2 de maio de 2010

'Gypsy' se agiganta (e arrebata) no segundo ato

Resenha de Musical
Título: Gypsy
Texto: Arthur Laurents
Direção: Charles Möeller
Música: Jule Styne - Letras: Stephen Sondheim
Versão brasileira: Claudio Botelho

Elenco: Totia Meirelles, Adriana Garambone, Eduardo
Galvão, Renata Ricci e outros
Foto: Divulgação / Robert Schwenk
Cotação: * * * 1/2
Em cartaz no Teatro Villa-Lobos (RJ)

Típico musical da Broadway, Gypsy é tido como um dos clássicos do gênero pelo entrosamento perfeito entre texto e música. Mas, a julgar pela montagem brasileira recém-estreada no Teatro Villa-Lobos, no Rio de Janeiro (RJ), Gypsy se agiganta e faz jus a tanto culto somente no arrebatador segundo ato. Até porque é somente a partir do fim do primeiro ato que engrena a história verídica da stripper Gypsy Rose Lee (1911 – 1969) e sua mãe, a dominadora Mama Rose. Fiel aos padrões norte-americanos, a encenação carioca tem a grife da dupla Charles Moeller & Claudio Botelho. Este reitera sua habilidade para fazer versões em português - no caso, das letras escritas por Stephen Sondheim para a música de Jule Styne - sem minimizar a fluência e o teor dos versos originais.

Em sua primeira boa montagem brasileira desde que estreou na Broadway em 1959, Gypsy agrega 38 atores e 17 músicos. As trocas ágeis de cenário e as dezenas de figurinos evidenciam o padrão profissional atingido pela dupla Möeller & Botelho ao longo de seus 20 anos de carreira nos palcos cariocas. Padrão que, no caso, é posto a serviço de matéria-prima de ótima cepa. De qualidade excepcional, a música de Gyspy sustenta a atenção mesmo quando o texto ainda não deslanchou. E, já neste começo, saltam aos ouvidos os talentos das duas atrizes que protagonizam o musical: Totia Meirelles - intérprete sempre segura da intensa Mama Rose e de números como Gente (Some People) - e Adriana Garambone, que encarna Rose Louise Hovick, a Gypsy do título. Garambone - que sola o número mais terno do primeiro ato, Carneirinho (Little Lamb) - faz muito bem a transição da garota tímida e insegura para a stripper que, aos poucos, vai se livrando das roupas e dos nós interiores para vencer no mundo nem sempre justo do teatro. Nesse segundo momento da personagem, Garambone brilha especialmente em Deixa que Eu te Encanto (Let me Entertain You). Mas o brilho maior talvez seja de Totia Meirelles, em sua primeira grande chance nos palcos - embora ela já tenha protagonizado outro musical de Möeller & Botelho, Cristal Bacharach (2004), inspirado na obra do compositor norte-americano Burt Bacharach. Como Mama Rose, Totia tem a oportunidade de mostrar todo seu talento como atriz que canta (bem). Clímax do perfeito segundo ato, o embate entre mãe e filha tem dramaticidade rara em musicais e prepara bem a cena para o momento apoteótico de Rose: A Hora de Rose (Rose's Turn), o imponente número final em que, com a ajuda da música sempre atenta à dramaturgia, a personagem põe para fora todos os seus sonhos, frustrações e ressentimentos. Eis a grande hora de Totia!!!

A dramaticidade do segundo ato é contrabalançada pelo humor e vivacidade que tomam conta de Gypsy quando entram em cena as strippers Electra (Ada Chaseliov), Tessie Tura (Liane Maya) e Mazeppa (Sheila Mattos). Com direito a um número próprio, Um Truque (You Gotta Get a Gimmick), o trio concentra atenções e acaba por se destacar bem mais do que atores que defendem personagens em tese mais importantes - caso de Eduardo Galvão, que tem atuação apenas como correta como Herbie, pretendente de Mama Rose e empresário de suas meninas. No todo, Gypsy reúne os ingredientes necessários para encantar fãs de musicais. Ainda que seu (de início) quase arrastado primeiro ato não faça de Gypsy uma obra-prima. Falta no início a magia que sobra no fim.

