2 de maio de 2010

Emílio preserva ao vivo leveza e balanço de baile

Resenha de Show
Título: Só Danço Samba
Artista: Emílio Santiago (em fotos de Mauro Ferreira)
Local: Canecão (RJ)
Data: 1º de maio de 2010
Cotação: * * * *
Show em cartaz até este domingo, 2 de maio de 2010
Emílio Santiago nem conseguiu disfarçar certo descontentamento quando, no meio da estreia do show Só Danço Samba, alguém começou a pedir com insistência para ele cantar Saigon, a música lançada por Beth Carvalho em 1988 que fez mais sucesso ao ser regravada por Emílio no ano seguinte no segundo volume da série Aquarela Brasileira. Saigon até apareceu no bis, num número bilíngue que incorporou a versão em espanhol do tema, mas não foi cantada naquela hora. No show que estreou na noite de 1º de maio de 2010, no Canecão (RJ), o cantor foi extremamente fiel ao repertório, à sonoridade e ao clima do primoroso CD Só Danço Samba, em que evoca o espírito dos bailes animados por Ed Lincoln na década de 60. Todas as 16 músicas do disco marcam presença no show, com destaque para o medley carnavalesco que junta Zum Zum Zum (Orlandivo e Durval Ferreira), Vou Rir de Você (Heitor Menezes) e Na Onda do Berimbau (Oswaldo Nunes). O medley cresceu muito no palco e encerrou o show em grande estilo. Mesmo sem uma mísera pista para poder dançar, o público sacolejou nas cadeiras, atestando o êxito do baile-show de Emílio.
A ausência de uma pista na plateia do Canecão foi lamentada em cena várias vezes pelo próprio cantor. "Esse show é para dançar", conceituou o artista no palco. Mesmo sem pista, Emílio Santiago dá um baile no show com sua voz privilegiada, preservando ao vivo a leveza e o suingue que pontuam o disco. O cantor vive grande fase. Desde 2007, quando lançou o álbum De um Jeito Diferente, o intérprete vem pondo sua discografia à altura de sua voz. Ainda à espera de edição comercial, Só Danço Samba é um grande disco, gravado com grandes músicos. Eles não estão em cena, mas, sob a direção musical de Julinho Teixeira, Emílio evoca no show a sonoridade do disco. Em temas como Falaram Tanto de Você, os teclados de Adriano Souza e Clebson Santos conseguem reproduzir o som do órgão elétrico típico dos bailes de Ed Lincoln.

Muito à vontade, dançando pelo palco do Canecão, Emílio reitera - a cada número do show - a categoria ímpar de seu canto. Que ao vivo soa tão perfeito quanto no disco. A emissão exemplar e a afinação absoluta valorizam números como A Cada Dia que Passa, samba de Antonio Adolfo, gravado por Emílio em 1980 num raro disco do autor. Qualidades evidenciadas ainda mais no set de romantismo mais introspectivo - a hora do sarro, como definiu Emílio com humor. É quando salta aos ouvidos o tom aveludado da voz do cantor que, perfeito no papel de crooner de seu próprio baile, encadeia standard da canção norte-americana, My Foolish Heart (Victor Young e Ned Washington), com bolero de boa cepa, Solamente una Vez (Agustín Lara). Antes de reverenciar o amigo Johnny Alf (1929 - 2010) com interpretação leve de Eu e a Brisa.
No início da segunda parte do show, quando Emílio volta à cena com outro figurino após número instrumental da banda, a bossa e o balanço do samba da década de 60 dão o tom. Samba de Verão (Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle), Influência do Jazz (Carlos Lyra) e Última Forma (Baden Powell e Vinicius de Moraes) reiteram o suingue do cantor. Na sequência, vêm dois sambas de Jorge Aragão, Tendência (parceria com Ivone Lara) e Logo Agora (com Jotabê). Um dos hits de Emílio, o segundo foi acompanhado de imediato pelo público que provavelmente esperava encontrar em cena o intérprete populista da série Aquarela Brasileira. Contudo, justiça seja feita, Emílio Santiago não faz concessões a esse público - ainda que Verdade Chinesa e Saigon apareçam no bis. Só Danço Samba é show urdido nos tons pastéis do disco que o inspirou. E nem por isso deixa de ser popular: Chega, o samba de Mart'nália e Mombaça, se ajusta bem ao clima dos bailes de Ed Lincoln. Assim como Um Dia Desses, a bissexta parceria de João Donato com Carlinhos Brown que merecia ter ganhado mais projeção ao ser gravada por Emílio em De um Jeito Diferente (2007). E por falar em João Donato, Sambou, Sambou é exemplo de como o cantor dá show também na divisão. Enfim, o baile de Emílio Santiago é sedutor e merece ser visto por quem não crê que o artista possa pintar sua aquarela com tons mais refinados. Show!

