18 de julho de 2009

Bosco merece o céu por suave disco de inéditas

Resenha de CD
Título: Não Vou pro Céu, mas Já Não Vivo no Chão
Artista: João Bosco
Gravadora: MP,B Discos / Universal Music
Cotação: * * * * 1/2

Em Perfeição, faixa que abre o primeiro álbum de inéditas de João Bosco em sete anos, já há a pista para o perfeito entendimento do disco. Produzido por Francisco Bosco e pelo guitarrista Ricardo Silveira, Não Vou pro Céu, mas Já Não Vivo no Chão está calcado no violão (o de Bosco e o de Silveira) e numa sonoridade suave que, no caso de Perfeição, evoca de cara outro João, o Gilberto. Trata-se de álbum de importância histórica na música brasileira por marcar a volta da parceria de Bosco com Aldir Blanc em quatro de suas 13 faixas. E, como atesta Navalha, samba de tonalidade cool, a dupla retorna afiada. Nos versos precisos de Navalha, Blanc relaciona as dores da paixão ao sofrimento de Cristo na cruz. Outro samba, Sonho de Caramujo, mais próximo do suingue áureo da dupla, traz o verso "Eu moro dentro da casca do meu violão", impresso no encarte por traduzir a importância que o instrumento tem neste disco primoroso. Já o samba-canção Mentiras de Verdade cita Tito Madi com a propriedade de quem bebe nas modernas fontes harmônicas da turma da bossa. Por fim, há Plural Singular, menos inspirada das quatro novas parcerias de Bosco com Blanc (o bom samba Toma Lá, Dá Cá não figura no CD).
Em que pese o peso de Blanc no disco, o atual time de parceiros de Bosco - Carlos Rennó, Francisco Bosco e Nei Lopes - mantém o mesmo alto nível poético do colega. Os versos de Desnortes, canção entoada por Bosco em falsete, atesta a maturidade de Francisco. Obra-prima, a canção cita Dorival Caymmi (1914 - 2008) - "É doce, irmão, morrer no mar" - entre cartões-postais do Rio de Janeiro. E o que dizer de Tanajura, outra obra-prima em que os versos de Francisco se ajustam com perfeição à melodia de Bosco? A faixa evoca um universo afro ao qual recorre também Jimbo no Jazz, marco inaugural da parceria de Bosco com Nei Lopes, mestre das palavras e da cultura afro-brasileira. Por sua vez, Carlos Rennó destila pura poesia nos versos de Pronto pra Próxima e Pintura. Enfim, Não Vou pro Céu, mas Já Não Vivo no Chão é álbum pautado pela sofisticação e pela economia. Até o canto de Bosco foi lapidado, sem os floreios vocais que, por vezes, embaçam o brilho de suas interpretações. Pode ter uma ou outra composição menos inspirada, como Alma Barroca (cujo título já denuncia outra fonte de inspiração do cancioneiro do artista), mas, no todo, o disco atesta em sambas como Tanto Faz a maturidade da obra do compositor. Que também brilha como intérprete na única faixa não autoral do álbum, Ingenuidade, o samba de Serafim Adriano lançado por Clementina de Jesus (1901 - 1987) e coincidentemente revivido por Caetano Veloso no seu recente CD Zii e Zie (2009) em registro que beira a perfeição atingida por Bosco na regravação deste disco que já merece o céu.

12 Comments:

Blogger Mauro Ferreira said...

Em Perfeição, faixa que abre o primeiro álbum de inéditas de João Bosco em sete anos, já há a pista para o perfeito entendimento do disco. Produzido por Francisco Bosco e pelo guitarrista Ricardo Silveira, Não Vou pro Céu, mas Já Não Vivo no Chão está calcado no violão (o de Bosco e o de Silveira) e numa sonoridade suave que, no caso de Perfeição, evoca de cara outro João, o Gilberto. Trata-se de álbum de importância histórica na música brasileira por marcar a volta da parceria de Bosco com Aldir Blanc em quatro de suas 13 faixas. E, como atesta Navalha, samba de tonalidade cool, a dupla volta afiada. Nos versos precisos de Navalha, Blanc relaciona as dores da paixão ao sofrimento de Cristo na cruz. Outro samba, Sonho de Caramujo, mais próximo do suingue áureo da dupla, traz o verso "Eu moro dentro da casca do meu violão", impresso no encarte por traduzir a importância que o instrumento tem neste disco primoroso. Já o samba-canção Mentiras de Verdade cita Tito Madi com a propriedade de quem bebe nas modernas fontes harmônicas da turma da bossa. Por fim, há Plural Singular, menos inspirada das quatro novas parcerias de Bosco com Blanc (o bom samba Toma Lá, Dá Cá não figura no CD).
Em que pese o peso de Blanc no disco, o atual time de parceiros de Bosco - Carlos Rennó, Francisco Bosco e Nei Lopes - mantém o mesmo alto nível poético do colega. Os versos de Desnortes, canção entoada por Bosco em falsete, atesta a maturidade de Francisco. Obra-prima, a canção cita Dorival Caymmi (1914 - 2008) - "É doce, irmão, morrer no mar" - entre cartões-postais do Rio de Janeiro. E o que dizer de Tanajura, outra obra-prima em que os versos de Francisco se ajustam com perfeição à melodia de Bosco? A faixa evoca um universo afro ao qual recorre também Jimbo no Jazz, marco inaugural da parceria de Bosco com Nei Lopes, mestre das palavras e da cultura afro-brasileira. Por sua vez, Carlos Rennó destila pura poesia nos versos de Pronto pra Próxima e Pintura. Enfim, Não Vou pro Céu, mas Já Não Vivo no Chão é álbum pautado pela sofisticação e pela economia. Até o canto de Bosco foi lapidado, sem os floreios vocais que, por vezes, embaçam o brilho de suas interpretações. Pode ter uma ou outra composição menos inspirada, como Alma Barroca (cujo título já denuncia outra fonte de inspiração do cancioneiro do artista), mas, no todo, o disco atesta em sambas como Tanto Faz a maturidade da obra do compositor. Que também brilha como intérprete na única faixa não autoral do álbum, Ingenuidade, o samba de Serafim Adriano lançado por Clementina de Jesus (1901 - 1987) e coincidentemente revivido por Caetano Veloso no seu recente CD Zii e Zie (2009) em registro que beira a perfeição atingida por Bosco na regravação deste disco que já merece o céu.