2 Comments:

Blogger Mauro Ferreira said...

Típico musical da Broadway, Gypsy é tido como um dos clássicos do gênero pelo entrosamento perfeito entre texto e música. Mas, a julgar pela montagem brasileira recém-estreada no Teatro Villa-Lobos, no Rio de Janeiro (RJ), Gypsy se agiganta e faz jus a tanto culto somente no arrebatador segundo ato. Até porque é somente a partir do fim do primeiro ato que engrena a história verídica da stripper Gypsy Rose Lee (1911 – 1969) e sua mãe, a dominadora Mama Rose. Fiel aos padrões norte-americanos, a encenação carioca tem a grife da dupla Charles Moeller & Claudio Botelho. Este reitera sua habilidade para fazer versões em português - no caso, das letras escritas por Stephen Sondheim para a música de Jule Styne - sem minimizar a fluência e o teor dos versos originais.

Em sua primeira boa montagem brasileira desde que estreou na Broadway em 1959, Gypsy agrega 38 atores e 17 músicos. As trocas ágeis de cenário e as dezenas de figurinos evidenciam o padrão profissional atingido pela dupla Möeller & Botelho ao longo de seus 20 anos de carreira nos palcos cariocas. Padrão que, no caso, é posto a serviço de matéria-prima de ótima cepa. De qualidade excepcional, a música de Gyspy sustenta a atenção mesmo quando o texto ainda não deslanchou. E, já neste começo, saltam aos ouvidos os talentos das duas atrizes que protagonizam o musical: Totia Meirelles - intérprete sempre segura da intensa Mama Rose e de números como Gente (Some People) - e Adriana Garambone, que encarna Rose Louise Hovick, a Gypsy do título. Garambone - que sola o número mais terno do primeiro ato, Carneirinho (Little Lamb) - faz muito bem a transição da garota tímida e insegura para a stripper que, aos poucos, vai se livrando das roupas e dos nós interiores para vencer no mundo nem sempre justo do teatro. Nesse segundo momento da personagem, Garambone brilha especialmente em Deixa que Eu te Encanto (Let me Entertain You). Mas o brilho maior talvez seja de Totia Meirelles, em sua primeira grande chance nos palcos - embora ela já tenha protagonizado outro musical de Möeller & Botelho, Cristal Bacharach (2004), inspirado na obra do compositor norte-americano Burt Bacharach. Como Mama Rose, Totia tem a oportunidade de mostrar todo seu talento como atriz que canta (bem). Clímax do perfeito segundo ato, o embate entre mãe e filha tem dramaticidade rara em musicais e prepara bem a cena para o momento apoteótico de Rose: A Hora de Rose (Rose's Turn), o imponente número final em que, com a ajuda da música sempre atenta à dramaturgia, a personagem põe para fora todos os seus sonhos, frustrações e ressentimentos. Eis a grande hora de Totia!!!

A dramaticidade do segundo ato é contrabalançada pelo humor e vivacidade que tomam conta de Gypsy quando entram em cena as strippers Electra (Ada Chaseliov), Tessie Tura (Liane Maya) e Mazeppa (Sheila Mattos). Com direito a um número próprio, Um Truque (You Gotta Get a Gimmick), o trio concentra atenções e acaba por se destacar bem mais do que atores que defendem personagens em tese mais importantes - caso de Eduardo Galvão, que tem atuação apenas como correta como Herbie, pretendente de Mama Rose e empresário de suas meninas. No todo, Gypsy reúne os ingredientes necessários para encantar fãs de musicais. Ainda que seu (de início) quase arrastado primeiro ato não faça de Gypsy uma obra-prima. Falta no início a magia que sobra no fim.

2 de maio de 2010 às 13:40  
Anonymous Alexandre Siqueira said...

É impressionante como dá a sensação que se está na Broadway, mesmo que você nunca tenha estado lá necessariamente. Um grande espetáculo musical. Parabéns a Moeller & Botelho e também à cobertura impecável do site deles, capitaneado por Leo Ladeira! Confiram.

3 de maio de 2010 às 11:43  

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