Leveza sustenta o disco mais feliz de Mart'nália
Resenha de CD
Título: Madrugada
Artista: Mart'nália
Gravadora: Biscoito Fino
Cotação: * * * * *
Em seu anterior álbum de estúdio, Menino do Rio, lançado em fevereiro de 2006, Mart'nália - guiada por Maria Bethânia, mentora do disco - pisou no terreiro baiano sem tirar os pés da Vila Isabel de Noel Rosa (1910 - 1937) e de seu pai, Martinho da Vila. Em Madrugada, a cantora troca o repertório solar de Menino do Rio pelo clima descontraído das noites de boemia do Rio de Janeiro. Com espírito carioca, Madrugada é o melhor disco de Mart'nália, a melhor tradução da alma desencanada desta artista que não faz pose nem tipo. A idéia de fazer um CD inspirado pela música negra norte-americana acabou diluída pelo suingue do samba carioca - ainda que a faixa de abertura, Alívio (Arthur Maia e Djavan), evoque a alma da black music cultuada por Arthur Maia. Ritmos e latitudes à parte, Madrugada é álbum muito feliz.
Arthur Maia, a propósito, divide com Celso Fonseca a produção deste disco perfeito, mas especialmente saboroso em sua primeira metade, preenchida por sambas leves e cheios de charme. Tava por Aí (Mombaça e Mart'nália), Deu Ruim (Arthur Maia, Ronaldo Barcellos e Mart'nália) e Ela É Minha Cara (Celso Fonseca e Ronaldo Bastos) são sambas impregnados do alto astral carioca. "Ela é o colírio da moçada / Quando chega pára a batucada /Ela é o jazz / E há quem diga que parece um rapaz / ... / Tira onda de grã-fina / Mas pra mim é só a mina / Que enfeitiçou o meu coração", canta Mart'nália, assumidíssima, no sambossa Ela É Minha Cara. É neste tom desencanado que Mart'nália celebra a vida e minimiza as adversidades ao cantar sambas como Não Encontro Quem me Queira (de Thiago Mocotó, irmão de Gabriel O Pensador) e Fé (Jorge Agrião e Evandro Lima). Fé exibe viés afro que aflora em Angola, festiva parceria de Mart'nália, Arthur Maia e Paulo Flores.
Há em Madrugada três corajosas regravações produzidas por Celso Fonseca que reafirmam a personalidade forte de Mart'nália. O suingue que a cantora imprime em Sai Dessa (Nathan Marques e Ana Terra) é tão envolvente que logo faz esquecer a gravação irretocável realizada por Elis Regina (1945 - 1982) em seu último álbum, Elis (1980). Da mesma forma, a leitura de Mart'nália para Batendo a Porta insere o samba altivo de João Nogueira (1941 - 2000) e Paulo César Pinheiro no clima do disco. Por fim, Alegre Menina - a parceria bissexta de Dori Caymmi com o escritor Jorge Amado (1912 - 2001) - ressurge cheia de charme e de ginga, valorizada pelos vocais de Luiza Possi (em seu melhor momento).
No fim de Madrugada, de clima ligeiramente mais introspectivo, Martn'nália saca uma das mais belas canções de Moska, Sem Dizer Adeus, e revive o acalanto Tom Maior, lançado por seu pai, Martinho da Vila, em seu primeiro álbum, de 1969. E a faixa que encerra o disco - a recriação personalíssima de Don't Worry, Be Happy!, entoada numa letra bilingüe que mistura português com um inglês de Vila Isabel, como ironiza a cantora na introdução falada da gravação que acaba em samba - traduz com exatidão o tom de CD feliz sob todos os prismas. Por ora, é o melhor de 2008.
Título: Madrugada
Artista: Mart'nália
Gravadora: Biscoito Fino
Cotação: * * * * *
Em seu anterior álbum de estúdio, Menino do Rio, lançado em fevereiro de 2006, Mart'nália - guiada por Maria Bethânia, mentora do disco - pisou no terreiro baiano sem tirar os pés da Vila Isabel de Noel Rosa (1910 - 1937) e de seu pai, Martinho da Vila. Em Madrugada, a cantora troca o repertório solar de Menino do Rio pelo clima descontraído das noites de boemia do Rio de Janeiro. Com espírito carioca, Madrugada é o melhor disco de Mart'nália, a melhor tradução da alma desencanada desta artista que não faz pose nem tipo. A idéia de fazer um CD inspirado pela música negra norte-americana acabou diluída pelo suingue do samba carioca - ainda que a faixa de abertura, Alívio (Arthur Maia e Djavan), evoque a alma da black music cultuada por Arthur Maia. Ritmos e latitudes à parte, Madrugada é álbum muito feliz.
