Billie continua imortal 50 anos após sua morte
Há 50 anos, Billie Holiday (1915 - 1959) saía de cena. Cinco décadas se passaram desde sua morte, numerosas boas cantoras entraram na cena do jazz, mas nenhuma como Lady Day. A voz lânguida não primava exatamente pelo volume, mas Billie tinha uma técnica intuitiva - sua divisão era perfeita - que a fez ser reverenciada pelos maiores jazzistas. Mas a grandeza de Billie (retratada acima em caricatura de Steven Geeter) não residia exatamente nas boas divisões e no seu fraseado personalíssimo. Ela sequer fazia uso dos scats que consagraram Ella Fitzgerald (1917 - 1996), outra grande imortal dama do jazz. O que diferenciava Billie - e ainda a diferencia entre as muitas cantoras que surgiram e que hão de surgir - era a grandeza de suas interpretações. Sem nuncar forçar tom teatral, Billie conseguia pôr no seu canto toda a dor de uma vida que se mostrou difícil desde o início (já na infância, ela sofreu toda espécie de abusos, abandonos e violências até cair, adolescente, na prostituição). Sua voz parecia abrigar todas as dores do mundo. E ela expiava essas dores quando cantava. Sua discografia - iniciada em 1933 - alcançou um pico de expressividade na Decca, a gravadora que acolheu Billie entre 1944 e 1950. Mas a fase na Verve, entre 1945 e 1959, também é brilhante. Até porque a intensidade do canto de Billie foi a mesma do início ao fim, mesmo quando, na segunda metade dos anos 50, a voz já exibia precocemente os desgastes do tempo. E nenhuma palavra é suficiente para traduzir a grandeza desse canto. Melhor é ouvir Body and Soul, Lover man, Lady Sings the Blues, Strange Fruit... ou qualquer outra gravação que ateste o caráter perene da voz imortal de Billie Holiday, Lady Day.
14 Comments:
Há 50 anos, Billie Holiday (1915 - 1959) saía de cena. Cinco décadas se passaram desde sua morte, numerosas boas cantoras entraram na cena do jazz, mas nenhuma como Lady Day. A voz lânguida não primava exatamente pelo volume, mas Billie tinha uma técnica intuitiva - sua divisão era perfeita - que a fez ser reverenciada pelos maiores jazzistas. Mas a grandeza de Billie (retratada acima em caricatura de Steven Geeter) não residia exatamente nas boas divisões e no seu fraseado personalíssimo. Ela sequer fazia uso dos scats que consagraram Ella Fitzgerald (1917 - 1996), outra grande imortal dama do jazz. O que diferenciava Billie - e ainda a diferencia entre as muitas cantoras que surgiram e que hão de surgir - era a grandeza de suas interpretações. Sem nuncar forçar tom teatral, Billie conseguia pôr no seu canto toda a dor de uma vida que se mostrou difícil desde o início (já na infância, ela sofreu toda espécie de abusos, abandonos e violências até cair, adolescente, na prostituição). Sua voz parecia abrigar todas as dores do mundo. E ela expiava essas dores quando cantava. Sua discografia - iniciada em 1933 - alcançou um pico de expressividade na Decca, a gravadora que acolheu Billie entre 1944 e 1950. Mas a fase na Verve, entre 1945 e 1959, também é brilhante. Até porque a intensidade do canto de Billie foi a mesma do início ao fim, mesmo quando, na segunda metade dos anos 50, a voz já exibia precocemente os desgastes do tempo. E nenhuma palavra é suficiente para traduzir a grandeza desse canto. Melhor é ouvir Body and Soul, Lover man, Lady Sings the Blues, Strange Fruit... ou qualquer outra gravação que ateste o caráter perene da voz imortal de Billie Holiday, Lady Day.
Poucas coisas, em termos de arte, me emocionam tanto quanto Billie Holiday.
Sua voz é uma chama, está sempre ardendo. Às vezes com sutileza, outras em brasa, mas o fogo está sempre ali.
Se espero alguém para jantar, não descuido da iluminação e da voz de Billie, ao fundo. Se acordo feliz, sunshine, Lady Sings the Blues. Se é noite, chove ou faz frio, recorro a um DVD onde posso, além de tudo, vê-la em preto e branco.
Para mim, Billie é imprescindível.
maria
Prefiro Sarah Vaughan. Voz , fraseado e divisões perfeitas!
Ms. Holiday é Deusa! Fato!
Billie é incomparável (around the world)
Onde foram parar artistas deste porte? com esta verve????
Mauro,
Você conseguiu me emocionar com esse post. Adoro a Lady Day (eu, pobre mortal não ouso chamá-la pelo nome próprio)
Esse post belíssimo no dia em que ela partiu para outra existência é realmente algo que poucos jornalistas farão no dia de hoje.
Eu só discordo de você, Mauro, em achar que a fase dela na gravadora Decca foi a mais expressiva. Penso justamente o contrário. Para mim (e sei que para muitos fãs) é a fase que menos gosto.
Enfim, parabéns e obrigado, Mauro
Abração a todos,
Denilson
Adoro a voz marcante de Billie Holiday.Interpretações momoráveis.
Tenho cuidados especiais com discos dela.Espero artistas assim...Que nos toquem a alma.
A voz maior do jazz vocal partiu há 50 anos, mas nunca deixará de ser ouvida enquanto existirem registos da sua arte.
Disse ela: «No two people on earth are alike, and it’s got to be that way in music or it isn’t music.»
Abraço.
A diferença entre Billie e algumas 'intérpretes' é que em boa parte destas, a emoção vem de fora para dentro (elas vão à cata da emoção). Nesta deusa a emoção funcionava como a bússola que a levava aonde quer que fosse (VÁ) com sua música. Vinha (VEM) da alma, verdadeiramente. Ou dos pulsos.
Incomparável!
Mauro,
essas musicas que você falou são albuns dela?
Se não, poderia me fazer a gentileza de indicar algum album para eu ouvir dela?
Thiago,
Permita-me responder à sua pergunta.
Os títulos citados são de músicas gravadas pela Lady Day e que viraram clássicos na voz dela.
Na maioria das vezes você vai encontrar coletâneas, pois ela gravou muitos compactos na era pré-lp. Gravou lps apenas na fase final da sua carreira.
No site da livraria Saraiva, pode-se encontrar boas ofertas. Estou entendendo que você não a conhece. Assim, recomendo a coletânea "Forever Billie Holiday" da gravadora Atração.
abração,
Denilson
Síntese muito completa , Mauro. Parabéns.
Denilson, até hoje ouço Billie Holiday naquele site que você indicou. Obrigado de novo.
Mauro, não pode mesmo me indicar por onde começar? Me sinto perdido em meio a tanta boa música.
Denilson,
agora que vi sua mensagem.
Sim, não conheço quase nada dela e agradeço pela indicação. Vou providenciar, assim que possível, esse disco.
Muito obrigado.
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