Tributo realça beleza triste das dores de Dolores
Resenha de CD
Título: Dolores - A Música de Dolores Duran
Artista: vários
Gravadora: Lua Music
Cotação: * * * *
Contam que Dolores Duran (1930 - 1959) era pessoa até divertida no mundo boemio da noite. Mas esse universo noturno moldou a sua música com altas doses de melancolia. Canção da Tristeza é sintomaticamente o título de uma das 21 composições regravadas em Dolores - A Música de Dolores Duran - tributo à artista que saiu cedo de cena, aos 29 anos, no auge do talento. Defendida por Jane Duboc, ao lado do pianista Keco Brandão, a Canção da Tristeza ganha regravação sóbria neste álbum digno da música da compositora. O produtor Thiago Marques Luiz acerta ao misturar os inevitáveis clássicos com músicas pouco ou nada conhecidas, casos de Idéias Erradas (com Carlos Navas) e do samba O que É que Eu Faço? (recriado por Zezé Motta - ligeiramente empostada).
A música de Dolores Duran é fruto do universo noturno do samba-canção que proliferou na década de 50, no escurinho dos bares e boates. Mesmo expondo as dores de amores, a compositora soube peneirar os excessos melodramáticos do gênero ao construir obra autoral caracterizada por sofisticada beleza poética e melódica. O acerto do tributo reside no respeito a esta obra. A grande maioria das interpretações foi feita num (acertado) tom comedido. Não há arroubos dramáticos que poderiam deixar over uma música que já exala sentimento e emoção em cada compasso. A ponto de uma cantora de registro cool, como Vânia Bastos, ter sido a escolhida para encarar a bela Noite de Paz, um dos temas mais pungentes de Dolores (consta que foi sua última composição, criada momentos antes de sua morte). Mesmo sem ser cool, Toni Platão baixa o tom para entoar suavemente Se Eu Tiver, pérola - obscura - da autora.
O tributo oferece boa oportunidade de conhecer a obra de Dolores além de clássicos como A Noite do meu Bem (numa interpretação econômica de Leila Pinheiro com o piano virtuoso de João Carlos Assis Brasil), Castigo (em insossa versão abolerada de Fagner, que nunca havia gravado música de Dolores), Por Causa de Você (Fafá de Belém, sem seu habitual tom exacerbado), Solidão (Moska, em correta gravação de voz-e-violão), Ternura Antiga (Alaíde Costa, um pouco acima do tom), Fim de Caso (Wanderléa, presença até inusitada no elenco), Estrada do Sol (Tetê Espíndola, numa leitura suingante, a mais ousada do tributo) e O Negócio É Amar (em duo de uma correta Cláudia Telles com um Tito Madi de voz cansada).
Entre as jóias obscuras guardadas no baú de Dolores, à espera de mais regravações, há a bela Olha o Tempo Passando (com Célia em registro perfeito), Leva-me Contigo (com um Pery Ribeiro tão cansado quanto emocional), Pela Rua (Fátima Guedes, densa em gravação sedutora) e Tome Continha de Você, samba que ganha o suingue de Dóris Monteiro, primeira intérprete a gravar música de Dolores, em 1955. No caso, Se É por Falta de Adeus - neste tributo majestosamente interpretada por Leny Andrade. Grande cantora!
Duas gravações do tributo merecem menção especial. Gravada de irretocável suave forma por Cida Moreira, sem o timbre operístico da intérprete, Canção da Volta é a única música não assinada por Dolores no álbum. Sua inclusão é justificada pelo fato desta obra-prima de Antonio Maria e Ismael Neto ter feito sucesso na voz de Dolores em 1954. Já a ruralista Minha Toada encerra o tributo na voz doce da irmã mais nova de Dolores, Denise Duran, que voltou a encarar o microfone 40 anos depois de ter abortado sua carreira de cantora. Minha Toada é bonita música que atesta o alto quilate das jóias escondidas no rico e inexplorado baú de Dolores Duran.
Título: Dolores - A Música de Dolores Duran
Artista: vários
Gravadora: Lua Music
Cotação: * * * *
Contam que Dolores Duran (1930 - 1959) era pessoa até divertida no mundo boemio da noite. Mas esse universo noturno moldou a sua música com altas doses de melancolia. Canção da Tristeza é sintomaticamente o título de uma das 21 composições regravadas em Dolores - A Música de Dolores Duran - tributo à artista que saiu cedo de cena, aos 29 anos, no auge do talento. Defendida por Jane Duboc, ao lado do pianista Keco Brandão, a Canção da Tristeza ganha regravação sóbria neste álbum digno da música da compositora. O produtor Thiago Marques Luiz acerta ao misturar os inevitáveis clássicos com músicas pouco ou nada conhecidas, casos de Idéias Erradas (com Carlos Navas) e do samba O que É que Eu Faço? (recriado por Zezé Motta - ligeiramente empostada).