Arthur Maia, a propósito, divide com Celso Fonseca a produção deste disco perfeito, mas especialmente saboroso em sua primeira metade, preenchida por sambas leves e cheios de charme. Tava por Aí (Mombaça e Mart'nália), Deu Ruim (Arthur Maia, Ronaldo Barcellos e Mart'nália) e Ela É Minha Cara (Celso Fonseca e Ronaldo Bastos) são sambas impregnados do alto astral carioca. "Ela é o colírio da moçada / Quando chega pára a batucada /Ela é o jazz / E há quem diga que parece um rapaz / ... / Tira onda de grã-fina / Mas pra mim é só a mina / Que enfeitiçou o meu coração", canta Mart'nália, assumidíssima, no sambossa Ela É Minha Cara. É neste tom desencanado que Mart'nália celebra a vida e minimiza as adversidades ao cantar sambas como Não Encontro Quem me Queira (de Thiago Mocotó, irmão de Gabriel O Pensador) e Fé (Jorge Agrião e Evandro Lima). Fé exibe viés afro que aflora em Angola, festiva parceria de Mart'nália, Arthur Maia e Paulo Flores.
Há em Madrugada três corajosas regravações produzidas por Celso Fonseca que reafirmam a personalidade forte de Mart'nália. O suingue que a cantora imprime em Sai Dessa (Nathan Marques e Ana Terra) é tão envolvente que logo faz esquecer a gravação irretocável realizada por Elis Regina (1945 - 1982) em seu último álbum, Elis (1980). Da mesma forma, a leitura de Mart'nália para Batendo a Porta insere o samba altivo de João Nogueira (1941 - 2000) e Paulo César Pinheiro no clima do disco. Por fim, Alegre Menina - a parceria bissexta de Dori Caymmi com o escritor Jorge Amado (1912 - 2001) - ressurge cheia de charme e de ginga, valorizada pelos vocais de Luiza Possi (em seu melhor momento).
No fim de Madrugada, de clima ligeiramente mais introspectivo, Martn'nália saca uma das mais belas canções de Moska, Sem Dizer Adeus, e revive o acalanto Tom Maior, lançado por seu pai, Martinho da Vila, em seu primeiro álbum, de 1969. E a faixa que encerra o disco - a recriação personalíssima de Don't Worry, Be Happy!, entoada numa letra bilingüe que mistura português com um inglês de Vila Isabel, como ironiza a cantora na introdução falada da gravação que acaba em samba - traduz com exatidão o tom de CD feliz sob todos os prismas. Por ora, é o melhor de 2008.
24 Comments:
Em seu anterior álbum de estúdio, Menino do Rio, lançado em fevereiro de 2006, Mart'nália - guiada por Maria Bethânia, mentora do disco - pisou no terreiro baiano sem tirar os pés da Vila Isabel de Noel Rosa (1910 - 1937) e de seu pai, Martinho da Vila. Em Madrugada, a cantora troca o repertório solar de Menino do Rio pelo clima descontraído das noites de boemia do Rio de Janeiro. Com espírito carioca, Madrugada é o melhor disco de Mart'nália, a melhor tradução da alma desencanada desta artista que não faz pose nem tipo. A idéia de fazer um CD inspirado pela música negra norte-americana acabou diluída pelo suingue do samba carioca - ainda que a faixa de abertura, Alívio (Arthur Maia e Djavan), evoque a alma da black music cultuada por Arthur Maia. Ritmos e latitudes à parte, Madrugada é álbum muito feliz.
Arthur Maia, a propósito, divide com Celso Fonseca a produção deste disco perfeito, mas especialmente saboroso em sua primeira metade, preenchida por sambas cheios de charme. Tava por Aí (Mombaça e Mart'nália), Deu Ruim (Arthur Maia, Ronaldo Barcellos e Mart'nália) e Ela É Minha Cara (Celso Fonseca e Ronaldo Bastos) são sambas impregnados do alto astral carioca. "Ela é o colírio da moçada / Quando chega pára a batucada /Ela é o jazz / E há quem diga que parece um rapaz / ... / Tira onda de grã-fina / Mas pra mim é só a mina / Que enfeitiçou o meu coração", canta Mart'nália, assumidíssima, no delicioso Ela É Minha Cara. É neste tom desencanado que Mart'nália celebra a vida e minimiza as adversidades ao cantar sambas como Não Encontro Quem me Queira (de Thiago Mocotó, irmão de Gabriel O Pensador) e Fé (Jorge Agrião e Evandro Lima). Fé exibe viés afro que aflora em Angola, festiva parceria de Mart'nália, Arthur Maia e Paulo Flores.
