17 de julho de 2010

'Adoniran 100 Anos' harmoniza quintal paulista

Resenha de CD
Título: Adoniran
100 Anos
Artista: Vários
Gravadora: Lua Music
Cotação: * * * *

Hábil cronista da cidade de São Paulo (SP), João Rubinato - vulgo Adoniran Barbosa (1910 - 1982) - retratou em sua obra, com linguagem popular, flashes do cotidiano da cidade que não aparece nos cartões postais e nos guias turísticos. É a Sampa das favelas e das injustiças sociais do bairro do Bixiga, o lendário point da colônia italiana. Contudo, ao expor as mazelas paulistas em sua música, Adoniran o fez com verve que deu ao seu repertório tom espirituoso que o pôs em lugar nobre na galeria dos compositores brasileiros. Essa obra é abordada com respeito em Adoniran 100 Anos, tributo idealizado e produzido por Thiago Marques Luiz - sob a inspirada direção musical de Rovilson Pascoal e André Bedurê - para festejar o centenário de nascimento do compositor, a ser comemorado em 6 de agosto de 2010. Com reverência, um elenco heterogêneo rebobina 34 músicas em 24 faixas. A escalação vai de Maria Alcina - cheia de verve no medley que abre o disco com a reunião de Um Samba no Bixiga (Adoniran Barbosa) com o onomatopaico Plac Ti Plac (Waldemar Camargo e Peteleco) - ao indispensável grupo Demônios da Garoa, recrutado para reviver Conselho de Mulher (Adoniran Barbosa, Oswaldo Molles e João B. dos Santos), o samba que fecha o disco. A guitarra de Rovilson Pascoal que pontua Mãe, Eu Juro (Peteleco e Marques Filho) - tema confiado a Márcia Castro - e se insinua em algumas passagens do samba Plac Ti Plac é uma das poucas liberdades estilísticas tomadas pelos diretores musicais do tributo. Contudo, como dupla autônoma, produtora da própria faixa com a adesão de Chico Salém, Arnaldo Antunes & Edgard Scandurra ousam sair do trilho habitual ao redirecionar Trem das Onze (Adoniran Barbosa) para caminho mais contemporâneo, criando expectativa sobre o CD que formatam juntos com músicas inéditas e releituras.
Mesmo sem inventar moda, o elenco brilha de modo geral. Cool, Diogo Poças se destaca ao destilar a fina melancolia de Prova de Carinho (Adoniran Barbosa e Hervê Cordovil). Ao defender bem o samba Aguenta a Mão, João (de Adoniran Barbosa com Hervê Cordovil), Virgínia Rosa mostra que precisa ser mais ouvida fora de São Paulo. Dentro do quintal paulista, aliás, o Quinteto em Branco e Preto encontra o tom exato do samba Mulher, Patrão e Cachaça (Adoniran Barbosa e Oswaldo Molles) enquanto Cristina Buarque dilui a chama trágica de Apaga o Fogo, Mané (Adoniran Barbosa) com a autoridade de quem entende de samba e sabe que, por ser embebida em dramas do cotidiano, a obra de Adoniran pede leveza para não soar pesada. Entre a malandragem carioca de Mart'nália (As Mariposas) e a graça de Vânia Bastos (Luz da Light), Adoniran 100 Anos expõe o rigor estilístico de Célia (Samba Italiano), o timbre operístico de Cida Moreira (Quando te Achei, parceria inusitada de Adoniran com a poeta Hilda Hilst), a ligeira empostação kitsch de Cauby Peixoto (Bom Dia Tristeza, de Adoniran e Vinicius de Moraes), a voz majestosa de Jair Rodrigues (quase solene em Saudosa Maloca), os agudos de Tetê Espíndola (fora do tom doído de Iracema) e os graves de Leci Brandão (perfeitos para No Morro da Casa Verde). Vale destacar também o medley conjugal em que Fabiana Cozza e Mateus Sartori se afinam entre as idas e vindas de atribulado casal, retratadas na junção dos sambas Armistício (Adoniran e Eduardo Gudin, o intérprete cool de Abrigo dos Vagabundos), Joga a Chave (Adoniran e Oswaldo França) e Já Tenho a Solução (Adoniran e Clóvis Lima). Há ainda a classe de Zélia Duncan (Tiro ao Álvaro, de Adoniran e Oswaldo Molles), a tentativa de Wanderléa de se ambientar no Samba do Arnesto (de Adoniran com Alocin) e a ressurreição de Markinhos Moura, que canta Despejo na Favela sem o mel falsificado de seu hit radiofônico dos anos 80. Enfim, o elenco é heterogêneo, mas o tributo é homogêneo. Viva Adoniran Barbosa em seus 100 anos!!!!