A música de Dolores Duran é fruto do universo noturno do samba-canção que proliferou na década de 50, no escurinho dos bares e boates. Mesmo expondo as dores de amores, a compositora soube peneirar os excessos melodramáticos do gênero ao construir obra autoral caracterizada por sofisticada beleza poética e melódica. O acerto do tributo reside no respeito a esta obra. A grande maioria das interpretações foi feita num (acertado) tom comedido. Não há arroubos dramáticos que poderiam deixar over uma música que já exala sentimento e emoção em cada compasso. A ponto de uma cantora de registro cool, como Vânia Bastos, ter sido a escolhida para encarar a bela Noite de Paz, um dos temas mais pungentes de Dolores (consta que foi sua última composição, criada momentos antes de sua morte). Mesmo sem ser cool, Toni Platão baixa o tom para entoar suavemente Se Eu Tiver, pérola - obscura - da autora.
O tributo oferece boa oportunidade de conhecer a obra de Dolores além de clássicos como A Noite do meu Bem (numa interpretação econômica de Leila Pinheiro com o piano virtuoso de João Carlos Assis Brasil), Castigo (em insossa versão abolerada de Fagner, que nunca havia gravado música de Dolores), Por Causa de Você (Fafá de Belém, sem seu habitual tom exacerbado), Solidão (Moska, em correta gravação de voz-e-violão), Ternura Antiga (Alaíde Costa, um pouco acima do tom), Fim de Caso (Wanderléa, presença até inusitada no elenco), Estrada do Sol (Tetê Espíndola, numa leitura suingante, a mais ousada do tributo) e O Negócio É Amar (em duo de uma correta Cláudia Telles com um Tito Madi de voz cansada).
Entre as jóias obscuras guardadas no baú de Dolores, à espera de mais regravações, há a bela Olha o Tempo Passando (com Célia em registro perfeito), Leva-me Contigo (com um Pery Ribeiro tão cansado quanto emocional), Pela Rua (Fátima Guedes, densa em gravação sedutora) e Tome Continha de Você, samba que ganha o suingue de Dóris Monteiro, primeira intérprete a gravar música de Dolores, em 1955. No caso, Se É por Falta de Adeus - neste tributo majestosamente interpretada por Leny Andrade. Grande cantora!
Duas gravações do tributo merecem menção especial. Gravada de irretocável suave forma por Cida Moreira, sem o timbre operístico da intérprete, Canção da Volta é a única música não assinada por Dolores no álbum. Sua inclusão é justificada pelo fato desta obra-prima de Antonio Maria e Ismael Neto ter feito sucesso na voz de Dolores em 1954. Já a ruralista Minha Toada encerra o tributo na voz doce da irmã mais nova de Dolores, Denise Duran, que voltou a encarar o microfone 40 anos depois de ter abortado sua carreira de cantora. Minha Toada é bonita música que atesta o alto quilate das jóias escondidas no rico e inexplorado baú de Dolores Duran.
36 Comments:
Adorei a notícia. Gostei do elenco.
Espero que Fafá esteja menos over nesta belíssima canção (quando se lembra como era, Fafá é ótima).
Duvido um tanto que Leila em sua assepsia tenha chegado à delicadeza e sensibilidade de A Noite do Meu Bem, mas vou conferir.
Vou à cata.
Fátima Guedes, como sempre está personalíssima. Incrível como ela consegue encontrar cores para músicas já conhecidas!!!
Cèlia também está num momento sublime de sua carreira.
Ps:"Olhe o tempo passando" teve um registro muito bonito de Nana Caymmi no songbook dedicado a Dolores.
Depois do songbook de Nana Caymmi, fiquei algum tempo sem ouvir falar de gravações das músicas de Dolores Duran. Acredito que foi o pasmo causado pela intensidade simples das interpretações da Nana. Dinahir cantando Adiléa é um disco especial. Quando Nana canta em pianíssimo 'no ar parado passou um lamento, riscou a noite e desapareceu', o mundo pára mesmo.
Acho bacana que a obra de Dolores esteja sempre na roda, especialmente as canções pouco tocadas.
Sinto falta de um disco da própria Dolores cantando.
Dolores é de uma musicalidade linda e mostra bem o poder da mulher compositora, desde Chiquinha Gonzaga.
