27 de março de 2008

Inclassificável e indomável, Ney volta à margem

Resenha de CD
Título: Inclassificáveis
Artista: Ney Matogrosso
Gravadora: EMI Music
Cotação: * * * 1/2

Citando a letra da música de Arnaldo Antunes que batiza os atuais show e disco de Ney Matogrosso, o ainda grande cantor é o que é: inclassificável. Ney quase nunca faz o que se espera dele. Em 1979, tirou a fantasia e encarou de cara limpa o disco e show Seu Tipo. Em 1987, quando os sintetizadores já (do)minavam a MPB, encarou um recital camerístico com o violonista Raphael Rabello (1962 - 1995). Em 1999, deu voz a novos compositores no álbum Olhos de Farol. Em 2004, se uniu a Pedro Luís e a Parede num disco Vagabundo que rendeu show explosivo. Inclassificáveis - o registro de estúdio do show que estreou em setembro de 2007 em Juiz de Fora (MG) e continua em turnê - é mais um trabalho que flagra Ney na contramão. A começar pelo fato de ser um registro de estúdio de um show numa era em que o mercado fonográfico saliva por DVDs e CDs ao vivo...
Inclassificáveis põe Ney de volta à margem. Basta citar alguns compositores relacionados na ficha técnica - Alice Ruiz, Alzira Espíndola, Dan Nakagawa, Iara Rennó, Itamar Assumpção (1949 - 2003), Cláudio Monjope e Robinson Borba - para ter uma idéia da atmosfera indie que molda o repertório. Há também músicas de Caetano Veloso (Divino Maravilhoso, parceria com Gilberto Gil) e Chico Buarque (Ode aos Ratos, pérola composta com Edu Lobo para o ótimo musical Cambaio). Contudo, definitivamente, Inclassificáveis não é um disco que privilegia o mainstream - ainda que a gravadora EMI Music tenha eleito o cover meio abolerado de Veja Bem, meu Bem (do justamente incensado Marcelo Camelo) para badalar o CD nos programas de rádio e TV.
Enquanto o DVD previsto para maio vai perpetuar a gravação ao vivo do show, o disco de estúdio registra 16 números de Inclassificáveis. Sem o peso da massa sonora do palco, é possível perceber mais nuances e detalhes dos arranjos e das músicas. O que também realça a maior ou menor inspiração melódica das composições. Mente, Mente (Robinson Borba), Sea (Jorge Drexler) e Um Pouco de Calor (Dan Nakagawa) estão entre as melhores da safra indie do roteiro. Em compensação, faixas como Leve (Iara Rennó e Alice Ruiz) e Lema (Lokua Kanza e Carlos Rennó) perdem parte do encanto sem o aparato cênico do show e sem o calor do palco. Mas é justo reconhecer que, no todo, o CD tem a energia (ainda que seja uma energia diferente da observada no palco) e a atmosfera roqueira do show. Guitarras pontuam os arranjos de músicas como Fraterno (Pedro Luis) e Por que a Gente É Assim? (Cazuza, Ezequiel Neves e Frejat). Mas Inclassificáveis nunca foi um show de rock no sentido mais ortodoxo do gênero. Logo não poderia gerar um disco de rock. Entre outros ritmos, Inclassificáveis tangencia o folk (em Existem Coisas na Vida, de Itamar Assumpção e Alzira Espíndola) e até a disco music (no refrão de Coragem, Coração - de Cláudio Monjope e Carlos Rennó). O fato é que Ney Matogrosso segue o lema imposto no refrão urgente de Divino Maravilhoso: é preciso estar atento e forte. E ele está. Aos 66 anos, Ney Matogrosso continua - além de inclassificável - indomável. Aplausos para ele!!!

15 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Ney é um dos artistas mais honestos(em todos os sentidos)que temos.

27 de março de 2008 às 21:22  
Anonymous Anônimo said...

Já vi muitos shows do Ney, todos inesquecíveis.Da maior "catiguria" como intérprete.

27 de março de 2008 às 23:45  
Anonymous Anônimo said...

