2 de outubro de 2008

Queixosas, cantoras saúdam tempo radiofônico

Resenha de filme
Título: Cantoras
do Rádio
Direção: Gil Baroni
e Marcos Avellar
Cotação: * *
Em exibição no Festival
do Rio 2008
Mostra Première Brasil
* 2 de outubro, Odeon
(às 15h30m)
* 3 de outubro, Estação Vivo
Gávea 3 (às 13h30m e 20h)

Há recorrente tom lamurioso neste filme sobre as cantoras do rádio que, não raro, desvia o foco do assunto mais sedutor do documentário dirigido por Gil Baroni e Marcos Avellar: a própria era radiofônica da música brasileira que gerou ídolos como Marlene (cujo longo depoimento exemplifica o caráter queixoso que caracteriza a produção) e Emilinha Borba (1923 - 2005). Emilinha ganha breve citação na narrativa, pois Cantoras do Rádio tem como fio condutor o roteiro do show Estão Voltando as Flores, que uniu Carmélia Alves, Carminha Mascarenhas, Ellen de Lima e Violeta Cavalcante no palco do Teatro Rival (RJ), em abril de 2005, para reviver o repertório de Aurora Miranda (1915 - 2005), Aracy de Almeida (1914 - 1988), Carmen Miranda (1909 - 1955), Dalva de Oliveira (1917 - 1972), Dircinha Batista (1922 - 1999), Dolores Duran (1930 - 1959), Elizeth Cardoso (1920 - 1990), Isaura Garcia (1919 - 1993), Linda Batista (1919 - 1988) e Nora Ney (1922 - 2003). Histórias destas dez divas da era do rádio são salpicadas na tela através de depoimentos afetivos e efusivos das quatro cantoras que conduzem o filme. Das quatro, a propósito, somente Carmélia Alves, a Rainha do Baião, teve trajetória que a habilita a ser inserida no primeiro time radiofônico. Embora seja justo registrar a vivacidade rítmica de Violeta Cavalcante, cujo alto astral alegra a narrativa (com boa voz, Violeta canta sambas como Vagalume).

Os diretores costuram as entrevistas com as quatro cantoras - filmadas em locações cariocas como o Hotel Copacabana Palace e o restaurante Fiorentina, no qual se agregam ao time nomes como Ademilde Fonseca e Tito Madi - com takes do show captado no Teatro Rival. A garra com que as quatro artistas se entregam ao seu ofício enternece o espectador. São quatro vozes saudosas de uma era que não volta mais - até porque o Brasil é outro. Mas caberia aos diretores dosar o teor lamentoso dos depoimentos para que o filme não ficasse, em alguns momentos, repetitivo. Até porque as queixas - sobre o descaso da mídia, a falta de memória do Brasil e a escassez de trabalho para vozes veteranas - são recorrentes também nas entrevistas/depoimentos dos jornalistas e pesquisadores musicais Ricardo Cravo Albin e Rodrigo Faour. Cantoras do Rádio seduz mais quando conta histórias sobre intérpretes como Aracy de Almeida - Carmélia Alves, vivaz, recorda com humor o persistente medo de avião que fazia a Araca recusar apresentações distantes do Rio de Janeiro - e quando ressalta o pioneirismo de Nora Ney, que implantou um estilo vocal de tom grave quando a regra era priorizar cantoras capazes de altos agudos, como a estrela Dalva. Ou ainda quando Cravo Albin relaciona o aparecimento da Rádio Nacional, inaugurada em 1936 no Rio de Janeiro, ao apogeu dessas vozes resistentes que saúdam na narrativa, com justificada nostalgia, os seus anos dourados. Mesmo assim, a era do rádio - e de suas cantoras - ainda pede um documentário com visão mais ampla e imparcial sobre o glorioso período musical e sobre as suas vozes mais significativas.

12 Comments:

Blogger Mauro Ferreira said...

Há recorrente tom lamurioso neste filme sobre as cantoras do rádio que, não raro, desvia o foco do assunto mais sedutor do documentário dirigido por Gil Baroni e Marcos Avellar: a própria era radiofônica da música brasileira que gerou ídolos como Marlene (cujo depoimento exemplifica o caráter queixoso que caracteriza a produção) e Emilinha Borba (1923 - 2005). Emilinha ganha breve citação na narrativa, pois Cantoras do Rádio tem como fio condutor o roteiro do show Estão Voltando as Flores, que juntou Carmélia Alves, Carminha Mascarenhas, Ellen de Lima e Violeta Cavalcante no palco do Teatro Rival (RJ), em abril de 2005, para reviver o repertório de Aurora Miranda (1915 - 2005), Aracy de Almeida (1914 - 1988), Carmen Miranda (1909 - 1955), Dalva de Oliveira (1917 - 1972), Dircinha Batista (1922 - 1999), Dolores Duran (1930 - 1959), Elizeth Cardoso (1920 - 1990), Isaura Garcia (1919 - 1993), Linda Batista (1919 - 1988) e Nora Ney (1922 - 2003). Histórias destas dez divas da era do rádio são salpicadas na tela através de depoimentos afetivos e efusivos das quatro cantoras que conduzem o filme. Das quatro, a propósito, somente Carmélia Alves, a Rainha do Baião, teve trajetória que a habilita a ser inserida no primeiro time radiofônico. Embora seja justo registrar a vivacidade rítmica de Violeta Cavalcante, cujo alto astral alegra a narrativa (com boa voz, Violeta canta sambas como Vagalume).