Há em Madrugada três corajosas regravações produzidas por Celso Fonseca que reafirmam a personalidade forte de Mart'nália. O suingue que a cantora imprime em Sai Dessa (Nathan Marques e Ana Terra) é tão envolvente que logo faz esquecer a gravação irretocável realizada por Elis Regina (1945 - 1982) em seu último álbum, Elis (1980). Da mesma forma, a leitura de Mart'nália para Batendo a Porta insere o samba altivo de João Nogueira (1941 - 2000) e Paulo César Pinheiro no clima do disco. Por fim, Alegre Menina - a parceria bissexta de Dori Caymmi com o escritor Jorge Amado (1912 - 2001) - ressurge cheia de charme e de ginga, valorizada pelos vocais de Luiza Possi (em seu melhor momento).
No fim de Madrugada, de clima ligeiramente mais introspectivo, Martn'nália saca uma das mais belas canções de Moska, Sem Dizer Adeus, e revive o acalanto Tom Maior, lançado por seu pai, Martinho da Vila, em seu primeiro álbum, de 1969. E a faixa que encerra o disco - a recriação personalíssima de Don't Worry, Be Happy, entoada numa letra bilingüe que mistura português com um inglês de Vila Isabel, como ironiza a cantora na introdução falada da gravação que acaba em samba - traduz com exatidão o tom de CD feliz sob todos os prismas. Por ora, é o melhor de 2008.
Sou super fã da Mart'nália.
Comprei esse cd e estou ouvindo sem parar!!!
Mais um excelente trabalho!!!
Marco
"é tão envolvente que logo faz esquecer a gravação irretocável realizada por Elis Regina (1945 - 1982) em seu último álbum, Elis (1980)."
A gravação da Mart'nalia é linda.
Mas acho que o fato dela ter gravado essa canção faz lembrar da Elis e de sua gravação.
Fora isso, a leveza e o astral da Mart'nalia é um sopro de ar puro nos dias atuais.
Concordo Mauro. E ontem fui conferir a primeira apresentação do novo CD no Palco MPB, e olha a moça está nas trincas, esbanjando segurança na voz em um repertório perfeito pro seu estilo. Vem showzaço por aí. Aguardem!!!!!!!!
Olha só!!!
Fico realmente feliz quando chego aqui e me deparo com um disco tão bem cotado. Sim! Não sou de ter antipatias gratuitas (salvo algumas exceções, claro, que ninguém é perfeito, hehehe) e me alegra saber de pessoas que conseguem realizar um bom trabalho, contar em um disco (ou livro, ou filme) exatamente aquilo que imaginava, porque acho que é isso que todo mundo quer, né?, fazer o melhor possível.
Tratando-se de Mart'nália, então, é mais legal ainda! Gosto muito dela e acho que, além do suingue, essa maneira despreocupada de levar a vida, esse não se levar tão a sério é a chave do seu sucesso (e é provavelmente genético, hahahaha).
Parabéns e obrigada, Mart, pelo grande disco!
Valeu, Mauro, pelo texto! =)
Devagar, devagarinho a carioquérrima vai se situando no cenário do samba. Autêntica até dizer chega consegue ser envolvente pq sabe escolher repertório e não imita nem o pai. Samba do bom. Domingão de sol.
Mart'nália cantando "Sai dessa" faz esquecer a gravação de Elis Regina???? Conta outra, Mauro!!!! Essa foi de morrer de rir...........
Mart'nália cantando "Sai dessa" faz esquecer a gravação de Elis Regina???? Conta outra, Mauro!!!! Essa foi de morrer de rir........... (2)
Vai entender Mauro Ferreira ultimamente?
Mauro, adorei seu texto despudorado. Vou conferir o CD. Tenho os outros da Martnália pq seu som é gostoso e descontraído. E ela tem raíz.
Não resta dúvida que o CD é bom, mas dentro do contexto de Mart'nália, uma cantora não mais do que interessante. Contudo, é evidente o exagero no entusiasmo do Mauro; sobretudo, na referência à canção "da" Elis. A rigor, as regravações ficam aquém das originais, com exceção de Alegre Menina e Tom Maior (vale dizer, retirada do fundo do baú pela Marina Lima, em seu acústico) . As outras não resistem à comparação com as gravações de Djavan, João Nogueira e, é claro, Elis Regina (inacreditável o comentário do Mauro para uma versão que perde em suingue, em graça, em alegria). A filha de Martinho se sai bem nas inéditas do Tiago Mocotó e do Moska - e acerta na mosca na esperta Ela é Minha Cara. Já Don't Worry, Be Happy é uma piada! Mas o que me deixa intrigado é o comentário sobre Luiza Possi: "em seu melhor momento". Essa é pra derrubar a moça, Mauro!!!