Mente mente foi gravada por Ney em 85, não pode ser considerada de um autor novo. É uma música (pouco inspirada) de um autor já antigo e sem sucesso.

27 de março de 2008 às 23:45  
Blogger Pedro Progresso said...

Com exceção das duas primeiras canções e de Por que que a gente é assim (passou a época né Ney...!?)
o cd está muito bom.

28 de março de 2008 às 00:16  
Blogger Flávio Voight said...

Gosto muito do Ney. Acho que "Coragem, coração" ou até mesmo "Ode aos Ratos" dariam melhores músicas de trabalho do que "Veja bem, meu bem".

28 de março de 2008 às 05:24  
Anonymous Anônimo said...

Mauro, meu caro, Mente mente é de 86... ta no Bugre...

28 de março de 2008 às 07:32  
Anonymous Anônimo said...

Gostei de fraterno que foi a primeira que ouvi. Também acho que a Emi erra ao escolher veja bem meu bem, essa è uma que eu não teria colocado no disco.Mas...
Agora,deixando de lado alguns pequenos deslizes na pronuncia de algumas palavras, este è um discão do Ney.

28 de março de 2008 às 07:44  
Blogger Mauro Ferreira said...

Obrigado aos anônimos que me lembraram que Mente, Mente já foi gravada pelo Ney no Bugre - aliás, um bom disco em que ele descartou a fórmula que vinha dando certo nos anos 80.

28 de março de 2008 às 07:52  
Anonymous Anônimo said...

Alguém pode me explicar pq colocaram num cd de "inéditas", a faixa do disco "Vivo", Novamente, que era inédita, no último disco de inéditas "Olhos de Farol". Ufa!!! Nem eu entendi!!!

28 de março de 2008 às 08:52  
Anonymous Anônimo said...

Aliás tem várias regravações nesse CD. Por que que a gente é assim, é do Destino de Aventureiro. Mente mente é do Bugre. Novamente é do Olhos de Farol. Mal necessário se não me engano é do PECADO.

Edu - abc

28 de março de 2008 às 10:22  
Anonymous Anônimo said...

Mal necessário é do FEITIÇO, bela música que Ney (não sei porque) nunca cantava em shows. Adorei o resgate.

28 de março de 2008 às 11:46  
Anonymous Anônimo said...

Mauro vc esqueceu de citar que Ney também foi um dos primeiros a voltar a gravar samba, e seu cd continua sendo um dos melhores da recente safra dessa categoria.
Ney é soberbo, bom em todos os sentidos.

28 de março de 2008 às 13:49  
Anonymous Anônimo said...

Alguém já achou esse CD em alguma loja?? Aqui no RJ não tem em lugar nenhum... Por favor, ME AJUDEM!!

28 de março de 2008 às 17:46  
Anonymous Anônimo said...

O novo CD está delicioso. O que me fascina no Ney, é que ele sabe, como poucos, diferenciar estúdio e palco: as interpretações no cd, estão mais sutis e contidas, menos explosivas do que em cena, mas mesmo assim, não perderam a emoção. Gostei da guitarra pesada no abolerado (quase irônico) de "Veja bem, meu bem". "Mente, Mente" é uma composição deliciosa e originalíssima, adorei o resgate e o novo arranjo, c/ um toque à la Santana. "Fraterno" é belíssima, talvez a melhor entre as inéditas. Mas bem que Ney poderia ter gravado outra de Fred Martins, ao invés de repetir "Novamente". Uma regravação solo da linda "Raro e comum", que Ney gravou em dupla c/ Fred no cd homônimo, seria muito bem vinda. Abraço, Mauro, parabéns pelo blog!

29 de março de 2008 às 02:19  
Blogger Pedro k. said...

Mauro,

bonito texto.

diz "Mas Inclassificáveis nunca foi um show de rock no sentido mais ortodoxo do gênero"

acho o disco e o show muito "rock", de meneiras diferentes , claro.

abraço,

pedro k.
rock-n-brasil.blogspot.com
lisboa ,portugal

29 de março de 2008 às 07:35  

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