9 Comments:

Blogger Mauro Ferreira said...

Emílio Santiago nem conseguiu disfarçar certo descontentamento quando, no meio da estreia do show Só Danço Samba, alguém começou a pedir com insistência para ele cantar Saigon, a música lançada por Beth Carvalho em 1988 que fez mais sucesso ao ser regravada por Emílio no ano seguinte no segundo volume da série Aquarela Brasileira. Saigon até apareceu no bis, num número bilíngue que incorporou a versão em espanhol do tema, mas não foi cantada naquela hora. No show que estreou na noite de 1º de maio de 2010, no Canecão (RJ), o cantor foi extremamente fiel ao repertório, à sonoridade e ao clima do primoroso CD Só Danço Samba, em que evoca o espírito dos bailes animados por Ed Lincoln na década de 60. Todas as 16 músicas do disco marcam presença no show, com destaque para o medley carnavalesco que junta Zum Zum Zum (Orlandivo e Durval Ferreira), Vou Rir de Você (Heitor Menezes) e Na Onda do Berimbau (Oswaldo Nunes). O medley cresceu muito no palco e encerrou o show em grande estilo. Mesmo sem uma mísera pista para poder dançar, o público sacolejou nas cadeiras, atestando o êxito do baile-show de Emílio.

A ausência de uma pista na plateia do Canecão foi lamentada em cena várias vezes pelo próprio cantor. "Esse show é para dançar", conceituou o artista no palco. Mesmo sem pista, Emílio Santiago dá um baile no show com sua voz privilegiada, preservando ao vivo a leveza e o suingue que pontuam o disco. O cantor vive grande fase. Desde 2007, quando lançou o álbum De um Jeito Diferente, o intérprete vem pondo sua discografia à altura de sua voz. Ainda à espera de edição comercial, Só Danço Samba é um grande disco, gravado com grandes músicos. Eles não estão em cena, mas, sob a direção musical de Julinho Teixeira, Emílio evoca no show a sonoridade do disco. Em temas como Falaram Tanto de Você, os teclados de Adriano Souza e Clebson Santos conseguem reproduzir o som do órgão elétrico típico dos bailes de Ed Lincoln.

Muito à vontade, dançando pelo palco do Canecão, Emílio reitera - a cada número do show - a categoria ímpar de seu canto. Que ao vivo soa tão perfeito quanto no disco. A emissão exemplar e a afinação absoluta valorizam números como A Cada Dia que Passa, samba de Antonio Adolfo, gravado por Emílio em 1980 num raro disco do autor. Qualidades evidenciadas ainda mais no set de romantismo mais introspectivo - a hora do sarro, como definiu Emílio com humor. É quando salta aos ouvidos o tom aveludado da voz do cantor que, perfeito no papel de crooner de seu próprio baile, encadeia standard da canção norte-americana, My Foolish Heart (Victor Young e Ned Washington), com bolero de boa cepa, Solamente una Vez (Agustín Lara). Antes de reverenciar o amigo Johnny Alf (1929 - 2006) com interpretação leve de Eu e a Brisa.

2 de maio de 2010 às 16:08  
Blogger Mauro Ferreira said...