Os diretores costuram as entrevistas com as quatro cantoras - filmadas em locações cariocas como o Hotel Copacabana Palace e o restaurante Fiorentina, no qual se agregam ao time nomes como Ademilde Fonseca e Tito Madi - com takes do show captado no Teatro Rival. A garra com que as quatro artistas se entregam ao seu ofício enternece o espectador. São quatro vozes saudosas de uma era que não volta mais - até porque o Brasil é outro. Mas caberia aos diretores dosar o teor lamentoso dos depoimentos para que o filme não ficasse, em alguns momentos, repetitivo. Até porque as queixas - sobre o descaso da mídia, a falta de memória do Brasil e a escassez de trabalho para vozes veteranas - são recorrentes também nas entrevistas/depoimentos dos jornalistas e pesquisadores musicais Ricardo Cravo Albin e Rodrigo Faour. Cantoras do Rádio seduz mais quando conta histórias sobre intérpretes como Aracy de Almeida - Carmélia Alves, vivaz, recorda com humor o persistente medo de avião que fazia a Araca recusar apresentações distantes do Rio de Janeiro - e quando ressalta o pioneirismo de Nora Ney, que implantou um estilo vocal de tom grave quando a regra era priorizar cantoras capazes de altos agudos, como a estrela Dalva. Ou ainda quando Cravo Albin relaciona o aparecimento da Rádio Nacional, inaugurada em 1936 no Rio de Janeiro, ao apogeu dessas vozes resistentes que saúdam na narrativa, com justificada nostalgia, os seus anos dourados. Mesmo assim, a era do rádio - e de suas cantoras - ainda pede um documentário com visão mais ampla e imparcial sobre o glorioso período musical e sobre as suas vozes mais significativas.

2 de outubro de 2008 às 08:33  
Anonymous Anônimo said...

Època linda, aonde pra cantar era necessário ter VOZ!! Nessa época, se Marisa Monte existesse seria abominada com aquele ar blasé...Bom saber que foi Nora Ney que abriu caminho pras Bethânias da vida!! Essa eu não sabia!!! E viva as cantoras do rádio!!!

2 de outubro de 2008 às 12:49  
Anonymous Anônimo said...

12:49

Com todo respeito mas você viajou.
Nora Ney pertencia a um modo de cantar mais cool (meio Leni, meio Beth,.... ou seja sem precisar ter voz).
Já Bethânia não entra nesse patamar, ela está mais para Dalva e Angela Maria que tinham potencial vocálico.

2 de outubro de 2008 às 14:28  
Anonymous Anônimo said...

"Salve, salve as cantoras do rádio..."

Marisa Monte, prestando homenagem a Carmem Miranda em South American Way.

PS: Querem obrigar a mulher a ser assim ou assado. É o jeito dela, pô. E já mudou muito, porque tudo muda!

Jose Henrique

2 de outubro de 2008 às 14:44  
Anonymous Anônimo said...

Bethânia tem a voz grave, e como no texto, Nora Ney abriu as portas pro cantar grave e nisso Bethânia entra sim senhor. Quem é da praia da Dalva é Gal Costa.

2 de outubro de 2008 às 16:03  
Anonymous Anônimo said...

Acho péssimo a imagem que essas 4 cantoras passam para o público menos esclarecido do assunto CANTORAS DO RÁDIO... São artistas do "segundo time", com exceção de Carmélia, que ficam lamentando a carreira e passam essa idéia decadente e saudosista. As grandes estrelas do rádio são : CARMEM MIRANDA, DALVA DE OLIVEIRA, EMILINHA, MARLENE, ANGELA MARIA, ISAURA GARCIA, NORA NEY e ARACY DE ALMEIDA.

2 de outubro de 2008 às 17:04  
Anonymous Anônimo said...

Que comentário preconceituoso e equivocado dese anonimo das 5.04. TODAS foram cantoras do rádio, umas mais importantes e com mais projeção do que outras , mas isso não tira o mérito dessas que estão aí.

2 de outubro de 2008 às 17:14  
Anonymous Anônimo said...

ninguém lembrou das IRMÃS BATISTA, de ELIZETH CARDOSO, DOLORES DURAN, BIDU SAYÃO, ARACI CORTES, MAYSA E SYLVIA TELLES... tb são cantoras do rrrrrádio!

3 de outubro de 2008 às 00:23  
Anonymous Anônimo said...

Para o desinformado anônimo das 12:23AM,

Bidu era lírica não entra nesse gênero e Maysa e Silvia Telles também não pertenciam ao movimento. Procure se informar antes de escrever equívocos.

3 de outubro de 2008 às 09:16  
Anonymous Anônimo said...

Anonimo das 2.28, coisa que a Leny tem é voz..não é nada cool... Não entendi a sua infeliz comparação. Vc não deve conhecer bem Leny Andrade.

3 de outubro de 2008 às 12:30  
Anonymous Anônimo said...

Tem voz sim, rouca à beça!

3 de outubro de 2008 às 19:07  
Anonymous Anônimo said...

Acho uma babaquice essa de fazer comparação entre cantoras modernas com antigas. cada época tem seu som, seria ridículo se, hoje, Marisa monte cantasse como Carmélia Alves cantava na década de 40, seria absolutamente anacrônico, assim como seria vexatório Carmélia tentar ser uma Marisa Monte aos 80 anos. O que o Brasil precisa é estar atento ao novo sem esquecer os antigos, pq esses dois discursos que imperam, odo "antigamente é que era bom" e o do "ultrapassado" só faz que sempre estejamos repetindo nossos erros sem conhecer a nossa história. E lembrando que, Marisa, artista moderna e tremendamente talentosa, é uma eterna atenta e reverente às gerações passadas.

4 de outubro de 2008 às 10:01  

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