12 de março de 2009

'Avenida Q' é abusado e jovial musical classe A

Resenha de Musical
Título: Avenida Q
Texto: Jeff Whitty
Músicas e Letras: Robert Lopez e Jeff Marx
Versão Brasileira: Claudio Botelho
Direção Musical: Marcelo Castro
Direção: Charles Möeller
Elenco: André Dias, Claudia Netto, Fred Silveira,
Gustavo Klein, Maurício Xavier, Renata Ricci,
Renato Rabelo e Sabrina Korgut
Foto: Site Oficial Moeller & Botelho
Cotação: * * * * 1/2
Em cartaz no Teatro Clara Nunes (RJ) de quinta-feira a
domingo. Ingressos à venda, entre R$ 80 e R$ 100.

Mais um espetáculo com a grife de Charles Möeller e Claudio Botelho, dupla que estabeleceu novo padrão para a encenação de musicais no teatro carioca, Avenida Q tem seu maior charme no fato de pôr em cena bonecos que remetem aos programas infantis Vila Sésamo e Muppet Show. Todos manipulados por atores. Em cartaz desde 2003 nos Estados Unidos, onde foi obtendo sucesso progressivo e status de musical cult ao passar do circuito off-Broadway para a Broadway propriamente dita, Avenida Q ganha versão brasileira que traz para o universo nacional seu humor abusado e politicamente incorreto. Referências a alguns alvos certos de piadas no Brasil - como os atores do global seriado juvenil Malhação e os evangélicos de facções mais radicais - são salpicadas por Claudio Botelho entre tiradas corrosivas do texto original que não poupam gays, judeus, negros e orientais, entre outras supostas minorias marginalizadas pela sociedade. É hilário!

O resultado é brilhante e atesta a versatilidade da dupla, que vem de uma (re)montagem de A Noviça Rebelde tão encantadora quanto conservadora. Avenida Q subverte conceitos do que se compreende como um musical da Broadway e chega aos palcos cariocas com fino acabamento. A sincronia entre o movimento labial dos nove bonecos e as falas dos atores que os manipulam é perfeita. A ação se passa em torno do prédio situado na Avenida Q, reduto de perdedores, e começa quando lá chega Princetown (André Dias, que se desdobra com perfeição no papel do enrustido Rod). Ao tomar conhecimento de seus vizinhos, Princetown se depara com o duro cotidiano dos loosers. Contudo, as frustrações dessa turma são apresentadas sem peso e com humor ácido, o que torna Avenida Q um espetáculo leve - mesmo quando toca em temas pesados como a pornografia viciante da internet através da personagem Trekkie Monstro (Fred Silveira, em atuação artificial).

Musicalmente, a trilha sonora segue por caminho mais pop. Há um ou outro número que até (per)segue a grandiloqüência vocal da Broadway - caso de Vem Comigo, cantado por Sabrina Korgut na pele de Lucy de Vassa, uma das duas personagens vividas pela atriz (ela também dá voz a Kate Monstra, o par romântico de Princetown). Tal número é prato cheio para Korgut expôr seus fartos recursos vocais, já evidenciados no musical Sassaricando (2007). Na pele de Japaneuza, Claudia Netto também brilha como atriz e cantora mesmo sem estar sob o foco principal. E, nessa parte musical, vale ressaltar a fluência das letras vertidas para o português por Claudio Botelho, sempre hábil na transposição do significado essencial da música para o português sem se prender a traduções ortodoxas. Os versos se encaixam com naturalidade nas melodias, fazem sentido e jamais parecem resultantes de versões.

Avenida Q somente não é um espetáculo perfeito porque seu segunto ato não é tão cativante e redondo como o primeiro. Talvez pelo fato de o autor Jeff Whitty ter se obrigado a encaminhar suas personagens para um desfecho como se estivesse no último capítulo de uma novela. Ter deixado a vida daqueles perdedores transcorrer sem rumo - não por acaso, a ausência dele é a maior preocupação do protagonista Princetown, expressada inclusive no tema intitulado Rumo - talvez tornasse o espetáculo mais coerente com o universo retratado com tanta graça. Ainda assim, Avenida Q se impõe na cena carioca como um musical delicioso. É jovial, é pop, é irreverente e, sobretudo, atual. Traça com ironia o retrato de uma geração que luta para achar lugar ao sol na longa avenida que é a busca existencial na selva da cidade...