Flavio
A moça é legal, mas a voz é fraquinha, bem fraquinha.
Mauro,
Eu também não entendi o seu entusiasmo exagerado.
Dizer que a versão da Martinália faz esquecer a gravação da Elis Regina? Eu não concordo... As outras regravações também não me soaram tão excitantes assim.
Para mim a única música que realmente me agradou foi "Angola". É muito pouco para ser o melhor disco de 2008, na minha opinião.
abração,
Denilson
Mauro não disse que a gravação da Mart'nália de "Sai Dessa" é melhor que a da Elis, que ele julga "irretocável". Disse apenas que a de Mart'nália é boa o suficiente para que não se fique fazendo a comparação, ou lamentando a regravação. É isso que quer dizer o "faz esquecer...", acho eu.
6.28, penso como vc, mas a galera ou se faz de desentendida ou tá deficiente mesmo.
Não teria como comparar Elis com Martnália. Mauro sabe das coisas, não cometeria tamanha insanidade. E o CD tá mesmo chocante, delicioso, tomara que já chegue o verão.
Eu acho martinália um tesão! Adoro ela cantando, me parece uma Elza Soares com preguiça de ser ela mesma, adoro.
O texto do Mauro é claro: a versão de Mart'nália "faz esquecer" a gravação de Elis para Sai dessa, e pronto. Depois, é o crítico quem propõe a comparação - senão, teria somente dito que a regravação é corajosa e envolvente. E, se tivesse o mesmo entusiasmo, diria que a versão de Alívio e Alegre menina, Batendo a porta e Tom maior também fariam esquecer as gravações, irretocáveis ou não, de Djavan, João Nogueira e Martinho da Vila, respectivamente. Portanto, ninguém aqui está se fazendo de desentendido ou manifestando deficiência: a crítica do Mauro, de fato, faz comparação com Elis e permite - ou até mesmo convida para - a polêmica. Por fim, não acho que o fato de ser uma versão inferior à da Elis torne a canção menos bonita na gravação de Mart'nália. Repito: o Cd é bom.
Flavio
Martn'ália é deliciosa pq chega de forma despretensiosa, e não com auras de diva. Dá conta do recado com alto astral e de forma envolvente.
Gostei do cd!
Depois de ler sua crítica deliciosa, comprei o CD e A-M-E-I.
O tal samba virou outra coisa na voz suingada de Martn´alia. Dentro do contexto do CD.
E todos de bom senso entenderam sua "comparação" com a gravação da incomparável Elis.
Abraços a todos e......................madruga na cabeça!!!!!!!!!!ops, no PÉ!!!!!!!
Ao contrário do que acha o Flávio, nenhum texto "é claro". É esse o problema do solipismo. "Faz esquecer" pode querer dizer muitas coisas; "irretocável" também. A comparação é um direito do crítico - que não tem obrigação de fazer as outras comparações que qualquer leitor do texto ache procedente.
É. Dizer que a gravação de Sai Dessa é tão surpreendente a ponto de esquever Elis, é dose.
Mart`nália tem muito boas intenções, um repertório delicioso, mas o cantar é sofrido.
Aqui, discordar é não entender.Ou até mesmo não ter bom senso.Nossa! Como é fazer parte dos eleitos?
Eu comentei acima, que, no caso, a gravação da mesma canção faz lembrar a Elis e não esquecer.A forma que o Mauro colocou diz que a gravação atual faz esquecer a outra.Sem especificar o porquê.Entende-se que a atual é qualificada como uma boa gravação.Fiz o "trocadilho" simples no lugar de esquercer coloquei lembrar.Mas se querer fazer alarde.
Estou gostando mais da segunda parte do Disco.Sai dessa, alegre menina assim por diante.
Mais contido. Prefiro.
Mais uma que canta com a boca mole. Não suporto. Dá a impressão de que bebeu antes de começar.
Com certeza e mais um belo trabalho desta artista que a cada novo lançamento se supera, a firmeza e a convicção que ela vem fazendo este trabalho e magnifica..... Madrugada e mais um belo e sentimental album de Mart' nalia.
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