Livro de DJ Zé Pedro elogia discos com algo mais
Resenha de livro
Título: Meus discos e nada mais
– Memórias de um DJ na música
Brasileira
Autor: Zé Pedro
Editora: Jaboticaba
Cotação: * * * *
Zé Pedro é DJ que fez nome nas pistas remixando hits da MPB com respeito pelas intenções das gravações originais. É também aficionado por discos e, em especial, por cantoras. O livro Meus discos e nada mais apresenta memórias do DJ a partir dos discos de artistas brasileiros que comprou ou ganhou. A partir das impressões de Zé Pedro sobre 159 álbuns, dispostos no livro em ordem cronológica, os dados biográficos do DJ vão sendo salpicados entre um elogio e outro. Sim, há apenas elogios nas 384 páginas deste afetivo e particular inventário fonográfico. Elogios de caráter superlativo, diga-se, pois trata-se das memórias de fã apaixonado e devotado – como bem o retrata Zélia Duncan em saboroso texto escrito para a orelha do livro. Todos os artistas são maravilhosos na visão de Zé Pedro. Mas Meu discos e nada mais oferece algo mais do que as impressões generosas de DJ que se porta como fã, pois Zé Pedro, antes de DJ, é profundo conhecedor da MPB. E é esse conhecimento que engrandece o valor do livro. Ao comentar os discos, Zé Pedro oferece informações precisas sobre os repertórios e, às vezes, ele ainda situa o artista no cenário musical brasileiro da época da gravação do álbum. Raramente erra – como na análise de Canto das três raças (1976), apresentado como disco que não divide fases na carreira de Clara Nunes (1942 – 1983) quando o álbum tem justamente o mérito de ter inaugurado a parceria da cantora com o produtor Paulo César Pinheiro. Geralmente acerta – como quando, ao comentar o esquecido disco Wanderléa... Maravilhosa (1972), lembra as várias tentativas frustradas da Ternurinha de se dissociar do repertório ingênuo da Jovem Guarda. O livro ganha em importância quando o DJ escolhe discos menos óbvios - caso de A tua presença... (1971). "Talvez os apaixonados por Bethânia não dêem a esse disco a importância que eu considero que ele tenha", ressalta Zé Pedro, ele próprio um apaixonado confesso pela Abelha Rainha, assunto do prólogo que escreveu para o livro.
É como fã devotado que Pedro lamenta o sumiço de Maria Creuza ao comentar o disco Meia-noite (1977) e que saúda Gal Costa ao falar de Caras e bocas (1977), corretamente apontado como "um disco estranho para aquela época". E ele prossegue, fino e certeiro: "Voz de Gal mudando, repertório inovando, os críticos odiando. Hoje, um clássico. Gal tem dessas coisas. (...) É uma cantora de altos e baixos. (...) (...) Já foi contra o sistema e acertou. Já foi a favor do sistema e dançou". Sobre Simone, o DJ também se não furta a fazer necessárias críticas a respeito da condução da carreira da cantora em meio às impressões sobre o seminal LP Gota d'água (1975): "Veterana do show business, Simone sabe o que tem que fazer para se manter no mercado. E ela faz. Às vezes, consegue; às vezes, não, sujando sua bela discografia inutilmente. (...) Faz muitas vezes o que considero concessões". Estes comentários lúcidos, soterrados diante de tantos elogios, avalizam as memórias fonográficas do DJ.
Em grande maioria, os discos comentados foram lançados nos anos 70 e 80. Apenas três belos álbuns – Amor em hi-fi (Sylvia Telles, 1960), Momento de amor (Elizeth Cardoso, 1968) e Ye-me-le (Sérgio Mendes & Brazil '66, 1969) – são da década de 60. Contudo, apesar de deixar entrever nas entrelinhas exagerado saudosismo da MPB de décadas passadas, o DJ chega também aos CDs dos dias atuais, comentando álbuns de talentos recentes como Bebel Gilberto, Maria Rita, Preta Gil, Vanessa da Mata, Mart'nália, Paula Lima e Ceumar, entre outras cantoras e cantores. Enfim, são muitas e generosas as impressões apaixonadas desse consumidor voraz de discos. Ainda bem que, neste livro, elas estão geralmente acompanhadas de algo mais: um conhecimento profundo de música brasileira.
