas para toda uma geração: a primeira fase da Revista Rolling Stone e a inovadora "Pop". Anos mais tarde, a revolução: Ezequiel encontrou em Cazuza sua alma gêmea. Uma dupla insuperável.
A contribuição e a importância de Ezequiel Neves para o Rock Nacional é muito grande. Os produtores de hoje parecem todos saídos de uma mesma "fornada", tudo igual.
Mauro, acredito que seria mais correto considerarmos o Zeca como o sexto Basrão e não quinto, uma vez que o Barão já era formado por cinco: Cazuza, Frejat, Guto, Dé, Maurício, ok ?
Tem razão, anônimo das 9:23. Grato pelo alerta. Abs, MauroF
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