Selma cumpre bem a missão de cantar Pinheiro
Resenha de CD
Título: A Minha
Homenagem ao
Poeta da Voz
Artista: Selma Reis
Gravadora: Tessitura
Musical
Cotação: * * * * 1/2
Ao despontar em 1990 com seu segundo disco (o que trouxe o hit Emoções Suburbanas), a voz de Selma Reis já soou deslocada no tempo, evocando uma MPB que já estava associada aos anos 70. Natural, tal associação talvez seja a responsável pelo extraordinário êxito do álbum que a cantora dedica ao repertório de Paulo César Pinheiro, compositor que entrou na discografia de Selma naquele álbum de 1990, assinando os versos dramáticos de Porto Santo. Pinheiro é dono de obra vasta e boa parte dela permanece inédita em disco. Contudo, Selma optou por cantar músicas já conhecidas, em sua maioria compostas por Pinheiro nos anos 70 com amplo leque de parceiros. Sucessos que, sim, já mereceram gravações definitivas de intérpretes como Clara Nunes (1942 - 1983), Elis Regina (1945 - 1982) e Simone. Mas, contra todos os prognósticos pessimistas, ela se saiu muito bem na árdua missão, imprimindo seu toque pessoal nas regravações, escoradas em inspirados arranjos de músicos como o percussionista Robertinho Silva, o pianista Paulo Malaguti e os guitarristas Victor Biglione e Fernando Carvalho. Cantora de tons habitualmente pesados, Selma soube imprimir certa leveza em músicas como Sem Companhia (Paulo César Pinheiro e Ivor Lancellotti, 1980). Mesmo nos temas de maior densidade emocional, casos do Bolero de Satã (Paulo César Pinheiro e Guinga, 1979) e de Bodas de Vidro (Sueli Costa e Paulo César Pinheiro, 1992), a intérprete dosa tons e emoções com a economia vocal que em menor grau também pauta Velho Arvoredo (Paulo César Pinheiro e Hélio Delmiro, 1976). Um acerto, pois, de todo modo, o álbum reitera a força da voz da cantora. Seja nos floreios operísticos feitos enquanto Portela na Avenida (Paulo César Pinheiro e Mauro Duarte, 1981) desfila no disco com os vocais da mangueirense Beth Carvalho, seja na citação afro feita com propriedade em Banho de Manjericão (Paulo César Pinheiro e João Nogueira, 1979) em inebriante arranjo de percussão-e-voz orquestrado por Robertinho de Silva. A evocação afro está em fina sintonia com as crenças ancestrais relacionadas na letra de Pinheiro. Até mesmo Cordilheira (Paulo César Pinheiro e Sueli Costa, 1979) - eternizada em gravação arrebatadora de Simone - se impõe firme no registro de Selma graças à bela trama de violões e acordeom urdida pelo guitarrista Victor Biglione, arranjador da faixa. Se Cicatrizes (Paulo César Pinheiro e Miltinho, 1972) ganha metais que remetem a um baile de gafieira, Viagem (Paulo César Pinheiro e João de Aquino, 1973) é refeita num clima etéreo que conduz o ouvinte por atmosfera distinta da gravação emblemática de Marisa Gata Mansa (1933 - 2003). Entre a malícia sensual do samba Tô Voltando (Paulo César Pinheiro e Maurício Tapajós, 1979) e a fina malandragem de Vou Deitar e Rolar (Paulo César Pinheiro e Baden Powell, 1970), Selma ainda dá voz ao compositor homenageado (que recita o poema Ofício) e a Diogo Nogueira - participação afetiva no samba As Forças da Natureza (Paulo César Pinheiro e João Nogueira, 1977) - além de apresentar a (boa) inédita Passatempo, tema de suingue bissexto no canto da intérprete. Ao fim do disco, quando entoa Minha Missão (João Nogueira e Paulo César Pinheiro, 1981) com ênfase solene nos versos que exaltam o ofício do canto, Selma Reis deixa no ouvinte a certeza de que sua missão de gravar a obra de Paulo César Pinheiro foi bem-sucedida. Na volta à MPB, após dois CDs de repertório sacro, a cantora brilha na pena do poeta da voz.