Título: Meus discos e nada mais
– Memórias de um DJ na música
Brasileira
Autor: Zé Pedro
Editora: Jaboticaba
Cotação: * * * *
Zé Pedro é DJ que fez nome nas pistas remixando hits da MPB com respeito pelas intenções das gravações originais. É também aficionado por discos e, em especial, por cantoras. O livro Meus discos e nada mais apresenta memórias do DJ a partir dos discos de artistas brasileiros que comprou ou ganhou. A partir das impressões de Zé Pedro sobre 159 álbuns, dispostos no livro em ordem cronológica, os dados biográficos do DJ vão sendo salpicados entre um elogio e outro. Sim, há apenas elogios nas 384 páginas deste afetivo e particular inventário fonográfico. Elogios de caráter superlativo, diga-se, pois trata-se das memórias de fã apaixonado e devotado – como bem o retrata Zélia Duncan em saboroso texto escrito para a orelha do livro. Todos os artistas são maravilhosos na visão de Zé Pedro. Mas Meu discos e nada mais oferece algo mais do que as impressões generosas de DJ que se porta como fã, pois Zé Pedro, antes de DJ, é profundo conhecedor da MPB. E é esse conhecimento que engrandece o valor do livro. Ao comentar os discos, Zé Pedro oferece informações precisas sobre os repertórios e, às vezes, ele ainda situa o artista no cenário musical brasileiro da época da gravação do álbum. Raramente erra – como na análise de Canto das três raças (1976), apresentado como disco que não divide fases na carreira de Clara Nunes (1942 – 1983) quando o álbum tem justamente o mérito de ter inaugurado a parceria da cantora com o produtor Paulo César Pinheiro. Geralmente acerta – como quando, ao comentar o esquecido disco Wanderléa... Maravilhosa (1972), lembra as várias tentativas frustradas da Ternurinha de se dissociar do repertório ingênuo da Jovem Guarda. O livro ganha em importância quando o DJ escolhe discos menos óbvios - caso de A tua presença... (1971). "Talvez os apaixonados por Bethânia não dêem a esse disco a importância que eu considero que ele tenha", ressalta Zé Pedro, ele próprio um apaixonado confesso pela Abelha Rainha, assunto do prólogo que escreveu para o livro.
É como fã devotado que Pedro lamenta o sumiço de Maria Creuza ao comentar o disco Meia-noite (1977) e que saúda Gal Costa ao falar de Caras e bocas (1977), corretamente apontado como "um disco estranho para aquela época". E ele prossegue, fino e certeiro: "Voz de Gal mudando, repertório inovando, os críticos odiando. Hoje, um clássico. Gal tem dessas coisas. (...) É uma cantora de altos e baixos. (...) (...) Já foi contra o sistema e acertou. Já foi a favor do sistema e dançou". Sobre Simone, o DJ também se não furta a fazer necessárias críticas a respeito da condução da carreira da cantora em meio às impressões sobre o seminal LP Gota d'água (1975): "Veterana do show business, Simone sabe o que tem que fazer para se manter no mercado. E ela faz. Às vezes, consegue; às vezes, não, sujando sua bela discografia inutilmente. (...) Faz muitas vezes o que considero concessões". Estes comentários lúcidos, soterrados diante de tantos elogios, avalizam as memórias fonográficas do DJ.
Em grande maioria, os discos comentados foram lançados nos anos 70 e 80. Apenas três belos álbuns – Amor em hi-fi (Sylvia Telles, 1960), Momento de amor (Elizeth Cardoso, 1968) e Ye-me-le (Sérgio Mendes & Brazil '66, 1969) – são da década de 60. Contudo, apesar de deixar entrever nas entrelinhas exagerado saudosismo da MPB de décadas passadas, o DJ chega também aos CDs dos dias atuais, comentando álbuns de talentos recentes como Bebel Gilberto, Maria Rita, Preta Gil, Vanessa da Mata, Mart'nália, Paula Lima e Ceumar, entre outras cantoras e cantores. Enfim, são muitas e generosas as impressões apaixonadas desse consumidor voraz de discos. Ainda bem que, neste livro, elas estão geralmente acompanhadas de algo mais: um conhecimento profundo de música brasileira.
11 Comments:
Falando em Simone e Zélia...
Na sexta-feira, encontrei Zélia em um bar de Brasília, o Beirute, um dos mais tradicionais da cidade. Ela me informou que Zélia e Simone chega em março de 2008.
É... como diz nosso companheiro Zé Henrique, Zélia é onipresente... e eu acho ótimo.
Salve Zélia,
que venha Zélia e Simone.
Abraço,
Anderson Falcão.
Brasília - DF
(ouvindo Duo, César Camargo Mariano e Romero Lubambo)
Mauro,
Acho que tem um pequeno erro no seu texto, no parágrafo final, quando que você diz que "Apenas três belos álbuns ... são da década de 70."