Uma das gratas surpresas desse ano foi sem dúvida o disco da Célia e Dino Barioni, Faço no tempo soar minha sílaba. MARAVILHOSO! Excelente fase vocal, convidadas de PRIMEIRA e um disco de repertório irretocável. Um dos grandes cd's do ano sem dúvida. Salve Célia! Abraços,
Marcelo Barbosa - Brasília (DF)
A gravação de Castigo, na voz de Fagner, foi feita especialmente para o CD-tributo a Dolores. É a primeira vez que Fagner grava Dolores.
Só pela Fátima Guedes já está valendo o cd.
mauro o cd reamente é maravilhoso
agora me diz, pq vc comento cada
e deixou um dos pontos alto do
cd que é a gravação de "não me
culpe" na voz da grande
CLAUDETTE SOARES?
Alguma coisa contra ou uma falha
de esquecimento?
Esse tributo à Dolores é de extremo bom gosto como um todo. Acertos no elenco, no repertório, e principalmente nos arranjos.
A escassez da música de Dolores nas prateleiras foi resolvida de uma vez por todas com esse belo lançamento de Thiago Marques.
Basta ouvir Célia cantando "Olha o tempo passando" pra ter certeza que nem tudo está perdido quando se fala de boa música popular brasileira. A suavidade de sua interpretação, a qualidade de divisão, o modo singelo como esboça um risinho tímido em determinada passagem, tudo é perfeito.
Depois de ouvir Célia, abre-se o disco, um dos melhores do ano, em matéria de tributo.
Com tanta boa gente num disco tão bom, é fechado o ano com chave de diamante.
Bravo!
Só a presença de Alaíde Costa já vale o CD.
Fafá e Zezé Motta foram as melhores do cd. Foram diretas ao ponto, sem mais nem menos...
Deveriam chamar cantoras que quase nunca estão nesses projetos, como Rita Lee, Joanna, Marina, Marisa Monte e Ithamara Koorax.
É o cd do ano!
Em se tratando do "feminino" caberia um interpretação de Joyce e de Rorô (Imaginem Rorô cantando Castigo). Torçamos pra que saiam os volumes 2 dos tributos a Maysa e Dolores com as cantoras/es ausentes.
Seria melhor seguir o mote e lançar tributos a Angela Ro Ro, Sueli Costa ou Joyce.
QUERO COLOCAR AQUI QUE ESTE LANÇAMENTO É UM DOS MELHORES DO ANO. UM DISCO NA MEDIDA COM ARTISTAS MARAVILHOSOS SOB ARRANJOS IMPECÁVEIS.
QUE VENHAM MAIS PROJETOS.
POR QUE NÃO UMA HOMENAGEM A ELIZETH CARDOSO ?
Salve Dolores !
Nem tudo está perdido. Parabéns aos artistas e ao produtor pela ótima idéia.
Pensando desse modo seria então melhor, uma homenagem a ELIS REGINA!!! O problema é que qq q seja a regravação sempre ficará aquém da original. Seria um projeto arriscado.
cadê o tributo à Sueli Costa ?
Sim, Um tributo a Sueli Costa seria perfeito e uma a Fátima Guedes também. Leny Andrade nunca erra, e a Célia acerta cada vez mais, sem dúvida é o destaque do CD da Maysa, junto com Alcione. Mauro, o que você diz por voz cansada? Voz cansada não me diz muita coisa.
Comprei o meu na Fnac e adorei. Além de tudo, um projeto gráfico de super bom gosto. O mais legal é que o leque de intérpretes ganha um sopro contemporâneo com vozes masculinas especiais como as de Toni Platão e Carlos Navas, que são incríveis e abusam dos graves cool.O Carlos, alias, fez lindo disco dedicado ao Mario Reis, de quem quase ninguém se lembra e Toni poderia gravar um CD todo sobre Angela Ro Ro. Moska também dá um banho em "Solidão". A Tetê realmente arrasa e surpreende. A chatice é o Fagner, mas fazer o que....Este produtor é o mesmo da homenagem à Maysa , que foi um excelente disco.Parabéns
Mauro, gosto demais de vc, mas acho que vc poderia ter uma outra forma de falar sobre o Tito e o Peri, procure saber o que anda acontecendo com eles, aí vc vai entender a bravura de cada um deles ao participar desse cd.
Beijos
É VERDADE, FAFÁ ESTÁ BEM COOL, MEIO CLAUDETTE SOARES, QUE ALIÁS DÁ UM BANHO DE INTERPRETAÇÃO.
Pelo visto, só tem marginais (no bom sentido!) nesse cd. E isso é muito, muito bom. Vou ouvir.
Concordo com a Telles, Mauro. O disco é lindo, vale a pena !
Adorei "marginais". Acho ótimo um disco fora do esquema Alcione - Bethânia - Ney, que são maravilhosos, mas sempre estão em todos... Esse "Dolores" promete!