Título: A Minha
Homenagem ao
Poeta da Voz
Artista: Selma Reis
Gravadora: Tessitura
Musical
Cotação: * * * * 1/2
Ao despontar em 1990 com seu segundo disco (o que trouxe o hit Emoções Suburbanas), a voz de Selma Reis já soou deslocada no tempo, evocando uma MPB que já estava associada aos anos 70. Natural, tal associação talvez seja a responsável pelo extraordinário êxito do álbum que a cantora dedica ao repertório de Paulo César Pinheiro, compositor que entrou na discografia de Selma naquele álbum de 1990, assinando os versos dramáticos de Porto Santo. Pinheiro é dono de obra vasta e boa parte dela permanece inédita em disco. Contudo, Selma optou por cantar músicas já conhecidas, em sua maioria compostas por Pinheiro nos anos 70 com amplo leque de parceiros. Sucessos que, sim, já mereceram gravações definitivas de intérpretes como Clara Nunes (1942 - 1983), Elis Regina (1945 - 1982) e Simone. Mas, contra todos os prognósticos pessimistas, ela se saiu muito bem na árdua missão, imprimindo seu toque pessoal nas regravações, escoradas em inspirados arranjos de músicos como o percussionista Robertinho Silva, o pianista Paulo Malaguti e os guitarristas Victor Biglione e Fernando Carvalho. Cantora de tons habitualmente pesados, Selma soube imprimir certa leveza em músicas como Sem Companhia (Paulo César Pinheiro e Ivor Lancellotti, 1980). Mesmo nos temas de maior densidade emocional, casos do Bolero de Satã (Paulo César Pinheiro e Guinga, 1979) e de Bodas de Vidro (Sueli Costa e Paulo César Pinheiro, 1992), a intérprete dosa tons e emoções com a economia vocal que em menor grau também pauta Velho Arvoredo (Paulo César Pinheiro e Hélio Delmiro, 1976). Um acerto, pois, de todo modo, o álbum reitera a força da voz da cantora. Seja nos floreios operísticos feitos enquanto Portela na Avenida (Paulo César Pinheiro e Mauro Duarte, 1981) desfila no disco com os vocais da mangueirense Beth Carvalho, seja na citação afro feita com propriedade em Banho de Manjericão (Paulo César Pinheiro e João Nogueira, 1979) em inebriante arranjo de percussão-e-voz orquestrado por Robertinho de Silva. A evocação afro está em fina sintonia com as crenças ancestrais relacionadas na letra de Pinheiro. Até mesmo Cordilheira (Paulo César Pinheiro e Sueli Costa, 1979) - eternizada em gravação arrebatadora de Simone - se impõe firme no registro de Selma graças à bela trama de violões e acordeom urdida pelo guitarrista Victor Biglione, arranjador da faixa. Se Cicatrizes (Paulo César Pinheiro e Miltinho, 1972) ganha metais que remetem a um baile de gafieira, Viagem (Paulo César Pinheiro e João de Aquino, 1973) é refeita num clima etéreo que conduz o ouvinte por atmosfera distinta da gravação emblemática de Marisa Gata Mansa (1933 - 2003). Entre a malícia sensual do samba Tô Voltando (Paulo César Pinheiro e Maurício Tapajós, 1979) e a fina malandragem de Vou Deitar e Rolar (Paulo César Pinheiro e Baden Powell, 1970), Selma ainda dá voz ao compositor homenageado (que recita o poema Ofício) e a Diogo Nogueira - participação afetiva no samba As Forças da Natureza (Paulo César Pinheiro e João Nogueira, 1977) - além de apresentar a (boa) inédita Passatempo, tema de suingue bissexto no canto da intérprete. Ao fim do disco, quando entoa Minha Missão (João Nogueira e Paulo César Pinheiro, 1981) com ênfase solene nos versos que exaltam o ofício do canto, Selma Reis deixa no ouvinte a certeza de que sua missão de gravar a obra de Paulo César Pinheiro foi bem-sucedida. Na volta à MPB, após dois CDs de repertório sacro, a cantora brilha na pena do poeta da voz.