Os três álbuns citados são da década de 60, não são?
No mais, eu acho que chamar Preta Gil de "talento recente" é um pouco demais... rsrs
abração,
Denilson
Concordo com o Zé, quanto a opiniâo em relação a Wanderléa Maravilhosa. Tenho a sorte de possuir o disco. Ela precisa voltar ao mercado urgente.
nossa, ele faz uma confusão grande na hora de falar da elba ramalho. diz que logo depois de seu primeiro disco, ela emplacou "bate coração" ao vivo. e que o disco citado no livro, "alegria", é seu segundo. elba começou matadora com "ave de prata" e seguiu no mesmo peso com "capim do vale". ainda fez um terceiro disco, antes de "alegria". "bate coração" só aparece depois desse. engraçado é ele, tão conhecedor de mpb, falar que a primeira música de "alegria" tem melodia estranha quando, na verdade, é um tradicional caboclinho, ritmo nada obscuro para quem estuda o assunto. no mais, chega a ficar chato ler tantos elogios deslumbrados no livro. em compensação, a escolha dos discos é ótima!
O DJ Zé Pedro é o fã número 1 de Maria Bethânia.
Isso mesmo, o 3º e último lp de Elba na antiga CBS foi aquele de capa azul e título "Elba", que passou quase despercebido, porque Elba guardou munição e repertório para o 4º lp na futura gravadora, Ariola. "Elba" foi claramente um lp pra cumprir contrato. O 4º foi o lp com Moraes e Alceu em Montreux e a faixa "Bate coração", que tocou sem parar nas rádios, e no ano seguinte veio o disco e show Alegria, no Casa Grande. Depois desse enorme sucesso, Elba, esse fenômeno de musicalidade selvagem, foi plastificado e decorado com sorvete de creme, jujubas e cobertura de morango, na capa de Coração brasileiro.
Adoro o trabalho dele.. mas acho pretensioso qdo quer se falar com tanta propriedade de um assunto como estes, ainda bem que fica bem claro "MEUS DISCOS..." por que na verdade acho a seleção bem limitada. Uma pena. abç
Acho muito engraçada a amizade do Zé Pedro com a Zélia. Ele simplesmente detonava a cantora - assim como já fez inúmeras vezes com a Ana Carolina...na época do show "Eu me transformo em outras" ele dizia, de forma pejorativa, que a Zélia era a Beth Carcalho atual... quanta hipocrisia...
POis eh..o que mais rola neste meiozinho eh hipocrisia..eu acho a Zelia uma "chata de galocha" e uma pena que a Simone tambem nao encontra nada mais interessnate...fez um disco chato com composicoes chatisismas e fraquissimas do Ivan Lins e um agora este projeto com Zelia...uma baiana da gema gorada! ja gostei tanto dela..ela ja fez coisas tao interessantes e fica valendo-se de uma artista que nao tem nada aver com ela...acho apelacao!
Agora a moda eh todos os pseudo-intelectuias amarem Maria Bethania, acharem que ela eh a UNICA cantora que faz pesquisa de repertorio e que tudo que ela faz eh sempre maravilhoso!
Quem gosta de Maria Bethania sao pessoas que entendem a arte dela em albuns como "a beira e o mar", "ciclo" e "olho d'agua"...discos lindos que foram totalmente esnobados por criticos e intelectuais de plantao. mesmo assim ela nao esta acima do bem e do mal como querem impor. Agora todo DJ diz que ama Bethania, toda cantora nova diz que Bethania eh a idola delas...quanta falsidade!!!
Provavelmente você não assistiu o show de Zélia e Simone e muito menos sabe quem é Maria Bethânia,sugestão, para Bethânia ....pô difícil...Simone pós 90, café com leite, sou eu, simone bittencourt de oliveira, seda pura verdadeiras obras autorais e gostei muito de baiana da gema, um dos melhores trabalhos de Simone na década que só impressiona ouvidos mais sensíveis a melodia e letra.
Em se tratando de Simone e Bethânia n vejo hipocrisia são duas ínterpretes consagradas que dão a cara `a tapa e têm trajetórias belíssimas na mpb atual e de anos atrás....respeito acho legal.abçs.
Ricardo.
Oi Mauro, gostei muito de suas palavras,parabéns! By the way,você sabe como fazer para contratar o DJ Zé Pedro?! Sou muito fã dele e gostaria que ele tocasse em meu niver...Bjs.
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