Concordo em gênero, número e grau. Estou curioso pra ouvir Zezé Motta, que nunca chamam para esses projetos, e a GRANDE Célia.
Comprei o disco ontem e estou encantado, mas uma pergunta: por que foram chamar Toni Platão? É a única faixa que destoa. Outras, como a de Carlos Navas e Fátima Guedes são chatas, mas não comprometem. Ponto para Leila Pinheiro, Zezé Motta, Célia, Moska, Pery e Fafá, que resolveu não gritar.
Claudia Telles, sou seu fã! Sua voz é bonita e sua versatilidade também.
Tito Madi conheço pouco, agora, o Peri pra mim é um dos grandes, façam o favor de ouvir 'Peri é Todo Bossa'.
Até que enfim gravações novas... chega das mesmas coletâneas com as mesmas gravações. A música de Dolores está viva.
Nem Cristo conseguiu agradar a todos...acho o Toni Platão um expecional intérprete contemporâneo e o Carlos Navas a melhor voz masculina surgida nos anos 90. Não conhecer Tito Madi é não conhecer música brasileira ...ele tem mais de 70 anos e está em grande forma.
Eu quero a reedição em cd(bem feita! dos primeiros CDs da Fatima Guedes.Isso sim seria uma homenagem.
Aproveitando o passo, digo, o espaço, a emi podia prosseguir e editar os outros da Sueli.Melhor homenagem è mesmo poder ouvi-las nos seus proprios trabalhos.
Sobre este da Dolores não posso opinar, não ouvi.Mas concordo com quem lembrou do disco da Nana, aquilo é uma coisa de louco.
beijos
H.
o "marginais" ficou por minha conta. A maioria desses cantores está muito esquecida mesmo.
Concordo com o anônimo acima e aqui vai uma sugestão ao Tiago Luiz - que tal homenagear essa gente em vida? Não só os compositores, mas os intérpretes também.
Só nao concordo com o "Wanderléa, presença até inusitada no elenco".
Wanderléa sempre pode ir além da jovem guarda, mas nunca deixam!!!!!!!
Esse tributo está maravilhoso!!!
Senti falta da Rorô, ela cantando "Castigo" seria um luxo só. E gostaria de registrar que Joyce também já fez uma belíssima interpretação de "O negócio é amar" no songbook do Carlos Lyra.
Concordo com o Georges, Wanderléa (infelizmente)foi aprisionada na Jovem Guarda, mas fez ótimos discos na década de 70 em que se desvencilhou muito bem do rótulo, como em: "Feito gente", "Mais que a paixão", "Vamos que eu já vou". Nesses discos ela Gravou só compositores de primeira dentre eles: Djavan, G. Gil, J. Mautner, Gonzaga Jr, Luiz Melodia, Moraes Moreira, Marlui Miranda, Rosinha de Valença, Egberto Gismonti, Joyce, Sueli Costa. Inclusive foi ela a primeira a gravar em estúdio uma música da Fátima Guedes (1978).
Acredito que o Mauro se referiu a "Presença inusitada" ao fato de Wanderléa pouco participar desse tipo de projeto.
Essas coletâneas tem o problema de não incluir as vozes novas. Adorava ver Roberta Sá, Céu, Eliana Printes e tantas e tantos mais cantando as e os imortais. São coletâneas preguiçosas, o produtor tá preguiçoso, tá indo pela receita fácil já seguida com a Maísa e voce Mauro tá ficando sem noção: elogiando muito fácilmente tudo o que vem da classe jornalística. Não perde o senso , você é um dos últimos baluartes da crítica musical sensata. Reveja os seus conceitos para 2008. Festas Felizes!!
Lamentável não conter a lista das músicas com seus interprétes.
O disco do ano !!!
Comprei ontem e estou amando !
Com todo respeito ao Mauro mas fico com a critica feita ao cd do jornal Estado de São Paulo. Não dá prá ficar aguentando o corporativismo da classe jornalística que se fica " lambendo" mutuamente". Concordo com o anonimo aí de cima: coletânea preguiçosa de um produtor preguiçoso muito habituado a produzir cds em série como se fossem bolachas. Se parece com o Faour e as suas enciclopédias, os seus projetos megalômanos, com muito peso mas nenhuma consistência.Com o Alexandre Pavan e a sua biografia vergonhosa do Hermínio com os sites e blogues dos mesmos e de mais alguns que depois de conseguirem os patrocínios ficam abandonados: vide Divas do Brasil, Acervo de Herminio, etc...Tudo parado. É uma vergonha e voce, Mauro, não pode entrar nessa do elogio fácil. Vou pela sua cabeça e me ferro gastando dinheiro à toa. Não fica legal prum crítico. Perde credibilidade. Feliz 2008.
Celso ( Capital-SP)
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