15 Comments:
Ao despontar em 1990 com seu segundo disco (o que trouxe o hit Emoções Suburbanas), a voz de Selma Reis já soou deslocada no tempo, evocando uma MPB que já estava associada aos anos 70. Natural, tal associação talvez seja a responsável pelo extraordinário êxito do álbum que a cantora dedica ao repertório de Paulo César Pinheiro, compositor que entrou na discografia de Selma naquele álbum de 1990, assinando os versos dramáticos de Porto Santo. Pinheiro é dono de obra vasta e boa parte dela permanece inédita em disco. Contudo, Selma optou por cantar músicas já conhecidas, em sua maioria compostas por Pinheiro nos anos 70 com amplo leque de parceiros. Sucessos que, sim, já mereceram gravações definitivas de intérpretes como Clara Nunes (1942 - 1983), Elis Regina (1945 - 1982) e Simone. Mas, contra todos os prognósticos pessimistas, ela se saiu muito bem na árdua missão, imprimindo seu toque pessoal nas regravações, escoradas em inspirados arranjos de músicos como o percussionista Robertinho Silva, o pianista Paulo Malaguti e os guitarristas Victor Biglione e Fernando Carvalho. Cantora de tons habitualmente pesados, Selma soube imprimir certa leveza em músicas como Sem Companhia (Paulo César Pinheiro e Ivor Lancellotti, 1980). Mesmo nos temas de maior densidade emocional, casos do Bolero de Satã (Paulo César Pinheiro e Guinga, 1979) e de Bodas de Vidro (Sueli Costa e Paulo César Pinheiro, 1992), a intérprete dosa tons e emoções com a economia vocal que em menor grau também pauta Velho Arvoredo (Paulo César Pinheiro e Hélio Delmiro, 1976). Um acerto, pois, de todo modo, o álbum reitera a força da voz da cantora. Seja nos floreios operísticos feitos enquanto Portela na Avenida (Paulo César Pinheiro e Mauro Duarte, 1981) desfila no disco com os vocais da mangueirense Beth Carvalho, seja na citação afro feita com propriedade em Banho de Manjericão (Paulo César Pinheiro e João Nogueira, 1979) em inebriante arranjo de percussão-e-voz orquestrado por Robertinho de Silva. A evocação afro está em fina sintonia com as crenças ancestrais relacionadas na letra de Pinheiro. Até mesmo Cordilheira (Paulo César Pinheiro e Sueli Costa, 1979) - eternizada em gravação arrebatadora de Simone - se impõe firme no registro de Selma graças à bela trama de violões e acordeom urdida pelo guitarrista Victor Biglione, arranjador da faixa. Se Cicatrizes (Paulo César Pinheiro e Miltinho, 1972) ganha metais que remetem a um baile de gafieira, Viagem (Paulo César Pinheiro e João de Aquino, 1973) é refeita num clima etéreo que conduz o ouvinte por atmosfera distinta da gravação emblemática de Marisa Gata Mansa (1933 - 2003). Entre a malícia sensual de Tô Voltando (Paulo César Pinheiro e Maurício Tapajós, 1979) e a malandragem de Vou Deitar e Rolar (Paulo César Pinheiro e Baden Powell, 1970), Selma ainda dá voz ao compositor homenageado (que recita o poema Ofício) e a Diogo Nogueira - participação afetiva no samba As Forças da Natureza (Paulo César Pinheiro e João Nogueira, 1977) - além de apresentar a inédita Passatempo, tema de suingue bissexto no canto da intérprete. Ao fim do disco, quando entoa Minha Missão (João Nogueira e Paulo César Pinheiro, 1981) com ênfase solene nos versos que exaltam o ofício do canto, Selma Reis deixa no ouvinte a certeza de que sua missão de gravar a obra de Paulo César Pinheiro foi bem-sucedida. Na volta à MPB, após dois CDs de repertório sacro, a cantora brilha na pena do poeta da voz.
Seja bem vinda Selma! A MPB precisa de você! Chega dessas cantoras pseudo modernosas cool com vozinha de "nada" com "não sei o que"!!! Sucesso pra você, sempre!!!
Mauro, valorizo a sobriedade de sua resenha, com a coragem de afirmar que boa parte das canções já recebeu gravação definitiva de Simone, Elis e, sobretudo, Clara Nunes. Ou seja, fica claro que a perspectiva do álbum é outra: não se quer contrapor as interpretações, mas apresentar o conjunto da obra de Pinheiro, na voz de uma excelente cantora. Falo sem ouvir ainda o disco, mas achei importante opinar aqui porque você cumpre seu ofício, mais uma vez, com maestria. Longa vida aos jornalistas inteligentes!!!!