6 Comments:

Blogger Mauro Ferreira said...

Hábil cronista da cidade de São Paulo (SP), João Rubinato - vulgo Adoniran Barbosa (1910 - 1982) - retratou em sua obra, com linguagem popular, flashes do cotidiano da cidade que não aparece nos cartões postais e nos guias turísticos. É a Sampa das favelas e das injustiças sociais do bairro do Bixiga, o lendário point da colônia italiana. Contudo, ao expor as mazelas paulistas em sua música, Adoniran o fez com verve que deu ao seu repertório tom espirituoso que o pôs em lugar nobre na galeria dos compositores brasileiros. Essa obra é abordada com respeito em Adoniran 100 Anos, tributo idealizado e produzido por Thiago Marques Luiz - sob a inspirada direção musical de Rovilson Pascoal e André Bedurê - para festejar o centenário de nascimento do compositor, a ser comemorado em 6 de agosto de 2010. Com reverência, um elenco heterogêneo rebobina 34 músicas em 24 faixas. A escalação vai de Maria Alcina - cheia de verve no medley que abre o disco com a reunião de Um Samba no Bixiga (Adoniran Barbosa) com o onomatopaico Plac Ti Plac (Waldemar Camargo e Peteleco) - ao indispensável grupo Demônios da Garoa, recrutado para reviver Conselho de Mulher (Adoniran Barbosa, Oswaldo Molles e João B. dos Santos), o samba que fecha o disco. A guitarra de Rovilson Pascoal que pontua Mãe, Eu Juro (Peteleco e Marques Filho) - tema confiado a Márcia Castro - e se insinua em algumas passagens do samba Plac Ti Plac é uma das poucas liberdades estilísticas tomadas pelos diretores musicais do tributo. Contudo, como dupla autônoma, produtora da própria faixa com a adesão de Chico Salém, Arnaldo Antunes & Edgard Scandurra ousam sair do trilho habitual ao redirecionar Trem das Onze (Adoniran Barbosa) para caminho mais contemporâneo, criando expectativa sobre o CD que formatam juntos com músicas inéditas e releituras.

Mesmo sem inventar moda, o elenco brilha de modo geral. Cool, Diogo Poças se destaca ao destilar a fina melancolia de Prova de Carinho (Adoniran Barbosa e Hervê Cordovil). Ao defender bem o samba Aguenta a Mão, João (Adoniran Barbosa e Hervê Cordovil), Virgínia Rosa mostra que precisa ser mais ouvida fora de São Paulo. Dentro do quintal paulista, aliás, o Quinteto em Branco e Preto encontra o tom exato do samba Mulher, Patrão e Cachaça (Adoniran Barbosa e Oswaldo Molles) enquanto Cristina Buarque dilui a chama trágica de Apaga o Fogo, Mané (Adoniran Barbosa) com a autoridade de quem entende de samba e sabe que, por ser embebida em dramas do cotidiano, a obra de Adoniran pede leveza para não soar pesada. Entre a malandragem carioca de Mart'nália (As Mariposas) e a graça de Vânia Bastos (Luz da Light), Adoniran 100 Anos expõe o rigor estilístico de Célia (Samba Italiano), o timbre operístico de Cida Moreira (Quando te Achei, parceria inusitada de Adoniran com a poeta Hilda Hilst), a ligeira empostação kitsch de Cauby Peixoto (Bom Dia Tristeza, de Adoniran e Vinicius de Moraes), a voz majestosa de Jair Rodrigues (quase solene em Saudosa Maloca), os agudos de Tetê Espíndola (fora do tom doído de Iracema) e os graves de Leci Brandão (perfeitos para No Morro da Casa Verde). Vale destacar também o medley conjugal em que Fabiana Cozza e Mateus Sartori se afinam entre as idas e vindas de atribulado casal, retratadas na junção dos sambas Armistício (Adoniran e Eduardo Gudin, o intérprete cool de Abrigo dos Vagabundos), Joga a Chave (Adoniran e Oswaldo França) e Já Tenho a Solução (Adoniran e Clóvis Lima). Há ainda a classe de Zélia Duncan (Tiro ao Álvaro, de Adoniran e Oswaldo Molles), a tentativa de Wanderléa de se ambientar no Samba do Arnesto (de Adoniran com Alocin) e a ressurreição de Markinhos Moura, que canta Despejo na Favela sem o mel falsificado de seu hit radiofônico dos anos 80. Enfim, o elenco é heterogêneo, mas o tributo é homogêneo. Viva Adoniran Barbosa em seus 100 anos!!!!