18 de julho de 2009 às 12:08  
Anonymous Anônimo said...

Um de nossos maiores cantores, compositores, instrumentistas.
Do tipo que dispensa acompanhamento, pois sozinho já é uma coro vocal e uma orquestra inteira.
Poderia ser diferente ? NEVER!

18 de julho de 2009 às 13:52  
Anonymous Anônimo said...

Peguei o disco esperando, meio obviamente, que as parcerias com Aldir fossem esfuziantes. Na linha de "O Mestre-Sala dos Mares", "Pret-a-Porter de Tafetá", "Incompatibilidade de Gênios" (minha preferida!)...

Fui surpreendido pela suavidade do disco.

Querem saber? QUE DELÍCIA DE SURPRESA!

E, além da retomada da mais perfeita parceria de composições que a mepebê já viu, junto de Ivan-Vitor Martins, os outros também não deixam a peteca cair. O que é "Jimbo no Jazz"? Que letra!

O mineiro de Ponte Nova continua em alto nível. Alvíssaras!

Felipe dos Santos Souza

18 de julho de 2009 às 20:16  
Anonymous Anônimo said...

Quem se dá ao luxo de deixar de fora além da qualidade de "Toma Lá, Dá Cá" sua já popularidade é porque já tá no céu e não tá preocupado com "vão gostar ?".
Quem connhece João vai sempre gostar.

18 de julho de 2009 às 20:47  
Anonymous Anônimo said...

Prezada BMG (é o mesmo chato que interpelou a Universal sobre a discografia de Emilio Santiago):
Por que não digitalizar o ÚNICO trabalho de João ainda inédito em CD lançado por vocês: "Tiro de Misericórdia". Misericórdia com os fãs. Pode ser ?

18 de julho de 2009 às 21:33  
Anonymous Anônimo said...

Concordo com o anônimo. É só ouvir o sempre em catálogo (gravadoras às vezes tem cabeças pensantes) "Ao Vivo - 100ª Apresentação".
ELE, O VIOLÃO E SÓ. NÃO SINTO FALTA DE NADA.

18 de julho de 2009 às 21:42  
Anonymous Anônimo said...

Emanuel Andrade disse..

Esse Joao é grandão. É músico, grande compositor. O que ele faz traça bem. E faz bem aos ouvidos. Já ouvi duas canções desse disco, magníficas. E vale celebrar a volta da parceria com Blanc. O bom é que aqui no blog, Mauro, músico de verdade não rende tanta asneiras em comentários quanto as cantoras. As figuras sempre voltam com as mesmas notícias. Por isso seria bom que os cantores/compositores homens povoasse mais o blog.

18 de julho de 2009 às 23:43  
Anonymous Anônimo said...

Falar o que de João ? Redundância. Vamos ouvir que já basta o privilégio. Sambista, "baladeiro", MPBista de primeiro escalão. Salve João.

19 de julho de 2009 às 03:13  
Anonymous Anônimo said...

M A R A V I L H O S O, estamos no céu por aqui.

!!!!!!!!!!!!!!!

19 de julho de 2009 às 04:16  
Anonymous Anônimo said...

Ainda não ouvi, mas já vou correndo comprar. JB é um artista completo.

Anônimo das 21:33, o "Tiro de Misericórdia" já foi lançado em CD, eu mesmo o tenho.

19 de julho de 2009 às 10:24  
Anonymous Anônimo said...

Como hoje é o "Dia do Amigo": viva João Bosco e Aldir Blanc; viva Ivan Lins e Vitor Martins; viva Milton Nascimento e Fernando Brant; viva Dominguinhos e Nando Cordel; viva Edu Lobo e Chico Buarque; viva Beto Guedes e Ronaldo Bastos; viva Sueli Costa e Abel Silva; viva Roberto e Erasmo Carlos; viva Braguinha e Alberto Ribeiro; viva Rita Lee e Roberto de Carvalho... VIVA TODAS AS GRANDES E ETERNAS PARCERIAS DA NOSSA MPB!
E um abraço ao Mauro e a todos.

20 de julho de 2009 às 20:47  
Anonymous Luc said...

Em outra palavra: magnífico!

21 de julho de 2009 às 18:36  

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