2 Comments:

Blogger Mauro Ferreira said...

Mais um espetáculo com a grife de Charles Möeller e Claudio Botelho, dupla que estabeleceu novo padrão para a encenação de musicais no teatro carioca, Avenida Q tem seu maior charme no fato de pôr em cena bonecos que remetem aos programas infantis Vila Sésamo e Muppet Show. Todos manipulados por atores. Em cartaz desde 2003 nos Estados Unidos, onde foi obtendo sucesso progressivo e status de musical cult ao passar do circuito off-Broadway para a Broadway propriamente dita, Avenida Q ganha versão brasileira que traz para o universo nacional seu humor abusado e politicamente incorreto. Referências a alguns alvos certos de piadas no Brasil - como os atores do global seriado juvenil Malhação e os evangélicos de facções mais radicais - são salpicadas por Claudio Botelho entre tiradas corrosivas do texto original que não poupam gays, judeus, negros e orientais, entre outras supostas minorias marginalizadas pela sociedade. É hilário!

O resultado é brilhante e atesta a versatilidade da dupla, que vem de uma (re)montagem de A Noviça Rebelde tão encantadora quanto conservadora. Avenida Q subverte conceitos do que se compreende como um musical da Broadway e chega aos palcos cariocas com fino acabamento. A sincronia entre o movimento labial dos nove bonecos e as falas dos atores que os manipulam é perfeita. A ação se passa em torno do prédio situado na Avenida Q, reduto de perdedores, e começa quando lá chega Princetown (André Dias, que se desdobra com perfeição no papel do enrustido Rod). Ao tomar conhecimento de seus vizinhos, Princetown se depara com o duro cotidiano dos loosers. Contudo, as frustrações dessa turma são apresentadas sem peso e com humor ácido, o que torna Avenida Q um espetáculo leve - mesmo quando toca em temas pesados como a pornografia viciante da internet através da personagem Trekkie Monstro (Fred Silveira, em atuação artificial).

Musicalmente, a trilha sonora segue por caminho mais pop. Há um ou outro número que até (per)segue a grandiloqüência vocal da Broadway - caso de Vem Comigo, cantado por Sabrina Korgut na pele de Lucy de Vassa, uma das duas personagens vividas pela atriz (ela também dá voz a Kate Monstra, o par romântico de Princetown). Tal número é prato cheio para Korgut expôr seus fartos recursos vocais, já evidenciados no musical Sassaricando (2007). Na pele de Japaneuza, Claudia Netto também brilha como atriz e cantora mesmo sem estar sob o foco principal. E, nessa parte musical, vale ressaltar a fluência das letras vertidas para o português por Claudio Botelho, sempre hábil na transposição do significado essencial da música para o português sem se prender a traduções ortodoxas. Os versos se encaixam com naturalidade nas melodias, fazem sentido e jamais parecem resultantes de versões.

Avenida Q somente não é um espetáculo perfeito porque seu segunto ato não é tão cativante e redondo como o primeiro. Talvez pelo fato de o autor Jeff Whitty ter se obrigado a encaminhar suas personagens para um desfecho como se estivesse no último capítulo de uma novela. Ter deixado a vida daqueles perdedores transcorrer sem rumo - não por acaso, a ausência dele é a maior preocupação do protagonista Princetown, expressada inclusive no tema intitulado Rumo - talvez tornasse o espetáculo mais coerente com o universo retratado com tanta graça. Ainda assim, Avenida Q se impõe na cena carioca como um musical delicioso. É jovial, é pop, é irreverente e, sobretudo, atual. Traça com ironia o retrato de uma geração que luta para achar lugar ao sol na longa avenida que é a busca existencial na selva da cidade...

12 de março de 2009 às 17:17  
Anonymous Anônimo said...

Vi ontem, achei mara!!

24 de janeiro de 2010 às 13:51  

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