17 de julho de 2010 às 09:31  
Anonymous Anônimo said...

Maria Alcina, Virginia Rosa e Vânia Bastos arrasam nesse tributo. Cida Moreira e Cristina Buarque , na minha opinião podiam ficar de fora. Acho que já está na hora de Tetê Espíndolla fazer um cd solo bacana pra gente.

17 de julho de 2010 às 10:09  
Anonymous Anônimo said...

Dá-lhe Adoniran! É Mauro sua temporada em solos paulistas tem sido proveitosa..rs... Mauro, algum comentário sobre o novo trabalho da Roberta Sá - "Quando o canto é reza" - ? Está previsto para o fim de julho!!!

17 de julho de 2010 às 10:26  
Anonymous lurian said...

Adoniran é um compositor que requer sutilezas dada sua fina ironia, e sua leitura de problemas sociais de uma época em que Sampa vivia seu boom de desenvolvimento e se debatia entre o futuro e o passado. No geral acho que o disco ficou com uma cara bem paulistana. O Markinhos Moura (re)apareceu bem, mas não me admira já que fora o hit Meu mel, ele se saia mto bem com músicas do repertório de Elis Regina. Célia sempre muito bem no que faz, cantar samba em italiano como se fosse em português não deve ser fácil...rs; e Maria Alcina dispensa comentários, continua aquela moleca deliciosa! (adoraria vê-la cantar o repertório de outra moleca - Rita Lee). Também gostei muito da Vânia Bastos e da Verônica Ferriani que vem se firmando como boa cantora. Dispensar Cida Moreira? Jamais!!! Cida tem a cara da noite cult paulistana e é indispensável, sempre!. Senti falta da Ná Ozetti e da canção "Véspera de Natal" que já ouvi tão bem na voz de Mônica Salmaso.

17 de julho de 2010 às 11:06  
Anonymous Anônimo said...

Gostei bastante do tributo, melhor do que o outro projeto idealizado pelo Thiago (Ataulfo 100 anos), principalmente pelas interpretações seguras de: Jair Rodrigues (majestoso mesmo, Mauro! O destaque do disco!), Diogo Poças e Verônica Ferriani (maravilhosos!), Cauby Peixoto, Marquinhos Moura, Leci Brandão e a própria Fabiana Cozza (que eu tenho lá as minhas restrições).
Um bom disco. Algumas outras interpretações aqui exaltadas eu confesso que não curti, sobretudo, Tetê Espíndola. Abraços,

Marcelo Barbosa - Brasília (DF)

PS: Destaque também para o capricho da arte gráfica e com letras no encarte.
PS2: Adoro a Zélia, mas esperava muito mais!
PS3: Comprei esse disco junto com o Sabiá Marrom. Estou ouvindo desde ontem e fico feliz por relançarem uma velha e ótima Alcione que tinha um repertório coerente em início de carreira.

17 de julho de 2010 às 11:52  
Blogger Amigos das Bibliotecas said...

Ao anônimo das 10:26 taí a resposta:

http://www.livrariacultura.com.br/scripts/musica/resenha/resenha.asp?nitem=3249829&sid=00169412312715285566968853&k5=24D552FB&uid=

19 de julho de 2010 às 13:39  

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