No início da segunda parte do show, quando Emílio volta à cena com outro figurino após número instrumental da banda, a bossa e o balanço do samba da década de 60 dão o tom. Samba de Verão (Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle), Influência do Jazz (Carlos Lyra) e Última Forma (Baden Powell e Vinicius de Moraes) reiteram o suingue do cantor. Na sequência, vêm dois sambas de Jorge Aragão, Tendência (parceria com Ivone Lara) e Logo Agora (com Jotabê). Um dos hits de Emílio, o segundo foi acompanhado de imediato pelo público que provavelmente esperava encontrar em cena o intérprete populista da série Aquarela Brasileira. Contudo, justiça seja feita, Emílio Santiago não faz concessões a esse público - ainda que Verdade Chinesa e Saigon apareçam no bis. Só Danço Samba é show urdido nos tons pastéis do disco que o inspirou. E nem por isso deixa de ser popular: Chega, o samba de Mart'nália e Mombaça, se ajusta bem ao clima dos bailes de Ed Lincoln. Assim como Um Dia Desses, a bissexta parceria de João Donato com Carlinhos Brown que merecia ter ganhado mais projeção ao ser gravada por Emílio em De um Jeito Diferente (2007). E por falar em João Donato, Sambou, Sambou é exemplo de como o cantor dá show também na divisão. Enfim, o baile de Emílio Santiago é sedutor e merece ser visto por quem não crê que o artista possa pintar sua aquarela com tons mais refinados. Show!

2 de maio de 2010 às 16:09  
Anonymous Anônimo said...

Emilio é nosso melhor cantor. Tem que gravar constantemente e seus discos antigos deveriam ser relançados urgentemente.

2 de maio de 2010 às 16:10  
Anonymous Anônimo said...

Oi, Mauro! Só uma correção: Johnny Alf nos deixou este ano, em 2010.

Curiosidade total pra ver esse show e ouvir o CD do grande Emílio! Até que enfim deram uma chance pra ele mostrar que é um baita intérprete! =)

Luis D.

2 de maio de 2010 às 16:29  
Blogger Mauro Ferreira said...

Grato, Luis, por me alertar do erro, já corrigido. abs, MauroF

2 de maio de 2010 às 16:58  
Blogger Jorge Reis said...

Emílio é o nosso melhor cantor, sem afetações, falsetes, e sem gritos, brinda a todos nós com sua voz poderosa que nos mostra que menos é mais, quando sabe cantar.
Infelizmente o Brasil é o país das cantoras, e aturamos cada coisa que Deus nos livre.
É bom ver Emilio produzindo e ainda com sua afinação e pronuncia nota dez.
Fiquei curioso pra ver o show e ouvir o CD.
Parabens pela critica Mauro.

2 de maio de 2010 às 17:29  
Anonymous Plava said...

Euterpe, digna senhora, protegei os músicos dos chatos.

Não há apresentação de Emilio Santiago sem que um deles - completamente birinaite - fique gritando 'Saigon'.

E Rorô já mandou um 'vai se f...', porque certo cavalheiro não parava de gritar 'Fogueira', inclusive durante as canções.

Já fui a show do Boca Livre onde uma figura gritava 'Toada' enquanto mastigava croquetes de queijo e bebia cerveja. Eu estava na frente e asseguro ter sido vítima do chuveiro.

O bêbado que atormentava o pianista nas boates de outrora reencarnou e passa bem, obrigado.

2 de maio de 2010 às 21:22  
Anonymous Anônimo said...

O show foi magnífico. Vida longa!!!

3 de maio de 2010 às 00:22  
Anonymous Luc said...

Esse 'My Foolish Heart' do Emilio Santiago eu não consigo parar de ouvir.
É como disse o Jorge Reis acima: uma aposta no som, no fraseado, na simplicidade. Sem afetações, tudo redondo.

Menos atitude e mais música, rapaziada! É disso que se trata.

3 de maio de 2010 às 10:32  

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