Gostei muito da resenha. Estou aguardando a chegada do disco nas lojas físicas. Porém, ai porém (como diria Paulinho), Mauro coadjuvou a minha Rainha, não mencionou NADA. Bola fora, Sr. Mauro Ferreira! rsrsrsrs
Abraços,
Marcelo Barbosa - Brasília (DF)
PS: Faço coro com a bronca do anônimo acima que é a mesma do jornalista Joaquim Ferreira dos Santos. Chega de gente insossa!
Concordo com o jornalista Joaquim Ferreira. Só discordo qdo ele coloca Alcione e sua música atual num pedestal. Aquilo não concordo. Pode se falar de amor, pode se falar da paixão, pode se falar de sexo, sem ser vulgar e com poesia fraca. É isso que Alcione vem apresentando há muito tempo. Quanto a Selma, já ouvi o cd e garanto que é um cd intenso como a cantora. Acho que sua voz mostra um arranhado, que não havia antes. Mas nada que abale o sucesso do cd.
Escutei e concordo, bom disco mas as interpretações originais, como cordilheiras, realmente são arrebatadoras, ponto para a intérprete que trouxe de volta esses sucessos para a nova geração, inclusive as originais.
Selma, que alegria! Sucesso para você! Concordo com os comentários daqui: "chega dessas cantoras insossas". Você é 1000.
Mauro,
Aproveitando o seu post, vale a pena dar uma conferida nos extras do DVD "Samba Social Clube Vol. 4". A roda de samba em homenagem a Paulo César Pinheiro é muito boa.
Abraço,
Geraldo Pimentel
Vitória (ES)
Oi, Mauro
Muito boa a resenha! Parabéns!
Me deixou mais curioso para ouvir o CD.
Acho a Selma uma excelente intérprete e as obras do P.C. Pinheiro, nem se fala!
O Cd já está nas lojas?
Bom, espero que sim.
Grande abraço!
Claudio
O disco pode estar bom, mas convidar Beth Carvalho para cantar "Portela na Avenida" chega a ser um acinte!
Não chega a ser acinte pois Beth é a MAIOR bandeira feminina do Samba entre as cantoras na atualidade. Independe de bandeiras! E as cantoras novatas não chegam aos pés.
Mas Beth cantou sambas de compositores de muitas escolas; do Salgueiro, Estácio, Império Serrano, Imperatriz, Mangueira e claro, da Portela, sendo que foi a cantora que MAIS registrou os compositores da Velha Guarda da Portela (sendo agraciada pela mesma com uma placa alusiva), mesmo o grupo tendo uma madrinha. Abraços,
Marcelo Barbosa - Brasília (DF)
O grande poeta Paulo César Pinheiro merece, estou aflito para o disco chegar às lojas. Parabéns para a Selma Reis pelo disco!
Eu também!Por enquanto só encontro no site da Livraria Cultura e o preço está salgado. Abs,
Marcelo Barbosa - Brasília (DF)
Ficaria mesmo difícil confrontar as interpretações de cantoras do quilate de Elis Regina,Clara Nunes e até mesmo Simone com a economia vocal de Selma Reis.O disco deve valer pelo registro de canções do Poeta.Mas o definitivo fica mesmo com estas cantoras que já não estão mais aqui e que,penso eu,estariam embarcando tambem nesta onda de "técnica" sobre a emoção,algo que,na minha opinião,congelou uma outra cantora fantástica,a grande Gal Costa.
O senão deste disco fica na inclusão de Beth Carvalho pra cantar "Portela na Avenida",ainda mais depois do mau estar das declarações de Beth a respeito de Clara naquela infeliz biografia da Guerreira.Me pareceu algo forçado para dar mídia ao disco.Beth não precisava disto,até porque gravou muita coisa boa de Paulo César Pinheiro e bem que poderia ter sido lembrada a canção emblemática chamada "Chorando pela Natureza"(parceria com João Nogueira),que Beth gravou divinamente bem em 1980,no LP "Sentimento Brasileiro".
Acabei de me deparar com este CD e estou em estado de choque ainda. COMO É BOM!!! Altíssima qualidade, muito bem resenhado pelo Mauro e merece todas as estrelinhas que ele deu. Abraços. Jan.
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