25 de maio de 2008

'Noviça' é ápice da paixão de Möeller e Botelho

Resenha de musical
Título: A Noviça
Rebelde
Direção: Charles
Möeller e Cláudio
Botelho
Elenco: Kiara Sasso,
Herson Capri e outros
(em foto de Robert Schwenck)
Cotação: * * * * 1/2
Em cartaz no Teatro Oi Casa Grande (RJ), de quarta-feira a domingo

Apaixonada por musicais, a dupla de diretores Charles Möeller e Cláudio Botelho já foi capaz de criar produções de baixo orçamento sem prejuízo da qualidade artística - caso do espetáculo Beatles num Céu de Diamantes, em cartaz no Rio de Janeiro (RJ) desde o início do ano. Em lógica inversa, Möeller e Botelho já desperdiçaram bons recursos ao montar a confusa saga gótica de Sete. Ao assinar a nova montagem brasileira de A Noviça Rebelde, a dupla atinge o ápice de suas trajetórias afins. O espetáculo que estreou em 22 de maio de 2008 no remodelado Teatro Oi Casa Grande, no Rio de Janeiro (RJ), conjuga êxito artístico e farta produção orçada em R$ 9,8 milhões. O resultado é encantador e, em alguns momentos, até emocionante. Trata-se de um dos melhores espetáculos já encenados em palcos cariocas - à altura do histórico consagrador de um musical que vem arrebatando multidões desde que estreou na Broadway, em Nova York (EUA), em 1959, com sucesso que foi ampliado em progressão mundial quando The Sound of Music chegou aos cinemas em 1965 (com Julie Andrews como a noviça).
O espetáculo seria irretocável não fosse pela voz limitada do ator Herson Capri, escolha infeliz para encarnar o Capitão Georg Von Trapp, personagem que tem a missão de solar Edelweiss, uma das obras-primas do escrete musical de Richard Rodgers e Oscar Hammerstein II. Capri se sai bem como ator, mas, nos números musicais, é nítida sua incapacidade de acompanhar um elenco afinado em todos os sentidos. Contudo, justiça seja feita, nem a dificuldade de Capri em atingir as notas mais altas tira o brilho da montagem de Möeller e Botelho. A Noviça Rebelde volta à cena com um padrão Broadway que, no Brasil, até então foi atingido somente por recentes produções encenadas em São Paulo (SP). Da iluminação ao cenário (turbinado com efeitos especiais que dão profundidade e beleza), toda a parte técnica contribui de forma admirável para que o público possa se emocionar e se enternecer com a história da noviça (Kiara Sasso, perfeita no papel de Maria Reinner) que se envolve com a família austríaca Von Trapp em meio a um cenário de guerra e horror por conta da ascensão de Adolf Hitler ao poder. De apelo emocional e atemporal, a trama é sublinhada pelas letras das canções - como convém a um musical.
A presença iluminada das crianças - 21 atores se alternam nos papéis dos sete filhos do Capitão - ajuda a estabelecer a empatia com a platéia. Dó-Ré-Mi, um dos números cantados por Maria com as crianças, é ponto alto na encenação e chega a emocionar. A propósito, as versões em português criadas por Cláudio Botelho são fluentes, contam bem a história e se ajustam com perfeição às melodias de Richard Rodgers. Nas vozes de elenco de fartos dotes vocais (os números da Madre Superiora com as freiras são de arrepiar), as versões adquirem brilho ainda maior. E por falar na Madre Superiora, papel dividido entre Mirna Rubim e Vera do Canto e Mello, o solo da religiosa em A Montanha (Climb Ev'ry Mountain) no fim do primeiro ato é número que eleva às alturas a atmosfera de encantamento que permeia esta montagem que, embora fiel ao texto montado na Broadway em 1959, incorpora uma ou outra música feita para o filme - caso de I Have Confidence (Eu Confio, na versão) e de Something Good (Alguma Coisa Boa).
Enfim, A Noviça Rebelde é deleite para olhos, ouvidos e mentes. Raramente, Möeller e Botelho tiveram em mãos um conjunto tão harmonioso de texto, músicas, músicos (há uma orquestra no fosso do teatro que executa os clássicos arranjos), atores, técnica e produção para encenar um musical. E eles souberam aproveitar esse material rico (em todos os sentidos) para criar um espetáculo arrebatador que vai ficar na história do teatro carioca e brasileiro.

2 Comments:

Anonymous Anônimo said...

será que não existe um outro ator no Rio na idade do Herson que saiba cantar? juro que não entendo a escalação de um ator que não canta para um musical. mas vou conferir esse musical, sem sombra de dúvida.

25 de maio de 2008 às 14:42  
Anonymous Anônimo said...

Tenho curiosidade de conhecer a versão para 'My Favorite Things'. A letra em inglês é muito idiomática. A melodia também é bacana, virou praticamente um standard para os músicos de jazz brincarem em cima.

25 de maio de 2008 às 16:56  

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